“o poeta é com efeito coisa leve, santa e alada; só é capaz de criar quando se transforma num indivíduo que a divindade habita e que, perdendo a cabeça, fica inteiramente fora de si mesmo. Sem que essa possessão se produza, nenhum ser humano será capaz de criar ou vaticinar.” [Platão]

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Agradecimento



A minha decisão já foi tomada há uns dois meses atrás: prefiro a presença de quem me traz paz ao coração; quem me deixa sentir segura emocionalmente; decidi por quem não compete comigo e sim me incentiva a todo momento; decidi dialogar com o homem que sabe conversar comigo de igual para igual sobriamente, educadamente, claramente e sem receios sobre os sentimentos (sutis que nem os meus); decidi estar em equilíbrio e manter-me nesse estado interior; decidi dedicar-me ao universo dele e meu que são entrelaçados; decidi pelo homem que me ensinou a diminuir a velocidade interna e com isso dilatar mais ainda meus sentidos e ver e ouvir com tremenda nitidez e beleza os fatos cotidianos; decidi pela dança com os pés nos chão e pelo amor que nos eleva às alturas. Sinto-me tão serena, tão em paz, tão viva e vazia para abrigar-me do novo que vem e vai continuamente, uma respiração que trás o amor e leva esperança, que traz equilíbrio e agrega confiança. Agradeço muito por tudo de bom que aconteceu comigo em 2012, principalmente de ter enxergado coisas que antes (pela minha própria velocidade) não percebia como deveria; enxerguei alguém que me faz sentir nas nuvens, entretanto, sem me perder nas tempestades... decidi ser feliz, enfim. E aprender que amor e felicidade são ferramentas para gerenciar um estado de ânimo: minha paz que a transmito aonde quer que eu passe, como uma brisasinha que ameniza o calor diário das confusões; decidi de todo meu coração deixar-me guiar através dessa velocidade que essa pessoa especial ensinou-me; desse modo não chegarei nunca atrasada na vida, chegarei sempre no momento certo onde devo chegar; porque compreendo agora que o AMOR não tem pressa; ele não adia os encontros, ele trás para perto tudo o que necessitamos. E é por isso que compreendo essa decisão de ser feliz, pois as escolhas são conscientes e repletas de amor, paz, respeito e compreensão. Decido que meu coração vibre dentro e fora de mim, e nos envolva aonde quer que estejamos. Hoje o meu sorriso está mais ainda indecifrável, um sorriso tão suave que mal aparece atado ao rosto... mas um sorriso com o corpo todo que emana Luz. E tudo isso acontece porque aprendi a caminhar mais lento, e nessa lentidão aquática dos mares, vejo tudo dilatado nas formas, abrindo mais espaço para agilidade mental acontecer profundamente e absorver as decisões certas para minha vida. Nunca esqueço a primeira vez que vi esse jovem homem, e hoje eu sinto e sei, que foi naquele momento em que nossos olhares se cruzaram... foi ali que ele me fez ser sua para sempre, e teve a paciência de aguardar o momento certo para que eu também compreendesse. Gosto dele porque ele me ensina as coisas, porque ele me faz compreender o que ainda não sei. Esse é o amor que me surpreende: o que alavanca o progresso, o que conversa sem rodeios e com franqueza... nem todas as palavras do mundo poderão dizer-lhe o quanto sou-lhe grata; nem todas as palavras do mundo poderão dizer-lhe o quanto te amo demasiadamente... um sentimento desprendido, e despretensioso, uma liberdade literária presente no mundo verdadeiro das formas. A Arte fugiu às regras, porque o Amor é um circulo perfeito.

Katiuscia de Sá
18 de dezembro de 2012
07:58 a.m.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

NÓS




Como um bebê que dorme no leito, desprotegido dos horrores do mundo, apenas sonhando com o que um dia poderá vir a ser, assim meu coração foi-lhe entregue. És o fogo do sol que emerge de min'Alma domesticada. O que me impressiona de ti, é teu deslumbrante ar civilizado, a clareza das palavras, a sinceridade e respeito com que conversa comigo sobre as coisas do coração. Gosto-lhe da voz, dos olhos, da boca e das palavras que saem dela. Como um trem que desce a colina controlado pelos trilhos, ambos somos do outro... confio tanto no Destino que nos aponta o caminho, que não há fantasma algum para nos magoar. Minha busca que nunca houve, acabou. Minha angústia que nunca foi verdadeira, cessou. Meu corcel em disparada pelos campos e colinas, nunca partiu. E tu, lindo homem jovem, que um dia me sorriu e que eu nunca notara antes, finalmente chegaste com a coragem de emergir das falas um encanto sonoro de poesia e verdade, que me trouxe para sempre ser tua. Não importa os espaços dos dias, sempre estaremos conectados... sempre conectados, pois tudo que foi escrito nos Céus, aqui em baixo não se desfaz. A pintura perfeita de Deus, para os corações dos homens se chama Amor, e é isso que nos liga através do respeito e admiração mútua, o equilíbrio do tempo, a exatidão das horas, as partes subjacentes: somos juntos uma flor desabrochada e contente.

Katiuscia de Sá
13/12/2012

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

O suco gástrico do amor – um limão bem azedinho!


Era uma estrada sem chãos... sem largura alguma... sem margens e também sem inicio ou fim. Era uma figura circular e completa. Tao completa que faltava o centro. Era oca, e era por lá que tudo vazava... vazavam olhares, sentimentos, sorrisos e sensações diversas de todo tipo de gente. Às vezes parecia uma neblinazinha, uma fumaça cor-de-rosa. E era essa fumacinha cor-de-rosa que chamavam de ‘amor’. Às vezes passava em pencas... às vezes em saltos... às vezes em sulcos. A onda era tão inflame que cada vez que brotasse atravessando o oco do circulo, o buraco ia cada vez mais aumentando. E nesse alargar dos acontecimentos, ele me chegou e tocou naquele assunto novamente... eu pedi para que não falasse nada disso outra vez, porque me desgastava, me estressava feito lança no coração a verter sangue... como explicar-lhe que sentimentos para mim são como líquidos que invadem meus pulmões e me fazem afogar por vezes? Deveria ter dito algo sobre, mas no momento minha cabeça ordenava ‘cortar’ o assunto para não me fazer mal novamente, posto que ainda estou me recuperando... Como explicar-lhe que sentimentos para mim devem ser leves e suaves (pelo menos os meus são desse modo) e quando alguém denota em minha direção essas ondas gigantescas de acasos, de vontades reprimidas, de desejos ocultos pela minha pessoa... isso me é absorvido como se fosse um suco bem grosso de abacate tentando escorrer canudinho adentro para meu coração, mas por um canudinho que é feito apenas para passar líquidos finos, ou bem dizer, apenas água... é por isso que essas ondas de sentimentos volumosos me afligem a alma e adoecem meu corpo. Não sou preparada para performar grandes demonstrações de afetos, para pintar escândalos de ciúmes, para esbofetear bate-bocas em praça publica, para puxar cabelos de baixarias e arranhamentos... Sou bastante discreta, insipida e inodora, quase catatônica a essas vontades alheias que a maioria dos homens gosta que as mulheres façam para saberem ‘in loco’, de que gostamos deles... As falanges de meus sentimentos afetam outros pontos – os sentidos mais refinados (que nem todos possuem bem sinalizados e dispostos); meus sentimentos e demonstrações de afetos são muito suaves... quase flocos de neve a se desfazer antes de tocarem o chão; é preciso calma, sintonia, e tranquilidade tremenda para formação de confiança; é necessário barricadas e barricadas para fazer-me sentir tão segura a ponto de me despir o coração e demonstrar com meu corpo nu o que sinto; e mesmo assim de forma tão poética e espontânea, que parece um pequeno sonho às vistas do ser amado. É preciso acreditar no acaso das coisas... é preciso acreditar quando se corta um limão azedo para chupar seu suco com toda vontade do mundo, sabendo que ele irá curar algum mal... chupar um limão pode ser tão erótico se derramado mel por cima – cria-se outro sabor e outro desejo; ás vezes o amor que pedimos ao Universo nos vem, mas é algo que não esperávamos que fosse desse modo tão frágil e remoto, e ficamos com a sensação de que temos um buraco dentro da barriga por onde tudo passa e nada fica. Apenas sinta, perceba e pondere os fatos, os comportamentos, as confianças... essa neblinazinha cor-de-rosa está nos meus póros, na minha pele, nos meus organismos, no meu coração, nos meus pensamentos e sentimentos que são você, e que por isso me faz ser você, e tê-lo como verdade minha. Eu gosto de você independente de sermos loucos, independente de sermos sãos. Eu gosto de você porque você veio para mim e porque você também me chamou. Eu sempre gostarei de você e ficarei ao seu lado toda vez que me chamares... mas por favor, nada de suco de abacate... eu prefiro água mineral. É mais saudável, e hidrata. Uma banda de limão banhada de mel em cima também é bom de chupar... evita gripe.


Katiuscia de Sá
13 de dezembro de 2012
07:58 p.m

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

MINHA PRECE PARA VOCÊ



Minha prece para você
É verbo,
É musica
Minha musica sai das pedras,
Aquelas que desfiguro às madrugadas
Quando de ti lembro sem querer
A me festejar pelos raios do meu quarto.
Minha prece para você é aquele sussurro
Dos sonhos que invadem teus acordados dias
Lambem-nos a pele da praia em maresia.
Minha prece para você
Some de mim e de minhas vistas
Vai morar bem lá no fundo do teu peito.
E quando ela deseja buscá-lo – essa prece
Aninha-se dentro de uma concha perdida na praia
Deixa-me e corre a desfalecer feliz num linóleo azul-turquesa.
Minha prece para você
É aquela que te olha sem deixar-me ver que te desejo
E sei que me olhas desse mesmo modo, por vezes
Quando corro as vistas nos cantos do rosto,
E lá te vejo...
Danças comigo das vezes que esbarramos cortejo.
Minha prece para você vai sendo tecida a todo instante...
Invade... toma-lhe por dentro
Vendaval silencioso da madrugada frienta
Aguardando o sol,
Seus fios de fogo a enlaçar-me de vez!
Estás modelando-me os passos
Para sermos únicos,
Bailarinos um para o outro
E dançarmos para sempre dois.
Minha prece para você
Atravessa o tempo,
Atravessa o espaço,
Atravessa tu’Alma, amor...
Minha prece para você
Chama-se meu nome.
Minha prece para você
Chama-se teu nome.
A minha prece para você
É a nossa dança, amor...


