“o poeta é com efeito coisa leve, santa e alada; só é capaz de criar quando se transforma num indivíduo que a divindade habita e que, perdendo a cabeça, fica inteiramente fora de si mesmo. Sem que essa possessão se produza, nenhum ser humano será capaz de criar ou vaticinar.” [Platão]

terça-feira, 30 de julho de 2013

Sonata de Sofia (crônica)


Sofia era uma dessas garotas desligadas, dedicava tempo e atenção suficientes apenas para a manutenção normal de sua aparência física. Arrumava-se com vestimentas básicas, nada exageradamente. Beirava o recato do necessário; amiga da sobriedade e do discreto charme cotidiano, tudo sem grandes exageros e futilidade. A moça gostava mesmo era de deter-se em outros passatempos, que não esses comuns entre a maioria das mulheres – bolsas, sapatos, maquiagens, mexericos, etc... A tudo isso, preferia ela, coisas que acrescentassem ao seu desenvolvimento intelectual, e por isso mesmo era meio apatetada de outras coisas.

Embora fosse destituída de vaidade, chamava atenção quase todas as vezes que pisava o pé fora de casa. De natureza tímida e reservada, Sofia desconcertava-se sempre das vezes que recebia gracejos na rua... e não eram poucos. Outro dia voltava ela do supermercado, passou totalmente displicente próximo a dois rapazes, e um deles ao avista-la suspirou: “olha só que bebezona ela é...”. Num repente, Sofia baixou os olhos, e com as faces rubras seguiu caminhando fazendo de conta que não era com ela.

Numa noite voltava para casa após um compromisso. Sozinha, a jovem caminhava calmamente na rua mergulhada em seus pensamentos, quando em sua direção tornava-se mais vivaz o vulto de um rapaz pedalando uma bicicleta; e este como que hipnotizado pela aparição mitológica de uma sereia do asfalto, desatinou a gritar sem parar entusiasmado com os olhos vidrados em Sofia: “você é linda, você é linda, você é linda...”, parecia que tinha visto algo extraordinário! Neste momento Sofia pensou que o individuo iria sair voando da bicicleta e pedir-lhe um autógrafo, sei lá...; depois dessa demonstração entusiástica à sua desbotada pessoa, a garota quase saiu às carreiras enfiando-se rua adentro.

De outra vez, outro rapaz numa bicicleta vinha-lhe ao encontro, com os olhos radiantes e a face jubilosa, jogava-lhe beijos e mais beijos em sua direção... Sofia baixava as vistas, desconcertada. Realmente a moça não entendia esses espontâneos arroubos masculinos para ela, pois não se considerava nenhuma “Mulher Maravilha”... ainda assim era selado quase todas as vezes que saia à rua, havia sempre uma cantada para deixá-la sem graça. A mais inusitada de todas foi da vez que ela entrara caminhando numa ruazinha de mão única, e atrás vinha um carro vagarosamente seguindo-a descaradamente na contramão; e sem mais nem menos o motorista emparelhou o veículo no meio fio, e com um largo sorriso aparvalhado de orelha a orelha ele aguardou que a jovem o avistasse também, momento que aproveitou a investida: “eu tô entrando na contramão por você... eu juro, eu juro”. Então numa manobra o rapaz estacionou o carro e Sofia apressou o passo, não dando tempo para ele saltar do veiculo e alcança-la. Mas até que essa cantada arrancou um sorriso de Sofia, o rapaz ainda conseguiu ver o rosto dela corado enterrado no chão.

Mesmo sendo a maioria desconcertante, há cantadas funcionais também! Certa vez a moça estava para atravessar o sinal e não sabia se o semáforo estaria para fechar aos transeuntes; ficou na duvida... mas um homem que estava no banco de passageiros num veiculo bem na linha de pedestre a viu, e não deu outra! Com aquela cara de encantamento – que Sofia já conhecia – o homem (bastante solicito) pôs quase a metade do corpo pra fora da janela do carro. Imediatamente num rompante de felicidade meteu o braço na avenida sinalizando para que os carros atrás abrirem espaço, ele olhou para Sofia maravilhado e sorridente: “pode passar... você merece! Você é linda... você é linda... você é linda, viu!”; e meio sem jeito Sofia sorriu amareladamente, agradecendo a gentileza enfiando-se rapidamente para o canto da rua onde não podia ser mais vista.

Outra vez Sofia quis enterrar-se de fato! Desejou tanto que se materializasse um buraco bem a sua frente pra sumir dentro dele. Num finalzinho de tarde estava ela praticando sua caminhada rotineira nas ruas, com aquele seu jeito apalermado de sempre, quando parou num cruzamento. O transito estava lento, com os carros meio engarrafados quando, de súbito foi surpreendida por uma cantada pra lá de erótica. Um carro vinha-lhe por trás e emparelhou ao seu lado. O motorista lambendo os beiços com uns olhos de fogueira pra cima de Sofia, sussurrou: “Ôh...! Mas que bundinha boa pra gozar gostoso...”. Depois dessa, a jovem realmente imaginava algo para evitar esse tipo de abordagem. Teve uns pensamentos relâmpagos e divertidos de sair na rua com um saco de papel enfiado na cabeça com uns furos na vista; ou quem sabe vestir uma burca ou um lençol feito fantasma de Halloween... mas descartou rapidamente aquelas meninices. A garota seguia seus dias, e as cantadas também. Não tendo alternativa, resolveu então coleciona-las.


