“o poeta é com efeito coisa leve, santa e alada; só é capaz de criar quando se transforma num indivíduo que a divindade habita e que, perdendo a cabeça, fica inteiramente fora de si mesmo. Sem que essa possessão se produza, nenhum ser humano será capaz de criar ou vaticinar.” [Platão]

sábado, 28 de julho de 2012

^^Eu

cabeçuda e olhuda como uma boa ETzinha....rsrsrs




Em: 31/07/2012. Foto: Caled Garces

Em: 31/07/2012. Foto: Caled Garces

quinta-feira, 26 de julho de 2012

A Fragmentação da Memória Cultural: falência ou retomada?




Ontem eu fui visitar a exposição itinerante “60 Anos da Telenovela no Brasil” aqui em minha cidade; convidei inúmeros colegas e amigos como companhia para ir a esta exposição, em troca ouvi todo tipo de desculpas para se safarem...: “eu já tenho compromisso...”; “poxa, não vai dar...”; “não me interessei pela exposição”; “novela? Ah... francamente, fala sério!”

Essa mesma barreira mental acontece quando também convidava amigos como companhia às sessões de cinema de Arte, ninguém curte ou vai, ou se interessa, porque intitulam como ‘filmes sem graça’ (mas como saber se são realmente ‘sem graça’ se não assistem?)... resultado: desisti de convidar meus amigos e normalmente vou só, mas não me privo de minha solidão cultural. Às vezes eu mesma assisto coisas que normalmente não tenho muita afinidade, mas não me privo da possibilidade de alargar minhas conexões mentais.

É necessário às vezes prestigiar algo que normalmente você não está habituado contemplar, isso ajuda a educar e expandir sua percepção e leitura de mundo. Acredito que urgente se faz necessário uma (re)educação do olhar da população (talvez a nível mundial, até) para que se enxerguem pontos críticos comportamentais graves de uma minoria, que vai sim, atingir a maioria em algum grau em determinado, como por exemplo, o recente episódio do rapaz norte-americano que invadiu uma sala de cinema vestido de vilão do filme, e saiu metralhando pessoas no local...

Vem a pergunta que todos se fazem: porque ele fez isso? É louco... pode até ser, mas porque ele adoeceu? Sem justificar o ato do rapaz, mas se for investigar a fundo, explicações (provavelmente injustificáveis para a matança em massa, claro!) irão surgir, e talvez essas razões se tivessem sido percebidas antes, tornar-se-iam fatores para diagnosticar de repente uma depressão em grau mais elevado, ou algo assim; que se tivesse sido diagnosticado há tempo, poderia ter evitado esse ato insano... enfim, são apenas minhas conjecturas.

Voltando à exposição, mesmo sendo apenas um recorte da história das telenovelas no Brasil, foi interessante observar o desenvolvimento dessa linguagem, que querendo ou não faz parte do imaginário popular em diversas camadas de compreensão, de aceitação e principalmente como canal de formação de ideias e comportamentos na sociedade brasileira como um todo.

É inegável o poder de penetração em massa que as telenovelas exercem na população, desde as Classes A à F, o brasileiro gosta de novelas. Há estudos psicológicos, antropológicos e históricos sobre o fascínio que o ser humano tem de ‘sonhar’ e escapar um pouco da realidade em que vive, e tanto as novelas quanto os filmes, livros, romances servem como válvula de escape, além de registro histórico-cultural de determinado período.

É legal compreender como o desenvolvimento dessa linguagem nasceu e foi se aperfeiçoando absorvendo outras linguagens artísticas. No inicio era o teatro e o romance (livro); depois veio a mescla do teatro mais o romance inaugurando os folhetins (nos jornais); estes debandaram para as telas de cinema através de adaptações de diversos tipos de literatura para a telona; depois com o surgimento da linguagem radiofônica as radionovelas pegaram carona dos folhetins e também de enredos cinematográficos; e tudo isso e mais um pouco veio desembocar na telenovela, servindo de inspiração aos autores.

Indo mais a fundo, além da forma o conteúdo também foi se refinando, sinalizando que os teledramaturgos estão atentos e antenados com questões pertinentes na sociedade, os chamados ‘tabus’ que aos poucos foram sendo abordados, ora de forma lírica, engraçada ou séria pelas telenovelas. Acredito que essas ‘aberturas’ contribuíram para que a população pudesse olhar melhor determinadas chagas sociais e conseguir de algum modo, encará-las. Acho que o pior cego é aquele que não quer ver... o que não se aplica às telenovelas, pois bem ou mal todo mundo comenta um pouquinho sobre aquela cena ou aquele personagem da novelas das seis, das sete, das oito, das nove, das onze...

As telenovelas também trazem para a telinha um pouco do cinema para as massas, já houve inúmeras cenas de novelas em que o autor simplesmente faz menção ou mesmo homenagem à um filme; quem tem essas referencias consegue perceber. Há também as super produções televisivas onde a própria linguagem da telenovela pega carona na linguagem cinematográfica (ângulos de câmera, fotografia, direção, esmero no figurino, etc...) ressaltando a qualidade técnica. Também é legal de se estudar, quem se interessa.

Confesso que não sou tão fã de telenovelas, mas quando dá assisto um capítulo aqui, outro ali (mas atualmente há sim uma telenovela que eu não perco, devido ao cunho histórico-sócio-cultural dela), pois é inegável que estou diante de um fator comportamental de meu tempo, e também uma fonte de inspiração (como artista que sou, procuro estar aberta para absorver o que me chega).

