“o poeta é com efeito coisa leve, santa e alada; só é capaz de criar quando se transforma num indivíduo que a divindade habita e que, perdendo a cabeça, fica inteiramente fora de si mesmo. Sem que essa possessão se produza, nenhum ser humano será capaz de criar ou vaticinar.” [Platão]

sábado, 31 de dezembro de 2011

AGNUS DEI (ficção)


Que pena... ele ainda dorme. Mas um dia ele irá acordar, e será que me reconhecerá? Ou nos reconhecerá? Espero que sim, pois nossa viagem foi tão longa para chegarmos até aqui. Temos tanto o que conversar e revelar.

Sim, temos essa boa-vontade, irmão! Mas ele saberá reconhecer isto quando nos vir? Talvez seus ouvidos e mente ainda não estejam preparados para isso tudo...

Eu sei. Mas temos que tentar de qualquer modo. Passamos por diversas paragens; conhecemos diversos povos e territórios de inúmeras origens... não devemos esmorecer justo agora que chegamos até seu coração.

Tao pequenino... tão sonolento ainda. Mas ele há de acordar, e nos ver.

Um dia desses, ele quase me viu, passou por mim e parou... encostou seu rosto no meu. Eu até senti sua respiração. Eu acho que ele sentiu minha presença... mas depois ele congelou seu interior. Teve medo de acordar naquele instante.

É?

Foi! Outro dia ele disse àquela moça, que ela não quis aceitar... mas é ele quem não quer aceitar...

Sinto-me tão angustiado quando esse tipo de coisa acontece e não podemos fazer nada a respeito. Se pelo menos eles nos escutassem...

Aí é que tá! Eles nos escutam, e fingem que não nos ouvem! É diferente, irmão!

Ele a fez chorar tanto nesse dia... ele foi tão fraco escolhendo o caminho mais fácil: desistir antes de tentar...

É a maioria dos humanos são assim. Eles desistem tão fácil...

Você ainda acredita que ele irá acordar a tempo de vê-la?

Eu tenho esperanças e temos que ajudá-lo. Sei que ele pensa nela... que ele gosta dela, mas se preocupa com as convenções, com o que os outros irão pensar. E ela é tão diferente dele. Tão independente. Não tá nem aí pro que os outros irão pensar. Faz as coisas sem ter que dar explicações!

É porque ela é uma de nós... ouve zumbidos, ouve nossas conversas, e até nos percebe de vez em quando...

Disseram que é assim que somos quando viemos nesse corpo. Apenas sentimos e nos transportamos regularmente de forma frágil, entretanto, podemos sentir os que ainda estão como nós.

É. Ela nos sente. Sabe da gente e sabe que ela é uma de nós...

Mas e ele?
Você diz que ele a ama...

Sim. Eu sinto isso. Mas ele tem medo. Medo de mudar, medo de sentir algo realmente e ter que se modificar por causa disso... ele joga como os sentimentos. E isso não é bacana.

Também acho que não.

Ela escreve pra ele?

Às vezes... as vezes não. Não interessa muito...

Olhe!
Ele vai acordar... rápido, sussurre...


* * *


Então? Você acha que ele vai se lembrar do que você disse antes dele acordar e recobrar os sentidos aqui?

Estou esperançoso. Senti o filamento de seu coração. Sua mente e espirito estavam alinhados naquele momento. Então ele deverá sentir algo quando a vir...

Tomara que sim. Temos lutado tanto pra isso acontecer. Seria tão motivador pra gente que tá aqui acompanhando tudo...

É. Seria...

Ela é tão linda, não é?

Sim. Parece um anjo... Ora! Pare de rir... você sabe que ela é um anjo...

Ahahahaha. Sim, eu sei! Porém, a mim ela parece mais um E.T. ahahahah. Mas é engraçado você dizer isso pra mim... nessas condições. E olhe, de algum modo ela sabe que conversamos sobre eles... ela até tenta fazer as coisas certas mas há muito atrito ainda. Essa atmosfera pesada e essa vida miserável nesse planeta doente. Dificulta tanto nosso trabalho.

É. Mas não podemos desistir, nem esmorecer. Eles ficarão juntos e tantos outros, afinal é o destino deles. Os humanos são tão frágeis e absortos.

Você acredita mesmo que um dia, serão iguais a nós?

Eu não diria “acreditar”, mas ter esperanças de que eles se permitam adentrar nesse onda de Amor que trazemos...

Eles sentem! Mas mentem pra si mesmos... não consigo compreender isso.

Pois é! Também não compreendo porque eles mentem tanto assim pra si próprios e causam dor e sofrimento. Quando eu ainda os via de longe eu ficava pensando se eles tinham vindo com algum defeito... mas me aproximando mais, percebi que eles estão apenas desacordados para eles mesmos...