Hellen Katiuscia de Sá
12 de dezembro de 2012
02:09 a.m

domingo, 9 de dezembro de 2012

O Poeta e o Anjo



“Cansado da fome espiritual
Em meio a um deserto triste
Meu caminho fiz,
E um anjo de seis asas veio a mim
Num lugar onde havia uma encruzilhada.
Com dedos leves, como o sono,
Tocou as pupilas de meus olhos
E minhas proféticas pupilas abriram
Como olhos de águia assustada.
Quando seus dedos tocaram meus ouvidos,
Estes se encheram de rugidos e clangores
E ouvi o tremor do céu
E o vôo do anjo da montanha
E animais marinhos nas profundezas
E crescer a videira do vale.
E, então, pressionou-me a boca
E arrancou-me a língua pecadora,
E toda a sua malícia e palavras vãs,
E tomando a língua de uma sábia serpente
Introduziu-a em minha boca gelada
Com sua mão direita encarnada!
Então, com sua espada, abriu meu peito
E arrancou-me o coração fremente,
E no vazio de meu peito colocou
Um pedaço de carvão em chamas.
Fiquei como um cadáver, deitado no deserto,
E ouvi a voz de Deus clamar:
'Levanta profeta, e vê e ouve!
Sê portador da minha vontade
Atravessa terras e mares,
E incendeia o coração dos homens
Com o verbo'."

[Alexander Sergueievitch Puchkin – 1826]

sábado, 8 de dezembro de 2012

Alvorecer


Para meus avós: Benedito Benício de Sá e Raimunda Ferreira de Sá
(in memoriam)


Acho que aos meus doze ou treze anos nos mudamos para uma outra casa. Era mais ampla, de dois andares, e o quintal era bastante vasto, ambas as casas ao lado da nossa estavam demolidas, então os terrenos somavam-se ao da nossa casa. O quintal era um matagal só. Bem ao fundo havia um campinho de futebol, ninguém usava porque o terreno era bem cercado. Mais ao fundo havia um pequenino bosque, com uma arvore velha e medonha bem no centro, com seus cipós escorrendo por entre os galhos, e sua copa cobrindo todo rastro de sol que pudesse alcançar o solo. Na minha imaginação de criança, ali era o meu refúgio, quando meus pais brigavam; eu sumia e me escondia no meio do mato, as picadas de inseto eram menos dolorosas do que vê-los aos berros e se machucando mutuamente.

Adorava meus momentos de solidão. Observava a natureza bem de pertinho; via os insetos voando pelo espaço lutando com os pontinhos de poeira inerentes à natureza... aqueles que flutuam e causam beleza na contra-luz. A disciplina das formigas recolhendo alimentos para as tocas... os gafanhotos, as cigarras agarradas ao tronco da árvore medonha zunindo atraindo a noite... os gafanhotos verdinhos disfarçados de folhas... e os mosquitos me ferrando, aumentando minha alergia.

Gostava de ficar sozinha, olhando o céu de tardinha ouvindo piar um pequeno falcão que voava as redondezas desesperando as galinhas que eram criadas no quintal de casa. Quando uma soltava aqueles ataques galináceos de pavor com seus “pópopopo-ró!” eu já sabia do que se tratava... ia até o quintal e ficava sentada num pedaço de tronco caído, para as galinhas me verem ali e sentirem-se mais seguras. Eu olhava para o alto e via o falcãozinho. Às vezes ele aterrissava bem no alto daquela árvore tenebrosa e ficava. Nunca machucou nenhuma delas.

Uma vez em viagem à Algodoal, meu avô me trouxe de presente uma franguinha. Ela era diferente de todas as galinhas que eu tinha visto. Dei-lhe o nome de ‘Pretinha’. Suas penas eram negras com as pontas brancas, toda sua plumagem era convexa... parecia que Pretinha estava o tempo todo arrepiada. Seus olhos sempre arregalados de um vermelho intenso; parece que nunca piscavam. Pretinha era melhor cão-de-guarda do que qualquer outro animal. Não podia passar nada para o quintal que a bicha voava e estraçalhava. Tinha um temperamento de fera bestial! Apenas comigo Pretinha era mansinha, mansinha. Adorava essa galinha... acho que foi a única que morreu de velha e pelada. As outras minha mãe as matava e cozinhava. Eu não as comia. Tinha febres emocionais, ficava deprimida e chorava semanas com aqueles assassinatos em massa...

Às vezes vôzinho ia nos ver. Ele sempre nos trazia algum mimo. Vovó nunca foi nos visitar devido sua doença que a impossibilitava de andar muitos quilômetros. Era raro meu pai me deixar sair de casa para visitá-la. Sentia-me tão isolada. Foi nesse período que comecei a desenhar, e ficar mais e mais melancólica. Minha alma de artista estava brotando daquelas horas de solidão enfiada no matagal de minha infância.

Gosto de estar só com meus pensamentos. Gosto de mergulhar em mim e lembrar-me dessas coisas que me nutriram a imaginação e a sensibilidade inteligível de penetrar nas coisas e ambientes. Adoro lembrar-me de meus avós; suas presenças são tão fortes em mim até hoje. Meus doze e treze anos foram meu Alvorecer. E aquela casa grande que me deixava esconder de meus pais e me isolar deliberadamente de meu irmão, foi para mim como um casulo.

Às vezes eu também passava as tardes em silencio dependurada na janela do quarto olhando a luz do dia testemunhar a noite que vinha e cobria tudo com seu manto de veludo afogado de sapinhos dizendo uns aos outros: ‘fui... fui... fui’. Ficavam eu e meus periquitinhos australianos à janela, um dos muitos mimos que vôzinho me deu. Parece que ele sabia de minha solidão e sempre me trazia algo para colorir esse abismo. Normalmente eram bichinhos de estimação ou algum brinquedinho para meu irmão e eu brincarmos juntos. Dessa vez foram os periquitos. Eles presos na gaiola, e eu aos meus pensamentos.

Agora parece tudo um sonho longínquo, desses que se lê em romances do século XIX... parece outra garota que não eu, alguém que eu nunca tivesse sido. Apenas uma lembrança para escrever um livro algum dia.

Agora o lago está bem calmo, o vento desliza sobre a superfície e desenha contornos suaves... faz refletir o que a luz deixa ver.


Katiuscia de Sá
08/12/2012
00:10h

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

[VERSINHO IV]


Quero subir aos céus,
Encontrar nuvens e ser passarinho.
Quero dormir dependurada nas folhagens do mato,
Ser orvalho enrolado de madrugada
Folha, galho e vida junto ao ninho...
Quero subir e descer os leitos de rios,
Encontrar o oceano...
Ser um deus marinho.
Desabrochar meu sorriso de criança
Seguir minha felicidade,
E me perder no caminho....


Katiuscia de Sá.
07/12/2012
08:45 p.m.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Educação Somática na Dança

Este é o grupo do Projeto de Pesquisa e Extensão da Escola de Teatro e Dança da UFPA coordenado pelo professor mestre Saulo Silveira, do qual participo como aluna-pesquisadora. Neste blog estão meus registros de diários-de-bordo, e aos poucos, em breve haverá mais postagens das pessoas que compõem o grupo e também mais coisas sobre o projeto. Quem quiser conhecer um pouco mais sobre Educação Somática, pode visitar o blog, são todos bem-vindos!

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

A Melhor Maneira de Viajar é Sentir


Afinal, a melhor maneira de viajar é sentir.
Sentir tudo de todas as maneiras.
Sentir tudo excessivamente,
Porque todas as coisas são, em verdade, excessivas
E toda a realidade é um excesso, uma violência,
Uma alucinação extraordinariamente nítida
Que vivemos todos em comum com a fúria das almas,
O centro para onde tendem as estranhas forças centrífugas
Que são as psiques humanas no seu acordo de sentidos.

Quanto mais eu sinta, quanto mais eu sinta como várias pessoas,
Quanto mais personalidade eu tiver,
Quanto mais intensamente, estridentemente as tiver,
Quanto mais simultaneamente sentir com todas elas,
Quanto mais unificadamente diverso, dispersadamente atento,
Estiver, sentir, viver, for,
Mais possuirei a existência total do universo,
Mais completo serei pelo espaço inteiro fora.
Mais análogo serei a Deus, seja ele quem for,
Porque, seja ele quem for, com certeza que é Tudo,
E fora d'Ele há só Ele, e Tudo para Ele é pouco.

Cada alma é uma escada para Deus,
Cada alma é um corredor-Universo para Deus,
Cada alma é um rio correndo por margens de Externo
Para Deus e em Deus com um sussurro soturno.

Sursum corda! Erguei as almas! Toda a Matéria é Espírito,

Porque Matéria e Espírito são apenas nomes confusos
Dados à grande sombra que ensopa o Exterior em sonho
E funde em Noite e Mistério o Universo Excessivo!
Sursum corda! Na noite acordo, o silêncio é grande,
As coisas, de braços cruzados sobre o peito, reparam

Com uma tristeza nobre para os meus olhos abertos
Que as vê como vagos vultos noturnos na noite negra.
Sursum corda! Acordo na noite e sinto-me diverso.
Todo o Mundo com a sua forma visível do costume
Jaz no fundo dum poço e faz um ruído confuso,

Escuto-o, e no meu coração um grande pasmo soluça.