Quando visitei esta exposição itinerante “60 Anos da Telenovela no Brasil” viajei observando os primeiros maquinários, gravadores, scripts, aparelhos televisivo, figurinos dessa engrenagem das telenovelas, imaginando como foi difícil dar o primeiro passo... felizmente esse meio é feito de pessoas geniais e também meio maluco-beleza: os chamados visionários, que foram tachados de lunáticos por terem um olhar mais profundo das coisas, cujas respostas o tempo se encarregou de mostrar a todos.

Havia bastante gente interessada na exposição, felizmente. Foi legal também observar a exclamação no rosto das pessoas mais velhas em contraponto das expressões da ‘garotada’. Tinha senhoras – senhores também – que não se continham nas exclamações, pois devido à idade deles percebia-se que foram privilegiados de terem acompanhado essa evolução de pertinho. Acho que foi até melhor eu ter ido só, pois desse modo pude absorver tudo no meu tempo, sem interferências. Quem puder e se interessar, vá a essa exposição, que é sim um pequeno recorte de nossa história recente e em constante mutação/evolução. Muito legal.


Katiuscia de Sá
26 de julho de 2012
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terça-feira, 24 de julho de 2012

O ENCONTRO SECRETO (ficção)




“então, é isso mesmo que você quer?”

“SIM...”

“você sabe que eu posso machucar você, caso eu deixe você entrar em minha mente?”

“SIM, EU SEI DISSO... MAS QUERO ARRISCAR-ME MESMO ASSIM. VOCE NÃO IMAGINA O TEMPO QUE AGUARDEI VOCE ENTRAR NO MEU CAMINHO... VOCE NÃO SABE O QUANTO EU SOFRI E CHOREI NOITES E NOITES. HOUVE ATÉ UM PERÍODO EM QUE EU PENSEI QUE VOCE NUNCA VIRIA... EU DESEJO ESTAR COM VOCE MAIS DO QUE TUDO NA VIDA...”

“eu também... mas você sabe que não sou como você... digo, não sou humana... você entende, não é mesmo? Desde o inicio você já sabia... às vezes eu consigo ler sua mente, mas não é sempre. Às vezes posso me comunicar com você, mas não é sempre. Aprendi a me controlar, pois não é legal sair por ai lendo as mentes dos outros... existe uma coisa chamada privacidade e outra chamada ética. Não posso violar isso e induzir as pessoas a fazerem o que quero. Não é assim! Eu não faço isso! Não é correto!”

“MAS ÀS VEZES EU PERCEBIA QUE VOCE LIA A MINHA MENTE, E VOCE SABIA DISSO... NO ENTANTO CONVERSAVA ABERTAMENTE COMIGO SOBRE ESSAS COISAS... NÃO TINHA RECEIOS COMIGO.”

“eu lia, porque você me dava sinal de que era isso que você queria que eu fizesse... compreenda, eu não tenho que aturar provocações nem suas nem de ninguém querendo que eu prove que eu sei fazer isso! Inúmeras vezes eu compreendia o que você queria de mim, e não acatava porque não acho esse seu comportamento honesto comigo! Sintonia é algo que nasce naturalmente, sem forçação de barra... eu não tenho que provar nada a você, nem a ninguém! E se pretendemos ficar juntos, você deve saber como eu procedo com as coisas, sem rodeios... pra não dizer depois que comprou gato por lebre...”

“AHAHAHAH... VOCE É IMPETUOSA MESMO, HEIM!”

“na verdade não sou gato, nem lebre... o respeito e a honestidade, acima de tudo, são bons condutores para nosso caso.”

“EU SEI O QUE VOCE É...”
“VOCE É LINDA!”
“E EU ESTOU APAIXONADO POR VOCE... SEMPRE ESTIVE APAIXONADO POR VOCE A MINHA VIDA INTEIRA... AGUARDANDO O MOMENTO EM QUE NOS ENCONTRARIAMOS...”
“VOCE É MAIS DO QUE ESPERAVA.”

“você também é tudo o que eu sempre sonhei. E você já é pré-disposto... posso deixar você entrar em minha mente. No inicio eu fugia de você porque apenas queria poupá-lo de sofrer... não desejo machuca-lo de maneira alguma, nem que seja pra você poder me compreender na íntegra, e ficarmos juntos para todo sempre...”

“POR FAVOR, FAÇA! DESDE O PRIMEIRO CONTATO COM VOCE, EU PERCEBI QUE NÃO POSSO MAIS VIVER SEM VOCE POR PERTO...
VOCE JÁ IMAGINOU O PLANETA TERRA SEM A LUZ DO SOL?
NÃO HÁ VIDA...
EU ME SINTO ASSIM SEM VOCE POR PERTO, SINTO-ME MORTO, SEM ALMA... QUERO ESTAR COM VOCE, NEM QUE PARA ISSO EU PRECISE ME SACRIFICAR UM POUCO...
AMAR É PRESENÇA, LEMBRA? QUERO VOCE PRESENTE DENTRO DE MIM E EU EM VOCE”.
“POR FAVOR, FAÇA!”

“sabe o quanto eu já chorei tentando-me manter longe de você? Tentando não ler sua mente, querendo aprender a conversar com você da maneira como os humanos fazem? Tudo porque eu desejava aprender a estar ao seu lado? E também para não interferir no seu livre-arbítrio? Sabe por quê? Porque eu também sinto a mesma atração irresistível por você... eu achei que nunca encontraria alguém assim pra ficar comigo nesta terra...”

