“o poeta é com efeito coisa leve, santa e alada; só é capaz de criar quando se transforma num indivíduo que a divindade habita e que, perdendo a cabeça, fica inteiramente fora de si mesmo. Sem que essa possessão se produza, nenhum ser humano será capaz de criar ou vaticinar.” [Platão]

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Metade


Letra e música: Oswaldo Montenegro


"Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio.

Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca...
Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio.

Que a música que ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza

Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante...
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece
E nem repetidas com fervor.
Apenas respeitadas
Como a única coisa que resta
A um homem inundado de sentimentos...

Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço.

Que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada,
Porque metade de mim é o que eu penso
Mas a outra metade é um vulcão!

Que o medo da solidão se afaste,
E que o convívio comigo mesmo
Se torne ao menos suportável.

Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
Que eu me lembro ter dado na infância.
Por que metade de mim é a lembrança do que fui
A outra metade eu não sei.

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito...
E que o teu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba.
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Porque metade de mim é platéia...
E a outra metade é canção.

E que a minha loucura seja perdoada!
Porque metade de mim é Amor
E a outra metade também..."

Haja O Que Houver - Madredeus

Composição: Pedro Ayres Magalhães


"Haja o que houver

Eu estou aqui.

Haja o que houver,

Espero por ti.

Volta no vento, ôh meu amor

Volta depressa por favor.

Há quanto tempo, já esqueci

Porque fiquei, longe de ti.

Cada momento é pior

Volta no vento por favor...

Eu sei quem éspra mim.

Haja, o que houver

Espero por ti..."

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Have You Ever Really Loved A Woman?



Have You Ever Really Loved A Woman?
Tradução: Você Realmente Já Amou Uma Mulher?

"Para realmente amar uma mulher,
Para entedê-la...
Você deve conhecê-la por dentro,
Ouvir cada pensamento...
Ver cada sonho,
E dar-lhe asas quando ela quiser voar.

E quando se vir abandonado nos braços dela,
Você saberá que realmente ama uma mulher.

Quando você ama uma mulher
diga a ela o quanto é desejada...
Quando você ama uma mulher
Diga a ela que ela é única!
Porque ela precisa de alguém
Pra dizer-lhe que vai durar pra sempre...

Então me diga você realmente,
De verdade,
Já amou uma mulher?

Para realmente amar uma mulher
Deixe que ela te abrace
Até você saber como ela precisa ser tocada...

Você tem de respirá-la,
Tem de sentir seu gosto,
Até senti-la em seu sangue...

E quando vir seus futuros filhos nos olhos dela,
Você saberá que realmente ama uma mulher...

Quando você ama uma mulher
Giga a ela o quanto é desejada.

Quando você ama uma mulher
Diga a ela que ela é única!
Porque ela precisa de alguém
Pra dizer-lhe que vai durar pra sempre.

Então me diga você realmente, de verdade,
Você já amou uma mulher?

Dê a ela confiança,
Abrace-a bem apertado,
Dê-lhe um pouco de ternura,
Trate-a direito...
E ela estará lá cuidando bem de você,
É preciso amar sua mulher.

Apenas diga-me de verdade,
Você realmente ,
já amou uma mulher??? "

(Bryan Adams).

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

O Paraíso - Madredeus



Composição: Pedro Ayres Magalhães

"Subi a escada de papelão
Imaginada-Invocação
Não leva a nada
Não leva não...
É só uma escada de papelão.

Há outra entrada no Paraíso
Mais apertada...

Mas sim senhor
Foi inventada
Por um anão
E está guardada
Por um dragão...

Eu só conheço
Esse caminho
Do Paraíso..."

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

O Sonho - Madredeus


Composição: Pedro Ayres Magalhães

"Quem contar
Um sonho que sonhou
Não conta tudo o que encontrou,
Contar um sonho é proibido.


Eu sonhei
Um sonho com Amor
E uma janela e uma flor
Uma fonte de água e o meu amigo.


E não havia mais nada...
Só nós, a Luz, e mais nada...
Ali morou o Amor


(Amor),


Amor que trago em segredo
Num sonho que não vou contar
E cada dia é mais sentido.


Amor,
Eu tenho Amor bem escondido
Num sonho que não sei contar
E guardarei sempre comigo..."

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Return to Innocence - ENIGMA

Minha Pátria




Por uma porção de minutos-horas fiquei-me a pensar e a me levar por isso. Respirava Vicente. Era a única resposta para meu comportamento flutuante desde então. Depois que conheci tão enigmática presença impressa na realidade impalpável das coisas, nunca mais meus olhos e sentidos foram-me egoístas. Daí pra diante tudo era de outras cores e paladares, outros ouvidos e cheiros. Estava eu em um mundo distinto – um que ele conhecia melhor do que eu, há minha exata idade – e que por bondosa afeição, permitiu-se invadir. Invadir com consentimento, se sabemos o que isso significa em terras longínquas, terras estrangeiras. Do mesmo estrangeirismo que eu tenho desde que aqui nasci. “Encontramos nossos iguais”, uma voz dizia-nos a todo instante em silenciosa presença de espírito em mim e nele, Amor.

Pisava em chãos nunca antes imaginados por mim, e que agora estavam todos ali, bem a minha frente, como criaturas e perfumes etéreos, ou talvez eram apenas o toque de suas mãos, e pernas...? Deixava-me ir, (até ao Inferno ou Paraíso, caso assim o fosse). Deixava-me ir até o Fim-do-Mundo, se assim ele o desejasse. Era eu apenas divagações de um sonho maravilhoso e poético. Estávamos como ar que se respira um gigante ou um dragão alegre pelos ares, um Fogo de três labaredas, o Coração.

Outra Beleza. Instantânea Beleza que ao passo material enganoso dos olhos apenas ele e eu podíamos alcançar. Era um monte, ou um sorriso infantil, ou mesmo um piar de pássaro. Podia ser eu, ou ele, ou ambos em um ao mesmo tempo... deixava-me ir, porque éramos uma só imaginação fértil – Literatura e Vida.

Disso tudo, o que ainda me mantinha ancorada em terra eram seus olhos sem sono, que eram os mesmos que os meus quando me via em qualquer espelho. Seus olhos nasceram em meu rosto, e meu rosto era o dele agora. Outra beleza. Fina, etérea, indescritível, impensada e intocável. Éramos ambos, outra Beleza inalcançada e enroscada um no corpo do outro... uma alma dentro da outra, Árvore da Vida.

E as palavras, e seja qualquer outro artifício impossível de nos alcançar, apenas ele e eu sabíamos o que éramos juntos, pois Éramos Juntos – universo de livros e fadas. Um assombro de Vida em corações pequeninos e sem corpos de sangue, fora de nós num único pedaço de Vida Cintilante por aí. Outra Beleza... não desse mundo, do mundo dele, em que agora eu habitaria junto daquela respiração que tinha seu nome por Toda Eternidade. Ele era minha Pátria desde sempre, minha respiração e Fogo, Vicente.

Katiuscia DeSá
23 de novembro de 2009

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Espelho




Folhas de inverno seco
Palavras,
Escritos,
Pedacinhos de vidas
Imaginações imaginadas
Cabeças pensam
Vidas vivas
Tua literatura,
A minha...
Espelho.

Pernas de ruas
Pares de beijos
Escritos e grafados
Penas em bico,
Pergaminhos secretos
Tua grafia
E a minha

Sulcos de vento
Neblinas da noite...
[Nossa noite]
Nossas pernas,
Amor
Memória-viva.

