“o poeta é com efeito coisa leve, santa e alada; só é capaz de criar quando se transforma num indivíduo que a divindade habita e que, perdendo a cabeça, fica inteiramente fora de si mesmo. Sem que essa possessão se produza, nenhum ser humano será capaz de criar ou vaticinar.” [Platão]

sábado, 24 de agosto de 2013

Meus eBooks!


Para quem curte as postagens com meus contos, romances e crônicas, agora pode baixá-los em formato de eBooks, na página abaixo. Em breve mais títulos!



sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Ato-Manifesto - 08/08/2013

Aconteceu na noite de 08/08/2013 (quinta-feira), em frente ao Theatro da Paz (Belém/PA),  mais uma bela e artística manifestação pacífica de cunho reivindicatório. Inúmeros artistas de diferentes segmentos tomaram a Praça da República em protesto pela saída do atual (e desde sempre) Secretário de Cultura do Estado do Pará, sr. Paulo Chaves, atentavam também para a construção de uma Política Cultural Inclusiva, que abrace todos os segmentos culturais existentes no estado do Pará. Os artistas também deixavam claro ao público presente durante a manifestação, que o ato não era contra ao Festival de Ópera do Pará, que acontece em sua 12ª edição, e sim contra a má distribuição da verba estadual destinada abarcar outros segmentos artísticos em Editais e/ou Festivais oferecidos pela Secretaria de Cultura. O Ato-Manifesto levou ao público extensa programação cultural com diferentes linguagens artísticas de nosso Estado (Boi, Quadrilha, Teatro, Teatro de Bonecos, Danças Regionais, Balé, Música e muito mais).

Foto: Sol Henriques

Foto: Anderson Araújo

Foto: Leandro Oliveira

Foto: Tati Brito

Foto: (?) Autor Desconhecido


Foto: Comunidade CHEGA/facebook

Foto: Comunidade CHEGA/facebook

Foto: Comunidade CHEGA/facebook

Foto: Comunidade CHEGA/facebook

Foto: Comunidade CHEGA/facebook

Foto: Comunidade CHEGA/facebook

Foto: Comunidade CHEGA/facebook

Foto: Comunidade CHEGA/facebook

Foto: Comunidade CHEGA/facebook


Toda manifestação da noite de 08/08/2013 foi filmada pelos integrantes do Movimento "CHEGA" e transmitida ao vivo, via Internet, prática já estabelecida em todas as manifestações ocorridas anteriormente, objetivando o maior alcance e visibilidade por parte do público. Na pauta, em meio às intervenções artísticas oferecidos aos transeuntes e turistas que passavam pelo local, os artistas expuseram sua insatisfação aos cidadãos belenenses, à Mídia, ao Governo do Estado e ao Secretário Paulo Chaves, sobre a má distribuição da renda destinada ao fomento e acessibilidade da Cultura no Pará. Os assuntos foram tratados nesta noite de forma extremamente às claras, contando com a interatividade do público presente. Confira as reivindicações do Movimento "CHEGA":


Vale ressaltar que os artistas paraenses estão se articulando e se organizando de forma nunca vista antes em outros Estados da Federação, utilizando-se de ferramentas midiáticas e ao mesmo tempo de cunho popular para fazer valer sua voz, culminando toda essa Mobilização em grandiosa e nunca vista antes de forma tão abrangente. Tal comportamento faz observar o amadurecimento argumentativo da classe artística do Pará sobre questões de políticas públicas de caráter cultural. Os próprios artistas dialogam com o governo (e com a população em geral), de acordo com sua expressão artística; por isso as sensibilizações do Movimento CHEGA ocorrem de maneira pacífica levando ao público momentos de lazer, informação e cultura, fortalecendo o ato de cidadania, inclusão, evolução intelectual e sensível para a comunidade em geral. Em meio ao protesto, os artistas também alertaram sobre a importância da Cultura e seu acesso por parte da população, como sendo esta merecedora de produto cultural e educativo imprescindível para formação e identidade de um povo.

