“os germes da vida perdem-se na vasa profunda. À superfície de coágulos de putrefação, borbulha, espaçadamente, hálito mefítico do miasma fermentando ao sol, subindo a denegrir o céu, com a vaporização da morte.
Os pássaros calados fogem; as poucas árvores, próximas no ar parado, debruçam-se sobre si mesmas num desanimo melancólico de salgueiros...
A arte significa a alegria do movimento, ou um grito de suprema dor nas sociedades que sofrem. Entre nós a alegria é um cadáver...
A condição da alma é a prostração comatosa de uma inércia mórbida (...) sobrevive, porém, o poema consolador e supremo, a eterna lira...
Reinou primeiro o mármore e as formas. Reinaram as cores e os contornos, reinam agora os sons – a Música e a Palavra.
Humanizou-se o Ideal (...)
Sonho, sentimento artístico ou contemplação, é o prazer atento da harmonia, da simetria, do ritmo, do acorde das impressões, com a vibração da sensibilidade nervosa.
É a sensação transformada (...) a obra de arte é a manifestação do sentimento.
Para que serve a Arte?
Originária da propensão erótica, fora do amor, a arte é inútil – inútil como o esplendor corado das pétalas sobre a fecundidade do ovário (...)
A arte é uma consequência não um preparativo (...)
Cruel, obscena, egoísta, imortal, eternamente selvagem... A arte é superior à alma humana (...), desdenha dos séculos efêmeros.”
(Raul Pompéia, em “O Ateneu”)
*Este fragmento acompanhou minha performance "A LIRA DE POMPÉIA", executada em 2008 no CENA ABERTA.
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