Sursum corda! ó Terra, jardim suspenso, berço
Que embala a Alma dispersa da humanidade sucessiva!
Mãe verde e florida todos os anos recente,
Todos os anos vernal, estival, outonal, hiemal,
Todos os anos celebrando às mancheias as festas de Adônis
Num rito anterior a todas as significações,
Num grande culto em tumulto pelas montanhas e os vales!
Grande coração pulsando no peito nu dos vulcões,
Grande voz acordando em cataratas e mares,
Grande bacante ébria do Movimento e da Mudança,
Em cio de vegetação e florescência rompendo
Teu próprio corpo de terra e rochas, teu corpo submisso
A tua própria vontade transtornadora e eterna!
Mãe carinhosa e unânime dos ventos, dos mares, dos prados,
Vertiginosa mãe dos vendavais e ciclones,
Mãe caprichosa que faz vegetar e secar,
Que perturba as próprias estações e confunde
Num beijo imaterial os sóis e as chuvas e os ventos!

Sursum corda! Reparo para ti e todo eu sou um hino!
Tudo em mim como um satélite da tua dinâmica intima
Volteia serpenteando, ficando como um anel
Nevoento, de sensações reminescidas e vagas,
Em torno ao teu vulto interno, túrgido e fervoroso.
Ocupa de toda a tua força e de todo o teu poder quente
Meu coração a ti aberto!
Como uma espada traspassando meu ser erguido e extático,
Intersecciona com meu sangue, com a minha pele e os meus nervos,
Teu movimento contínuo, contíguo a ti própria sempre,

Sou um monte confuso de forças cheias de infinito
Tendendo em todas as direções para todos os lados do espaço,
A Vida, essa coisa enorme, é que prende tudo e tudo une
E faz com que todas as forças que raivam dentro de mim
Não passem de mim, nem quebrem meu ser, não partam meu corpo,
Não me arremessem, como uma bomba de Espírito que estoira
Em sangue e carne e alma espiritualizados para entre as estrelas,
Para além dos sóis de outros sistemas e dos astros remotos.

Tudo o que há dentro de mim tende a voltar a ser tudo.
Tudo o que há dentro de mim tende a despejar-me no chão,
No vasto chão supremo que não está em cima nem embaixo
Mas sob as estrelas e os sóis, sob as almas e os corpos
Por uma oblíqua posse dos nossos sentidos intelectuais.

Sou uma chama ascendendo, mas ascendo para baixo e para cima,
Ascendo para todos os lados ao mesmo tempo, sou um globo
De chamas explosivas buscando Deus e queimando
A crosta dos meus sentidos, o muro da minha lógica,
A minha inteligência limitadora e gelada.

Sou uma grande máquina movida por grandes correias
De que só vejo a parte que pega nos meus tambores,
O resto vai para além dos astros, passa para além dos sóis,
E nunca parece chegar ao tambor donde parte...

Meu corpo é um centro dum volante estupendo e infinito
Em marcha sempre vertiginosamente em torno de si,
Cruzando-se em todas as direções com outros volantes,
Que se entrepenetram e misturam, porque isto não é no espaço
Mas não sei onde espacial de uma outra maneira-Deus.

Dentro de mim estão presos e atados ao chao
Todos os movimentos que compõem o universo,
A fúria minuciosa e dos átomos,
A fúria de todas as chamas, a raiva de todos os ventos,
A espuma furiosa de todos os rios, que se precipitam,

A chuva com pedras atiradas de catapultas
De enormes exércitos de anões escondidos no céu.

Sou um formidável dinamismo obrigado ao equilíbrio
De estar dentro do meu corpo, de não transbordar da minh'alma.
Ruge, estoira, vence, quebra, estrondeia, sacode,
Freme, treme, espuma, venta, viola, explode,
Perde-te, transcende-te, circunda-te, vive-te, rompe e foge,
Sê com todo o meu corpo todo o universo e a vida,
Arde com todo o meu ser todos os lumes e luzes,
Risca com toda a minha alma todos os relâmpagos e fogos,
Sobrevive-me em minha vida em todas as direções!

Álvaro de Campos, in "Poemas"
Heterónimo de Fernando Pessoa

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Eles são Os Verdadeiros Donos da Terra


Minha bisavó era índia legítima. Talvez por isso eu goste tanto de perfurar meu rosto e orelhas com pearcings... talvez seja minha versão indígena mais antenada com a modernidade...

Minha avó me dizia quando eu era criança, que minha bisavó era a Pajé de sua tribo... e que minha avó ao completar a idade de oito anos deveria ser iniciada no repasse dos ensinamentos sagrados de pajelança, entretanto minha bisavó se foi antes que minha avó completasse a idade para o ritual. Infelizmente não lembro exatamente qual a região que ficava essa comunidade de tribo que minha avó contava. Eram índios (e seus descentes) já ‘civilizados’, porém os costumes ainda eram preservados. Me emociono ao assistir esse vídeo, acredito que o ser humano precisa resgatar essa fonte com o sagrado religado através da Natureza. Infelizmente por questões politicas e econômicas os habitantes do planeta que ainda estão irmanados nessa conexão com a Mãe Terra periodicamente na História das Civilizações estão sendo sempre despejados de seus lugares de origem... choro ao assistir esse vídeo e contemplar esses rostos que, apesar de tudo, apesar da corrupção, apesar das tentativas de deturpação de valores, apesar de todo antropofagismo (às vezes velado) ainda carregam a ingenuidade e verdade em seus semblantes.

Eles são Os Verdadeiros Donos da Terra. Há de se respeitar isso, o Planeta sabe de tudo, ele chora, ele sangra... ele pede socorro... as árvores respiram; os rios gritam através dos bichos que são mortos e caçados para exportação... Não acredito que ninguém sente isso!

Há de se respeitar o direito à vida...

Há de se respeitar Deus em sua manifestação pela Natureza...

Eles são Os Verdadeiros Donos da Terra.



Katiuscia de Sá
16 de novembro de 2012

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

AO MESTRE COM CARINHO



Hoje foi um dia muito especial para mim. Após enfrentar uma viagem de mais de duas horas na estrada, pude assistir as performances de meus colegas na Escola de Teatro e Dança da UFPA (etdufpa). Era incerto de eu poder assisti-los, mas como eu acredito que nada é em vão, os planos no meu trabalho foram mudados em cima da hora e eu pude retornar a Belém em tempo hábil.

Foi muito legal observar várias performances de mão dadas com o audiovisual (que também é minha paixão). Vi muitas coisas interessantes executadas pelos alunos da matéria “Performance I”, da Licenciatura Plena em Teatro/ UFPA, disciplina ministrada pela professora Karine Jansen. A maioria das performances estava alicerçada em gritar alguma crítica social, o que achei bastante louvável. Em minha opinião a Arte é um canal para dialogar poeticamente com a realidade, tornando-se uma ferramenta comunicativa que atinge esferas mais sofisticadas de compreensão, e portanto, gerando uma abrangência mais profunda sobre as coisas.

Entretanto, esse não foi exatamente o aspecto especial da noite de hoje. Ao ser convidada por dois alunos da professora Karine para ajuda-los em parte de suas performances através de vídeo-arte, eu tive a impressão de que a vida me ofertava a oportunidade de eu participar de algo dentro do fazer teatral, da qual estou afastada uns três/quatro anos. Fiquei satisfeita com este novo ‘chamado do palco’.

E a parte sagrada desse chamado foi eu, de alguma forma, compreender também uma possibilidade de religação com professora Karine Jansen. À época de quando fui sua aluna na etdufpa eu era bastante difícil de lidar, um pouco diferente na maneira de compreender e assimilar as coisas, e ‘sempre arredia’,(palavras perenes de prof. Walter Bandeira em relação a mim), e muitas vezes respondona também...

Havia momentos em que eu não queria executar os comandos que professora Karine me pedia às vezes nos exercícios teatrais... mas eu não fazia por mal, eu queria experimentar minha maneira de compreensão e execução das coisas, e minhas atitudes frequentemente eram vistas talvez como arrogantes por alguns professores (mas na minha cabeça não era isso, nem nunca foi), então prof. Karine e eu não tínhamos muita sintonia, o que gerava meu afastamento de suas orientações acadêmicas mais ainda. Normalmente eu queria saber o porquê das coisas e prof. Karine não sabia como chegar em mim e eu também a essa altura já não tinha muita paciência...

O que eu achei tão digno e belo – um momento sagrado, e tão espontâneo durante uma das apresentações de hoje, foi quando o publico tinha de abraçar alguns dos performers, eu assim o fiz e também disse que queria abraçar a professora. Mas esse abraço não era relacionado àquele momento, para mim foi assimilado como um carinho em agradecimento pela paciência e persistência de professora Karine em relação ao meu aprendizado teatral de anos atrás, e também uma tentativa dela compreender que eu nunca tive mágoa alguma pelas discussões entre a gente por conta de alguma passagem de quando ela foi minha professora de Teatro.

Eu senti que ela compreendeu. E o mais emocionante para mim, foi ao final das apresentações ao me despedir dela, também através de um abraço fraterno quando lhe segredei aos ouvidos: “Karine, eu quero lhe pedir desculpas pelas minhas pirraças à época em que fui sua aluna... você é uma excelente professora...” , eu queria dizer-lhe mais coisas, porém era pouco tempo. Sei que professora Karine Jansen compreendeu o que eu lhe disse de Alma para Alma.

Então Karine falou em alto e bom som, para todos na sala, foi divertido perceber que ela tinha um sorriso de satisfação e também surpresa no rosto: “Katiuscia estava me pedindo desculpas... ela foi uma aluna muito malcriada da época em que fui sua professora... mas eu nunca desisti”. Eu percebi que ela, enfim me compreende e eu a ela, e que também conseguimos alcançar um certo grau de sintonia, respeito e admiração uma com a outra, tudo fluiu com naturalidade e no tempo certo nesses quase quatro anos de convivência  furtiva e insistência dessa professora que nunca desistiu de mim como sua aluna. Para mim o maior ensinamento que ela me repassou foi incrivelmente resumido numa frase que ela me disse certa vez em sala de aula: “o ator deve estar sempre disponível”. A partir dessa frase aparentemente simples, um sol entrou na minha mente.