Katiuscia de Sá
18 de julho de 2013.
14:09H.
-------------------------

*Todos esses episódios aconteceram comigo (fora outros). Resolvi escrever essa crônica com tom divertido para expurgar essas situações, que de fato me deixam sem graça. Mas, confesso que vez por outra, dá vontade de sair à rua  fantasiada de “Pânico”... =)

sábado, 27 de julho de 2013

A Cidadela do Campo - capítulo Dois

[Para Marco].


*Romance infanto-juvenil  (Realismo Fantástico)
[CAPÍTULO  DOIS]



[O amadurecimento prescinde de muitas lágrimas. Os ritos de passagens são sempre muito dolorosos e repletos de desesperos, por galgar cada degrau que nos leva à absoluta escuridão. O dilatar das sensações em busca de algum ponto luminoso dentro de nós mesmos. A tristeza extrema é também uma temperatura do calor que transforma os elementos para algo mais leve, mais sutil... Uma sobriedade dos sentimentos que resistem aos fardos e, sobretudo, ao abandono da esperança. Em terras distantes a dor é assimilada como a canção de todos que passaram pela existência e mantiveram firmes em suas mãos a alegria pura que em vida seus corações puderam sentir].

“Você não tem hora pra nada… não tem compromisso com nada…” – Zuzu lembrava-se das palavras da tia daquela manhã. Ficara tão magoada e por isso mesmo havia saído de casa o dia inteiro desejando a imensidão do campo, para deixar suas tristezas naquele matagal alto que se inclinava feliz conforme a direção dos ventos. A mocinha não compreendia porque os adultos sempre tinham que afirmar para si (e para o mundo), que rumo tomar na vida. Zuzu tinha a alma larga, espaçosa, sedenta de experimentações, de vida, de vontades... alma tão imensa como uma poesia que abriga todas as esperanças do mundo; e por isso mesmo ninguém entendia quando a adolescente dizia que queria ser artista. A tia de Zuzu preocupava-se com essa escolha, pois ‘Artista’ era um oficio perigoso naquele momento social. O Governo estipulara um Decreto Oficial onde esclarecia que todo ato ou construção intelectual que fomentasse agitação de alegria ou sensibilizasse o Espírito das pessoas, seria considerado fora da Lei. Mas Zuzu nascera justamente com esta vocação nas entranhas, e por mais que quisesse adaptar-se ao mundo, era-lhe impossível. Sua verdade era maior até mesmo do que a perdição das pessoas por desejarem, às escondidas, qualquer sentimento.

– Parece que hoje o caminho está mais escuro do que de costume... – mastigava Zuzu as palavras entre os dentes, febrilmente angustiada e quase fora de si. Ela olhava rente aquele nada escondido no caminho sombrio à sua frente; carregava consigo um semblante à beira do limite de si mesma.

– Por favor... quantas vezes eu terei de me desculpar por amá-la? – Confessava Leans com seus olhos de orvalho derramando sobre sua face, tornando sua pele alva ainda mais cintilante. O anjo se ressentia por saber tudo o que se passava no interior da menina; não podia evitar também aderir à tristeza que Zuzu era obrigada a carregar sobre si. Um peso tremendo capaz de adoecer até mesmo o espirito mais otimista da face da Terra. E numa explosão de angustia retida, Zuzu largou a mão da criatura que conduzia consigo, e pôs-se a chorar convulsivamente:

– Porque você despertou sentimentos em mim, se você não seria capaz de correspondê-los? Porquê...? – E como querendo fugir de si mesma, Zuzu disparou a correr noutra direção, sendo seguida por Leans e pelo alienígena, que se ressentia bastante da dor que a menina carregava no peito. A garota queimava por dentro aquele fogo azul que rasga as entranhas, possuindo a alma de quem um dia teve a audácia de amar alguém na vida...

Após desbravar os campos selvagens e esquecidos pela desumanidade, quando não tinha mais forças no corpo nem nas pernas Zuzu abandonara-se, deixando-se desabar sobre a terra; e mesmo que aquele chão mestiço quisesse ampará-la não seria capaz, pois às vezes a realidade é tão dura quanto o solo que nos recebe os pés descalços nesta caminhada individual, que é a vida.

Quase como um uma canção vinda do céu entoada pelos ventos àquele campo solitário, Zuzu deixava escapar seus pensamentos. Sua boca escorria para o queixo as lágrimas silenciosas de uma dor tamanha e intensa comum aos corações jovens e apaixonados de primeira viagem. Não cabendo mais em si, a jovem desabafava para ninguém.

