“o poeta é com efeito coisa leve, santa e alada; só é capaz de criar quando se transforma num indivíduo que a divindade habita e que, perdendo a cabeça, fica inteiramente fora de si mesmo. Sem que essa possessão se produza, nenhum ser humano será capaz de criar ou vaticinar.” [Platão]

domingo, 28 de agosto de 2011

Claymore - minissérie de 26 capítulos (anime)

CLAYMORE é baseado no mangá (HQ japonês) de
mesmo nome, de Yagi Norihiro.
*
Título: Claymore
Formato: série de TV
Episódios: 26
Lançado em: Abril/ 2007
Gêneros: [terror] [suspense] [drama] [aventura]
Estúdio: Madhouse

Estou revendo esta minissérie incrível! Poucas minisséries me causam interesse a ponto de eu querer revê-las, mas o roteiro da saga de "Clare" (uma Claymore com sede de vingança), é maravilhosamente narrada, apresentada numa realidade onírica horripilante.


Sob uma atmosfera aterrorizante com criaturas bizarras de dar medo mesmo (!), esse anime é lindíssimo pela humanidade alcançada pelas Claymores. Criaturas sem sentimentos, elas começam a desenvolver um sentido de cooperação devido precisarem uma das outras para garantir sua própria sobrevivência. Mesmo em meio ao horror, mortes, preconceitos e devastações... um amor é tecido e consegue vencer todas as incertezas e impossibilidades, ajudando na transformação de "Clare" em algo mais próximo de uma humanização interior.

Rico em cores trabalhadas. O visual, esteticamente muito bem casado com personagens densas e psicologicamente redondas ao máximo, dão à Claymore a importância de uma minissérie que todo cinéfilo que gosta de uma boa trama, à Stanley Kubric, deve assistir! MAS ATENÇÃO: anime não recomendado às pessoas sensíveis por conter cenas de violência extrema, e causar perturbação mental!

Katiuscia de Sá
28 de Agosto de 2011.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Para Edgar Allan Poe - I (conto)


No ultimo passo do degrau observou que havia uma barata estrebuchando no carpete. Suas perninhas em frenesi pelo incomodo das costas no chão. Era uma imagem deveras perturbadora. Isadora tinha nojo de baratas e também pena de matar o inseto. Deixou-a lá até o dia seguinte. Pela manhã passou pela escada e a viu no mesmo lugar e posição. Ainda mexia as perninhas, mas agora sem tantas aflições. “Ai meu Deus...”, pensava Isadora, tentando não se contaminar com aquela visão nervosa.

De noitinha retornou fadigada, fora um dia extenuante. A barata por fim terminou seu apocalíptico ritual de morte por asfixia e desespero... A vassoura e a pá de lixo concederam um funeral digno ao inseto. Ao seu lado Isadora sentia a mesma asfixia... era mais um de seus ataques buliçosos de asma. Quanta couraça ela tinha de vencer para encher seus pulmões...

Sentia-se como o inseto ao pé da escada, mas sem perninhas para sacudir e pedir por socorro. Imaginar um anzol perfurando o tórax era a melhor saída para mentalizar a entrada do ar. Ainda com a angustiante sufocação ao passo de dois minutos, Isadora ganhava cozinha adentro, viu a silhueta da tia, protegida pela penumbra decorrente do finalzinho da tarde.

Um cheiro estranho afogava o lugar. E Isadora assustou-se com a atitude da tia. A senhora estava a mastigar algo que imediatamente escondeu das vistas da sobrinha. E sobre a pia, estrangulou num saco plástico as ultimas evidencias. Isadora procurava nervosamente o interruptor. Quando a luz ganhou vida, os olhos da moça caíram sobre o mármore da pia. Uns pingos de sangue e uma faca banhada em rubro. E o rosto da tia num meio sorriso em transito, deixando escapar um fiozinho de saliva avermelhada.

“A senhora está bem, tia?”, perguntou Isadora, intrigada.
“Sim, minha filha....”, respondia languidamente a idosa mulher afastando-se devagarinho pela penumbra do corredor, levando consigo o saco acusador. Isadora vasculhando a cozinha observou que uma panela jazia em cima do fogão. E à medida que se aproximava do recipiente, o cheiro forte culminava mais e mais.

Antes de consumar a prova, Isadora fora distraída pelo gatinho de estimação ruminando um pedaço de osso, talvez... Mas no meio da cozinha essa mastigação? Isadora aproximou-se e viu: uma parte de tripas na boca do felino. Quase vomitou, mas conteve-se indo terminar na panela sobre o fogão.