“VOCE SABE QUE EU ME PREPAREI A VIDA INTEIRA PARA ESSE MOMENTO, NÃO SABE?
POIS BEM, FAÇA! POR FAVOR... FAÇA.”

“eu disse que não tinha nenhuma sintonia com você e também nenhum canal de comunicação sensitiva com você, mas posso mudar isso... sei que você já sente isso... é delicado demais pra eu realizar isso com você e para você... primeiro: devido aos meus sentimentos que estou aprendendo a controla-los ainda; segundo: porque seu cérebro não é apropriado para alcançar meus pensamentos plenamente...”

“EU TAMBÉM SEI DISSO... QUERO MESMO ASSIM... DESEJO ESTAR COM VOCE...”

“eu também desejo estar com você... é tudo e a única coisa que me importa agora... quando eu digo que será doloroso para você e talvez perigoso, é porque primeiro preciso modificar seu cérebro (fisicamente mesmo!), interferindo nas suas ondas cerebrais conjuntamente com seus nervos e com seus neurônios e suas conexões... e para isso acontecer, preciso despertar sua terceira e quarta hélices de DNA, ou seja, é uma mudança física, psíquica e também energética ao extremo. Há coisas que você não compreenderia, pois não posso explicar-lhe com palavras, você só entenderia se eu lhe dissesse através de outras vias, mas você ainda não está preparado para compreender...”

“EU QUERO, MESMO SE EU PERDER OS SENTIDOS POR ALGUNS MOMENTOS...”

“você não perderá os sentidos... você simplesmente enlouquecerá... melhor dizendo: vai achar que está enlouquecendo, quando na verdade não estará, você vai perceber quando estiver acontecendo algo ‘diferente’ com você, e saberá contornar, pois você tem conhecimento suficiente para isso. Eu estarei sempre com você, auxiliando-o, e quando eu falo ‘mente’ refiro-me ao meu Ser em sua Plenitude, em sua forma verdadeira: coração e mente, sentimentos são palavras também, pensamentos são sentimentos também... é tudo uma coisa só.”

“POR FAVOR... FAÇA.”

“está bem... eu também não tenho mais escolhas, eu me rendi... decidi fazê-lo, porque senti seu sofrimento também. Aguento tudo meu amor, menos sentir você chorando por dentro, e sofrendo... e perceber seus olhos tristes. Quero-lhe fazer feliz e cuidar de você... farei isso somente para você e para ninguém mais.”

“EU SEI DISSO, POR ISSO EU TAMBEM TIVE PACIENCIA COM VOCE. VOCE TEM NOÇÃO DO QUANTO VOCE É HORRIVELMENTE ARROGANTE?"

“ahahahaha, eu não sou arrogante! Apenas introspectiva em alguns momentos... entenda que meu mundo está dentro de mim, é por isso que você tem vontade de entrar em minha mente, pois para você alcançar-me e me conquistar por completo, eu devo deixa-lo entrar; no início você estava impondo sua vontade sobre a minha, era por isso que não nos entendíamos...”

“eu também vejo o futuro e o passado; na verdade o futuro e o passado são a mesma coisa pra gente... não existem ‘tempos’, apenas um Tempo, e transitamos livremente entre eles... assim como nos mundos, isso você também irá entender, embora não poderá fazer o que fazemos desse modo. Sua constituição psicofísica não suporta nem permite. E não fazemos isso sempre, pois vivemos no ‘agora’ e o futuro e passado como vocês conhecem não nos importa muito saber...”

“DESCULPE-ME... AGORA EU COMPREENDO ISSO... POR FAVOR, DESCULPE-ME.”

“tá tudo bem, eu sabia que você não tinha noção disso... mas eu também não sou nada fácil...”

“DEIXE EU CONHECE-LA... QUERO SABER LIDAR COM VOCE.”

“sim... passei nove dias isolada me preparando e decidindo o que fazer, e o dia inteiro de hoje me harmonizando buscando meu total equilíbrio e precisão pra enviar pequenas ondas até você, em direção a todos os seus chakras pra estabelecer contato... tive de fazê-lo bem delicadamente.”

“EU SENTI VOCE PERTO DE MIM O DIA INTEIRO... FOI TAO AGRADAVEL.”

“eu sei. E hoje no inicio da madrugada eu liberei inúmeras descargas diretamente à sua mente. Você reagiu bem! Fiquei muito emocionada! Parece que você já estava aguardando... as coisas fluíram muito rapidamente, em questão de milésimos. Realmente fiquei muito emocionada de nos tocarmos e nos percebermos na integra pela primeira vez”.

“DEMORARÁ MUITO PARA EU SER COMO VOCE?”

“não demorará... e eu não tenho mais receios, nem mais medo de me entregar a você. Por alguns dias você terá uma sensação de agitação mental e talvez uma pequena desorientação espacial, mas será momentâneo. Também estarei sempre presente auxiliando-o a caminhar nesse novo terreno...”

“DESDE O INICIO EU PERCEBI QUE VOCE É MUITO INTELIGENTE, MAS NÃO CONSIGO ALCANÇAR A DIMENSAO DE SUA MENTE...”

“é porque ela é infinita... você sabe que se você entrar nela você irá se perder dentro de mim, não sabe? Você está preparado para isso mesmo?”

“EU JÁ ME PERDI POR VOCE MINHA QUERIDA... EU NÃO SEI MAIS VIVER SEM VOCE...”

“eu também não sei mais viver sem você...”
“meu querido amor...”

(...)

“o milagre da evolução.”
“o Amor muda tudo...”
“o Amor cura tudo...”
“o Amor transcende tudo...”
“Ele transborda...”


Katiuscia de Sá
24 de julho de 2012
01:46 a.m.

sábado, 21 de julho de 2012

MARFIM – conto [CAPITULO COMENTADO]

Cap. 02 – O Sonho.
[CAPITULO COMENTADO]


É engraçado como algumas lembranças marcam a gente para sempre, não importa o que se passe ou o que se veja no decorrer da vida. Carrego em mim inúmeras lembranças de impressões diversas, sobretudo de minha infância, que parece ter sido a parte mais intensa que eu vivi, pois muita coisa desse período ainda pulsa bem forte dentro de mim servindo como ingredientes para trama de meus escritos (e personagens para roteiros de filmes e/ou inspiração para composição de personagens de meu trabalho como atriz).



Recordo que eu era uma criança bem agitada, saltitante, curiosa, observadora, atrevida... em casa porém, eu era muito calada! Essa característica incomodava, sobretudo, meu pai. Meu silencio era estratégico, já que meus pais biológicos nunca compreendiam meus raciocínios, então nem me dava ao trabalho de dividi-los... Com meus avós era diferente. Conversava bastante com eles sobre minhas ideias e impressões sobre as coisas, sentia-me a vontade.



Tenho um arsenal de personagens e situações de toda espécie dessa época de infância. Coisas que eu vi; situações que eu tirei minhas conclusões; expressões marcantes de pessoas; jeitos de falar; maneiras de andar; trejeitos; manias; etc. Eu já era uma pequena voyeur a observar o mundo, com minha mente cheia de pequenas lembranças aguardando o momento para virem à tona no futuro... Claro que dialogo com meu presente, mesclo porém, muita coisa que vivi na época de minha tenra infância, como por exemplo, essa passagem inteira narrativa-descritiva do encontro de “Macaléu-Camaleão” com a senhora cega.



No conto fictício MARFIM, “Macaléu” engana-se de endereço indo parar numa outra casa que não era a de seu amigo; e nesta residência ele se depara com um ambiente meio estranho à sua leitura de mundo. As impressões de “Macaléu-Camaleão” no conto são exatamente as minhas em meus idos três aninhos de idade, quando meu pai biológico levou minha genitora, meu irmão e eu em visita a uma tia dele que se chamava Deusa. Eu já achava aquele nome inusitado, “como uma mulher se chamava Deusa?”, pensava eu aos três anos de idade...



Mas aquela visita foi tão marcante para mim que a carreguei durante todos esses anos até que ela fluiu para o conto MARFIM. Dessa visita à casa de minha tia-avó Deusa, primeiro fiquei surpresa com aqueles retratos todos espalhados pela sala e pelas paredes do corredor; depois com aquelas luzes coloridas pelos aposentos, e eu pensei exatamente a mesmíssima frase que transcrevi para “Macaléu” em seu pequenino desalinho: “Mas não é Natal ainda... Por que será que usam lâmpada colorida nessa casa?”.



Na ocasião, eu senti na verdade um misto de encantamento e curiosidade; àquele momento fui deixada sentada numa poltrona à sala onde pude examinar tudo bem de pertinho longe das vistas e censura dos adultos. Sai percorrendo a casa toda em silencio sem chamar atenção para mim, senão iriam me colocar novamente sentada feito bibelô à poltrona esquecida... E de todas as fotografias, um dos retratos me chamou mais atenção que os demais, justamente o que eu destaco no conto MARFIM, a de um casal de velhos, naquelas fotos pintadas de um colorido estranho em cima de um suporte parecido com uma fina camada de gesso, sei lá! As cores artificiais fugindo a verossimilhança nas faces e nas vestes davam um aspecto sobrenatural à foto, parecia que a qualquer hora os velhos iam saltar fora da moldura pra cima do espectador.



Outra passagem marcante dessa visita à casa de tia-avó Deusa foi o momento quando meu irmão e eu fomos levados à presença dela. Foi a primeira vez que eu vi uma pessoa cega na minha vida. Fiquei muito impressionada ao mirar aqueles olhos enevoados evaporando-se para direção alguma. Ela quis “ver” meu mano e eu nos apalpando com suas mãos trêmulas e frágeis. Meu mano que sempre foi medroso e chorão ficou meio amofinado com a situação; eu não. Fiquei observando-a bem séria e atentamente, sem deixar escapar nenhum detalhe, sensação ou emoção adicional, como se eu tivesse sugando a própria alma de tia Deusa e daquele ambiente para dentro de minha memória. Também transcrevi para o conto a frase que tia Deusa disse de mim e meu irmão: “são bonitos...”, no caso de “Macaléu”, a frase ficou no singular, mas as palavras são de tia Deusa, agora eternizadas no conto MARFIM.



Passados muitos anos desde a casa de tia Deusa, da ultima visita que fiz a meu genitor, (quase dez anos atrás), logo após a morte de meu avô, eu mencionei esse acontecimento, e meu pai ficou extremamente surpreso pelo fato de eu lembrar desse dia, pois eu tinha apenas três anos de idade. Eu respondi a ele que me lembrava de tudo muito nitidamente, como se fosse ontem; e que podia descrever toda a casa, os objetos, móveis e tudo mais que eu tinha visto, tal como transcrevi no conto MARFIM.