*Texto: Katiuscia de Sá

Jornalista - 1609 DRT/PA

*Acompanhe nota que saiu no DOL, e veja algumas fotos em:
http://www.diarioonline.com.br/imagens-interna.php?galeria=3123

*Leia matéria no G1-Pará, sobre o movimento dos artistas intitulado "CHEGA":
http://m.g1.globo.com/pa/para/noticia/2013/08/artistas-protestam-na-noite-de-estreia-do-festival-de-opera-em-belem.html




segunda-feira, 5 de agosto de 2013

A Cidadela do Campo - capítulo Três

[Para Marco].

*Romance infanto-juvenil  (Realismo Fantástico)
[CAPÍTULO  TRÊS]

[O coração é como uma semente de roseira – está sempre em estado de potencia. Se as mãos do jardineiro forem boas, regarão a semente na hora certa; cuidarão do adubo necessário e quando o tempo chegar... então por essas mãos benditas, as flores virão mansas e amorosas. Mas se o jardineiro for ruim; e ele apenas afundar a semente em terreno qualquer e deixa-la ao cargo desregrado do sol e da chuva... as flores nascerão selvagens;  nunca se acomodarão em vaso algum, porque jamais sentiram o afago verdadeiro de alguém atencioso que as tivesse cuidado; estarão sempre espinhentas se defendendo de qualquer coisa que as agarre... mesmo sendo o amor. Mas para outro coração apaixonado nem mesmo a dor do sangramento por um espinho é capaz de faze-lo desistir de sua amada].


Loryanna com seu cabelo de vassoura mirou a todos com seus olhos turvos. Assim que parou de caminhar, toda aquela poeira de dor sucumbindo as folhas das arvores cessaram. O escuro ficou normal novamente, sem os gemidos de lamentação vindo dos passos da fantasmagórica aparição. Embora passados mais de trinta anos, Loryanna parecia ainda muito moça, tempo quando virou espectro a caminhar sobre a terra. Ficou assim desiludida pelo seu amor – Emmy Di Marco. Eles eram bem jovens na época quando tudo aconteceu; participaram da “Revolução da Angústia”, época em que os mais moços da Cidadela lutavam pela não repressão dos sentimentos. Contudo, mesmo com a resistência dos jovens, a Tirania fora instaurada, e sentimentos de qualquer espécie e natureza, eram ferozmente combatidos. Muitos rapazes e moças sumiram nessa época sem nenhuma explicação... sendo esta a melhor arma que os chefes de Estado dispunham para retirar um a um cada sentimento que a população pudesse ainda esconder nas profundezas de seus corações. A dor e medo de que desaparecesse algum ente querido ou até mesmo a si próprio, foi normatizando o povo de qualquer sentir. Ainda que teimassem esconder algum afeto positivo, no decorrer dos meses os indivíduos da Cidadela tornaram-se autômatos e ferozmente amedrontados, ficando paralisados frente a tudo que lembrasse essa Revolução, pois as lembranças atormentavam suas almas, e o medo era mais forte do que qualquer coisa. E assim em um ano após iniciado o levante, os poucos rebeldes que ainda insistiam manter seus corações acesos para lutarem contra a morte do Espirito Livre, tiveram que se exilar ou nos campos ou nas fronteiras da Cidadela. Foi em meio aos campos que Loryanna e seu companheiro de batalhas resolveram se esconder, porém foram delatados por um morador próximo, sendo Loryanna eliminada. Teve ela seu coração espremido de seu peito, e imobilizado pela guarda, Di Marco viu todo sentimento escoar-se de dentro de sua amada. Não suportando a cena hedionda, adormeceu, e assim permaneceu por todos esses anos. Contudo, seu corpo ainda resplandecentemente jovem de espirito, mesmo dormindo – sonha. E seus sonhos mantiveram seu coração aceso por todo esse tempo como uma voz distante clamando por Loryanna. E é por isso que o fantasma dela vez por outra ressurge no horizonte trazendo atrás de si o Vento dos Murmúrios.

Após ficarem sabendo da historia toda pela boca do próprio fantasma, Zuzu parecia ver a si mesma naqueles olhos turvos de Loryanna; turvos de tristeza e saudades da face de seu amor. E era essa a maldição que carregava. A cada dez anos o espectro retornava à Cidadela perguntando aos moradores o paradeiro de Emmy Di Marco, e quem não soubesse ou não respondesse seu lamento, ela tocava-lhe o peito e depositava ali um pouco de sua saudade. E todos, claro, fugiam dela recuando-se mesmo após ouvir sua historia lamuriosa. Ninguém queria sentir saudades, nem amor, nem nada...