Destampou o pequeno caldeirão e antes que viesse a emitir algum som apavorante, sua tia atravessou a cozinha com a mesma faca rubra nas mãos: “hoje teremos ensopado com carnes fresquinhas para o jantar...”


Autoria: Katiuscia de Sá
26 de agosto de 2011
08:01 PM
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*Leia também:
Para Edgar Allan Poe - II
Para Edgar Allan Poe - III
Para Edgar Allan Poe - IV

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Shigurui: Death Frenzy (anime)

Assisti ano passado essa minissérie em anime. É a mais bela esteticamente e delicada em efeitos que já vi, entretanto também a mais violenta, aterrorizante e cruel que já presenciei! Tenho todos os capítulos, mas confesso não ter estomago para assistir novamente, embora o visual e a qualidade do anime sejam impressionantes e fascinantes!





Sinopse:

Um anime violento de samurai que ocorre no Japão feudal. O seu título abreviado significa algo como "desespero para matar", inspirado no verso do primeiro livro sobre bushidô (código de samurai) chamado Hagakure escrito em 1716, que dizia "Bushidô é um desespero para matar, as vezes é preciso partir em dez para matar um". A série conta a rivalidade do protagonista samurai sem o braço esquerdo Fujiki Gen'nosuke e o vilão samurai cego com os olhos cortados em 1 linha Irako Seigen. A história começa em 1630 durante um torneio com 22 samurais selecionados, e os dois samurais que se cruzaram num mesmo passado negro, começam a lutar, e a história retorna para 7 anos atrás, contanto o ocorrido entre eles desde o início quando os dois eram alunos do mesmo dojô.

Dados do Anime :
Título Original: Shigurui: Death Frenzy
Gênero: Ação / Drama
Diretor: Hiroshi Hamasaki
Estúdio: Madhouse Studios
Lançado em: 2007
N° Episódios: 12

Elenco :
Daisuke Namikawa as Gennosuke Fujiki
Emi Shinohara as Iku
Houko Kuwashima as Mie Iwamoto
Nozomu Sasaki as Seigen Irako
Seizo Katou as Kogan Iwamoto
Asako Dodo as House Keeper
Asami Yaguchi as Lady in Waiting
Bin Shimada as Kurouemon Yamazaki
Chikao Ohtsuka as Ichidensai Funaki
Cho as Narration
Haruka Kimira as Peasant Girl
Hidenobu Kiuchi as Tomoruku
Hiromu Koudo as Heihachirou
Ikuya Sawaki as Tadaaki Ono
Katsuhisa Houki as Rokurobee Neoya
Kazuki Yao as Kogan Iwamoto
Kenji Hamada as Iemon Shigaraki
Kenji Nomura as Kamaemon
Kousuke Meguro as Masterless Samurai
Kyoko Hikami as O-Yoh
Masaaki Tsukada as Mosuke

Fonte e onde se pode baixar todos os capítulos:
http://asianspace.blogspot.com/2010/08/shigurui-death-frenzy-2007.html

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Diário de Bordo – EVA FAZ DE CONTA

*com saudades para “titio” Walter, que virou purpurina...



REGISTRO de meu trabalho de laboratório como preparadora de elenco para a minissérie em três capítulos “EVA FAZ DE CONTA”, totalmente rodado em Belém do Pará, no período de 01 a 15 de julho de 2010, projeto realizado pelo Núcleo de Produção Digital Belém (NPD-PA) – integrante do Programa Olhar Brasil do Ministério da Cultura; projeto desenvolvido através de parceria com o Instituto de Artes do Pará – IAP.

Meu trabalho como preparadora de elenco antecedeu o período das gravações em pelo menos três meses e meio, visando às etapas de:
1) Formação de perfil das personagens (ação decisiva para nortear-me durante a etapa de preparação de elenco. Aqui eu fui tecendo as abordagens e estratégias que eu definiria para utilizar com os atores, a posteriori);
2) Seleção de casting;
3) Preparação de elenco, e
4) Direção de elenco.

Antecedendo a etapa de seleção de elenco, o roteiro final contendo todos os capítulos foi entregue aos núcleos da equipe EVA. Antes de tudo, meu trabalho consistiu em ler a “bíblia” do EVA FAZ DE CONTA para compreender o caminho psicológico das personagens, e em ler todos os capítulos da minissérie para consolidar o perfil das personagens. Essas ações me indicariam, a priori, as abordagens que eu utilizaria com os atores, tanto no momento da analise previa dos profissionais (seleção de casting), quanto na abordagem individual que eu faria durante a preparação do elenco.