Herdei de meu avô essa capacidade e costume de observar, absorver o espaço e descrevê-lo em palavras. Vovô era incrível! Lembro-me que ele podia passar horas para dentro de si narrando um sonho que tivera no sono da tarde ou durante a noite, ou um acontecimento corriqueiro que lhe chamara atenção. Era tão real e rico em detalhes que parecia que o ouvinte era transportado para dentro da cabeça dele.


Para um escritor a capacidade de inventar uma história atrela-se às lembranças de qualquer acontecimento, emoção, etc... que ele tivera; e sim, conhece-se um pouco da própria história e personalidade do escritor através do quê (e como) ele escreve. Uma vez um cineasta e escritor local (Cecim), disse-me que o escritor pode escrever inúmeros romances, novelas, contos, etc. mas que na verdade ele escreve apenas uma única obra em toda sua vida, pois todos os livros são linhas que se entrelaçam nessas variadas subséries de modalidade escrita. Eu acredito nisso.

Se eu não explicar de onde vem a inspiração para o que eu escrevo, ninguém saberá que são lembranças, situações que eu vi e/ou vivi em alguma passagem de minha vida, que apenas estão sendo narradas com riqueza de poesia e ludicidade (e muita gente já me perguntou na cara dura se eu me drogo pra escrever essas coisas... não! não uso drogas, nunca usei. Nem bebo bebida alcoólica de nenhuma especie, pois não curto essas coisas. Tudo que escrevo é de cara limpa mesmo!). Para os leitores não passa de ficção, para mim são lembranças resultadas de meu comportamento voyeur. Sou uma observadora da vida. Assisto, e absorvo; sugo “a alma das coisas, cuspindo fora o bagaço...”, tal como “Vigiliana-Amaflor”...


Katiuscia de Sá
20 de julho de 2012.
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>>A seguir parte do capítulo comentado, onde eu narro o encontro de "Macaléu-Camaleão" com a senhora cega:


"Macaléu-Camaleão" e "Vigiliana-Amaflor"
(desenhos e criação: Katiuscia de Sá)


MARFIM – conto (escrito em 2009).
Capítulo 02 – O Sonho. [TRECHO]



“O passar dos dias o aborrecia. Para escapar daquela inquietação inventou um passeio à casa de um amigo, indo parar na esquina da Rua do Intervalo. Camaleão perdera-se, como sempre... “irei chegar atrasado...”, pensava, ajeitando os óculos em cima das narinas ofegantes. Devido ao entardecer dos acontecimentos, a estreita rua afundava-se em pontos escuros, e Macaléu que já não enxergava direito, achou que aquela era a rua do endereço amigo. Avistou a casa 47-B. “É aqui sim!”, confirmou de si para si, já que a viela estava vazia de mais alguém. “Vou bater...”. Não ouviu sinal de vida. “Ôh, de casa!”, insistia.



A maçaneta de leão-machado contendo um trocinho de bater na porta virou-se em seu eixo. A tábua grossa rangeu os dentes ao convidado: “nhéééém...”. Uma menina pretinha de olhos brancos com um pontinho de esmeralda dentro apareceu quase como um espectro fantástico. “Acho que a vovó está esperando o senhor”, sussurrou docemente a voz infantil e meiga daquele rosto sem sentimentos. “Entre e sente. Vou chamá-la...”, enfiou-se corredor de madeira adentro, a passos de carreira.

“Será que é mesmo aqui que eu deveria estar?”, estranhava o moço-peninsular. “Será que me enganei de endereço?”, Macaléu examinava as tábuas caprichosamente enceradas que emprestavam um tom avermelhado ao soalho. Acanhadas aos cantos da sala, as paredes de madeira-crua macheada confeitavam ao ambiente algo natural que só era quebrado pelas luminárias azuis. Umas grandes lâmpadas redondas e azuis faziam parecer que a sala-de-estar era um mundo submarino. O ar rarefeito ficava lento dentro daquele cômodo. “Mas não é Natal ainda... Por que será que usam lâmpada colorida nessa casa?”, Macaléu tentava solucionar o fato.



As órbitas curiosas dele examinavam tudo! As estantes negro-cedro pesavam suas prateleiras com delicados paninhos de croché e outros panos meticulosamente bordadinhos. Em cima destes, um monte de retratos de família. Retratos outros acamaradavam amizade às paredes. O fascínio era tanto que Macaléu teve o ímpeto de levantar-se do assento estofado-rubro. Fora contemplar de perto um retrato que parecia ser o mais antigo daquela coleção.



A moldura oval com as cores descascadas colocava a salvo a foto de um casal de velhos. Pareciam dois bonecos de cera. Pelo terno azul-bebê dele, e pelo vestido branco com broche madrepérola dela, talvez fossem gente em meados de 1929. Ela, uma senhora de faces duras, provavelmente a governanta da própria casa. Suas mãos fortes e alinhadas ao encosto da cadeira onde o homem prostrava-se sentado, acusavam ser eles os patriarcas de uma família de pelo menos doze filhos: onze varões e uma menina-moça.