Vida grafada em minh’alma
Pernas nuas,
Amor de espelho
Eu
Toda tua...

Um mirante aportou.
Navego em ti,
Nome russo
Franz-fragatas
Amoroso.
Serenidade
Tornei-me tua tripulação,
Arcanjo de sonhos
Delicadeza de vida
Laços de penas no papel
Amor,
Amor,
Amor...
Tua literatura
E a minha
Espelho.


Katiuscia DeSá
19 de novembro de 2009

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

VIDA

(Para meu Amor, vFc)


"(...) realidade total, não fragmentada em esferas separadas, em que o Belo não fosse diferente da Verdade, a emoção do intelecto, o Espírito do corpo, a alegria da dor; em que o Homem sentisse a união com a Totalidade do Ser".
[O AMOR].
Ele sempre falava através da boca dela,
Um Beijo.
Ela sempre falava pela boca dele,
Criatura.
Ambos falavam pela boca um do outro,
Passarinhos.
O mesmo idioma,
O AMOR.


Citação: Grotowski, em "O TEATRO LABORATÓRIO DE JERZY GROTOWSKI / 1959 - 1969"

domingo, 8 de novembro de 2009

Heaven


(Para meu Amor, vFc)


Asfalto preto
Pés descalços
Peles nuas
Noite sem vento
Silêncio no mar...
Uma oração infantil escapara
Do Velho Mundo
Os Címbalos!

Ondas brotam no vazio
Alaúdes
Cem pessoas!
Sem pessoas...

Ambos afundaram em si
Silêncio,
Entrega,
Acordo,
Acordaram!
Flautas.
.
Três gerações em sinfonia única
Vento
A Evolução,
A Revolução...
Estado de Graça!
Paz
Na vontade de encontrá-la
Paz
Na vontade de enregá-la a ti

Os dois versos reunidos
Encontrados sem querer
Escritos ao acaso
E pronunciados por Ninguém
Alaúdes e Flautas,
Címbalos e Vento.

Duas Crianças Azuis.
Uma Branca,
Uma Verde...
Uma Flor rara e espinhenta abrira a boca
Num sorriso eterno de ternura.

Pela primeira vez na Vida
Dissera:
“eu te amo...”
Meu Azul-Anil curou-se hoje

Pela primeira vez gritei:
“eu te amo...”
Címbalos.

Pela primeira vez ouvi nossa voz:
“eu te amo...”
O Vento.

Crianças Azuis, somos quem somos?
Trago-te em meus braços, Menino-de-Asas
Que só tu sabes...
Enfrento o mundo,
Enfrento tudo!
Até eu...
Para protegê-lo!

Sim!
Somos Nós as Crianças Azuis.
Pela primeira vez gritei silêncio:
“eu te amo...”
Um tempo em espera
O diálogo profundo!

(Não fui à feira... não sem ti! Todas as frutas e legumes não têm sabor, se não beberes e comeres comigo. Não. Não fui à feira... Passarei fome e sede como tu. Estarei em retiro espiritual junto contigo... Encerrei-me ontem a noite e mergulhei meus olhos em letras, até voltares e tomares a minha mão...)

Címbalos e Vento,
Alaúdes e Flautas.
Três pessoas + três pessoas
= Duas em suspensão...

Pela primeira vez na Vida gritei:
“eu te amo...”
Címbalos,
Crianças Azuis
Era o som do Vento.

A Flor Laríngea curou-se
“eu te amo...”
Silêncio ecoando
No espaço vazio
Da tua órbita
Planeta Sol do meu peito!

Teu Silêncio,
Tua Paz,
Teu retiro...
Em mim.
Hoje consegui dizer-te:
“eu te amo...”

Nunca esquecerei.
Memória Eterna
Sinfonia de Três Gerações.
“eu te amo...”

És tu, a criatura mais linda que já vi,
Espelho,
Pássaro ao longo voando sobre.
Enfrenta o mundo.
Enfrenta tudo, até eu...
Porque consegui dizer-te:
“eu te amo...”

Estou sempre contigo,
A teu lado,
Numa cadeira de vento
Fora de mim aos Sétimos Dias
Aonde quer que sejas,
“eu te amo...”

Cem Faces,
Sem Faces.
Visão sentida por dentro
Tu em mim
Silêncio e Vazio

Paz
Dentro e Fora
a Oração cotidiana:
“eu te amo...”
Címbalos e Vento
Alaúdes e Flautas

Ela era o Ar
Ele suas Asas a bater
Sempre juntos,
“eu te amo...”


Katiuscia DeSá
Em:
07 de novembro de 2009.



sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Dreams



"Tudo o que vemos ou parecemos
não passa de um sonho dentro de um sonho".



(Edgar Allan Poe)
________________
*Desenho: "HOMEM SENTADO NA CADEIRA"
(lápis 6B e esfuminho)
Hellen Katiuscia de Sá/ 2004

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

"Paisagem Interior"


Música.
Borboletas no estomago.
Mãos frias e suadas.
O coração a mil...

O Amor é um Sol no meu peito,
E carrego na face a beleza do Amor.

És tu que se reflete em mim,
Espelho d'alma.

Amo-te, Vida.
Quero te mostrar o universo de felicidade
Que meu Espírito respira,
E soprar em ti a pureza da vida:
o Amor...



Katiuscia DeSá
04 de novembro de 2009
________________

*Foto: "Love in the morning",

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Volta...



Vem braço de vento...
Tua flor encarquilhada e gasta evapora-se pelo espaço-tempo
Das risadas outras
Apenas um gasto de fio puído
Murmúrio de tristezas
E tristezas

Não há mais olhos para as lágrimas
Nem lágrimas para teus olhos...
O sofrimento arrastou tudo
tal braço de mar!

Meu ente inerte
Dor de cabeça,
Nos braços e nas pernas,
Cadáver vivente...

Nas folhas de um rio “braçador”
E abrasador....
Minhas mãos pálidas e frias
Deitam o sangue que não me respira

Meus olhos doem de saudades


Nada restou
Exceto
ESPERANÇAS...


Outra vez um Sol...



Katiuscia de Sá
03/ 11/ 09
Às 3:34PM
_______________
Desenho: "Pé de Mulher" (lápis B6 e esfuminho)
Hellen Katiusica de Sá

domingo, 1 de novembro de 2009

O Guerreiro Pacífico


do livro A ARTE DA PAZ, traduzido do chinês e adaptado por Philip Dunn. São Paulo: editora Planeta Brasil, 2003.
(fragmentos)


"São cinco os métodos do Guerreiro Pacífico: amor, consciência, vigilância, silêncio e poder. Relaxamento e aceitação dão origem ao amor; amor e presença dão origem à consciência; a consciência dá origem ao silêncio; e o silêncio, à vigilância. Amor, consciência, vigilância e silêncio dão origem ao poder".

"Para que o poder e a força estejam facilmente disponíveis, o guerreiro deve descobrir a vacuidade e a plenitude, consegue isso por meio da consciência e do inesperado (...). A vida é uma jornada, não um lar. Somos todos viajantes empenhados numa busca, e a existência irá oferecer-nos o inesperado sempre que estivermos abertos para absorvê-lo e aprender com ele. Essa é a verdadeira educação".

"Na vida, só há momentos, cada qual diferente do outro. Não há padrão algum, exceto a falta de padrão. A mente tenta fabricar padrões e sempre falha".

"Assim, quando aqueles que vêm têm confiança, é possível conduzí-los adiante. Quando são arrogantes, é possível recomeçar com novas lições. Quando têm sono, é possível acordá-los. Portanto, o guerreiro pacífico esconde-se onde não poderá ser encontrado; desaparece, refugiando-se no último lugar em que esperaríamos que estivesse"

"O guerreiro pacífico sempre se tornará um professor, pois a consciência, uma vez aprendida, deve recompensar a vida, e essa recompenssa à vida assumirá, invariavelmente, a forma de uma doação aos seres insconsciêntes. Não há por que ter orgulho disso. O guerreiro pacífico não sairá em busca de discípulos. Estará disponível, quando os outros estiverem buscando sabedoria"

"Assim, todos aqueles que encontraram a luz interior devem, em virtude da compaixão resultante, trazer luz aos outros da mesma maneira".

"Com o verdadeiro mestre, você terá de trabalhar duro. Às vezes, será doloroso. O verdadeiro mestre trabalha em você como se fosse um escultor, desbastando-o com o cinzel. Irá tirar pedaços e lascas para modificar seus hábitos e dar-lhes nova vida. Num sentido profundamente verdadeiro, o verdadeiro mestre irá matá-lo, pois matará seu ego. Na verdade, ele é a fonte de sua morte, pois somente após a morte temos alguma chance de ressurreição."

"Em geral, para aprender algo a nosso respeito, somamos nossa experiência passada e a sabedoria alheia. (...). Nada é mais difícil do que conhecer a si mesmo. A maior de todas as dificuldades envolvidas no autoconhecimento é a transformação do negativo em positivo (...). Não nos ensinam que devemos primeiro conhecer quem somos e que, se não soubermos quem somos, nada do que conhecermos terá valor".

"Enxergar é apenas questão de claridade - olhos abertos, mente aberta, coração aberto (...) basta permanecer pronto e receptivo (...). A verdadeira visão é nua. Só é possível alcançar quando se está absolutamente nu. [Quando] chegamos de mãos vazias (...)".
.
"Se vier com algum conhecimento, já vem corrompido. Se vier com inocência, sabendo que nada sabe, as portas se abrem. Só quem não tem conhecimento algum é capaz de conhecer".
.
"O amor não chega automaticamente com o relacionamento. O relacionamento cria o chão no qual você pode amar, mas é preciso ter amor dentro de si. Isso não acontece porque alguém nos diz para amar. Ame primeiro a si mesmo. O resto é consequência".
.
"Não tente salvar quem está se afogando. Deixe quem está se debatendo afundar. Você não conhece as necessidades dele. Adapte-se apenas àqueles que nadam em sua direção (...) VOCÊ SÓ PODE DAR AQUILO QUE VOCÊ É".
.
"Permaneça no âmbito de seu próprio poder e silêncio. Permita que seu amor fique intacto. Nunca lute contra a corrente. Permita que ela o carregue juntamente com todos que vierem com você".
.
"Para uma pequena planta, o mundo todo é uma crise potencial. Há milhares de riscos em volta. Para a semente, não há perigo. A semente está aprisionada, protegida. A semente é resistente e segura, enquanto a planta - tão frágil e delicada, podendo ser destruída com muita facilidade. A flor é mais frágil que a planta - tão frágil quanto um poema. O perfume da flor é ainda mais frágil - em pouco tempo, desaparece. Todo crescimento dá-se em direção ao desconhecido, à fragilidade, ao indefinível. Quando enfrentar uma crise, volte a seu centro - à semente de sua existência. Posicionado ali, será capaz de agir com confiança".

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

MIHR Ã-WAY


Sou uma menina estranha
E rígida como os talos de trigo curvados
E felizes à reação do vento.



Atingi minha infância de maneira tão trágica
Que ninguém consegue estar em mim,
Senão através do total exílio de si mesmo.

Sou casada comigo
- A Lua e o Sol num céu impenetrável!



Não sei em que ano estou...
Apenas sei que trafego em algum ponto...


Vivo em mim somente,
E a única ponte entre o exterior e meu mundo,
É a minha respiração...



Katiuscia de Sá
28 de setembro de 2008.
______________

terça-feira, 13 de outubro de 2009

MAGNETISMO PESSOAL

Todas as coisas existentes no universo são regidas por uma energia sutil, inerente e participativa em todas as coisas, sejam palpáveis ou não. Estamos falando da Energia Cósmica.

Essa Energia Cósmica, já amplamente estudada e citada por todas as ciências, tanto exatas quanto esotéricas, é o que governa nosso magnetismo pessoal ou carisma. Por exemplo: na Cabala a Energia Cósmica é chamada de “Luz Astral”; para os hindus trata-se da energia “Prana”; para os chineses é a energia “CHI”; para os japoneses é “KI”.

O fato é que tudo é constituído de energia. Então vamos compreender o significado profundo da palavra ENERGIA. Ela deriva do grego “energes” = ativo. “Energes”, por sua vez, deriva de outra palavra grega “ergon” = obra. Logo, conclui-se que energia significa “atividade”. Quando tornamos algo ativo esse algo muda de forma. Melhor dizendo se transforma, se projeta ou se retrai. Mas está em movimento independentemente da direção em que é impelida.

Os seres vivos absorvem a Energia Cósmica através de inúmeras fontes. Citemos algumas: ingestão de alimentos sólidos e/ou líquidos; energia do sol; ar atmosférico, sendo a respiração e a pele os veículos para essa absorção; chakras; sono; através também da consciência, sendo a projeção astral o veículo para absorção mais intensa da Energia Astral diretamente do plano astral.

A Energia Cósmica, a priori, é impessoal. Os seres que a absorvem a tornam pessoal por seu próprio metabolismo físico constituinte, transformando essa Energia Cósmica em combustível, de acordo com suas necessidades instintivas. Nos seres humanos esse metabolismo vai mais além.

Os seres humanos, por se tratarem de seres pensantes, ou seja dotados de raciocínio, absorvem a Energia Cósmica e a metabolizam para as mais diversas formas de manifestação. O artista transforma essa energia em inspiração para criar. O médico, em vontade de curar pessoas, etc. Isso se chama magnetismo pessoal ou carisma. Vemos aqui a Energia Cósmica sendo transformada pela vontade, característica pessoal do indivíduo.

Quando o ser humano se encontra apático, sem ânimo para nada é porque essa energia está estagnada dentro de si. Como foi dito antes, energia é atividade. Se estiver acumulada torna-se “pesada” e a pessoa se mostra tímida, reclusa, apática, em desequilíbrio, doente... Algumas pessoas nasceram com um magnetismo pessoal (ou carisma) fantástico! E outras nem tanto. O que implica nesse aspecto?

A maneira como a pessoa utiliza a sua energia é que interfere no fato de ser ou não dotada de grande carisma. Uma pessoa que é tímida mas quer reverter esse quadro, vai procurar fazer terapias ou esportes que precisam de contato com outras pessoas visando projetar a energia estagnada dentro de si. Fazendo isso a atividade interior para qual sua energia está sendo focalizada, muda. Logo, o metabolismo toma outro aspecto. O que antes estava acumulado ocasionando reclusão, medo, timidez, desequilíbrio, doença... toma outro direcionamento. A vontade pessoal transformou essa energia antes interior e estagnada em algo em movimento exteriorizado.

Mudando de comportamento, alimentação e hábitos, mudamos a maneira de nos expressar. Mudar às vezes é necessário para viver uma vida mais plena e saudável. Energia é movimento. Mudar também é movimento de transformação. O que não se movimenta enferruja... Somos os nossos dons. Seja o que você tem vontade de ser e seja feliz!


Hellen Katiuscia de Sá
13 de setembro de 2005
__________________
Imagem: Claude-Monet

sábado, 10 de outubro de 2009

Fiat Lux!


"Iluminismo é a saída do ser humano de sua menoridade por culpa própria.
Menoridade é a incapacidade de usar o seu intelecto sem orientação de outra pessoa.
Culpa própria é a menoridade quando a causa dela não está na falta de intelecto, mas na falta de decisão e de vontade de guiar-se por si sem a orientação de outra pessoa.
Tenha coragem de usar o seu próprio intelecto, este é o lema do Iluminismo... Pensar significa procurar dentro de si mesmo (ou seja, dentro de sua própria razão) a suprema pedra-de-toque da verdade, e a máxima: ter sempre um pensamento próprio, é Iluminismo... Ser esclarecido quer dizer: procurar dentro de si mesmo a suprema pedra-de-toque da verdade de meu juízo, o fundamento do que considero ser verdadeiro (pois tenho responsabilidade por isso)".


Citação de Immanuel Kant, em Kant - A Força do Pensamento Autônomo.
NIQUET, Bernd. Petópolis, RJ: Vozes, 2008.
______________________
*desenho de Hellen Katiuscia de Sá
"O Escrevedor Romano" (grafite sobre o papel)

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Amor-Confiança-Entrega-Vida-Uno

Foto: "Vida! Como eu te quero..."
.
.
vídeo "PYLOBOLUS"

Brincar de Viver

*foto: Henri Cartier-Bresson

“Quem é mestre na arte de viver faz pouca distinção entre seu trabalho e seu tempo vago, entre sua mente e seu corpo, entre sua formação e sua recreação, entre seu amor e sua religião. Tem dificuldade em diferenciar uma coisa da outra. Almeja, simplesmente, sua visão de excelência em tudo aquilo que faz, deixando que os outros decidam se está trabalhando ou brincando. Ele pensa que está sempre fazendo ambas as coisas”
.
- Pensamento zen-budista –
Do livro O PRINCÍPIO DA SABEDORIA.
MACÊDO, Gutemberg B. de, São Paulo. Ed. Saraiva, 2008.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

O Despertar da Vida


“A criação parece resultar da imperfeição... do esforço, da frustração... e é daí que acho que veio a linguagem, quer dizer, veio do nosso desejo de transcender nosso isolamento e ter uma espécie de ligação com o outro. E tinha que ser fácil quando era simples sobrevivência, como por exemplo – água – nos imaginamos o som dela... ou um tigre enorme está atrás de você, e nos imaginamos o som dele, mas quando fica mais interessante é quando usamos o mesmo sistema de símbolos para comunicarmos todas as coisas abstratas e intangíveis que experimentamos.

O que tem haver com “frustração”? ou com “raiva”? ou com “amor”? Quando digo “amor”, o som sai da minha boca e atinge o ouvido de outra pessoa, viaja através de um conduíte bizantino no cérebro deles, através das lembranças de amor ou falta de amor... e eles registram o que estou dizendo, e respondem “sim, estou entendendo...”

Mas como sei que entendem? Porque as palavras são inertes...são apenas símbolos, estão mortas, sabe! E muita coisa de nossa experiência é intangível, tanto quanto que percebemos não pode ser expresso é indescritível... e além disso, quando nos comunicamos um com o outro e nós sentimos que estamos conectados, se sentirmos que somos compreendidos, acho que temos um sentimento quase de espiritual comunhão, e esse sentimento pode ser efêmero, mas acho que é por isso que vivemos...”



*Fragmentos do filme WAKING LIFE – O Despertar da Vida

Conhecer...


“Deslizar com os próprios sentimentos para o interior da estrutura dinâmica de um objeto, um pilar, um cristal ou um galho de árvore, ou mesmo de um animal ou um homem, como se fosse observá-lo de seu interior, compreender a formação e capacidade de movimentação do objeto com percepções dos próprios músculos. Isso significa transpor-se até ele e para dentro dele”.

Martin Buber
(filósofo alemão)

___________________
*foto: DDiArte

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

A ARTE DE AMAR


A arte de amar requer simplicidade, aceitação e harmonia entre os parceiros, configurando o ato sexual em algo sagrado sem se desfazer ou envergonhar-se de conseguir o total prazer físico e psíquico. O êxtase absoluto pode ser visto como uma sublimação divina, fazendo com que a troca de energias entre o casal se aproxime ao Infinito.

O Tantra é uma filosofia comportamental cujas escrituras são fundamentadas na tradição oral do povo drávida, que habitou a região onde hoje é a Índia, há cerca de cinco mil anos. A prática tântrica no amor objetiva explorar ao máximo os sentidos e não os reprimr. Essa filosofia comportamental tem como base três princípios: o matriarcado, o sensorialismo e a desrepressão.
Para que ocorra o êxtase geral, primeiramente a emoção suave e delicada do amor deve invadir o coração do casal enamorado; isso é de suma importância na experiência tântrica. Esse aspecto já produz psiquicamente o êxtase alquímico que pode ou não ser seguido pelo êxtase físico.

O êxtase alquímico pode ocorrer com o simples pensamento no parceiro independentemente de se encontrarem ao lado um do outro. Essa afinidade amorosa em si já é uma benção para qualquer ser humano e é a chave principal para a prática do “maithuna” (dança) dentro da filosofia tântrica. O exercício do “maithuna” traz mais potencialidade sexual, equilibrando as energias que antes seriam gastas com o orgasmo, deixando os parceiros livres com mais disposição e criatividade.
Para os hindus essa energia sexual é uma ferramenta para o desenvolvimento humano. A arte do amor tântrico proporciona ao homem e à mulher o retorno à inocência original, eliminando tabus, repressões e medos, contribuindo para florescer o mais puro dos sentimentos: o Amor em seu êxtase de sublimação espiritual.
A mulher é sagrada na filosofia tântrica. Figurativamente ela se transforma na deusa “Shakti” - o coração do Tantra (ela é identificada como a Grande Mãe ou Mãe Divina criadora de todas as formas de vida: mental, amorosa e biológica do planeta); e o homem, no deus Shiva.

No ato sexual a energia dos consortes deve misturar-se à energia do universo. Com a prática tântrica a potência proveniente do coito desprende-se dos órgãos sexuais percorrendo todo o corpo, inundando cada célula de ambos participantes, contribuindo para despertar a serpente Kundalini.

A energia Kundalini, segundo os hindus, dorme sobre a base da coluna vertebral. Trata-se da energia criativa concentrada no alicerce de nossa consciência. Quando a Kundalini invade nosso ser estamos vivendo plenamente nosso potencial. Por isso o sexo tântrico é sagrado, uma meditação a dois, galgada no Amor Puro e absoluto entre o casal, que os leva atingir a plenitude através de experiências sensoriais sem limites...



Katiuscia DeSá
20 de agosto de 2005
________________________
*foto: albano soares



*Referências e mais informações:






Phoenix


Phoenix, Fênix ou Phoinix (grego) é a lendária ave que ateia fogo em si mesma quando descobre que está para morrer. Ela povoou o imaginário mitológico das antigas civilizações egípcia e grega. A lenda diz que a primeira Phoenix surgiu de uma centelha que o deus Ra soprou sobre a face da Terra, representando o Fogo Sagrado da Criação.

Segundo a lenda, seu habitat é entre os desertos da Arábia, entre as ervas e temperos aromáticos. Ela vive por volta de 500 anos e após esse período procura uma árvore solitária e, no alto de sua copa, faz seu ninho com canela, olíbano (uma espécie de goma-resina, encontrado na África e na Índia; especiaria muito utilizada na Antiguidade para se fazer incenso) e mirra (espécie de arbusto encontrado em regiões desérticas, especialmente na África e no Oriente Médio). Ela, então, ateia-se fogo e de suas cinzas surge um pequeno ovo vermelho de onde nasce uma outra Phoenix, mais forte e mais bonita.

Ela representa a imortalidade do ser, o poder de mudança, de consciência de si mesmo. Pode ser vista, também, como um modelo de perfeição ou de beleza absoluta.Na mitologia egípcia a Phoenix é reverenciada como a personificação do deus Ra (deus do sol). Existe somente uma da espécie e é por isso que o deus Ra jurou que enquanto a Phoenix renascer das cinzas, a esperança, no mundo, nunca morrerá.

Portanto, a Phoenix representa a depuração da alma. Segundo a lenda, o tamanho da ave assemelha-se ao da águia. Tem olhos brilhantes como as cores das estrelas. Sua plumagem é dourada no pescoço e no papo; púrpura no restante do corpo; possui uma crista formada por penas finíssimas e delicadas, sendo sua calda constituída por penas longas e suaves, nas cores branca e vermelha.Na mitologia oriental também existe uma Phoenix que simboliza a felicidade, a virtude e a inteligência.

E sua plumagem é feita das sete cores sagradas para os orientais: as cores do arco-íris. Que tal nos vestirmos de Phoenix e renascermos a cada passagem de nossas vidas, sempre visando o aperfeiçoamento moral? Certamente é um belo convite.


Katiuscia DeSá
13 de março de 2005

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Aos que vierem depois de nós



Bertolt Brecht

(Tradução de Manuel Bandeira)


Realmente, vivemos muito sombrios!
A inocência é loucura. Uma fronte sem rugas
denota insensibilidade. Aquele que ri
ainda não recebeu a terrível notícia
que está para chegar.

Que tempos são estes, em que
é quase um delito
falar de coisas inocentes
.Pois implica silenciar tantos horrores!
Esse que cruza tranqüilamente a rua
não poderá jamais ser encontrado
pelos amigos que precisam de ajuda?
É certo: ganho o meu pão ainda,
Mas acreditai-me: é pura casualidade.


Nada do que faço justifica
que eu possa comer até fartar-me.
Por enquanto as coisas me correm bem
[(se a sorte me abandonar estou perdido).


E dizem-me: "Bebe, come! Alegra-te, pois tens o quê!"
Mas como posso comer e beber,
se ao faminto arrebato o que como,
se o copo de água falta ao sedento?
E todavia continuo comendo e bebendo.
Também gostaria de ser um sábio.


Os livros antigos nos falam da sabedoria:
é quedar-se afastado das lutas do mundoe, sem temores,
deixar correr o breve tempo. Mas
evitar a violência,
retribuir o mal com o bem,
não satisfazer os desejos,

antes esquecê-losé o que chamam sabedoria.


E eu não posso fazê-lo. Realmente,
vivemos tempos sombrios.
Para as cidades vim em tempos de desordem,
quando reinava a fome.


Misturei-me aos homens em tempos turbulentose indignei-me com eles.
Assim passou o tempoque me foi concedido na terra.
Comi o meu pão em meio às batalhas.
Deitei-me para dormir entre os assassinos.
Do amor me ocupei descuidadamente
e não tive paciência com a Natureza.


Assim passou o tempo
que me foi concedido na terra.
No meu tempo as ruas conduziam aos atoleiros.
A palavra traiu-me ante o verdugo.
Era muito pouco o que eu podia.
Mas os governantes
Se sentiam, sem mim, mais seguros, — espero.
Assim passou o tempo
que me foi concedido na terra.
As forças eram escassas. E a meta
achava-se muito distante.
Pude divisá-la claramente,
ainda quando parecia, para mim, inatingível.
Assim passou o tempo
que me foi concedido na terra.

Vós, que surgireis da maré
em que perecemos,
lembrai-vos também,
quando falardes das nossas fraquezas,
lembrai-vos dos tempos sombrios
de que pudestes escapar.

Íamos, com efeito,
mudando mais freqüentemente de país
do que de sapatos,
através das lutas de classes,
desesperados,
quando havia só injustiça e nenhuma indignação.

E, contudo, sabemos
que também o ódio contra a baixeza
endurece a voz. Ah, os que quisemos
preparar terreno para a bondade
não pudemos ser bons.
Vós, porém, quando chegar o momento
em que o homem seja bom para o homem,
lembrai-vos de nós com indulgência.

domingo, 20 de setembro de 2009

Os Cegos Do Castelo


"Sorrisos-Olhos" canta para "Menino-de-Asas"


"Eu não quero mais mentir
Usar espinhos
Que só causam dor
Eu não enxergo mais o inferno
Que me atraiu.

Dos cegos do castelo
Me despeço e vou
A pé até encontrar
Um caminho,
Um lugar
Pro que eu sou...
.
Eu não quero mais dormir
De olhos abertos
Me esquenta o sol
Eu não espero que um revólver
Venha explodir
.
Na minha testa se anunciou
A pé a fé devagar
Foge o destino do azar
Que restou...
.
E se você puder me olhar
Se você quiser me achar
E se você trouxer o seu lar
Eu vou cuidar...
Eu cuidarei dele
.
Eu vou cuidar
Do seu jardim...
Eu vou cuidar!
Eu cuidarei muito bem dele!
Eu vou cuidar!
.
Eu cuidarei do seu jantar
Do céu e do mar
E de você e de mim..."



(Nando Reis)
__________________________
*Foto: Katiuscia de Sá

sábado, 19 de setembro de 2009

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Casamento



A Brancuda dos Dias
Envolveram a Flor Adormecida...
O Cântico do Vento

Ouvidos beijados,
Ao abraço do Infinito!



Katiuscia de Sá
18/09/09

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

ETERNA LIRA...


“os germes da vida perdem-se na vasa profunda. À superfície de coágulos de putrefação, borbulha, espaçadamente, hálito mefítico do miasma fermentando ao sol, subindo a denegrir o céu, com a vaporização da morte.
Os pássaros calados fogem; as poucas árvores, próximas no ar parado, debruçam-se sobre si mesmas num desanimo melancólico de salgueiros...
A arte significa a alegria do movimento, ou um grito de suprema dor nas sociedades que sofrem. Entre nós a alegria é um cadáver...
A condição da alma é a prostração comatosa de uma inércia mórbida (...) sobrevive, porém, o poema consolador e supremo, a eterna lira...
Reinou primeiro o mármore e as formas. Reinaram as cores e os contornos, reinam agora os sons – a Música e a Palavra.
Humanizou-se o Ideal (...)
Sonho, sentimento artístico ou contemplação, é o prazer atento da harmonia, da simetria, do ritmo, do acorde das impressões, com a vibração da sensibilidade nervosa.
É a sensação transformada (...) a obra de arte é a manifestação do sentimento.
Para que serve a Arte?
Originária da propensão erótica, fora do amor, a arte é inútil – inútil como o esplendor corado das pétalas sobre a fecundidade do ovário (...)
A arte é uma consequência não um preparativo (...)
Cruel, obscena, egoísta, imortal, eternamente selvagem... A arte é superior à alma humana (...), desdenha dos séculos efêmeros.”