– É por isso que dizem que sentimentos são perigosos... isso faz as pessoas sofrerem... – Zuzu encarava o anjo, cuja dor espiritual poderia ser comparável à covardia de todas as pessoas que se negam viver em sua plenitude o Amor que lhes é oferecido pelo Universo. Do outro lado Leans chorava as dores dos séculos vividos... chorava todos os olhos dos amantes que foram impedidos de viverem suas paixões na vida.

– Zuzu, isso não vai ajudar em nada... por favor... sei que é difícil, mas tente se recompor.

– Não é uma troca justa, Leans. Seus sentimentos aqui dentro de mim em favor de minha companhia pra você. Sentimentos não me servem pra muita coisa, afinal não sei o que fazer com eles... ainda mais: deixam-me péssima. Fico assim tão sem rumo. Não posso tocar em você... não posso abraça-lo... eu trocaria todos meus anos de vida só para me perder em seu abraço, meu amor! – as lágrimas surgiam livres pela face de Zuzu tão jovem e já tão sofrida pela desilusão precoce.

A menina de joelhos sobre o barro fora da estrada em que os três iam. Zuzu apenas sabia de um turbilhão dentro de si; emoções desconexas de medo, solidão, amor, ciúmes... e todos eles vindo por causa de Leans e para Leans. E novamente ela o encarou, tão trancada em seu próprio desespero juvenil:

– Cheguei à minha escuridão... e a única luz que vejo é você, mas você me machuca... O amor é um demônio, Leans... me ajude, por favor! – e pela primeira vez os olhos de Zuzu também eram de orvalho, e escorriam pela sua face, deixando aquele semblante inocente e angelical ruborizado por uma cólera invertida, uma angústia sem medidas. E o pobre anjo ali, sem poder abraçá-la e ampará-la... parecia um eterno castigo – um acorrentado ao outro, justamente porque se amavam.

– Porque deve ser assim, Leans? Você tão próximo e tão longe de mim... – e num ato de desespero, a jovem tentava inutilmente tocar a pele daquele anjo que também chorava ao lado dela; mas era em vão. Leans mostrava-se tal espectro transparente que a menina podia atravessá-lo se quisesse.

– Sinto que estou prestes a enlouquecer, meu amor... – confundia-se Zuzu em direção ao seu anjo. – Por favor, me ajude... seja generoso comigo; Leans me esqueça... vá para bem longe, um lugar que você me esqueça e assim também eu o esquecerei.

Nesse instante a criatura estava tão envolvida com o que se passava, que pôs uma de suas mãos sobre o plexo da menina. E como num passe de mágica, retirou toda aquela sofreguidão de dentro dela. Após todos se acalmarem, o anjo sentou-se ao lado de sua amada. Em principio ficaram largos momentos em silencio, contemplando apenas a escuridão embalada pelos sons do vento e da noitinha que se alastrava por tudo. Depois, curioso para saber quando e como foi estipulado pelas autoridades da Cidadela, que portar sentimentos era fora da Lei; então o anjo perguntou à sua amada.

Zuzu ficou trêmula, pois tudo que envolvia essa decisão radical por parte das autoridades, fazia retornar aos tempos de caos social, (falavam os mais velhos). Contudo, a menina sabia de algumas histórias...

– Dizem que tudo começou quando um morador da Cidadela se apaixonou por uma senhora das redondezas... eu não sei bem, pois eu era muito pequena, e os adultos sempre nos escondem a Verdade... mas minha tia uma vez cochichou isso com uma amiga dela e sem querer eu ouvi.

E com sua imagem muito desfocada de si mesma, feito holograma em televisão mal sintonizada, Zuzu entrara num transe secreto, e pôs-se a falar feito um pequeno aparelho reprodutor de som:

– É o Vento dos Murmúrios, uma tempestade infernal... havia muitas décadas que ele não se formava. Os mais velhos diziam que se trata do anuncio de tempos ruins. Um aviso. Dizem ser o próprio fantasma de Loryanna perambulando com seu cabelo de vassoura dentro da tempestade... de tempos em tempos ela vem à Cidadela e toca nos moradores deixando sobre eles um pouco de sua saudade... a saudade de seu amado que dorme eternamente – Tomázio.

Após proferir o pequeno relato, a jovem retornara ao normal como se despertasse de um pequeno cochilo momentâneo. E Leans aproveitou logo para perguntar quem eram aquele Tomázio e Loryanna. E quando a garota continuaria a história, o céu já bastante pálido, partiu num relâmpago inesperado e as estrelas vinham descendo lentamente em forma de pingos de chuva acompanhadas pelos ventos dos campos, agora bastante agitados. Era o próprio Vento dos Murmúrios se aproximando, feito a profecia pronunciada ainda pouco pela voz da menina. E rente ao horizonte, todos avistaram aquele espectro com o cabelo de vassoura...

– Zuzu, veja! É a tal Loryanna que você falou?!

– Eu... eu... acho que sim. Bem, eu nunca a vi, mas pelas circunstancias e descrições que ouvi de minha tia, acho que seja...

E nem deu tempo de nada. O ambiente se transformara num enorme tufão sombrio. Embora a ventania não arrastasse ninguém, trazia um calafrio na alma de todos. Pela escuridão instaurada instantaneamente, ninguém pôde arredar o pé dali; o alienígena não reagia a nada, apenas observava, mas todos com as vistas turvas pela poeira levantada, em alguns flashes de segundos, iam acompanhando a figura de Loryanna vindo em sua direção.