E foi com essa felicidade que retornei para casa. Com o coração leve e alegre por faze-la compreender que sempre a respeitei e que tenho admiração por essa mulher forte, guerreira que ama sua Arte e entrega-se a ela como sua respiração que lhe faz viver pelo e para o Teatro. É belíssimo vê-la e sentir isso. Obrigada por tudo mestra Karine Jansen. Você também me ensinou o significado e responsabilidade de repassar essa Arte Secreta do ator para gerações vindouras. Agora está bem claro essa disponibilidade perceptiva, eu poderia ler todos os livros do mundo sobre teatro, mas certamente nunca compreenderia este segredo como deveria.


Katiuscia de Sá
14 de novembro de 2012
23:49h

domingo, 11 de novembro de 2012

O que são Crianças e Adultos Indigo e Cristal?


Eu nasci Cristal, em transição para Arco-Íris. Mas como saber se você ou alguém que você conhece é uma criança/adulto Indigo ou Cristal? 

A seguir as particularidades e características principais destas pessoas. Mas queremos destacar que o fenômeno Indigo/Cristal é o próximo passo na nossa evolução como espécie humana. Nós estamos todos, de certa maneira, nos tornando Indigos e Cristais (alguns poucos que já nasceram na frequência Cristal, que nasceram nos anos 70, já estão na transição de seu padrão vibracional energético para Diamante e/ou Arco-Íris). Esses Seres estão aqui para nos mostrar o caminho, e por isso a informação pode no geral ser aplicada a todos nós, à medida que nós fazemos a transição para a próxima etapa do nosso crescimento e evolução.

As Pessoas Indigo têm encarnado na Terra nos últimos 100 anos. Os primeiros Indigos eram pioneiros e visionários, apontando os caminhos. Depois da Segunda Guerra Mundial, nasceram um numero significante delas, e estes são os adultos Indigo de hoje. No entanto, na década 70 uma onda grande de Indigos nasceu, e por isso agora temos uma geração inteira de Indigos que estão agora entre fins dos vinte, e outros no meio dos trinta e tantos anos, que irão tomar o seu lugar como lideres deste mundo, há porém alguns Adultos Cristais em posições estratégicas (educação, política, área científica, sociológica, etc). Os Indigos continuaram a nascer até mais ou menos o ano 2000, com mais habilidades e maior grau de sofisticação de inteligência analítica sensível, inteligencia tecnológica e criativa. Por onde passam chamam atenção pela sua fluidez de raciocínio e rapidez de compreensão e assimilação das coisas.

As Pessoas Cristais começaram a aparecer no planeta com maior frequência a partir de 2000, embora alguns digam que começaram a aparecer um pouco mais cedo (algumas chegaram entre a década de 70 para abrirem caminho para as demais Cristais; estes Cristais nascidos nos anos 70 são ainda mais poderosas, pois deviam sanar o ambiente e padrões vibracionais do Planeta Terra para seus irmãos poderem aportar com maior segurança e em maior número). Estas Pessoas são extremamente poderosas sensitivamente, com inteligência analítica sensível bastante aflorada e o objetivo principal delas é levar-nos ao próximo nível de evolução de CONSCIÊNCIA energética ligada ao Todo, para revelar-nos o nosso poder interior e divindade. Elas funcionam como uma consciência de grupo em vez de individuais, e vivem pela “Lei da Unidade” ou Consciência de Unidade. Elas são uma poderosa força de amor e de paz no planeta.

Os Cristais são TODOS clarividentes, ‘sentem’  e 'ouvem' os pensamentos das pessoas a sua volta, e é inútil tentar mascarar sentimentos ou intensões para esses Seres, eles leem a aura do individuo sem o menor entrave, e são muito pacificas, evitam o combate direto, pois reconhecem o dialogo e estratégia de ataque galgados no Amor fraterno, respeito e no doar de ferramentas para que o próprio individuo reconheça que pode proceder de forma contraria à tirania, egoísmo e subjugação. No geral detestam discussões inúteis e desnecessárias; preferindo distancia de pessoas, lugares e situações nocivas a elas. Ou seja, todas as pessoas são transparentes para os Cristais. É inútil mentir/omitir//mascarar/forjar sentimentos e intensões, pois os Cristais enxergam e sentem o que as pessoas comuns desconhecem e compreendem como linguagem. Os Cristais penetram em outras esferas de compreensão. Possuem um raciocínio diferente das pessoas comuns, envolvendo vários ângulos de análise e ligações de conhecimento acerca do que estão observando ou vivenciando. Esses seres possuem um poder mental extraordinário!

Os Adultos Indigos e Cristais são compostos de dois grupos. Em primeiro, existe aqueles que nasceram como Indigos e que estão agora fazendo a transição para Cristais. Isto quer dizer que eles passarão por uma transformação espiritual e física que acorda a sua consciência “Cristica” ou “Cristal” e que os liga às Pessoas Cristais como parte da onda evolucionária de mudança. O segundo grupo são aqueles que nasceram sem estas qualidades (humanos comuns), mas que as adquiriram trabalhando arduamente e seguindo diligentemente um caminho espiritual. Sim, isto quer dizer que todos os humanos têm o potencial de ser parte deste “grupo” emergente de “anjos humanos”.

Lembrando que esses Seres não são deste planeta, eles nascem e crescem entre os humanos, porém sua Energia, Inteligencia, Potencialidade e Evolução Moral e Espiritual diferem drasticamente da gleba terrestre. Suas missões individuais seguem-se para um mesmo ponto: ajudar na Evolução do Planeta e dos humanos para um Novo Mundo.

O seguinte extrato descreve a diferença entre Pessoas  Cristais e Indigos. Lembrando que já existem adultos Cristais e suas características são as mesmas encontradas nos infantes deste grupo. É do artigo “Crianças Indigos e Cristais” da Doreen Virtue:

[A primeira coisa que a maior parte das pessoas observa nas Crianças Cristais são os seus olhos, grandes, penetrantes, e a sua imensa sabedoria. Os olhos delas fixam-se em você e te hipnotizam, enquanto você chega à conclusão que a sua alma está sendo revelada para a criança. Talvez tenha se apercebido desta nova e especial “raça” de crianças que está a povoar rapidamente o nosso planeta. Elas são felizes, encantadoras e inclinadas ao perdão. Esta geração nova de “trabalhadores de luz” tem idades mais ou menos entre os zero a sete, e são totalmente diferentes das gerações anteriores. Sendo ideal em vários aspectos, elas apontam na direção para onde a humanidade está se dirigindo… e é uma ótima direção!

As crianças mais velhas (aproximadamente com a idade entre os 7 e 25), e que se chamam “Crianças Indigo”, partilham algumas características com as Crianças Cristais. As duas gerações são bastante sensíveis e psíquicas  e têm objetivos de vida importantes. A maior diferença é o seu temperamento. Indigos têm um espirito de guerreiro, porque o seu propósito coletivo é de esmagar os velhos sistemas que já são inúteis. Elas estão aqui para pôr termo aos sistemas de governo, educacionais e legais que não têm integridade. Para fazer isto elas precisam de temperamentos e determinação impetuosa.

Aqueles adultos que resistem a mudança e que dão valor à conformidade, podem não perceber os Indigos. Elas são frequentemente e erradamente classificadas com diagnósticos psiquiátricos de Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) ou Transtorno do Déficit de Atenção (TDA). Infelizmente, porque elas são medicadas, as Indigos frequentemente perdem a sua bela sensibilidade, dádivas espirituais e energia de guerreiro…. Em contraste, as Crianças Cristais são bem-aventuradas e de temperamento uniforme. Claro, podem ter ataques de fúria ocasionalmente, mas a maior parte destas crianças são inclinadas ao perdão e tranquilas. As Cristais são a geração que beneficia da precursão dos Indigos. Primeiro, as Crianças Indigos lideram com uma manchete, cortando tudo que não tem integridade. Depois as Crianças Cristais seguem o caminho aberto para um mundo mais seguro e protegido.

Os termos “Indigo” e “Cristal” foram dados a estas gerações porque eles descrevem com precisão as suas cores de aura e de padrões de energia. As Crianças Indigos têm bastante azul-indigo nas suas auras. Esta é a cor do “chacra do terceiro olho”, que é o centro de energia localizado na cabeça entre as sobrancelhas. Este chacra regula clarividência, ou a habilidade de se ver energia, visões, e espíritos.  Muitas das Pessoas Indigos são clarividentes.

As Crianças Cristais têm auras opalescentes, com matizes lindas de pastel com cores múltiplas. Esta geração também demonstra uma fascinação por cristais e pedras…..

As Pessoas Indigo podem sentir desonestidade, como um cão pode sentir medo. As Indigos sabem quando estão mentindo para eles, sendo manipuladas, ou sendo tratadas de forma condescendente. E como o seu propósito coletivo é nos introduzir a um novo mundo de integridade, os seus detectores interiores de mentiras são indispensáveis. Com mencionei antes, alguns adultos sentem-se ameaçados por este espirito de guerreiro. E as Indigos são incapazes de se conformar com situações disfuncionais em casa, trabalho ou escola. Elas não têm a habilidade de se desassociar dos seus sentimentos e fingir que está tudo bem… a não ser que estejam medicadas ou com sedativos.

Os dons espirituais inatos das Crianças Cristais são também mal compreendidos. Especificamente, as suas habilidades telepáticas, que as levam a falar mais tarde na vida.

No novo mundo que os Indigos estão introduzindo a nós, estaremos muito mais conscientes dos nossos pensamentos e sentimentos intuitivos. Não contaremos tanto com a palavra escrita ou falada. A comunicação será mais rápida, mais direta e mais honesta, pois será de mente para mente. Já nesta altura podemos ver um número de pessoas, e está a aumentar, que estão a tomar contacto com as suas habilidades psíquicas  O nosso interesse no paranormal nunca esteve tão alto, acompanhado por livros, programas de televisão, e filmes sobre o tópico.

Por isso, não é surpreendente que a geração que se segue aos Indigos, seja incrivelmente telepática. Muitas das Crianças Cristais têm padrões de fala retardada, e não é incomum para elas esperarem até terem 3 ou quatro anos para começar a falar. Mas pais dizem-me que não têm problema nenhum em comunicar com as suas crianças silenciosas. Muito longe disso! Os pais metem-se em conversa mental com as suas Crianças Cristais. E as Cristais usam uma combinação de telepatia, de linguagem gestual própria, e de sons (incluindo canção) para transmitir o seu ponto de vista.

A dificuldade começa quando as Cristais são julgadas por médicos ou educadores como tendo padrões de fala “anormais”. Não é coincidência que à medida que o número de Crianças Cristais nascidas aumenta, que o número de diagnósticos de autismo atinge um número recorde.

É verdade que as Crianças Cristais são diferentes das outras gerações. Mas porque é que temos de encontrar razões patológicas para estas diferenças? Se as crianças estão se comunicando com sucesso em casa, e os pais não estão reportando nenhum problema… porque tentar criar problemas? O critério para diagnosticar o autismo é bastante claro. Declara que uma pessoa autista vive no seu próprio mundo, e está desligada das outras pessoas. A pessoa autista não fala por causa de um desinteresse em comunicar com outras pessoas.

As Crianças Cristais são totalmente o oposto. Elas são consideradas como uns dos seres mais ligados, mais comunicativos, mais carinhosos e mais amorosos de qualquer uma das gerações. Também são bastante filosóficas e têm dons espirituais. E elas exibem níveis nunca vistos de bondade e sensibilidade para este mundo. As Crianças Cristais espontaneamente abraçam e preocupam-se com pessoas carentes. Uma pessoa autista não faria isso!

No meu livro “A educação e alimentação das Crianças Cristais”, eu escrevi que ADHD (que em português é TDAH para Transtorno do Déficit de Atenção com HiperAtividade) devia significar “Atenção Ligada a uma Dimensão Superior”. Isto descreve mais exactamente esta geração. Na mesma veia, as Crianças Cristais não justificam um rótulo de autismo. Elas não são autistas! Elas são FANTÁSTICAS!

Estas crianças merecem respeito, e não rótulos de disfunção. Se há alguém que é disfuncional, são os sistemas que não estão se acomodando a evolução continua da espécie humana. Se nós envergonhamos as nossas crianças com rótulos, ou se as submetemos por medicação, então teremos enfraquecido insidiosamente uma dadiva mandada pelos céus. Nós esmagaremos uma civilização antes que tenha tempo de formar raízes. Afortunadamente, há muitas soluções positivas e alternativas. E o mesmo céu que nos mandou as Crianças Cristais pode nos assistir, nós que defendemos estas crianças].

Fonte: http://starchildglobal.com/

domingo, 4 de novembro de 2012

Tenha Sinceridade a Ti Mesmo...


Vivo numa velocidade constante... não consigo parar, a queda é algo emocionante para mim. Sinto o vento no rosto, vejo as cores passando, vou sentindo o cheiro das coisas, meus cabelos festejam nos céus... às vezes agarro algo e ele me acompanha até onde dá... na maioria das vezes não me acompanha muito porque não aguenta o vento no rosto. Desiste, como desiste de derramar-se uma lágrima mal tratada pelo calor excessivo.

Sigo em frente, pois não consigo parar... deram-me asas no lugar das pernas. Com elas eu conheço tantos lugares, vejo tantas pessoas, sinto coisas que ninguém imaginaria poder sentir algum dia... é uma bela viagem, mas solitária... algumas vezes eu choro, e essas lágrimas de tão velozes nem ao menos chegam a existir; evaporam-se ao vento.

Nasci já desafiando a morte... sou tão forte que de repente acham que não preciso de colo ou de abraço... sinto amor, um enorme amor que infelizmente não desce ao chão... não haveria ninguém para dialogar com essa loucura infinita que chamam de “Amor”, pois é algo tão imaterial que somente estando ao meu lado para saber como se é... mas minha velocidade não permite.

Por vezes, às lágrimas, pergunto a Deus porque ele lançou um relâmpago na água? Seria talvez, para provocar neblina? Já estou tão nua quanto os desertos deste planeta... mas ainda correm águas nos subterrâneos. Queria encontrar gente veloz que nem eu, ao menos para conversar e sentir nos olhos que somos do mesmo Lugar.

O que me deixa mais triste é compreender as miragens que surgem querendo enganar meu coração delicado. Eu queria ser cega para não enxergar tais coisas, nem sentir nada que me atrapalhasse o voo, mas os céus são Paraísos de pensamento de outras pessoas...

Escrevo minha dor para ela se tornar bela e não me afetar diretamente. Minha carne geme toda vez que preciso pousar e averiguar uma miragem e perceber tratar-se de mais uma fraqueza alheia, um sentimento velado e não exposto da verdade de si mesmo... tantas prisões... e eu aqui tão livre sem ninguém para celebrar.

Porque Deus ilumina apenas umas partes e outras não? Será que tanta luz cegaria o mundo?

Preciso de mim. E aquele amor que julguei ser real um dia me trouxe nas mãos um buquê amarrotado e já envelhecido. Haveria de regá-lo para os botões morrerem a dar passagem para uma Nova Vida. Entretanto, o medo – aquela das piores prisões – sempre vem, e quem poderia voar comigo interrompe o impulso, rasgando suas asas.

Eu só conheço a mim mesma. E para mim sempre falo a verdade seja ela meiga, ou dura.
Mentiroso é quem mente para si mesmo e não para os outros...
Covarde não é aquele que não enfrenta... é aquele que se omite...

Minha escolha é ser livre, nem que eu seja a única... porque enfrentei muitas coisas para chegar aqui; derrotei muitos fantasmas para enxergar e tocar os céus... nada se compara à clareza dos dias, ou a justeza das Horas fora dos eixos... e são essas lágrimas em forma de letras que me deixam Esperança...

Há alguém ai?

Deve haver, certamente...

Meu coração diz que sim, pois a aurora nunca se apaga.


Katiuscia de Sá
04 de novembro de 2012.
21:17h 

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Para meu Amor


A viagem que faço em ti, percorro meus incontáveis desejos de subir em teu selo cardíaco, e da carta lacrada retirar todas as paginas encobertas de neve, para dar-te enfim, o botão-de-rosa encravado no meu jardinzinho montanhoso... eram as neves pardas de inverno da China que vertiam lágrimas por estares tão longe de mim. Óh, meu amor cardíaco... de tanto apanhar o sereno da noite às madrugadas, transformava-me em sonhos que povoam teu peito debruçado ao travesseiro...

Era eu a lhe sussurrar carinhos quando dormias esquecido de ti. Era eu, a lamber-lhe a pele quando tomavas o banho noturno no quintal à mercê da lua que nos vinha vigiar para não escaparmos de nós mesmos – esse amor tão longínquo, e tão encarnado n’alma... era eu a iluminar-te os olhos de tanto carinho guardado e escondido de ti...
Era eu...
Sempre fui eu a observar-te os sorrisos e a fronte encruzilhada diante de tanta solidão em dias de chuva. Eu lhe via pela vidraça das lojas, e lhe via enfeitado de jasmins, como aquela flor que fugira do vaso, que queria ir morar no jardim do lado de fora da casa...

E ainda sou eu que choro lá do céu para molhar-te tuas raízes benditas... eu te amo desde que a Terra nascera do vapor do espaço. Eu te busco com tanta frequência e sordidez feito a planta carnívora que engana o inseto... o perfume da morte vai beijar-te os seios que carregas em tuas mãos – são os meus que agora são teus...

Sinto tua saudade aqui no meu peito, ela vem nas letras que te escrevo, óh amor de meus dias... cada lágrima e desespero pela força que me vens em devaneios, tiram-me de mim... vou derramar-me perante teu gozo solitário e nu das madrugadas escorridas pelo tempo-espaço aqui bem dentro do meu peito – vertiginoso corpo que te prende no meu – um cilindro obsceno cravado no meio do meu jardim sigiloso, aquele que te morde os beiços... aquele que te molha a boca.

Vieste-me agora, neste instante de lembrança e amor, a tua presença me anima e me agasta de tanta dor no peito, que escapo tão de repente no meio da noite e vejo-te, com teus olhos marejados de lágrimas...
Eu te espero...
Eu te quero...
Eu...

Como uma lua alaranjada desgovernada no céu da noite, hoje me invadiste com teu sopro de presença em pensamento... meu peito tremula uma folha de frio do orvalho noturno... vens me sugar os líquidos de meu corpo para saciar tua sede de nós dois... toma-me feito leite marinho.

Eu te devolvo a vida como um sol que brilha num espelho. Olho-te e vejo-me tão serena e menina... nosso amor é uma virgula a separar o passado. Nosso amor é um anel, a figura perfeita do Universo: sem começo nem fim...

E de tanta letra no céu da boca, nenhuma é capaz de dizer-te ao máximo o quanto eu te amo... meu homem, meu carinho...


Katiuscia de Sá
31 de outubro de 2012.
00:16h

terça-feira, 30 de outubro de 2012

E agora?



"Faço votos que o novo prefeito de Belém consiga encerrar o processo de tombamento do cinema Olympia. Só assim ele caminhará saudável para os 101 anos. Ou mais. A sala nos orgulha pela longevidade e história social que guarda como poucos espaços de nossa terra". 

[Pedro Veriano]
*Jornal O Liberal, 29 de Outubro de 2012.