Eu pensei: “se essa linha de raciocínio funciona comigo, abrindo caminho para minha descoberta e construção de personagem, deverá funcionar também com outros atores; afinal o parâmetro para meu trabalho como atriz, bem como instrutora e diretora, parte de mim mesma através de minhas próprias experiências, vivências e observações em busca de resultados satisfatórios e conclusivos para meu desenvolvimento como intérprete”. Resolvi arriscar confiando plenamente em minha intuição... o que funcionou mais do que eu esperava.

Após a escolha prévia dos atuantes para os devidos papéis da trama, aconteceram ainda pequenos laboratórios para consolidar de vez a certeza de que estes atores estariam cotados para os respectivos personagens descritos. Enfatizando que a personagem principal “Eva” (Cynthia Karina de Mendonça), não foi selecionada durante o casting, ela me foi indicada por um amigo-ator que a conhecia, pois nenhuma moça pré-selecionada atendia às exigências dos diretores. Cynthia foi-me apresentada, e neste mesmo momento tive o fealling de que ela funcionaria como protagonista, intuição que veio a se confirmar no primeiro laboratório e testes de câmera feitos com a menina.

Outra curiosidade aconteceu com o ator estreante Thiago Losant, (no papel de “Jorge”). Como eu já havia esboçado o perfil deste personagem, e comentado com um dos diretores do EVA (Ed Amanajás) e com a equipe responsável pelo casting, quando Thiago entrou na sala, todos nós paramos e o olhamos impressionadíssimos, pois Thiago era praticamente o próprio “Jorge”, tanto na aparência desenhada em nossa imaginação, quanto nos gestos característicos inerentes ao personagem. Não tive nenhuma dúvida! Ele já estava selecionado praticamente sem concorrentes, a encarnar “Jorge”.

O problema a solucionar em relação a Thiago é que ele estava totalmente cru para o vídeo, não sabia se portar diante da câmera. O ator já tinha experiência no teatro, mas para o vídeo, Thiago teve de ser bastante trabalhado. Utilizei inúmeras abordagens com ele durante o processo de preparação. Thiago aprendia e se desenvolvia satisfatoriamente. Na convivência, percebi que ele é um profissional centrado, dedicado, esforçado e bastante disciplinado; o que me agradou muito, pois gosto de lidar com atores conscientes de seu trabalho.

Os demais atores principais da trama Máximo Paganine e Gustavo Saraiva, os caminhos foram diferenciados também, pois Máximo era o mais novinho do elenco, com apenas dezesseis anos, e pouquíssima experiência como atuante, ele teria uma responsabilidade adicional: interpretar um rapaz tipicamente francês; aproveitei que o menino falava o idioma fluentemente, adequando o personagem ao ator, (personagem este que originalmente seria norte americano).

Gustavo Saraiva já era modelo fotográfico, de passarela e televisivo de longa data, ele já sabia se portar diante das câmeras, tive poucas interferências em sua atuação. Meu trabalho com Gustavo foi mais de interpretação das falas, sem grandes problemas. Gustavo já tinha o amadurecimento para ele mesmo propor ações relacionadas às suas falas e cenas com os demais personagens. Foi apenas um caminho de aparar arestas.

Em todo o processo de preparação de elenco, meu trabalho maior concentrou-se na protagonista, devido a mesma ser praticamente nula de experiências como atriz e em trabalhos de vídeo. Mas Cynthia é muito disponível e apta a apreender as indicações dadas. Houve alguns momentos difíceis, porém, através de seu esforço, dedicação e também disciplina, ela alcançou o resultado esperado, encantando a todos com sua postura profissional e madura no Set de gravações.

Durante os mini-relâmpagos-laboratórios onde expus e observei os atores, eu experimentei neles um indutor que comigo funciona muito, e de maneira extraordinária! Costumo utilizar músicas e/ou trilhas sonoras para me auxiliar a alcançar e desenvolver a “atmosfera” psicológica das minhas personagens. Com o pré-elenco do EVA estabeleci regras bem simples, utilizei um jogo de interfaces com os atores(atrizes) visando extrair e confirmar quem era quem dentro da trama.

Como a rigor eu já tinha relacionado algumas qualidades e características positivas e negativas nas personagens principais, extraí seis delas encontradas (três positivas e três negativas), recortei cada uma em separado, oferecendo-as em papeizinhos dobrados aos atores/atrizes; estes as escolhiam aleatoriamente. A única indicação que eu dava era para cada ator andar pelo espaço da sala ouvindo determinada música (previamente selecionada por mim), e para eles interiorizarem o que compreendiam sobre os adjetivos nos papéis dobrados e procurarem demonstrá-las para mim esboçando uma prévia partitura corporal (comportamental) e facial.

