Meu coração é tão subterrâneo que frequentemente ele desaparece de mim e reaparece em outro lugar onde não lhe posso escutar. Só retorna quando quem o roubou de mim está na mira de meus olhos ou quando lhe ouço a voz a conversar... Meu coração é tão travesso: brinca de esconde-esconde e grita-me saudade. Descobri por esses dias (o que eu já desconfiava), o amor é ‘fogo que arde sem se vê’ porque é um demoninho daqueles que se tranca numa garrafa feito aguardente, vai queimando tudo por dentro quando o engolimos. Meu coração é tão subterrâneo e por isso é ceguinho, o coitado! Sabe que lhe ama, mas não o admite; então o cérebro – aquele que fica bem no topo da montanha, que recebe o ar frio e é amontoado de neve – não escreve isso no livro da Razão, porque o amor é irracional e destrona qualquer rei de sua poltrona magnifica! O amor, esse demoninho, é rebelde e desacata! Joga fora qualquer escrita; apenas se permite amar... então meu coração mesmo subterrâneo sabe que você pensa nele e o chama... sim, o chama... chama... chama... ele queima um fogaréu a me devastar.
Katiuscia de Sá
Em: 29/09/12