*O Cinema Olympia é o cinema mais antigo do Brasil em funcionamento, ele completou em 24 de abril  de 2012, 100 anos de atividades. Atualmente o primeiro curso de Cinema da região Norte, pela Universidade Federal do Pará, quer utilizar salas ociosas desse espaço, justamente agregar maior valor e compromisso com a memória cultural do estado, ajudando a preservar este prédio já tombado por Lei.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

OLHOS VERDES


*com imensas saudades, para meu avô Benedito Benício de Sá, in memoriam.

Meu avô tinha olhos verdes; uns verdes que mudavam de cor. Eu adorava contemplá-los quando criança. Às vezes estavam verde-translucido tipo as águas do oceano confortáveis em algum laguinho refletindo o musgo pregado às pedras marinhas. Outros momentos ficavam verde-rubi tão determinados e fortes, umas folhas selvagens dos tajás amazônicos. Outros momentos beiravam um azul tão fraquinho que pareciam morrer na vastidão  do céu ao meio-dia bem próximo ao sol... adorava entrar nos olhos de meu avô. Suas cores me fascinavam; se de pertinho, eu conseguia perceber ainda ao redor da íris uns pontinhos luminosos de castanhos pingados em círculos como risquinhos finos e tênues da cor doce e malcriada de rapa-dura.

Aprendi a decifrar os sentimentos de meu avô apenas observando-lhe a cor dos olhos. Secretamente eu brincava na minha imaginação de criança que meu avô era um camaleão disfarçado de gente, e que suas emoções estavam nos olhos, e não em outros lugares ou falas. Portanto, eu só acreditava nele quando o olhava bem fundo e raptava seus olhos para mim.

Quando estava feliz, meu avô carregava no rosto seus dois pedacinhos de céu junto ao sol do meio dia. Quanto mais feliz... mais azul a sumir nos brancos; o mesmo acontecia na outra extremidade do sentimento. A raiva de meu avô também era azul enamorado do sol do meio dia. O que diferenciava do azul-feliz, eram-lhe as feições e a mimese corporal. Quando com raiva seus gestos eram mais contidos e ríspidos, precisos no espaço, então ele ficava tenso e alerta. Frequentemente quando estava assim, ele não nos dirigia a palavra a mim e ao meu irmão... com o passar do tempo percebi que era para não despejar raiva em pessoas que não tinham nada haver com aquilo. Aprendi com ele.

Meu avô era tão amado por mim e meu irmão; se estávamos soltos de nossos afazeres infantis, corríamos para sua companhia. Às vezes passávamos horas sem falar, apenas sentindo a presença uns dos outros e nisso emaranhávamos nossas almas nos instantes que hoje trago dentro de mim feito saudade e também força para seguir adiante colocando em prática tudo que aprendi com o velho Bené.

Vôzinho era do tipo contemplativo. Quando fechado em seus pensamentos, seus olhos eram verde-tajá, tão selvagens e arredios quanto animal perseguido. Ficavam assim na tristeza e saudade de sua terra-natal nos confins do sertão nordestino onde o chão rachava em pequeninos canyons. Igualmente seco e árido ele se mostrava ao exterior. Sentia-lhe o pesar também de vê-lo andando a penumbra pelos cantos da casa, tentando fugir de si mesmo... e hoje (mais do que nunca) partilho esse sentimento de desterro.

Há períodos mais que outros em que bate uma saudade dos dois, meus avós...  mas acho que vivi tão intensamente com eles, fiz tantas travessuras, tantos dengos e choros... que nada ficou dito pelo não dito. Eles sempre foram muito francos e transparentes como águas cristalinas do sereno silencioso e solitário. Aprecio gente assim, e assim eu cresci e enfrento o mundo. Um eterno outono nos olhos.


Katiuscia de Sá
Entre: 12 a 16 de outubro de 2012

domingo, 30 de setembro de 2012

DISSERTAÇÃO ROMÂNTICA


Meu coração é tão subterrâneo que frequentemente ele desaparece de mim e reaparece em outro lugar onde não lhe posso escutar. Só retorna quando quem o roubou de mim está na mira de meus olhos ou quando lhe ouço a voz a conversar... Meu coração é tão travesso: brinca de esconde-esconde e grita-me saudade. Descobri por esses dias (o que eu já desconfiava), o amor é ‘fogo que arde sem se vê’ porque é um demoninho daqueles que se tranca numa garrafa feito aguardente, vai queimando tudo por dentro quando o engolimos. Meu coração é tão subterrâneo e por isso é ceguinho, o coitado! Sabe que lhe ama, mas não o admite; então o cérebro – aquele que fica bem no topo da montanha, que recebe o ar frio e é amontoado de neve – não escreve isso no livro da Razão, porque o amor é irracional e destrona qualquer rei de sua poltrona magnifica! O amor, esse demoninho, é rebelde e desacata! Joga fora qualquer escrita; apenas se permite amar... então meu coração mesmo subterrâneo sabe que você pensa nele e o chama... sim, o chama... chama... chama... ele queima um fogaréu a me devastar.


Katiuscia de Sá
Em: 29/09/12

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

ESPELHO


Sou assumidamente selvagem, arisca e desconfiada, aprendi a observar e aguardar como os felinos; a voar e ver como os falcões e a ser agressiva como as panteras negras...pois desde pequenina a vida ensinou-me que isto aqui é uma selva e sobrevivem os mais fortes. Também sei sorrir e ser dócil, mas isso é privilégio apenas de quem me cativa de modo a não querer me aprisionar. Só faço o que eu quero e deixo-me apaixonar por quem me merece. Sou forte, mas minha fortaleza reside em minha simplicidade de absorver as pessoas, acredito que a amizade, como tudo na vida, vem de forma espontânea e serena, sem esforço para agradar, pois quem sente empatia sabe do que o outro necessita e vice-versa. Meu interior é contemplado por Deus - nossa face de Amor e Perdão. Procuro não esbarrar nas pedras, estas são o ornamento do mundo, estão aí há seculos e tudo sabem... igualmente podem ser salutares, igualmente podem ser perigosas...aprendi a falar com os ventos e a chorar com a chuva. E meu sorriso maior e sempre nascente, é o Sol que aquece meu peito...neste planeta Terra que também habita no interior de cada um de nós. Cuidemo-nos...

(Katiuscia de Sá - 28/09/2012)

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Curso de Cinema quer utilizar salas ociosas



Uma comissão esteve, na manhã desta segunda-feira (10/09), no gabinete do prefeito Duciomar Costa, em busca de informações sobre a proposta de convênio enviada pela UFPA à Prefeitura de Belém. O convênio prevê uma série de ações de formação e de estímulo à produção cinematográfica e audiovisual na Casa Dira Paes e Sala Acir Castro, ambos os espaços no Memorial dos Povos. O chefe de gabinete de Duciomar Costa pediu que voltássemos nesta terça-feira (11/09), às 9h, garantindo que já teria um posicionamento. Todos lá outra vez!!!




Fonte: Jornal O Liberal, dia 12 de Setembro de 2012, Caderno Magazine.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

O MISTÉRIO DO BALANCIM (ficção/infanto-juvenil)



Flaviana continuava a olhar e ouvir aquele som estranho vindo do quintal. Sobrevoava também um cheiro forte de tabaco, “como alguém consegue fumar isso? Eca!”, pensava. Entretanto, tinha de ir ao quintal amarrar Dolly, pois sua tia não gostava de animais dentro de casa, principalmente à noite.

– Então, vamos lá Dolly! Não, não, não lambe minha boca... arg! – O animal todo feliz abanando o rabo.

Foi numa noitinha dessas que Flaviana percebeu algo estranho pela primeira vez vindo do balancim do vizinho, cuja janelinha do banheiro dava bem abaixo à casinha de Dolly. Então a menina passou a observar que esse ritual acontecia todas as vezes naquela mesma hora todos os dias.

– Que coisa estranha... – bradava para si. – Pera ai, Dolly... pronto garota! Agora pega aí sua água e fique boazinha...

Flaviana levantou-se vagarosamente e caminhou a passos contados em direção ao balancim do vizinho. Ela morava numa das poucas casas da rua que ainda tinham quintal. Era bom para estender roupas, comentava sua tia. Mas Flaviana não estava interessada àquela altura pelo varal no quintal, e sim por um pedacinho de corda de nylon azul que escapava balancim a fora da casa ao lado, indo a cordinha insultar a inteligência da menina.

– Estranho... por que essa cordinha não está ai durante o dia? – ruminava para si, aquela constatação, – E por que sempre que essa cordinha pula para fora do balancim vem esse cheiro insuportável de tabaco queimando, cadê a fumaça? Que tá só o cheiro? – concluía.

A garota ia flutuante com a cabeça retorcida para trás, continuava a observar a cordinha que sorria ironicamente para fora da janelinha do banheiro da casa ao lado. A vontade de Flaviana era de puxar aquele pedacinho de nylon e acabar logo com essa presepada! Mas atravessou a cozinha e trancou a porta.

Pela manhã o ritual de soltar Dolly, dar-lhe comida e passear pela calçada com ela, rastejava-se. Flaviana caminhava decidida penetrando as janelas com persianas cuidadosamente fechadas na casa do vizinho, que afinal de contas não sabia quem era. Nascera naquela rua, porem não conhecia seu próprio vizinho... de repente a menina olhou ao seu redor e ignorava que todos ali não mantinham maiores relações a não ser uns “bons dias”, “boas tardes” e “boas noites”... todos carregavam consigo um anonimato e desdém pelo próximo.

– Que horror! – pensava. Ninguém se importa com ninguém... e pensar que motivada por uma simples cordinha de nylon azul que escorria as noites invadindo seu quintal, foi que a garota percebeu que as pessoas eram artificiais foras de suas casas... – Mas o quê que tá havendo, afinal? Será que eu sou a única que percebe isso, Dolly?

A cachorrinha sorria com o rabo, chamando sua dona para brincar... e num arroubo de genialidade, Flaviana resolvera aprontar das suas. Retirou a correia que prendia Dolly e pegou um gravetinho do chão. – Vai pegar Dolly! – Então a cadelinha atravessou o portão do vizinho com tanta vontade que acabou pulando, sem querer, o gradeado, indo parar do lado de dentro do saguão da casa alheia.