(Raul Pompéia, em “O Ateneu”)

*Este fragmento acompanhou minha performance "A LIRA DE POMPÉIA", executada em 2008 no CENA ABERTA.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

A CONSTRUÇÃO DA PERSONAGEM

(um exercício de interpretação teatral)

Rosa estava então com vinte e nove anos, sua aparência, entretanto, sorria-lhe com uns vinte dois. Mesmo com os altos e baixos da profissão que escolhera, os meses lhe foram gentis. Sofrera muito um tempo atrás. Seu corpo padecera pelas mãos de seu ex-marido. Além das marcas externas, (estas foram cicatrizadas), havia uma dor que nunca a abandonaria: um aborto...

Mas agora era vida nova! Bola pra frente e muitos clientes! A profissão que escolhera era-lhe bastante rentável. Havia noites que acumulava o montante de três meses de trabalho de carteira assinada de apenas um salário. Em outras, porém, mal davam para lucrar o valor das roupas que vestia.

Aparentemente Rosa se esquecera daquele incidente com seu ex-marido, sorria nervosamente; vestia-se para valorizar-se e comportava-se estonteante... mas por dentro se ressentia pela perda do filho que nem pôde nascer, e mais ainda pelas circunstancias como tudo aconteceu.

Seu temperamento tinha espinhos, como seu próprio nome sugeria, era teimosa e devido a alguns fatos da vida, tornou-se arrogante e estúpida por vezes. Fazia de tudo para manter erguida sua cabeça. Não hesitava caso tivesse de brigar para ter firme sua auto-estima. Seu instinto de auto-sobrevivência era demasiadamente forte!

Por tudo o que lhe acontecera, quase tão recentemente, Rosa às vezes se sentia como uma velha viúva-negra, sem mesmo ter dado cabo de seu consorte... sua alma cheirava à sangue coagulado, queimaduras expostas em seus ossos.

Todas essas lembranças latentes... um dia retornaram quando num quarto encontrou-se com um de seus clientes. A partir daquela noite, tudo poderia ter um fim...


Katiuscia de Sá
13 de setembro de 2009
______________________

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Sementes...
























.
Por *Paulo Urban


"Na mitologia hindu encontramos concepção cosmogônica semelhante. O tantrismo roga que entre cada um dos ciclos de vida e morte do universo há um período de repouso durante o qual Vishnu, o princípio conservador de Brahma, repousa sobre Ananta, a serpente da eternidade. Nesta condição atemporal, Shiva, o princípio desorganizador de Brahma, está imiscuído de modo indiferenciado em seu próprio poder, Shakti. Quando Shiva inicia sua dança, o universo é então criado, e Shakti, operando agora como Prakriti (energia primordial incapturável e imperceptível da qual todas as formas de vida evoluem) desenvolve todo o universo desde os tattva (mundos) mais sutis até os mais densos, até criar a mente, os sentidos e a matéria sensível sob suas cinco formas, éter, água, fogo, terra e ar. Quando Shakti penetra no último e mais grosseiro dos tattva, a "terra", ou seja, a matéria sólida, sua missão está acabada. Shakti aí adormece sob a forma de Shesha, a serpente que sustenta o mundo, até a próxima era da nova Criação. Shesha nada mais é que um correlato da serpente cósmica Ananta, o infinito, e sua função é a de suportar o orbe e tudo o que nele se manifeste. Shesha e Ananta compõem, respectivamente, o sono divino e o divino despertar de Brahma".



*Paulo Urban é médico psiquiatra, psicoterapeuta e acupunturista.


Fonte: http://www.amigodaalma.com.br/conteudo/artigos/simbolismo_serpente.htm.br/conteudo/artigos/simbolismo_serpente.htm

O Fim é o Começo...






















“... A despeito de tudo, ela ainda o amava, ela o amaria até o dia em que ambos estivessem mortos; ela o conhecera desde o começo dos tempos, e juntos eles adotaram sua Deusa. O tempo escoou e pareceria que eles estavam fora do tempo, que lhe tinha dado vida, que ela o derrubava como uma árvore, e que nascia novamente em um grão, que ele morria ao seu desejo e que ela o pegava em seus braços e o trazia de volta à vida...”







Marion Zimmer Bradley,
em “As Brumas de Avalon” – Livro IV, pg. 97.
Editora Imago.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Amarelo


















*Foto: Katiuscia de Sá


Quero acordar flor-desabrochada todas as manhãs, recolhida em teus braços perfumando teu corpo e regando teu arado com minhas pétalas a cair-lhe em solo, colorindo de vida o que d’antes ocre e pó-cinza eram.

Quero beijar-te nossas bocas-olivas e delas partilhar nossa saliva – água da vida, porção de líquido precioso, córregos da veia-terra, irrigando cidades e prados.


Quero dar-te o Luar e o Sol através do colo quente, coito flautado de passarinhos nascentes festejando as novas cores do céu bem florido.

E por tudo isso, dou-lhe minha Alma e Alegria em lágrimas silenciosas e escondidas para que ninguém, além de Ti, saiba compreender por toda eternidade, o que Juntos Somos...


Katiuscia de Sá
07 de setembro de 2009

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

*CINTILANTE*


















“FALA ARJUNA:Explica-me, ó Mestre, quais as características de um homem que tenha atingido perfeita sabedoria por experiência espiritual absoluta (samadhi); como fala um homem auto-realizado? Como é que ele vive e age?

FALA KRISHNA:Quando o homem é perfeitamente liberto de todos os desejos do ego finito e alcançou a paz da alma pela realização do Eu divino, então, é um homem de perfeita sabedoria.

Quando alguém permanece calmo e sereno no meio do sofrimento, quando não espera receber do mundo objetivo permanente felicidade e quando é livre de apego, medo e ódio – então é ele um homem de perfeita sabedoria.Quando não é apegado a um e indiferente a outro; enquanto não se alegra em excesso com o que é agradável, nem se entristece excessivamente com o que é desagradável – então é ele um homem de perfeita sabedoria.

Quando o yogui é capaz de retrair totalmente os seus sentidos dos objetos sensórios, assim como a tartaruga retrai para dentro de si os seus membros – então está firmemente estabelecido na sabedoria.Pela prática da abstenção pode alguém amortecer os seus sentidos e torná-los insensíveis aos prazeres sensitivos; mas não torna necessariamente insensível aos desejos dos mesmos, o desejo dos prazeres sensitivos cessa somente quando o homem entra em contato com o Espírito Supremo dentro dele.

Ó Arjuna! Os sentidos descontrolados arrebatam com violência a mente, até do homem sábio em determinada perfeição, se não tiver a devida compreensão.Por isso o yogui domina os seus sentidos, dirigindo-os a mim e assim se torna ele firmemente estabelecido em mim, o Ser Supremo. O homem que tem perfeito domínio sobre os seus sentidos é um sábio.Quem pensa sempre em objetos sensórios apega-se a eles; desse apego nasce o prazer e o prazer gera inquietação.A inquietação produz a ilusão; a ilusão destrói a nitidez da discriminação; e, uma vez destruída a discriminação, esquece-se o homem da sua natureza espiritual – e com isto vai rumo ao abismo.

Mas o homem que possui domínio sobre o mundo dos sentidos e da mente, sem odiar nada nem se apegar a nada, orientado pelo Eu central, este encontra a paz. Essa paz neutraliza todas as inquietações e o homem que goza de paz goza de verdadeira beatitude – e acaba por superar também os males externos.Impossível a aquisição de sabedoria pela mente descontrolada; impossível a meditação para o homem inquieto! E se o homem não encontrar a paz dentro de si, como pode ser feliz? O homem sem o domínio sobre a sua mente e seus sentidos é como um navio levado à mercê das ondas.