As maçãs do rosto ósseo e fino esculpiam um semblante senhoril ao homem velho. As linhas e vincos profundos de sua face revelavam a dureza e dignidade com que sustentara sua família. Seus grandes olhos profundos e enigmaticamente úmidos e solares lembravam os grandes olhos que Macaléu sonhara dias atrás. “A vovó pediu pra o senhor subir ao quarto dela porque ela está meio ruim das pernas e não pode descer as escadas...”, parecia que a voz metralhada da criança pretinha trouxera Camaleão de volta de um túnel. E ao se despedir do casal de velhos da foto carcomida, notou que eles sorriam.



Às paredes esquerdas daquele comprido corredor continuava o festival de retratos dependurados. E a cada intervalo de dez tábuas, saltavam janelas abertas na parede direita de quem se enfiava residência adentro. Em todas as janelas abertas uns vasinhos contendo plantas diversas domesticavam as batentes. Já era noite lá fora. E a casa inteira pareceu adormecer em ares frientos. Às vezes morcegos precipitavam-se para dentro, repelindo-se imediatamente devido à luz amarela que esquentava aquele corredor de vida artificial.



Ao chegar ao andar de cima, Macaléu-Camaleão assustou-se com os grandes tapetes de pano a cada pé-de-porta dos quartos. Notava-se que ali morava gente de muito capricho. As paredes do andar superior eram nuas, retornando a sobriedade dos pensamentos. Eram tábuas cruas também, porém sem janelas a revelar.



No último quarto estava uma senhora sentada à cama. A luminária do ambiente era cor de outono. O cômodo quente e oprimido por um guarda-roupa simples, dividia espaço com uma cômoda compacta sem nada em cima, e um criado-mudo comportado, o que lhe permitia a regalia de ter sobre si um paninho de croché. A colcha da cama também era tecida, mas de fio grosso. Tudo dava a impressão de que o ar ficava sempre parado naquele lugar. Nada se movimentava. Os ponteiros do relógio fizeram-se assombrosos como aspectos de museu.



Os ossos sobrepostos de peles morenas de maracujá moviam-se lentamente, buscando segurar algo no espaço. “Traga-o aqui perto...”, abanavam as mãos trêmulas à menina pretinha que poderia estar a qualquer canto do quarto, que mesmo assim seria ignorada pela senhora. “Aqui está ele, vovó...”, empurrava as mãozinhas nas costas de Camaleão em direção à senhora de pedra-pome.
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Ela o apalpava os braços e o rosto, precisando seu semblante. “É bonito...”, confirmava a velha aos seus sentidos. Os olhos da senhora de pedra-pome já não tinham mais o lume. O vapor do tempo levou embora a visão dela deixando-lhe apenas a vontade de viver no escuro”.



Leia o conto MARFIM na íntegra em:

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sexta-feira, 13 de julho de 2012

Meu Primeiro Documentário

Meu primeiro (e certamente o único) documentário, feito em animação, em homenagem ao Cinema Olympia de Belém do Pará, o cinema mais antigo do Brasil em funcionamento. A linguagem dele foi feita para contemplar o público infanto-juvenil.






Vídeo-Diário de Bordo da Diretora sobre o processo do
doc. "Cinema Olympia - 100 Anos de Magia".



*Leia o


Making Off (resumido) sobre o doc. "Cinema Olympia - 100 Anos de Magia".


Assista na íntegra:

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terça-feira, 10 de julho de 2012

Mensagem 01


Transito em um universo paralelo, onde poucos têm acesso...
Às vezes sinto vontade de não voltar mais, e ficar encerrada em mim.
Vejo as pessoas do lado de fora do vidro, e compreendo que cada vez mais tenho menos disponibilidades com elas, ou elas por mim...
Quero morrer (outra vez?).
Quero sumir (pra onde?)
Enfrentar, eu já enfrento...
Os sentimentos vêm como ondas ou furacões...
Meu Corpo-Ilha sem habitantes.
Há somente um canal de conversação, e mesmo este
De compreensão somente quando eu não mais habitar aqui.
Estou em extinção de mim mesma...
Difícil acreditar quando se enxerga as almas das pessoas...
Pois elas mentem pra si mesmas.
Não sei porque eu vim a esse mundo,
Não pertenço aqui.
Porque você não acredita em mim?
Porque você não vê o que eu vejo?
Tento falar sua língua,
Tento ensinar-lhe a minha, mas você mente.
Meu canal de comunicação é somente através do AMOR (verdadeiro e puro),
Por favor não tenha medo...
Preciso de você...
Preciso de você...


Katiuscia de Sá
10 de Julho de 2012

sábado, 7 de julho de 2012

A CASA DOS DOCES (ficção)



Hoje à tardinha eu cochilei e tive um sonho engraçado...
Sonhei que eu estava numa espécie de terreno onde havia umas casas de um mesmo clã familiar, e eu estava passando por ai, e estava com um pouco de fome, então eu vi pela vidraça de uma dessas residências e constatei que se tratava de uma doceria; então eu fui lá comprar algo e as mulheres dessa família estavam cozinhando os doces, bolos e tortas... disseram que não estavam à venda.

“Mas então porque anunciavam com uma placa ‘vende-se doces’?”.

Disseram que era a fachada de uma antiga doceria, mas que no momento não vendiam doces. E aquele cheirinho maravilhoso invadia todo o quarteirão, porem ninguém podia comprar ou ter aqueles doces, sem o consentimento da pessoa para qual se destinavam todas aquelas guloseimas.