– Poxa... agora terei de incomodar o vizinho para eu poder resgatar minha cachorrinha... – Flaviana tentava esconder o riso de satisfação. Fingiu que chamava alguém, e fingiu mais ainda que não ouviu nada em resposta. Atravessou o cercado escalando arteiramente uma arvore que serviu de ponte. Já no saguão começou a esgueirar-se pelos cantos.

Observou que ali não morava criança, estava tudo muito em ordem para uma casa. Nem varais, nem sobras de coisas que normalmente se guarda no saguão ou no inicio do quintal. Dolly sem mancomunar nada com sua dona foi na frente abanando o rabinho de tanta emoção.

– Volte aqui, Dolly! – semicerrava os dentes Flaviana.

(continua...)
__________
"O MISTÉRIO DO BALANCIM" (ficção/infanto-juvenil)
Autoria: Katiuscia de Sá
Escrito em: 27/07/2012



A ação precipitada da cachorra derramou uma correnteza de suor na testa de Flaviana, – Ai, tô ferrada... psiu, psiu, Dolly pra cá... NÃO!!! não late... não late! Ai, ai, ai... – o animal zombava de sua dona cheirando tudo que rastreava pelo chão; caminhava freneticamente feito um radar abanando o rabo comandado pelo nariz nervoso.

Com toda essa tensão disparou-se outro rojão: – Ó Flaviana quê que você faz ai no vizinho? – agarrado ao portão branco berrava Vândalo, era o apelido de seu amiguinho de escola. – Ai, não! – Flaviana arregalou os olhos em direção ao amigo, articulando algo sussurrado timidamente, – silencio! – Então o garoto (nada discreto), avançou num pulo certeiro para dentro do terreno:

– Flavin o que você procura ai, menina? Porque você não foi à escola hoje? A professora passou um teste surpresa sobre História das Civilizações Antigas, e liberou a turma logo depois... acho que era algo Inca ou Maia, arg!... eu acho tudo igual, aquele pessoal parecendo uns bonequinhos com aquelas roupas coloridinhas fantasiadas... – o silencio só foi resgatado com o brusco abrir da porta pelo próprio dono da casa:

– O que significa isso?! – evaporou-se gravemente pelo espaço a voz do homem velho! As duas crianças simplesmente transformaram-se em faces de papel A4!

– Andem, respondam! Quem são vocês e o que fazem invadindo minha propriedade? ¬– o rugido do velho ganhou como adversário o latido de Dolly que tentava retornar ao átrio. Conseguindo pular o gradeado, a cadela avançou sobre o homem quase lhe abocanhando o braço; o pior só não aconteceu devido as mãos de Flaviana, ágeis tempo suficiente de segurarem firmemente a coleira do animal, antes que Dolly voasse pra cima do sujeito.

– Desculpe-nos senhor... nós viemos pegar minha cachorra que entrou no seu terreno sem querer. Não queremos causar problemas... – gaguejou Flaviana tentando dar um tom natural ao acontecimento.

Sem qualquer delicadeza o velho praguejou às crianças ordenando que saíssem imediatamente dali e que mantivessem longe o animal para evitar acidentes maiores. E no intervalo de uma palavra e outra, a menina arremessava seus olhos para a fresta da porta, tentando distinguir na penumbra um semblante e um dorso mal desenhados onde morria nas mãos um pedaço de cordinha de nylon... azul!

– Quem está à porta? – Flaviana sem querer libertou sua curiosidade em momento não oportuno. E num lance a mão enrugada e dura do homem velho empurrou a porta sepultando tudo o que estivesse atrás dela, para decepção de Flaviana que caminhava sonambúlica, sem querer ir embora dali antes que suas duvidas fossem sanadas.

À meia boca o menino desatava: – Vamos Flavin, deixe o vovô ai... o véi tá meio nervoso... vamos embora. – Vândalo arrastava Flaviana segurando-a pelo braço, junto a Dolly. Já na rua, a menina ainda virou-se a olhar a casa, notando que a figura que ela vira na penumbra agora estava protegida pela persiana da janela. Embora estivesse encoberta, percebia-se que era alguém pequeno, – Talvez seja uma criança... – pensava. E voltando a si, Flaviana completou:

– Você é sem noção, Vândalo? Como você chama o homem de ‘vovô’? se ele ficasse ainda mais bravo? – retrucava a menina morrendo de raiva porque seu amigo estragara seu plano de invadir o quintal da casa do vizinho.

– Não esquenta Flaviana, aquele véin lá não tá com nada! Mas afinal de contas, o quê você fazia lá mesmo?

Não tendo mais como escapar às perguntas do amigo, a garota narrou o que toda noite acontecia em seu quintal à determinada hora, e era tudo igualzinho como se fosse um ritual já até cronometrado... e ela ia descrevendo os fatos de tal forma que seus olhos nem piscavam de tanta sede em saber do que se tratava.

– Flavin, você tá estranha... que cara é essa? Você andou aprontando das suas novamente? Que negocio é esse de fiozinho de nylon azul no balancim da casa de seu vizinho? Você anda provando aqueles calmantes que sua tia usa para dormir? Olha lá...

Já impaciente Flaviana rebatia: – Não é nada disso! É sério Vândalo! Eu acho tudo muito estranho... e eu só percebi isso porque mudei o horário de amarrar Dolly a noite no quintal! – Percebendo que seu amigo não acreditava, ela mesma o convidou a constatar com seus próprios sentidos o que terminara de narrar. Vândalo perguntou se eles podiam tomar café com leite e bolo antes de seguirem mais tarde para o quintal acercarem-se do fio de nylon azul...

– Está bem, mas você me promete que não conta para minha tia que eu não fui à escola hoje? Eu me atrasei tanto devido Dolly invadir a casa do vizinho, então não deu tempo de deixá-la em casa e seguir para a aula. – explicava.

– Ok, não esquenta! Eu passo aqui de noitinha, vejo você e dona Judith! – o menino despediu-se da amiga já pensando no bolo de chocolate mais tarde. E ela lembrou dele não comentar nada com sua tia, senão ela ficaria de castigo por ter faltado aula e invadido a casa do vizinho.

– Certo. Você me dá uma fatia bem grossa de bolo, Flavin? Os doces que sua tia cozinha são maravilhosos! Hmmm... nem sei se aguento até a noitinha. – Enquanto o menino se afastava, Flaviana arquitetava uma maneira de investigar o mistério do balancim.

Quando seu amigo chegou no horário combinado, após conversarem cordialmente com dona Judith na sala, as crianças escorreram para a cozinha, e durante o café com leite e bolo, Flaviana perguntou ao amigo se ele a ajudava a descobrir o que realmente aquele pedacinho de corda de nylon azul fazia dependurada no balancim.

– Flavin... na minha opinião, eu acho que você tá lendo demais aquelas revistinhas de mistério! Mas se isso a deixar contente, eu ajudo sim.

Flaviana só não ficou feliz com as palavras do amigo porque estava muito concentrada a cronometrar os acontecimentos para provar a Vândalo de que algo realmente estranho acontecia ali. Ambos atravessaram a porta da cozinha e Flaviana pegou seu relógio de pulso, zerou o cronômetro e passo-a-passo iria narrar os acontecimentos tais como se davam.

– Preparado? – a menina encarou firmemente os olhos verdinhos do amigo, e este lhe confirmou acenando com a cabeça. Então ambos atravessaram a cozinha em direção ao quintal, seguiram para baixo do balancim da casa do vizinho. Flaviana apertou o botão do cronometro e imediatamente iniciaram uma a uma, as coisas que ela tinha narrado a Vândalo.


(continua...)

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"O MISTÉRIO DO BALANCIM" (ficção/infanto-juvenil)
Autoria: Katiuscia de Sá
Escrito em: 14/08/2012


Após sete minutos cravados, o assombro de Flaviana projetou-se para Vândalo, que não sabia o que achar daquilo tudo, apenas ficou incomodado com aquele cheiro forte de tabaco queimado mal tratando todo quintal.

– Que cheiro horroroso é esse? – tapava o nariz com as mãos – Vamos sair daqui... pobre de Dolly que passa a noite ai, coitadinha... acho até que é por isso que ela tá meio chapada ultimamente! – detonava o menino.

Já na cozinha, protegidos do odor macabro, ambos se entreolhavam. Quando a menina resolveu proferir algo que precisavam fazer: descobrir o que significavam aqueles sussurros e choros vindos do banheiro do vizinho enquanto a cordinha de nylon azul era despejada para o lado de fora do balancim... e o pior de tudo era aquele cheiro terrível, e a cordinha removida quando o odor atravessava o muro.

– Dona Judith já sabe disso? Alguma vez ela mencionou algo com você Flavin?

– Que nada! A tia fica grudada lá vendo a novela... pode cair o mundo que ela não sai da frente da TV! – respaldava-se Flaviana, – É por isso que dá pra gente arrumar uma maneira de subir em algo pra olhar pra dentro do balancim.

– Você tá maluca?! Se aquele véin mal-encarado nos pega? Nem quero pensar... Não podemos fazer isso, é contra a Lei!

Porém, os lamentos vindos do banheiro do vizinho eram tão assustadores indo parar nos pesadelos das crianças naquela noite. Pela manhã na escola ao horário do recreio, Vândalo dissera à Flaviana que tivera uma noite mal dormida e até um pesadelo por conta do acontecido. E achava mesmo que deveriam investigar, nem que fosse de levezinho.

– Flaviana, lembra-se daquele caso que aconteceu ano passado com aquela senhora que morava no final de sua rua?

– Qual? – a menina continuava mastigar seu sanduiche.

– Aquela senhora que morreu de ‘Rúcula’!

– ‘Rúcula’? Não foi de ‘Brócolis’ que ela morreu? – rebatia a menina esfomeada, sem noção do assunto.