Os três jovens ali, enfrentando tanta tristeza na sua frente, não conseguiam fugir: Zuzu e Leans pensavam em sua própria situação, e o alienígena ressentia-se de estar perdido de seu planeta natal. Foram imediatamente simpáticos à causa do espectro. Decidiram ajudá-la a encontrar o corpo adormecido de Di Marco e entregá-lo para que ambos ficassem em Paz.

– Como faremos isso? – perguntava Zuzu a ermo, que sem querer olhou para o alienígena:

– Ah... você não. Você não fala! Eim? Leans... o que você acha?

– Não tenho a menor ideia. Desde que desci à Terra eu sempre fiquei ao seu lado, meus passos são os mesmos que os seus, Zuzu.

Todos enterrados em suas suposições esqueceram-se do pobrezinho ET, e ele tentando dizer que compreendia os sentimentos dos outros, posto que se comunicava dessa forma. Estava agoniado coitadinho, para se fazer entender. Sentia-se numa enorme prisão onde seu carcereiro eram suas emoções. Então com sua mão bem magrelinha de pele azulzinha e gelada, seus quatro dedos foram vagarosamente escalando o braço de Zuzu até que ele fez com que a menina parasse de gesticular, acalmando-a a tal ponto, conseguindo a atenção dela. E a garota bem longe de si, sentiu um calorzinho vindo de seu coração. Então ela parou seu rosto naqueles olhos grandes e inteiramente pretinhos, e disse ao anjo, sem deixar de encarar o alienígena:

– Leans... acho que o ETezinho tá me dizendo algo... ele sabe como encontrar Di Marco.

– Porque você diz isso, Zuzu?

– Porque ele me disse através de seus olhos...

– Então ele fala com o olho?

– Não, Leans... ele fala com a Alma.

– Ah, tá! Sofisticadinho esse aí, né?!... Pois bem, então como ele pode nos ajudar?

– Eu ainda não sei bem, pois não entendo tudo o que ele diz. Afinal estou muito atrofiada de sentimentos, e ele parece precisar disso em mim para que eu o compreenda. –  Dito isso, a garota virou-se para seu amado e continuou: –  E só o que eu tenho no momento é sofrimento por gostar de você e não poder abraça-lo sequer, Leans. – Zuzu terminou seu pensamento tão naturalmente que só depois percebeu que magoou ainda mais seu doce anjo; e já era tarde demais para se arrepender do que dissera; pois palavra dita é como folha seca que se desprende do galho, cai e o vento leva em qualquer direção.

Ao ouvir isso de Zuzu, o anjo mergulhou novamente em seus olhos de orvalho, e os três combinaram com Loryanna que iriam procurar Di Marco e a qualquer noticia retornariam aos campos para chamá-la e levá-la onde ele estivesse. Então o espectro sorriu depois de mais de trinta anos com sua face em sofrimento, e nisso ela inalou um brilho tão intenso que acendeu até mesmo os confins do coração de Zuzu... e ela sem saber o que era aquilo que sentia, perguntou ao fantasma. E Loryanna respondeu:

– Isso se chama esperança.

(...)

Após um tempinho de caminhada, os jovens atravessavam os portões da Cidadela, e Zuzu com um semblante inexplicável, carregava consigo as esperanças de Loryanna, e a jovem tinha receio de que isso somado ao amor desiludido por Leans, seu rosto pudesse denunciá-la. Não queria desaparecer tal os jovens que o fantasma dissera como aconteceu há mais de trinta anos atrás.

– Não se preocupe Zuzu, eu pego metade de seus sentimentos para mim, e assim evitarei que as pessoas percebam que você está se tornando uma rebelde sem causa.

– Não sou rebelde sem causa, Leans! Temos por que lutar finalmente: a Liberdade do Espírito. Olhe a sua volta... veja o rosto das pessoas sem sonhos, sem nada de grandioso que norteie seus passos... sem afeto, sem vida. Isso sim é triste, é uma prisão sem muros.