[continua...]

Katiuscia de Sá
Escrito entre: 14 e 25 de julho de 2013.
*ouvido “Haja o Que Houver” (Madredeus).
-------------
*Leia também A Cidadela do Campo - CAPÍTULO UM




quinta-feira, 25 de julho de 2013

Terceiro Ato – manifestação 25/07/2013

Aconteceu na manhã desta quinta-feira (25/07/2013), mais um ato da manifestação intitulada “CHEGA!”, promovida por artistas e produtores culturais paraenses. Eles lutam pelo desligamento do atual (e desde sempre), secretário Paulo Chaves, da Secretaria de Cultura do Estado, e também reivindicam a implementação de um Plano Estadual de Políticas Publicas para a Cultura local que contemple democraticamente todos os segmentos culturais e artísticos existentes no estado do Pará.


O premiado dramaturgo paraense, Nazareno Tourinho discursa
sobre a excludente política cultural da atual Secretaria.
(Foto: Ronaldo Rosa)


(Foto: Ronaldo Rosa)


(Foto: Ronaldo Rosa)


(Foto: Ronaldo Rosa)


(Foto: Ronaldo Rosa)


(Foto: Ronaldo Rosa)




terça-feira, 16 de julho de 2013

Terceiro Ato – manifestação 16/07/2013



Aconteceu na manhã desta terça-feira mais um ATO PÚBLICO de cunho pacifico e reivindicatório, com a adesão de mais de cem pessoas: muitos produtores culturais e artistas paraenses de variados segmentos (dança, cinema, artes plásticas, teatro, folclore, etc) que juntaram forças para exigir a implementação de uma POLÍTICA CULTURAL que seja oferecida pelo governo estado do Pará que contemple as variadas manifestações culturais existentes hoje na grande Belém e no interior, posto que ao longo dos anos corridos, os editais de fomento à Cultura, promovidos pela Secult, apenas beneficiam poucos. A marcha dos artistas é pela DEMOCRATIZAÇÃO dos editais e também para chamar atenção da sociedade de que o artista é um trabalhador como outro qualquer, e por isso requer respeito e  também a remuneração adequada para a classe. Ser Artista não é diversão, passatempo ou distração como normalmente a sociedade e os chefes de estado nos veem; o Artista exerce uma função crucial para a formação cultural e de identidade de uma localidade e/ou sociedade/povo. Nas falas dos artistas ficou óbvio que Cultura e Educação devem andar lado a lado, e para tanto além da oferta de editais mais democráticos, há também de se atentar para politicas eficazes para facilitar o acesso à Cultura para os cidadãos paraenses.



Matéria na TV



















A seguir a carta que foi lida à porta da Secult endereçada ao atual Secretário de Cultura do Estado:


Carta De Demissão Simbólica Do Secretário De Estado Da Cultura Do Pará

“Senhor Paulo Chaves Fernandes:

Nós, artistas, técnicos e produtores culturais, representando neste momento os mais diversos segmentos e expressões da arte da cultura paraense, informamos que o senhor está demitido do cargo que ocupa há quase duas décadas.

Como é direito de todo e qualquer servidor público demitido, esclarecemos nesta carta os motivos de nossa decisão, de caráter sumário e irrevogável: saiba que o senhor está sendo mandado para a rua a bem do serviço público, por justa causa, pelas seguintes condutas:

- ter permanecido por quase vinte anos à frente da secretaria sem nunca democratizar o acesso à arte e à cultura de forma minimamente satisfatória para todo o território paraense;


- jamais ter descido de seu pedestal de arrogância e autoritarismo, o que sempre impediu um diálogo verdadeiro e necessário com os artistas e produtores culturais do estado;

- realizar sistematicamente uma política irresponsável de eventos dispendiosos e excludentes, que não deixam nada de concreto e ainda por cima relegam outros segmentos ao abandono;

dentre outras tantos desmandos.


Paulo Chaves, o senhor certamente já mostrou faz tempo que de arte e cultura não entende mesmo é nada, com seus projetos megalomaníacos e personalistas! 

Como diz o poeta, suas ideias não correspondem aos fatos. Lamentamos, mas não temos piedade de sua gestão, careta e covarde.


Aproveite a oportunidade desta demissão e pegue sua arrogância elitista, sua política de balcão e sua total insensibilidade para compreender a grandeza de uma verdadeira política pública e democrática para a cultura, e sai pela porta dos fundos, de cabeça baixa e com muita vergonha.

Pelo menos uma vez, tenha um mínimo de dignidade! Escute este clamor coletivo, e deixe o caminho livre, para que possamos buscar um novo tempo, pautado pela democratização da produção e acesso aos bens culturais, a serem conquistadas com ampla participação de artistas, produtores, gestores públicos e todos os demais segmentos da sociedade civil. E cuja existência.

Não dependa de qualquer governo. é hora da mudança! por isso, gritamos, todos juntos, a uma só voz: fora Paulo Chaves!