– Não foi! Foi de ‘Rúcula’ sim... lembra que disseram que o marido dela não a deixava sair pra canto nenhum, nem mesmo para se tratar ao médico, e depois de muitos meses descobriram que ele omitiu a doença dela, que era ‘Rúcula’... então ela faleceu.

Num insight glorioso, a menina achou que poderia estar acontecendo o mesmo na casa ao lado da sua. E se alguém estivesse sendo mantido prisioneiro e torturado sem poder sair e pedir ajuda! – Como assim? Eu não vi mais ninguém lá com o vovô, no dia em que ele nos pegou com Dolly no terreno dele... – testemunhava Vândalo.

– Havia sim, eu vi! E eu acho que era uma criança, sei lá... era menor do que nós dois. Acho que era uma criança sim! E aquele velhote lá não é nosso avô! Pare com isso...

– Sabe o que mais me deixou intrigado era aquela música estranha na voz do vovô lá... como era mesmo? (Vândalo tentava lembrar-se dos versos), – Parecia outra língua... ah, lembrei. Era assim: ‘Statim Deredê, Statim Deredá, Statim Deredê, Statim Deredá...’

– Que horror! Pare, está me dando nos nervos... – inquietava-se Flaviana que estava preparada para investigar sobre a vida de seu vizinho que nunca havia visto o rosto antes a não ser na manhã passada.

– Você conhece outra pessoa da rua que mora há mais tempo lá, que de repente conhece o vovô? – argumentava Vândalo, interessando-se pela ideia da investigação.

– Sim, sim... na verdade o que vamos inventar para que as pessoas não desconfiem de nosso súbito interesse pelo senhor... hã... eras! Nem sei o nome dele! Acho que tia Judith deve saber.

A campainha do recreio soou e as crianças retornaram para suas salas, despediram-se e combinaram de ir para casa juntos, se um saísse primeiro esperaria o outro, pois Vândalo estava uma série acima de Flaviana e tinham grades de matérias outras, a aula deles podia terminar em momentos diferentes.

(continua...)


"O MISTÉRIO DO BALANCIM" (ficção/infanto-juvenil)
Autoria: Katiuscia de Sá
Escrito em: 22/08/2012
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Flaviana saiu primeiro da sala de aula e ficou no pátio da escola aguardando seu amigo, enquanto isso tentou puxar pela memoria quantas vezes sua tia havia conversado com o vizinho ou mencionado ele em alguma conversa paralela nesses eventos coletivos na comunidade... e não se recordava de nenhum episódio. De repente Vândalo materializou-se do nada e veio logo metralhando, causando baita susto em sua amiguinha de travessuras:
– Eu não aguento mais essas aulas de aritmética! Me diga Flavin, para quê eu vou usar o resultado de uma hipotenusa no meu dia-dia?

– Ai... não apareça assim Vândalo! Você quase explodiu meu coração de susto! Sei lá... dê esse nome de ‘hipotenusa’ quando você tiver uma filha... assim fica parecendo nome de artista.

O menino até achou o nome bonito... Depois de recuperado o folego e os pensamentos, Flaviana conduziu Vândalo, caminhavam lentamente pelo átrio da escola causando risinhos e chacotas das outras crianças da classe de Vândalo. Ouvia-se atrás dos dois amigos um corinho de vozes femininas e masculinas:

– Êêêêh! Tão namorando.... tão namorando... tão namorando...

Indiferente à zombaria, ambos seguiam determinados em direção ao quarteirão onde moravam, já com os olhos e ouvidos escancarados à casa do senhor rabugento que lhes flagrara outro dia.

As persianas como sempre fechadas. A residência hermeticamente relegada ao anonimato perfeitamente disfarçado de normalidade. E de repente algo refletiu de dentro da janela, parecia um espelho. Um facho de luz rebateu três vezes seguidas, como um sinal. Flaviana, que sempre teve ideias na cabeça, foi a primeira a supor:

– Você viu Vândalo? – seu amiguinho fez que sim com a cabeça, convidando-a a olharem mais de pertinho, quando estavam ao portão branco, reluziu outro reflexo dessa vez bem nos olhos de ambos, causando uma cegueira momentânea. Em seguida ouviram um risinho de criança...

– Eu sabia! É uma criança que tem ai dentro... acho que é menor do que a gente, Vândalo! – em resposta seu amigo falou com a voz animada: – Acho que ela quer brincar, Flavin!

– Também acho, caso contrário não nos atraia para cá... mas será que aquele velho mal-educado está por aí?

Vândalo olhava de um lado a outro, e sem qualquer remorso pulou o cercado, Flaviana fez o mesmo. A sorte é que não havia Dolly para latir e delatá-los. Ambos foram se aproximando a passos contados em direção à janela. As grades e os vidros impediam de enxergarem melhor através das persianas, entretanto umas mãozinhas abriram um vão e Vândalo e sua amiga enxergaram um par de olhos... e num repente gritaram e saltaram para trás.

– Você viu? – arregalou-se Flaviana.

– E-eu vi! Mas eram de cor diferente... existe pessoa com um olho de cada cor assim?

Os amigos nem tiveram tempo de raciocinar quando escutaram uma voz de criança chorando do outro lado da parede.

– Pobrezinha... acho que ela nos ouviu, Vândalo. Deve ter ficado magoada. Pensa que temos medo dela...

Após o choro ouviu-se a voz do velho que brigara com eles outro dia. E a voz vinha se aproximando mais e mais. As crianças perceberam e correram para fora da propriedade antes que a porta abrisse de súbito como no outro dia. E já a salvos no meio fio, disfarçaram e avistaram o velho mal-encarado como um radar a procura de vestígios...

– Ainda bem... ele não nos viu aqui! – suspirou Flaviana.

– Então Flavin? Você tem algum plano para saber algo sobre o vovô?

– Vou sondar tia Judith hoje a noite... e pare com isso Vândalo, esse velhote não é nosso avô, já disse!

(continua...)

"O MISTÉRIO DO BALANCIM" (ficção/infanto-juvenil)
Autoria: Katiuscia de Sá
Escrito em: 03/09/2012
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Como uma abelha em volta do mel, Flaviana rondava e não tirava os olhos da tia. À hora do jantar maquinava um jeito de puxar conversa sobre o vizinho desconhecido.

– Tia, a senhora mora há muito tempo aqui?

– Sim, Flaviana...

– Mas há quanto tempo? – as mãozinhas da menina abandonavam despreocupadamente os talheres sobre a mesa.

– Flaviana, preste atenção! Você colocou dois garfos do lado do prato, repare minha filha!

– Sim tia... mas há quanto tempo a senhora mora nesta casa? – Flaviana rodopiava o copo e a jarra na lateral da toalha.

– Ó, menina! Tome cuidado com essa jarra aí na pontinha da mesa... desse jeito irá derramar o suco!

– Sim tia... mas há quantos anos a senhora mora aqui nesta rua? – parecia um pré-histórico vinil furado ou um cd arranhado que não tinha outra musica pra tocar.

– Flaviana... que conversa é essa, menina!?

– Então, tia? Há quanto tempo a senhora mora nesta casa? A senhora conhece todo mundo do quarteirão?

A tia da garota já meio chateada com aquela conversa descabida de criança queria se sair, apressou a fala porque sua novela já estava por começar. Flaviana passou o resto da noite amuada por não ter conseguido arrancar o quê queria da tia, respondia através do chat a seu amigo Vândalo, que sua tentativa de sondagem fora negativa. A menina corria os dedinhos no teclado do computador que ficava na sala junto ao televisor onde sua tia assistia à novela e também monitorava Flaviana à Internet. Vândalo dissera-lhe que fez uma busca na rede, leu na Wikipédia que existiam sim pessoas com olhos de cores diferentes, que não era tão comum... mas que existiam [~.õ]. Em contrapartida, a menina dizia ao amigo que já estava quase na hora de ir para cama, ia se despedindo [;*]... entretanto, poderiam continuar a teclar através do celular [=D], e assim vararam a madrugada até chegarem na destemida conclusão de que estavam por sua própria conta no caso do mistério do balancim [¬.¬].

No dia seguinte, como combinado pelas mensagens de texto, estavam ambos à porta da casa do vizinho de Flaviana a observarem a rotina matinal da residência. Nada de extraordinário. Nenhuma janela se abriu, ninguém saiu, ninguém entrou...

– Flavin, vamos ou iremos nos atrasar para a aula! – decepcionava-se Vândalo.

– Mas que negócio é esse? Uma hora esse velho tem de sair para fazer as compras, caminhar, pegar sol... sei lá! E certamente não deixaria a criança sozinha em casa! – concluía a menina, impaciente.

“Se ao menos eu pudesse passar uns três dias sem ir à escola, eu descobriria algo...”, matutava consigo uma falsa doença para permanecer em casa às manhãs sem dar chances da tia obriga-la ir às aulas. De repente a menina imaginou uma febre para o dia seguinte, que evoluiria para uma dor de garganta e perda da voz na próxima manhã, e para o terceiro mata-aula: uma clássica crise de asma... como a tia da menina trabalhava e retornava no horário do almoço, foi pega de surpresa pela guerrilheira Flaviana que inventou uma febre de abajur. O termômetro marcava 39 graus, às pressas dona Judith pediu para que a filha de uma vizinha viesse dar uma olhada em Flaviana até ela retornar do trabalho.

Como sua recém-babá improvisada era neo-adolescente, já rebentando a idade indomável de apaixonar-se..., foi fácil para Flaviana fugir das vistas da mocinha que não largava o celular a tagarelar sobre meninos com as amigas... Flaviana trocou o pijama e infiltrou-se pelas paredes silenciosamente chegando até a porta dos fundos; sem que sua babá percebesse, a menina já estava ao saguão da casa prestes a ganhar a rua. Foi direto para frente da casa do vizinho velho tentar descobrir algo...

(continua...)

"O MISTÉRIO DO BALANCIM" (ficção/infanto-juvenil)
Autoria: Katiuscia de Sá
Escrito em: 09 e 10/09/2012