– Concordo... mas feche sua boca e mantenha suas ideias na sua cabeça por enquanto, se você não quiser sua tia no seu pé... assim pelo menos, você manterá sua autonomia de ir e vir, pois precisamos disso para procurarmos Di Maro nos próximos dias, ok! Seja inteligente.

Ouvindo aquilo Zuzu percebeu que Leans tinha razão e assim procedeu para não levantar suspeitas. Porém, após uns dias ela reagiria aos sentimentos de maneira inesperada.

Chegando em casa, a mocinha foi logo a procura da tia para perguntar-lhe se podiam ficar com o alienígena por uns tempos. Dona Silvana olhou a criatura de cabo a rabo e achou que não tinha problema, era coisa de cristão abrigar os necessitados e não havia ninguém mais necessitado no momento do que aquela pobre criatura apartada de sua gente. Mas queriam batizá-la de algum nome para que pudessem se referir a ela ou chamá-la quando precisassem de sua atenção.

– Mas tia, ele é menino ou menina?

– Não sei Zuzu, o que lhe parece?

– Eu acho que é menino... sei lá a cor dele é sugestiva, afinal. – sorria a menina.

– Então escolha um nome você. – disse a tia a Zuzu.

Então ela olhou para a criatura e perguntou-lhe se ele tinha um nome, em aceno com a cabeça fez que sim. E ele apontava para sua própria pele.

– Ah! Você quer ser chamado pela cor de sua pele... é isso?

A criatura fez que sim novamente com a cabeça.

– É... assim é mais fácil, inclusive. – disse dona Silvana. – Então seu nome será Lilás. Está bem assim? – a criatura sorriu com os olhos e disse sim com a cabeça outra vez. E todos ficaram satisfeitos. Mas dona Silvana disse para Zuzu vestir a criatura com roupas de menino, para ele não sair pelado por ai... então a menina pediu emprestadas algumas roupas de seu irmão que adorou a ideia de ter mais um homem na casa para poder conversar.

– Mas ele não fala. – disse-lhe a tia. – Só balança a cabeça...

– Mesmo assim tia, já é uma companhia. Com o tempo vou ensiná-lo a falar, ok?! – disse animadamente Tomázio.

– E esse pacotinho na sua mão, Zu. O que é? – perguntou dona Silvana.

– Ah!... no caminho passamos pela casa de dona Virtude e ela me deu essa muda de planta... – a menina entregou-lhe o embrulho.

Ao desempacotar da sacola, dona Silvana disse que não havia muda, apenas uma semente bem grande ainda por brotar.

– Mas havia já uma plantinha de folhas brilhantes cor-de-rosa, eu sei disso! Eu vi, aliás. Pergunte a Leans!

E dona Silvana torceu a cara, e logo em seguida Zuzu atinou tristemente:
– Esqueci que a senhora não pode ver nem ouvir Leans... desculpe. Então vou plantá-la na frente de casa perto do cercado. Assim quando crescer, teremos sombra.

–  Acho boa ideia. Mas então vá logo. Vou servir o jantar daqui há pouco. Só estava lhe esperando. –  e a tia de Zuzu perdeu-se para dentro da casa, nem sequer perguntou onde ela estivera o dia inteiro, nem mesmo se desculpou pelas palavras ásperas pela manhã para com a sobrinha. E era esse um dos maiores problemas entre os adultos da Cidadela, ninguém falava sobre sentimentos... ninguém se retratava de algo que por ventura magoasse alguém. Fingiam estar sempre tudo muito bem. Viviam presos em suas bolas de neve a congelar mais e mais seus corações, e o pior: prejudicando a comunicação e aproximação real entre as pessoas. Era um mundo realmente frio. O ETezinho sentia isso ao seu redor, e ficava triste. Eram todos como máquinas revestidas de pele humana.


(continua...)

Katiuscia de Sá
Escrito em: 05 de Agosto de 2013. [21:29H]
*ouvido “Se Eu Não Te Amasse Tanto Assim” (Ivete Sangalo).
-------------
Leia também A Cidadela do Campo - CAPÍTULO UM

Leia também A Cidadela do Campo - CAPÍTULO DOIS