Homem de perfeita sabedoria é aquele que possui perfeito domínio sobre seus sentidos com relação aos objetos sensórios. Onde para outros reina a escuridão, lá enxerga ele a claridade; e onde o profano fala em dia cheio de luz, lá o vidente espiritual não vê senão a noite tenebrosa da ignorância.Todos os rios deságuam no oceano, mas o oceano não transborda e em suas profundezas reina imperturbável tranqüilidade – assim é o homem iluminado pelo conhecimento de si mesmo: de todas as partes o invadem as impressões dos sentidos – e submergem todas no seu Eu imóvel e imperturbável.

Livre de todos os desejos, é o homem senhor, e não servo, dos prazeres; livre de propriedade, une-se ele com o Todo e encontra a paz verdadeira.Isto se chama viver na consciência de Brahman. Quem atingiu esse estado, nunca mais pode recair na ilusão antiga; e, vivendo nesse estado de consciência, o yogui alcança, finalmente, libertação absoluta na experiência de sua união com Brahman (nirvana).”

*Trecho do livro “BHAGAVAD GITA”, com tradução e notas de Huberto Rohden, Martin Claret Editora

Glossário:

BRAHMAN (neutro): é a Divindade Universal, a Essência Absoluta.
NIRVANA: quietação, o repouso na Verdade de Deus adquirido pela extinção de todos os desejos do ego humano.
YÔGA: união do finito com o infinito.
YOGUI: aquele que procura unir-se ao infinito.
___________________________

“BHAGAVAD GITA” quer dizer “CANÇÃO SUBLIME”. E é uma das passagens da poesia épica “MAHABHARATA”, escrita originalmente em sânscrito, e contém cerca de duas mil páginas. Ela, juntamente com o RAMAIANA, constitui o corpo fundamental da literatura sagrada indiana. A narração é dividida em 18 livros, mais ou menos oito vezes o volume da Ilíada e da Odisséia juntos.

A “Canção Sublime” é um convite ao ser humano para desenvolver seu autoconhecimento e sua auto-realização. Essa poesia foi traduzida para todas as línguas modernas e foi essa passagem que motivou Mahatma Gandhi em sua luta pela libertação política da Índia sem qualquer derramamento de sangue para chegar ao seu objetivo.

A poesia nos mostra o caminho do RETO-AGIR, ou seja, agir conscientemente e de acordo com a vontade interior, quando esta vem de um homem que conseguiu seu auto-controle. Desse modo, o RETO-AGIR torna-se expressão da Vontade Divina ou, simplesmente, é motivada pelo seu Eu verdadeiro. Em outras palavras, a vontade de Deus. Para tanto, “Krishna” explica a “Arjuna” que, normalmente, as pessoas vivem na ilusão do FALSO-AGIR e do NÃO-AGIR. Ambas impelem o homem num túnel cada vez mais profundo em erros.

A “Canção Sublime” busca mostrar que somente agindo por amor ao EU verdadeiro o homem age por consciência própria, livre de culpas. Porém, necessário se faz o conhecimento de si mesmo e isso é conseguido se mergulharmos no fundo de nós mesmos, para sabermos quem somos na realidade, sem artifícios ou máscaras. É um caminho difícil, mas não impossível!

“Canção Sublime” é uma leitura muito agradável. “Krishna” é o aspecto do homem cósmico; ele pode ter a figura de uma criança, uma moça ou um rapaz (ilustração acima). E “Arjuna” simboliza o homem governado por suas dúvidas e seu medo (o eu/ego humano). No caso da “Canção Sublime”, “Krishna” está representando nossa consciência, ou seja, nosso Eu divino. Se o escutarmos estaremos libertos.

“BHAGAVAD GITA” traduzido por Huberto Rohden, é muito suave e contém notas explicativas do tradutor sobre algumas expressões da poesia. Rohden também faz paralelo com os ensinamentos cristãos, sem o menor interesse de direcionar o que está sendo mostrado.


Katiuscia de Sá
23 de abril de 2005


segunda-feira, 31 de agosto de 2009

AMOR

Ela voltou para enxugar a chuva dos olhos Dele.
Decorou o caminho de nuvens de Sol espalhadas pelo sótão e decorou-lhe as pestanas a sorrir...

O lençol ainda carinhando os corpos,
Doce Lembrança Presente...

Ambos sorriam lampejos pelo fato do orvalho querer subir aos céus e derramar-se em seguida, como Ouro do Nascente.

Os paralelepípedos aconchegavam estrelas cadentes, vinham-me elas, nas mãos...
Tão belas.
São tuas, agora, Amor.
Meus Olhos a iluminarem teus Dias.

Abriram-se pétalas nascidas do alvorecer:
Passarinhos cantores erguiam suas faces pálidas, diante da Casa,
Quando o Lilás dos lábios sentiram os Dele,
O Verbo falou, novamente:
“AMOR...”

E o Silêncio nos disse que, finalmente Somos

UM




Katiuscia de Sá
31 de agosto de 2009

sábado, 29 de agosto de 2009

AMOR-APRENDIZ


(Para meu Amor...)



"É fácil trocar as palavras,
Difícil é interpretar os silêncios!
É fácil caminhar lado a lado,
Difícil é saber como se encontrar!
É fácil beijar o rosto,
Difícil é chegar ao coração!
É fácil apertar as mãos,
Difícil é reter o calor!
É fácil sentir o amor,
Difícil é conter sua torrente!"






(...)



"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas ...
Que já têm a forma do nosso corpo...
E esquecer os nossos caminhos que nos levam sempre aos mesmos lugares ...
É o tempo da travessia ...
E se não ousarmos fazê-la...
Teremos ficado...
Para sempre...
À margem de nós mesmos..."


(...)


"Quero ser o teu amigo.
Nem demais e nem de menos.
Nem tão longe e nem tão perto.
Na medida mais precisa que eu puder.
Mas amar-te sem medida e ficar na tua vida,
Da maneira mais discreta que eu souber.
Sem tirar-te a liberdade, sem jamais te sufocar.
Sem forçar tua vontade.
Sem falar, quando for hora de calar.
E sem calar, quando for hora de falar.
Nem ausente, nem presente por demais.
Simplesmente, calmamente, ser-te paz.
É bonito ser amigo, mas confesso é tão difícil aprender!
E por isso eu te suplico paciência.
Vou encher este teu rosto de lembranças,
Dá-me tempo, de acertar nossas distâncias..."

(...)

"Enquanto não superarmos a ânsia do amor sem limites,
Não podemos crescer ocasionalmente.
Enquanto não atravessarmos a dor de nossa própria solidão,
Continuaremos a nos buscar em outras metades.
Para viver a dois, antes, é necessário ser

UM".


(Fernando Pessoa - Fragmentos Diversos)

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

TEMPO


“É preciso prestar atenção ao tempo. Ele é importante para você, para as pessoas à sua volta e para as suas ações (...) ter respeito por si mesmo significa ter tempo para si mesmo. Ter respeito pelos outros significa ter tempo para os outros. Ter respeito para suas ações significa ter tempo para suas ações.

Você precisa ter uma outra concepção de tempo.

(...)

O que significa ter tempo para os outros?

O velho tinha sempre tempo para tudo. Mas às vezes também é necessário tempo para si mesmo. E, em algum momento, o tempo de cada um também iria se encerrar...”

*Trecho do livro “Buda – o encontro do equilíbrio”, de Werner Schwanfelder. Ed. Vozes.
.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Para nos ler, Amor...

(Com Ternura para meu Amor)





"Entre muitas outras coisas, tu eras para mim uma janela através da qual podia ver as ruas. Sozinho não o podia fazer".

















"Só podia encontrar a felicidade se conseguisse subverter o mundo para o fazer entrar no verdadeiro, no puro, no imutável".


















"Não é necessário sair de casa. Permaneça em sua mesa e ouça. Não apenas ouça, mas espere. Não apenas espere, mas fique sozinho em silêncio. Então o mundo se apresentará desmascarado. Em êxtase, se dobrará sobre os seus pés".
















"Um livro deve ser o machado que quebra o mar gelado em nós".










(Franz Kafka )





quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Rua dos Cataventos - I
















Escrevo diante da janela aberta.
Minha caneta é cor das venezianas:
Verde!... E que leves, lindas filigranas
Desenha o sol na página deserta!

Não sei que paisagista doidivanas
Mistura os tons... acerta... desacerta...
Sempre em busca de nova descoberta,
Vai colorindo as horas quotidianas...


Jogos da luz dançando na folhagem!
Do que eu ia escrever até me esqueço...
Pra que pensar? Também sou da paisagem...


Vago, solúvel no ar, fico sonhando...
E me transmuto... iriso-me... estremeço...
Nos leves dedos que me vão pintando!





(Mário Quintana)

terça-feira, 25 de agosto de 2009

CEM ANOS DE SOLIDÃO

Um casamento fugitivo que dera origem a sete gerações da família “Buendía-Iguarán” é o ponta-pé inicial para abordagens viscerais acerca das relações humanas. Um enlace entre primos legítimos, jovens apaixonados que tinham medo de que seus filhos nascessem com um “rabo de porco”, caso mantivessem relações sexuais. Em meio a esse temor, José Arcadio Buendía rapta e casa-se com sua prima Úrsula Iguarán, dão vida a três filhos saudáveis e sem o tal “rabo de porco”.

Imagens mágicas e poéticas são traduzidas como representações da condição humana, contendo as angústias, revoltas e esperanças dos moradores da cidade fictícia de “Macondo”.O romance fantástico-realista começa quando “as coisas não tinham nome” e segue até o período da chegada do telefone. José Arcadio Buendía atravessa pântanos, terras encantadas e perigosas para fundar sua própria cidade e ser feliz com sua recém criada família – surge fora do mapa, a mítica cidadela de “Macondo”, onde vez por outra aportavam ciganos trazendo as novidades, estranhezas inventadas por seu povo e notícias do mundo afora.

Um deles – Melquíades, ensina ao patriarca dos Buendía alguns segredos de Alquimia. Os experimentos e invenções dele ficam registrados numa língua estrangeira e dão corpo e vida a um livro velho e inacabado, que no futuro será decifrado por um dos descendentes da sétima geração da família Buendía (um filho bastardo: Aureliano Babilônia). O rapaz virá a receber “aulas” e pistas, diretamente do espectro de Melquíades, para decifrar o enigma contido no acervo. As escrituras contêm a saga de seus antepassados e um segredo profético para a própria linhagem dos Buendía.

Uma narrativa romântica e épica fascinante, caracterizada por alguns estudiosos como uma “enciclopédia do imaginário” e também como “realismo fantástico”. A trama é composta por 28 personagens semi-centrais (linhagem da família Buendía), sendo os patriarcas os principais da saga. As demais histórias giram em torno das personagens-protagonistas – José Arcadio Buendía e Úrsula Iguarán, com tamanha importância quanto.A maneira fenomenal de (d)escrever e(re)inventar “Macondo” e as personalidades e situações vividas pelos Buendía é o que mais chama atenção.

O escritor colombiano Gabriel García Márquez presenteia leitores do mundo inteiro com o dom de sua imaginação e poder simbólico através da escrita, essa é a genialidade e valor inestimável de Cem Anos de Solidão, que foi considerado, em março de 2007, no IV Congresso Internacional da Língua Espanhola, realizado em Cartagena, como a segunda obra mais importante de toda a literatura hispânica, ficando atrás apenas de Dom Quixote de la Mancha, de Miguel de Cervantes.

Para penetrar nos segredos contidos em Cem Anos de Solidão, o leitor deverá compreender um pouco sobre a própria história política da Colômbia e do escritor. Gabriel García Márquez utiliza muitas histórias da sua época de infância, contadas pelo seu avô materno (Nicolás Márquez), veterano da “Guerra dos Mil Dias”. Seu avô tinha muitos relatos, fatos… memórias que alimentaram a imaginação do menino Gabriel, que muitos anos depois, ao tornar-se escritor, dissera certa vez: “todo escritor escreve sempre o mesmo livro – o livro de sua própria vida…”.

O sobrenome de “Úrsula Iguarán”, é o sobrenome da mãe de “Gabito” (apelido de García Márquez).Segredos e fatos memoráveis da infância do escritor são descritos em Cem Anos de Solidão, histórias incríveis narradas de maneira tão sobrenatural com toques de verossimilhança, que o leitor se pega construindo visualmente cenas como borboletas amarelas seguindo os passos de um rapaz por onde quer que ele vá; a epidemia de “perda de memória”, em decorrência da insônia coletiva que assola os moradores de “Macondo” durante muito tempo; o desaparecimento a olhos vitos de uma moça (“Remédios, a Bela”), que à frente dos seus simplesmente “ascende” aos céus devido uma experiência transcendental… e por aí vai.

O importante na obra é observar como García Márquez coloca as personagens dentro do contexto sociocultural da Colômbia, os personagens carregam pequenas críticas sobre o comportamento social ao longo da história do País latino. Esse aspecto aparece tão sutilmente mascarado pela maneira de escrever, que pouco (ou nada) se percebe. A personalidade da protagonista – a matrona “Úrsula Buendía”, uma mulher forte dos pensamentos e de força física, cuida do lar e da prole com tamanha dedicação e paciência, enquanto o marido largava-se em uma consumida “atividade febril dos nervos” em torno de seus experimentos alucinantes…

A mulher da casa e as crianças esqueciam-se a cuidar da horta, cultivando a matéria-prima para o preparo dos bolinhos com os quais Úrsula gerava a renda da família.Comportamentos culturais bastante comuns em núcleos campesinos colombianos dão os aspectos de “realidade” dentro do épico, de modo que na vida de García Márquez, tal aspecto foi presenciado no momento em que sua família deixa a cidade de Aracataca para morar em outro lugar, devido à crise nas plantações de banana, desdobramento que afetara a economia local forçando a migração das pessoas para outras possibilidades.

A migração é um fator bastante explorado no livro através das atitudes das personagens (os moradores de “Macondo” chegavam de outros lugares para se estabelecerem na cidadela em busca de melhores condições de vida, como aconteceu com a família de “Remédios”, por exemplo).A intrigante abordagem de fatos sociais globais, ora de maneira bizarra, ora envolvidos por uma aura mágica embebida de místérios e fascínios próprios das lendas e costumes dos iíndos colombianos, gerou essa linha compreendida como “realismo fantástico”, introduzida na América Latina por Gabriel García Márquez a partir da publicação de Cem Anos de Solidão (maio de 1967).

A trajetória literária do escritor sofreu forte influência de Metamorfose, de Franz Kafka e das Mil e Uma Noites (uma coleção de contos orientais compilados provavelmente entre os séculos XIII e XVI, obra clássica da literatura persa). Cem Anos de Solidão é leitura obrigatória a todo cidadão do mundo. Cheia de fascínio, magia e alusão à realidade, o livro nos remete a nossas próprias fantasias e memórias de infância.


Katiuscia de Sá
Em: 26 de fevereiro de 2009.

____________________


Para ler um trecho do livro:
.