Chega!!!”


*Texto do jornalista Lúcio Flavio Pinto, publicado no Jornal Pessoal de 17/07/2013, Belém:

Ópera e Terruá: cultura é isso?


"Um grupo de artistas brasileiros realizou um ato de inédita audácia, no dia 9, ao ocupar o palco do teatro Margarida Schivasappa, que pertence ao governo do Estado, e fazer a leitura de um manifesto contra a política cultural que sustenta espetáculo como aquele que os manifestantes estavam interrompendo, o Terruá Pará. E a contrafação da mesma política, o festival de ópera, que, na sua última edição, custou 1,7 milhão de reais aos cofres públicos.

O objetivo desse primeiro movimento, de uma ofensiva que pretende emendar outros atos, é democratizar a ação do governo na área cultural, quebrando monopólios e práticas viciadas que excluem parcela considerável dos artistas e produtores culturais, como os que participaram da manifestação.

A iniciativa é positiva como ponto de partida para romper a mecânica criada pela Secretaria de Cultura do Estado, comandada com mão de ferro pelo arquiteto Paulo Chaves Fernandes, brilhante e competente no que faz, mas autocrata nas suas ações. Os manifestantes, através do ator Alberto Silva Neto, que leu o texto do manifesto, expuseram seu ponto de vista sobre essas práticas viciadas. O que estava nos bastidores e camarins chegou à plena luz dos palcos (embora tenha havido a tentativa dos administradores do teatro de apagá-las, barrada pelo protesto uníssono dos presentes).

A começar pelas leis de incentivo ao patrocínio cultural. A inspiração defeituosa e a gestão incorreta permitem que os detentores de imposto a pagar, que o deduzem para apoiar as manifestações culturais, imponham que parte dos recursos volte aos seus bolsos, de forma ilegal e clandestina, além de imoral. É a condição que impõem para fazer a destinação dos recursos. O Estado tem sido um péssimo gestor da renúncia fiscal, permitindo vazamentos e desvios, aos quais acaba se curvando a parte mais fraca da relação: os próprios artistas e os promotores culturais.

Ele próprio, como aplicador direto, não é o governo mais eficiente, muito pelo contrário. Apoiar a ópera, por exemplo, pode ser extremamente proveitoso e salutar se a ação cuidar da formação de público, da revelação e desenvolvimento de talentos operísticos locais, de apoio a grupos que praticam esse gênero artístico entre nós.
Mas gastar pesado em festivais anuais, intensos e efêmeros, só favorece aqueles que estão em condições de apreciar a qualidade do espetáculo. Gasta-se um dinheiro incompatível com as condições do Estado para algo que se esfuma numa não sacramentada quarta-feira de cinzas. Exceto para os que receberam os cachês, selecionados por uma única fonte organizadora, e aqueles que desfrutaram do espetáculo de camarote.

O Pará da borracha teve suas óperas. Mas eram tão boas e artificiais que quando a hévea brasiliense perdeu a primazia para as novas zonas produtoras asiáticas, o que ficou daquela suntuosidade? Uma ópera de fundo de quintal, de cuja mediocridade geral apenas um ou outro produto podia se destacar. Da mesma maneira como foi armado, o cenário empolgante foi desfeito. Não havia cultura enraizada para dar prosseguimento. Como agora também ocorre, no Pará da mineração, tão extrativista quanto antes.

Quanto ao Terruá, é mais uma ação entre amigos. Amigos “do sul” são trazidos para dar orientação e apoio técnico na terrinha colonial e abrir as portas na metrópole central para os amigos artistas do Pará tecnobrega e carimbolesco, a cachês apetitosos. É um circuito fechado, acessível apenas aos que puderam receber a água benta da Secult para entrar nos templos laicos da cultura sancionada.

Os artistas que começaram o movimento do protesto podem não ter razão, ou toda a razão. Mas para que ela seja um produto aceito e reconhecido, é preciso que sejam ouvidos e o debate se torne realmente livre e democrático. É o que não temos no nosso Pará das excelências divinizadas, como diria, talvez, o velho Mário de Andrade."



*Leia também a manchete do link abaixo:

Artistas levam manifestação para ruas de Belém



[Jornal "Diário do Pará" - 19/07/2013]

Artistas de vários segmentos da cultura local reuniram-se ontem, em frente ao Theatro da Paz, em assembleia aberta para traçar os próximos atos do “Movimento Chega!”, que pede a saída do secretário de estado de Cultura, Paulo Chaves. “O Theatro da Paz é um símbolo do elefante branco que é como estão tratando a cultura”, compara o cineasta Adriano Barroso.


Estabelecer ações e frentes de trabalho como articulação, assessoria de imprensa e investigação de documentos dos investimentos na cultura também compõem a pauta do movimento que luta por melhor e mais democrática distribuição dos recursos para a área. A assembleia aberta foi definida durante o ato da última terça- feira (16), na Secretaria de Estado de Cultura (Secult).

ARTISTA LOCAL
Os manifestantes acusam o titular da Secult de privilegiar eventos culturais que não valorizam e reconhecem o artista local. “Tem muitos projetos engavetados que a gente não consegue ter acesso ou apoio algum”, reclama o presidente da Federação Municipal de Quadrilhas de Belém (Femuq), Maurício de Nassau.
“A primeira pauta é a saída do Paulo Chaves, que representa todo o retrocesso que a cultura tem vivido esse tempo todo. Ele está há 20 anos no poder e não dialoga com a classe artística”, explica Barroso, do “Movimento Chega!”.

Ontem à noite a reportagem procurou a assessoria de imprensa da Secult, mas foi informada que quem está respondendo pelo caso é o secretário especial de Promoção Social do Pará, Alex Fiúza de Melo. A assessoria, por não ter o contato de Fiúza, pediu que usássemos o posicionamento publicado na edição de ontem do caderno Você, do DIÁRIO.

Na entrevista, o secretário especial de Promoção Social do Pará, que está atuando como interlocutor, afirmou que está aberto ao diálogo. Os integrantes do “Movimento Chega!”, entretanto, dizem desconhecer Fiúza como interlocutor de discurso e antecipam que só conversarão com o Governo do Estado depois da saída de Chaves.





[nota no Repórter Diário/
Jornal "Diário do Pará"  - 19/07/2013]





Durante décadas a classe artística de Belém

 luta pela democratização da Cultura:



quinta-feira, 11 de julho de 2013

Terceiro Ato - Belém - Pará



"Artistas fazem protesto"
*matéria publicada no jornal O Liberal | dia 10/7/2013

A classe artística fez o ato ontem (9/7) no palco do Margarida Schivasappa, durante apresentação do Terruá Pará, para expor antigos e constantes problemas da categoria. Rumo ao plano de cultura para o Estado, já.

*Clique na imagem, para ler a matéria.



*Leia também a manchete no G1-Pará:

"Artistas do Pará reivindicam mais investimentos para a cultura"






*Entendendo historicamente as reflexões em torno de uma Política Cultural para o estado do Pará, leia no BLOG de profº Fábio Fonseca de Castro:

http://hupomnemata.blogspot.ca/2013/07/politica-cultural-e-autoritarismo-no.html
http://hupomnemata.blogspot.ca/2013/07/politica-cultural-e-autoritarismo-no_11.html
http://hupomnemata.blogspot.ca/2013/07/politica-cultural-e-autoritarismo-no_8192.html
http://hupomnemata.blogspot.ca/2013/07/politica-cultural-e-autoritarismo-no_3926.html
http://hupomnemata.blogspot.ca/2013/07/politica-cultural-e-autoritarismo-no_9335.html
http://hupomnemata.blogspot.ca/2013/07/politica-cultural-e-autoritarismo-no_7916.html
http://hupomnemata.blogspot.ca/2013/07/politica-cultural-e-autoritarismo-no_8576.html




Carta de Protesto dos Artistas Paraenses.

Venho solidarizar-me com a luta da classe artística de minha cidade, em relação à implantação de Politica Publica que contemple todas as ramificações artísticas existentes em nossa região, Politica Publica que permita a produção e o acesso à Cultura para a população paraense, independente de sua classe social. Na última noite de terça-feira (9) durante o “Terruá Pará” (evento musical), que aconteceu no Teatro Margarida Schiwazzappa (CENTUR), um grupo de artistas (teatro, dança, cinema, artes visuais, literatura, diretores, performances, VJs, fotógrafos, etc),  e produtores culturais de diversas áreas subiram ao palco antes da segunda apresentação da noite para chamar a atenção do publico para esta questão. O ator Alberto Silva leu então a “Carta de Protesto dos Artistas Paraenses”. Logo após o texto do protesto, segue uma reportagem sobre o acontecido. Após a reportagem, posto um texto que corre nas Redes Sociais que ajuda muito para a reflexão sobre o valor e o acesso à Cultura em Belém. Há ainda outras coisas que estão rolando na Rede sobre o assunto. A todos boa leitura!


O texto da Carta de Protesto dos Artistas Paraenses:

“Boa noite! Pedimos a atenção de todos, em nome da democracia e da liberdade de expressão.

Nós, artistas e produtores culturais paraenses, estamos aqui para protestar contra as políticas públicas para a arte e a cultura, que há décadas não nos representam.

Lamentamos profundamente que um bem absolutamente essencial para qualquer sociedade evoluída, tenha um tratamento tão equivocado e avesso aos interesses públicos.

Pedimos a compreensão de vocês, que vieram aqui para assistir ao show e aos nossos colegas artistas da música, que nos escutem!

Os equívocos e desmandos que estamos denunciando agora prejudicam não apenas nós, artistas e produtores, mas todos os cidadãos, que tem direito a usufruir da produção e da circulação da produção artística.

Acreditem! Vocês não usufruem plenamente dessas produções, pois as verbas públicas destinadas à arte e à cultura não são, de fato, democratizadas.