Alguns atores iam bem além do meu comando, já estabeleciam ações contendo diálogos imaginários improvisados. O que aconteceu, por exemplo, com ator Cesário Augusto. Percebi que ele foi fortemente influenciado pela trilha sonora e pelos adjetivos. Acredito que o ajudou muito, foi seu conhecimento e experiência nas Artes Cênicas já de longa data. Após isso, fui delineando com ele um tom de voz condizente com as ações encontradas em seu personagem (“Seu Caxias”). O tom de voz induzido para o ator, contribuiu para criar em torno do personagem uma atmosfera ameaçadora, opressora e até mesmo sádica.

Junto com esse jogo de interfaces, fui inspirada por um de meus diretores favoritos do cinema internacional. Wood Allen costuma deixar os atores muito à vontade e até mesmo ausentes de interferências indutoras diretas. Allen joga no ar as intenções e deixa que os próprios atores percebam as entrelinhas de maneira física e espontânea. Durante o laboratório utilizando música como indutora, procurei interferir o menos possível nesse mergulho dos atores. Deixando o caminho livre para a emersão das personagens.

Durante o processo de interpretação das falas (ainda preparação de elenco), experimentei nos atores algo que Walter (Bandeira) sonhava em concluir durante suas experimentações e descobertas dentro do Projeto de Pesquisa e Extensão “Resgate das Radionovelas”, onde ele coordenava os trabalhos pela Escola de Teatro e Dança da UFPA, idos de 2009...

Walter pretendia casar o indutor que ele denominou de “porão do subtexto”, tanto para interpretação para radioatores, quanto para interpretação de trabalhos em audiovisual. Walter era amante confesso da Sétima Arte, e esse seu amor norteou sua vontade de experimentar os resultados obtidos durante as pesquisas desse projeto de extensão para a interpretação também no vídeo. Em algumas reuniões inclusive, ele nos passava alguns filmes onde a gente podia perceber e discutir a importância e peso nas falas dos atores, onde as intensões veladas das falas para o trabalho de vídeo consistia em um aprofundamento e envolvimento psicológico maior junto ao espectador. Walter desejava que nós compreendêssemos isso e alcançássemos esse estágio enquanto intérpretes.

Entretanto, Walter Bandeira nos deixou sem sanar sua expectativa em relação ao prosseguimento das pesquisas. Eu como sua ex-aluna me propus a tentar concluir a vontade deste artista e pessoa maravilhosa. Meu mestre, que para mim foi uma imensa honra e privilégio ter conhecido, ter aprendido, trabalhado e ter dividido um pouco meus temores e dúvidas sobre a complicada arte da atuação.

Foi maravilhosa e decisiva minha convivência com Walter Bandeira durante o período em que eu fiz parte do grupo de alunos que estavam nesta pesquisa de extensão. Quem conheceu de perto Walter sabe que ele era contra o estrelismo e bajulações, era pessoa simples e muito humano e generoso. Entretanto, para mim, às vezes era meio constrangedor suas colocações, pois de uma maneira bastante informal e impactante ele nos ensinava nas entrelinhas... a irreverencia era sua marca maior, e inúmeras vezes ele literalmente me deixava sem chão, com sua maneira direta e não usual de se utilizar das palavras... Walter nos deixa muitas saudades e principalmente uma falta grande para o desenvolvimento do trabalho de intérprete em nosso estado do Pará.

Durante a preparação dos atores do EVA FAZ DE CONTA, eu percebi que as deduções de Walter estavam corretas. Se ele não pôde constatar de perto os resultados que ele supunha obter para o aprofundamento da interpretação para o vídeo mediante a utilização indutora do seu “porão do subtexto”, tive a oportunidade de experimentar com os atores Cynthia Karina de Mendonça, Thiago Losant, Máximo Paganine e Gustavo Saraiva que os resultados encontrados por Walter funcionam sim para o vídeo, e eu ainda vou além: tranquilamente deduzo que o “porão do subtexto” dinamiza até o trabalho de dublagem.

Estou muito serena e com a sensação do “dever cumprido” ao que me foi confiado executar. E grata pela oportunidade de experimentar e partilhar coisas que aprendi e também joguei para ver se davam certo. Acredito que o sucesso em qualquer empreitada sempre se deve ao esforço do raciocínio e também na autoconfiança naquilo que você se propõe a fazer. Foi muito divertido e uma aventura inesquecível! Finalizo aqui meu Diário de Bordo – EVA FAZ DE CONTA.

Katiuscia de Sá
04 de agosto de 2011

*Fotos dos bastidores EVA FAZ DE CONTA:

TEASER Eva Faz de Conta:

BLOG:

*Sobre o Projeto de Pesquisa e Extensão RESGATE DAS RADIONOVELAS: