*Para Pietro Milan
“Aqui ele ainda sorria...” – dizia uma.
“É melhor permanecer apenas com a ideia... se o conhecer de
verdade haverá de perder o encanto...” – soprava outra delas.
“Nem assim... nem assim. Ele é diferente dos demais. Quando
dorme não passam as Horas” – cintilava a
outra.
As estrelas sussurravam para os olhos fechados de Pietro. A
todo o momento as decisões se completam ou são mudadas.
São as Horas que ditam o tempo. E mesmo assim o Tempo não
resiste e todas as horas corridas não valem nada.
E no céu, as estrelas.
No coração de uma delas, uma luz fervilhava.
Era água e era fogo...
Era riso e era choro...
Quando estava em festa, as lágrimas se confundiam com o
brilho das irmãs. Quando era saudade, cintilavam os pingos e respingos. Vinha
uma ventania e transformava tudo em poeira do espaço. Ficava escuro feito
terra. Ficava quente feito um abraço.
Um som de tambor outra vez ecoou no céu. Acordou o menino
Pietro! Seus olhos que viam e piscavam para dentro de si, brilharam ao
contemplar tantas luzinhas. Estas também lhe viam! Acendiam e apagavam com
ansiedade de quem espera.
Ele quis tocá-las... estavam tão distantes. Entretanto,
aquela que a ele sempre olhara, quis descer mais um pouquinho. E à noite quando
rodavam os ponteiros e a Terra girava, dava para deslizar nos céus de vagarinho.
E esta, que gostava de brincar com Pietro, resolveu amanhecer junto a ele.
Uma ventania rompeu-se de repente.
Era Juno...
Era Marte...
Ou Plutão
Em alguma parte!
“uuhhu... uuhhu... uuhhu...” – fez então pelas janelas.
Quase arrancaram as cortinas novinhas, as ventanias! Mas o menino não teve
medo. Correu para perto e quis vê-la. E lá estava ela: a sua pequena estrela! Que foi forte o suficiente para soltar-se do Firmamento. Rebelou-se contra a
correria do tempo que ninguém nunca soube, que ninguém nunca via. Quando na
Terra estava, a estrela disse a Pietro que viera ser sua amiga.
E do céu, correu um trovão!
Ralhou com a pequena estrela que descera ao chão!
E os meses não passavam.
Nem as horas se animavam.
Os ponteiros fizeram greve enquanto a estrelinha não retornasse
ao Firmamento!
Mas Pietro estava feliz com sua nova amiguinha. Sorria e
sonhava por toda madrugada, pois no seu coração uma poeira se levantou...
cortava o chão e subia as escadas. O que era invisível corria por toda a
casa... e quando Pietro acordou seus olhos, tanto tempo se passara.
E a estrela que descera do céu para conhecê-lo, agora a seus
olhos se mostrava. E toda vez que Pietro
avistava o Firmamento, era a si mesmo a quem buscava, devido à esperança sua estrela adormeceu
nos olhos de quem tanto amava...
Nunca mais Marte!
Nunca mais Plutão!
Nunca mais saudades naquele tenro coração!
De mãos dadas eles seguiam.
Atravessavam dias.
Atravessavam noites...
Naquela estrada longa e cilíndrica, haveria sempre umas luzes a piscarem.
– de tanto desejar, aquela estrela pôde vir ao chão...
Num lado do telescópio, era Pietro... Do outro nunca ninguém
soubera, mas o céu estrelado que ele olhava todas as noites era o seu próprio
coração abraçado ao dela.
Katiuscia de Sá
26/jan/2014, às 22:35h