Aqueles que ainda não sabem, fiquem sabendo que nós, artistas de teatro, dança, cinema, literatura, artes visuais, fotografia, circo e das riquíssimas manifestações de cultura popular paraense, entendemos que não temos uma política pública que nos atenda nem nas necessidades mais básicas: não temos financiamento público pra nossas criações, nem espaço para trabalhar e mostrar nossa arte, nem ações de fomento, formação ou circulação. Não temos nada! há décadas! Nada!

Por tudo isso, realizamos este ato de protesto, e com ele tornamos pública nossa revolta: chega!

Chega de assistir aos órgãos públicos da cultura sendo meros produtores de eventos, desvirtuando suas verdadeiras funções e gastando exorbitantes verbas públicas em benefício de uns poucos.

Chega de ter como única opção (e, ainda assim, dificílima de alcançar) as famigeradas leis de incentivo, que colocam o dinheiro público nas mãos dos departamentos de marketing das empresas, deixando os artistas à mingua, com o pires na mão. e vazio. mas, o pior, é que aqueles que conseguem o certificado, precisam compactuar (e todo mundo sabe disso) com acordos escusos com empresários, que resultam em desvio de parte do dinheiro.

Chega também da falta de nossa representatividade nas instâncias deliberativas das políticas públicas.


Este ato, também tem como objetivo fazer uma convocação de artistas e produtores de todas as linguagens, assim como representantes da sociedade civil, que não estejam satisfeitos com esse marasmo cultural, para uma próxima reunião, a ser realizada no dia 11, quinta-feira, no Teatro Cuíra, às cinco da tarde, quando discutiremos nossas próximas ações.


Juntos, somos muito mais fortes. e temos consciência de que somos atores de um momento que pode ser histórico, ao deixar para trás as políticas nefastas para a cultura que temos testemunhado, e vislumbrar um futuro em que a produção artística paraense seja reconhecida e legitimada plenamente em sua função política, social e cultural. E possa, finalmente, contribuir para o desenvolvimento de uma sociedade mais justa e mais humana”.



*A REPORTAGEM:

ARTISTAS PROTESTAM CONTRA POLÍTICA CULTURAL DO GOVERNO DO PARÁ

Em meio aos shows do Terruá Pará, na noite desta terça-feira (9), no Teatro Margarida Schiwazzappa, um grupo de artistas interrompeu as apresentações para protestar contra a política cultural do Governo do Estado

Trinta e cinco artistas (entre atores, diretores, performances, VJs, fotógrafos e mais) e produtores culturais de diversas áreas subiram no palco antes da segunda apresentação da noite. O ator Alberto Silva leu então a “Carta de Protesto dos Artistas Paraenses”.

“As verbas públicas destinadas à arte e à cultura não são, de fato, democratizadas”, denuncia a carta. “Nós, artistas de teatro, dança, cinema, literatura, artes visuais, fotografia das riquíssimas manifestações de cultura popular paraense entendemos que não temos uma política pública que nos atenda nem nas necessidades mais básicas”.

Outra crítica dos artistas foram as leis de incentivo que, segundo eles, colocam dinheiro público nos departamentos de marketing das empresas, “levando os artistas a aceitarem acordos escusos com empresários que resultam em desvio de dinheiro”.

Depois da manifestação, os artistas se retiraram do teatro, mas ainda protestaram do lado de fora, com faixas e cartazes. Muitos gritavam “fora Paulo Chaves”, para o secretário de Cultura.

OUTRO LADO - Procurada pela reportagem a assessoria da Secretaria de Estado de Cultura (Secult) preferiu não se manifestar.

Fonte: Texto e Foto / DOL - http://www.diarioonline.com.br/





*Texto: Anderson Araújo

"Belém é uma cidade de artistas. Confira aí quantos músicos, atores, artistas plásticos, fotógrafos e gente do audiovisual você conhece. É provável que você conte pelo menos um. Eu conheço uma porção. 

Contraditoriamente, Belém é também uma cidade que não é raro ouvir por aí "não tem nada pra fazer nessa cidade". Uma penca reclamando de falta de programações culturais e toda uma cultura de divertimento e distração baseada em dois verbos: sair e beber. O belenense enche cada vez mais a cara para se desligar da rotina estressante de trabalho, porque os bares, aos trancos e barrancos, continuam sendo um espaço minimamente democrático de refúgio.

Mas se Belém tem tantos artistas por que não tem uma vasta programação cultural? Por que nos últimos anos não surgiram espaços públicos para serem efetivamente usados? Por que aqui não há programações regulares ao ar livre como a gente vê Brasil afora, como no Parque do Ibirapuera em São Paulo? Por que os nossos artistas, que são tantos e de boa qualidade, dificilmente conseguem promover grandes eventos por conta própria? Por que a periferia é estigmatizada pela violência e não pela produção de arte? É normal que seja assim, adolescentes negros ou pardos e pobres se matando entre si?

As perguntas são muitas e poderiam ocupar todo esse post. Já as respostas começaram a boiar ontem justo na menina dos olhos em promoção artística do Governo do Estado, a Mostra Terruá, sintomaticamente produzida pela Secretaria de Comunicação Social e não pela Secretaria de Cultura. Um grupo expressivo e representativo de artistas tomou o palco do Teatro do Centur em uma invasão histórica para meter o dedo na ferida de quem deveria estimular a produção de cultura no Pará, mas não o faz. 