“Quem é essa pessoa? Posso pedir um doce a ele.”, argumentava.

Era o rei, elas disseram. Porém não se via esse rei em nenhum lugar. Disseram-me que eu podia procura-lo, caso o visse e pedisse, elas poderiam dar-me um pedaço de bolo de chocolate.

Fiquei um pouco animada, então fui procura-lo no jardim; no saguão das casas; em volta do chafariz defronte uma das casas; andei até o final do quarteirão tentando identificar alguém com vestes ou pose de rei, pra eu pedir um pedacinho de bolo de chocolate. Em vão.

Retornei à frente da casa das doceiras. A porta da frente estava entreaberta, então entrei. Elas não estavam mais lá. E os doces estavam espalhados pelas mesas e prateleiras. Senti aquele cheirinho maravilhoso, mas nada ali era de verdade...

“Doces de mentira?”, fiquei surpresa. “Mas então de onde vem o cheiro?” E as senhoras com aqueles rostos animados retornavam naquele exato momento varando um corredorzinho ao lado da sala onde eu estava.

Elas não me viram a li! Não me viram e eu percebi que o cheiro maravilhoso de doce era delas e não das guloseimas que elas cozinhavam. O rei também veio com elas... fiquei estupefata... o rei era..., o rei era um aroma. E este aroma tocou minha pele, ficando em mim também. E como encanto, as cozinheiras sentiram minha presença, e vieram em minha direção cada uma com um pedaço de doce ou torta para me entregarem.

O mais confortante não foi exatamente os doces, e sim o gesto delas me enxergarem e me acolherem. Agora eu fazia parte daquilo tudo. Então eu segui para o Jardim...


Katiuscia de Sá
03/07/2012
04:23 p.m.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Você estará Lá?



"(Anjos da introdução)
(Piano da introdução)

Abraça-me
Como o Rio Jordão
E então eu lhe direi
- Você é meu amigo

Leve-me
Como se você fosse meu irmão
Me ame como uma mãe
Você estará lá?

Quando cansado
Me diga se você vai me segurar
Quando errado, você vai me dirigir?
Quando perdido, você vai me achar?

Mas eles me dizem
Um homem deve ter fé
E seguir mesmo quando não dá
E deve continuar lutando
Mas eu sou só um humano!

Todo mundo quer me controlar
Parece que o mundo tem um papel para mim
Estou tão confuso; você vai me mostrar?
Você estará lá para mim?
E se importar o suficiente para me suportar?

(Abraça-me)
Abrace-me
(Encoste sua cabeça devagar)
Devagar
(Suave e corajosamente)
Yeah
(Me leve até lá)
Eu sou só um humano

(Guie-me)
Me abrace
(Me ame e me alimente)
(Isso, Isso)
(Me beije e me liberte)
Isso
(Me sentirei abençoado)
Eu sou um humano

(Leve-me)
Me leve
(Me leve com coragem)
Leve-me
(Me levante devagar)
Yeah
(Me leve até lá)
Eu sou um humano

(Me salve)
Conduza-me
(Me cure e me lave)
Me eleve mais alto, me levante
(Suavemente me diga)
( Você estará lá)
Eu estarei lá

(Me levante)
Me abrace, isso
(Me levante devagar)
(Me leve corajosamente)
Yeah
(Me mostre que você se importa)
Eu estarei lá

Me abrace
(Encoste sua cabeça devagar)
Eu fico slitário algumas vezes
(Suave e corajosamente)
Eu fico solitário, yeah, yeah
(Me leve até lá)
Me leve até lá

(Precise de mim)
(Me ame e me alimente)
Eleve-me para cima, me abrace
(Me beije e liberte-me)
Levante-me por algum tempo, por algum tempo
(Me sentirei abencoado)
Yeah

No nosso momento mais sombrio
No meu pior desespero
Você ainda vai se importar?
Você estará lá?
Nas minhas provações e minhas tribulações
Pelas nossas dúvidas e frustrações
Na minha violência
Na minha turbulência
Pelo meu medo e minhas confissões
Na minha angústia e minha dor
Pela minha alegria e minha tristeza
Na promessa de um outro amanhã
Nunca deixarei você partir
Pois você está para sempre no meu coração"

É PRECISO FALAR...


Em pleno século XXI eu ainda fico ‘passada’ em constatar (e sofrer) preconceitos por machismo, especialmente no meio profissional. Mesmo com a alavancada dos Direitos Femininos assegurados pela Constituição Federal há quase meio século de conquistas femininas, com adequações no Código Penal Brasileiro (Lei Maria da Penha, por exemplo); criação de Delegacias e atendimento psicológico adequado para mulheres violentadas e/ou assediadas no trabalho, no seio familiar ou ainda em assaltos, etc... é um assunto ainda delicado de se tocar, mas necessário.

Não serei a primeira nem a ultima mulher a sofrer discriminação, assedio ou perseguição seja no trabalho, escola, família, etc... por usar pearcing; ou por eu me vestir diferente; ou me destacar no que faço sendo mulher (enfatizando a questão do machismo). Já sofri perseguições por parte de mulheres também. É um assunto chato, porém inerente à alma humana que precisa ser combatido. Já discorri sobre o assunto em outros posts: da “invejinha” boa (aquela que motiva o interior de alguém no sentido de seguir o exemplo de sucesso proveniente do esforço e empenho que outra pessoa traçou para si e que deu certo), e da inveja destrutiva (a que ao invés da motivação benéfica, gera desagrado e incomodo de alguém por ver outra pessoa tendo sucesso pelo seu próprio esforço e talento).

