Segunda-feira ultima sofri um acidente na rua... na hora não
dei muita importância ao ocorrido, mesmo porque este tinha sido um dia pra lá
de escrot*... e eu já estava doida pra chegar em casa. Mesmo com uma baita dor
e jorrando sangue perna abaixo, segui caminhando pra casa, como se nada tivesse
acontecido. As pessoas na rua me olhavam na cara com uma expressão “coitadinha...
o que será que aconteceu?”, e eu nem aí, com uns óculos escuros atachados no
rosto intensificando mais ainda minha expressão cotidiana enigmática e
naturalmente blaseé, segui andando como se estivesse caminhando num desfile de moda...
totalmente indiferente. Eu só pensava nas coisas que eu precisava solucionar no
decorrer da semana. Em casa lavei os ferimentos, passei uma pomadinha e tomei
um anti-inflamatório e ficou por isso mesmo. Passados uns momentos iniciei minha
meditação diária com dor e tudo.
Em geral desde pequena nunca dei muita importância aos meus
machucados, que foram muitos (inclusive uma vez quase morri por consequência de
um deles, aos 13 anos de idade, neste episódio cheguei quase a entrar em estado de choque pela perda de sangue devido o corte, felizmente chegamos há tempo no hospital – e eu já
escapei de morrer seis vezes até agora na minha vida em outras circunstancias...);
uma criança arteira habitua-se a ferimentos de pequena e média proporção como
se fossem medalhas de guerra... Sempre pensava: “vai sarar... questão de tempo”,
e não ficava me lamentando. Mas o que tá pegando são as pitadas de dores de vez
em quando, e o incomodo de não poder praticar meu Hatha Yoga diário na integra,
pois algumas asanas eu não posso executar devido aos machucados de segunda-feira.
O legal na prática de meditação é o iogue não ignorar a dor física
(que porventura estiver sentindo no momento e/ou outro incomodo qualquer, ou
ainda pensamentos indisciplinados) e sim absorver essas variantes do espirito
durante o exercício, e através de sua concentração, respiração correta, controle
emocional e corporal ultrapassar essas variantes (no sentido da dor ou
pensamento/emoção indisciplinado qualquer) não dispersar a mente impedindo o individuo
de realizar suas tarefas.
O iogue supera estes fatores vivenciando-os de modo intenso
e totalmente consciente (ele os encara, não foge deles). Algo como se o
individuo penetrasse na dor (neste caso) e a sentisse de uma vez até o quase esgotamento ou total dela, então a mente absorve aquilo como um estado passageiro e por
isso mesmo a esquece (a dor), e no ‘esquecimento’ o corpo não lhe dá muita importância.
Esta variante deixa de ser um obstáculo para seguir com as tarefas corriqueiras.
Em geral eu (sempre) estou numa sintonia meditativa para permanecer em equilíbrio.
Numa sociedade agitada e cheia de estímulos que nos convidam a todo o momento perder
as estribeiras... o controle emocional é muito importante. Sinto-me confortada,
pois graças a muito esforço e uma prática de Hatha Yoga diário há quase oito
anos, eu consegui atingir essa disciplina. É como diz aquele idílico ditado
oriental muito meiguinho, muito fofo...: sejamos como os bambus que se curvam
aos vendavais, entretanto, não se partem no decorrer das ventanias. E uma coisa
eu aprendi curto e grosso: o equilíbrio é dinâmico, ou seja, adapte-se às
circunstancias... ou foda-se, neguinho!
É impressionante. Há iogues que conseguem mesmo superar o
estado de fome, dores físicas intensas apenas pelo poder da mente. Mas são anos
de prática... não me atrevo a chegar neste estágio (se chegar, será apenas consequência
natural), medito apenas para manter minha mente disciplinada e meu corpo físico
saudável e em harmonia (na medida do possível), com meu espirito. Compartilho da
ideia dos gregos clássicos que buscam manter mente e corpo sãos. Desde que conheci e comecei a
praticar Hatha Yoga, foi um verdadeiro milagre na minha vida. Os benefícios são
fantásticos. Outro divisor de águas também foi o conhecimento, compreensão e aplicação da
Educação Somática no meu cotidiano. Um novo horizonte se abre todo momento mediante novos estados
conscientes. Realmente acho que eu nasci no hemisfério errado do planeta... meu
pensamento, buscas, agir, posturas morais, etc, são irmãos das filosofias orientais e não do pensamento ocidental. Talvez por isso na infância e mocidade
eu tivesse muitos conflitos com meu entorno, até me equilibrar. É fácil
encontrar o caminho do meio, basta seguir um ditadinho tão simples: “Conhece-te
a ti mesmo”.
Katiuscia de Sá
29 de setembro de 2013, 05:01h.
*ouvindo o fantástico
balanço de “Wanna Be Startin Somethin” (Michael Jackson)