As reclamações são conhecidas. Tão conhecidas que já estão empoeiradas, já fizeram aniversário: democratizar os bens culturais e parar de gastar dinheiro com eventos, mas sim promover a cadeia produtiva da cultura no Estado; incluir os artistas nos órgãos que deliberam verbas para o setor; reformular as leis de incentivo que beneficiam muito mais as empresas do que a classe; dar acesso a espaços nobres, como os teatros, para que os artistas possam apresentar seus trabalhos; enfim, fazer políticas culturais que sejam para todos e não para uns poucos.

O diretor e ator Alberto Silva leu a carta tremendo de comoção e teve um coro grande atrás com gente do naipe de Edyr Augusto, Zê Charone, Danilo Brachi, Edmar Souza, Lívia Conduru, Adriano Barroso e tantos outros que não estão nessa estrada há pouco tempo. São artistas que vivem da sua arte ou equilibram seu tempo para não se afastar dela. São pessoas que tem qualidade pelo trabalho que fazem, muitos premiados e escolhidos em editais públicos nacionais, muitos empreendedores que tiveram que construir seus próprios espaços para se apresentar como artistas. Não era qualquer um. Não eram aproveitadores.

Foi um ato de coragem invadir o Terruá e invadir da forma que foi invadido. A simpaticíssima e democrática Beth Dopazzo até ofereceu um espaço no começo da programação para eles falarem, mas eles sabiamente fizeram cara de paisagem, como se o assunto não fosse com eles. Era o Estado oferecendo um naco dentro da programação oficial "para os artistas que queriam protestar". Protesto agendado não é protesto. Quando Dopazzo achou que estava tudo bem, a turba invadiu com suas faixas: "Chega de ópera e Terruá: democratizar a cultura já" e "Não vou sair, tá mal aqui, mas vai mudar".

Deram o seu recado e foram aplaudidos e complementados pela plateia, que se sentiu à vontade para gritar inclusive "tem que acabar a panelinha do governo". Dopazzo ao final, sem entender bem a movimentação, falou que o Terruá é uma mostra feita através de edital público, o que é totalmente verdade. Ficou parecendo que os manifestantes eram uns recalcados, só pra usar uma palavra da moda.

Mas será que o protesto foi contra o Terruá? 

Não foi. 

Não foi porque bem ou mal a Secom está fazendo seu trabalho e até tomando para si uma tarefa que deveria ser da Secult. O que não impede de o Terruá ser neste 
momento o melhor espaço para chamar atenção para os problemas da cultura na cidade. O ato de subir ao palco e ler uma carta com reivindicações, de fato, foi muito mais uma convocação aos injustiçados, aos insatisfeitos, aos humilhados do parque e os que ficaram de fora da festa.

Quem diz que os artistas erraram o endereço do protesto não entende nada do que está acontecendo. Não entende que esse momento é um momento de organização e de chamar quem não concorda com o que está posto para ingressar na horda de bárbaros formada há pelos menos 20 anos na sombra de um Estado sem uma política pública decente. Além do mais, a Secult está tão paralisada e letárgica que é difícil ter um evento do porte do Terruá feito por ela onde se possa invadir. Invadir a Feira do Livro? Invadir o Festival de ópera? São ideias, mas no momento o que se tinha era um Terruá transmitido ao vivo. Foi invadido e se quem esteve presente no Teatro não ouviu o clamor lá fora, depois da saíde, eu ouvi. E o clamor não apontava o secretário de Comunicação, mas o senhor Paulo Chaves, o capo da Secult. 

Apesar das divergências, da vaidade própria da função, da falta de organização de anos, os artistas deram sim um bom exemplo de como cobrar por melhorias a sua categoria e por extensão à sociedade como um todo. Agora sabemos que não é um trabalho fácil, nem rápido, nem longe de tensões entre governo do estado, prefeitura e governo federal e dentro do movimento organizado de artistas. Um consenso sobre o que se deve ser feito com o grosso caldo de cultura do Pará, fermentado na veia de quem dá a vida pela arte, é necessário, mas não nascerá da noite pro dia.

Sugiro que os someliers de protesto saiam de suas cadeiras e ajudem o pessoal indo às reuniões e às reivindicações, colocando suas ideias pro debate. Não gostou que falem do Festival de Ópera e do Terruá? Acha que o alvo foi errado? Vá lá debater coletivamente e abone um segundo o universo umbiguístico que lhe cerca. É o mínimo que você pode fazer. O mínimo!

Eles convocaram uma nova reunião no Espaço Cuíra, às 17h, na quinta-feira. Vão lá se vocês tiveram coragem e alguma disposição. 

Que haja mais protestos ainda. Que a Secult, a Fumbel e o Ministério da Cultura respondam as demandas e que Belém possa ser uma cidade oxigenada pela única energia que ainda pode varrer esse baixo astral que estacionou por aqui: a arte.

Pra quem estava esperando o carnaval chegar: tire a bunda da cadeira, deixe de reclamar em mesa de bar. 

O carnaval chegou."