É difícil de fazer o outro perceber essa queda de caráter, pois ele não olha para si, e sim para o outro e acaba achando que não é capaz de obter sucesso também, posto que é mais fácil e cômodo destruir do que edificar... edificar leva tempo, mudanças de comportamento e de atitudes perante a vida, muito empenho, destreza, autovigilância; mas massa (muitas vezes) prefere boicotar os bons exemplos de probidade, talento e honestidade; (e o pior, muitas vezes a mídia reforça esse critério de achar que ser bonzinho e correto sem levar vantagem em tudo, é o cidadão se mostrar um ‘vacilão’...).

Em sociedade o convívio em coletividade tem os prós e contras... seria muito legal se a população mundial pudesse perceber que a mudança de pensamento gera uma mudança de comportamento. Ao invés de se combater o mal, é melhor promover o bem; ao invés de lutar pelo fim da criminalidade, melhor seria incentivar a criação de politicas publicas visando a educação de qualidade e também condições dignas de sobrevivência para a população com postos de trabalho e gerando oportunidade de renda para as famílias; ao invés do ‘gatinho’ querer conquistar a ‘gatinha’ implicando com o cabelo dela ou depreciando o sexo feminino para autoafirmação da masculinidade forçando evidenciar quem manda no pedaço, mais gentil e eficaz seria o ‘gatinho’ ser sincero com suas intensões abrindo seu coração... qual mulher não se derrete frente ao romantismo de um homem apaixonado? Já está massificado que o ‘amor’ masculino deve bater para depois assoprar... de que homem não chora... homem sensível não é macho, e outros pensamentos e condutas machistas e discriminatórias.

Já sofri perseguições em meu trabalho por parte de meu ex-chefe, pelo fato de eu ser mais inteligente do que ele. Sem pretensões ou presunção, no dia-a-dia era horrível ter que lidar com um homem grosseiro (e o pior) sem preparo e conhecimento para liderar... e as pessoas da repartição coniventes com esse procedimento! Até aí ainda dava para administrar; agora sofrer frequentemente assedio moral para que o chefe pudesse se auto afirmar como macho dominante, já é caso de denuncia policial! É cabal a percepção que já vem se arrastando séculos a fim de que homem tem pavor de mulher inteligente, e que prefere mulher bonita e burra para domina-la e subjuga-la. Está na Literatura, no dito popular, nas paginas policiais...

Já preferi abandonar o emprego por esse motivo, após combater tal comportamento de assedio moral. Acho que todas as mulheres também deveriam abrir a boca e denunciar esses monstros! No meu caso, minha família postiça me apoiou, meus amigos mais chegados (para os quais eu desabafei o fato na ocasião), me apoiaram e me ajudaram muito a superar. Isso é horrível, fico imaginando a porção de mulheres que sofre assedio moral no trabalho e não tem essa autoconfiança, base emocional e estrutural dos familiares e amigos? Eu demorei uns meses até me libertar desse trauma mais ou menos recente; e quase todos os anos de minha vida para diluir as lembranças de meu pai biológico depreciando, mal tratando e violentando minha mãe biológica.

Perdi na memoria as tantas vezes que vi ele rebaixando minha mãe com palavras de baixo calão, detonando a autoestima dela... eu cresci vendo esse circo de horrores jurando para mim mesma que nunca consentiria que nenhum homem (ou mulher) me tratasse daquela forma no futuro. E assim tem sido. Além do assedio moral em minha historia de vida ressente, no passado distante, houve indícios de assedio sexual. Combati certos comportamentos de meu genitor de maneira silenciosa e inteligente, da qual eu dispunha morando no mesmo teto que ele, quando me vestia de menino ou com roupas soltas sem marcar meu corpo e me esquivando dele dias inteiros quando o álcool fazia-se governar, (utilizei-me dessa estratégia até atingir idade suficiente para não utilizar mais esses artifícios) para me proteger dessa masculinidade covarde, que violenta. Felizmente fui mais astuta para me proteger de todas as formas possíveis desses instintos criminosos. Deus esteve comigo em todos os instantes de minha vida, principalmente nos anos em que eu ainda morava naquela casa... meu corpo e espirito continuaram imaculados. Eu agradeço a Deus – minha fortaleza.

Estou muito serena em abordar esse assunto, e essas serão as ultimas lembranças ruins que me restam de uma história que ficou bem lá atrás... num passado e pessoas bem distantes. Faço votos de que todos indivíduos (meninos, meninas, rapazes e moças) que sofreram algo semelhante possam se reerguer, e acima de tudo combater esse câncer social. É necessário falar. Combater. Denunciar. Somente assim homens (e mulheres) hipócritas; falsos-moralistas; autoritários; machistas; tirânicos; bandidos serão desmascarados e depostos.

Os tempos são cleans agora; tudo está mais susceptível. Digo e repito: fortalecer o pensamento positivo para gerar atitudes e uma sociedade também positivas. Reconstruir a forma-pensamento de ‘NÃO destruir’, e promover o ‘SIM para edificar’. Para isso, é preciso falar, (re)conhecer. Não é com provocações que o AMOR vem, e sim com abertura e estimulo pacíficos...


Katiuscia de Sá
05/07/2012
1:35 a.m.