E é tão mais fácil ficar dormindo e deixando que os outros decidam por eles...

Pensar e agir são coisas separadas pra eles. Que incrível isso!!!

Agir é movimento, sentimento é movimento, vontade é força... o mais engraçado mesmo, é que mesmo eles correndo de um lado para o outro em suas mentiras e enganos, nós sabemos o futuro deles. Suas ações apenas retardam o que virá. Isso é fato!

Sim. Eu sei. Bem lá no fundo todos eles sabem também...

E o nosso “dorminhoco”, o que vamos fazer agora que ele acha que não acontecerá nada?

Ahahahahah, eu sinto. Ele tem medo dela. Mas não medo da pessoa dela, mas medo do que ela faz ele sentir por ela... é algo diferente, e pra ele é mais fácil negar! Sim, ele tem medo dela, ahahaha...

Sim, faz sentido pra mim. Engraçado. Eles separam-se não é mesmo? “Homens” e “Mulheres”. Que estranho pra mim.

Você já nasceu aqui?

Não... e nem desejo. Sinto-me bem Livre. Mas se for necessário para a Missão, nasço, sem problemas...

Já ouvi dizer que quando se nasce aqui, o corpo fica pesado e a gente fica meio estranho...

Estranho como?

Tipo: você sabe quando na sua cabeça a Linha do Tempo discorre certinha e você vê tudo o que você quer e como voce faz pra isso acontecer e logo em seguida (normalmente) já está pronto?

Hã...

Isso não acontece aqui quando se nasce!

Nossa! Que horror! Isso é terrível...

É... e o pior é que é tudo muito lento, e já foi mais lento ainda do que isso que vemos agora...

Credooooooo!

É. Já foi bem pior... eles estão entrando na nova esfera agora. São privilegiados porque muitos de nós estão ai em carne e osso junto com eles...

Olha! Lá vai ele fumar...

Ele está pensando nela... no que disse a ela ainda pouco...

Porque eles são desse modo? Negam o que sentem, dizem o contrário do que sentem de verdade no coração? E depois sofrem, arrependem-se... que gente estranha...

Queridíssimo! É por isso que estamos aqui. Pra ajudá-los a compreenderem-se.

Olha, ela... está chorando porque não há outra saída a não ser chorar, coitadinha! Me corta o coração quando ela ora pedindo nossa ajuda e nós aqui, sem poder abraçá-la e trazê-la de volta...

Eu sei, eu sei... mas temos que ser fortes pra ela também ser forte. Tudo vai dar certo... confia.

(continua...)

Katiuscia de Sá
31 de dezembro de 2011.


* * *


Olha só...

Hã.

Ele a fez chorar de novo, tentando esconder seus sentimentos por ela outra vez! E ainda diz que não quer perder a amizade dela...

Como? Se ele não sabe nem o que é ser amigo de alguém?! Ele não sabe amar ninguém, nem a si mesmo... é egoísta e ainda se envenena com esses cigarros e com esse comportamento destrutivo...

Pois é, depois ainda quer que ela o ampare nos momentos em que ele mesmo arranca aos pedaços o coração dela...

Vai entender os humanos!

Olha, mas ela está aprendendo a discernir uma coisa da outra. Outro dia eu a ouvi pensando que de agora em diante ela só vai abrir seu coração pra gente de sua própria Raça...

E você, acha isso legal?

Não sei... realmente não sei dizer. Não estou ai do outro lado com eles, eles são muito instáveis, comportam-se conforme a atmosfera do planeta, e ela tá muito densa ainda, mesmo com muitos de nós já nascendo e saneando o ambiente, e isso faz com que eles não acessem nossa Força.

Ela gosta muito dele... dá pra sentir. Mas respeita a decisão dele, mesmo a ferindo por dentro.

Isso é o que eles chamam de altruísmo, não é?

Acho que sim...

Percebe? Há muitos lá fora iguais a ele, querendo se refugiar no comodismo, inventando coisas pra não se apegarem a ninguém... mergulhando a cabeça no trabalho pra não sentirem emoção nenhuma...

Minha nossa!!! Isso é tão horrível!
Acho que eu morreria se nascesse num lugar assim...

Pois é, imagine o que não é pra os Nossos estarem aí... Realmente eles são desbravadores, muito corajosos e altruístas para se oferecerem a nascer ai...

Eles dizem que o único amor verdadeiro que detectaram até hoje, foi a dos animais de estimação pelos seus donos... esse sim aproxima-se do Amor Genuíno.

Poxa... como eles conseguem viver com essa falta de Amor?

Eu não sei... mas é muito triste.
Sabe, muitos de nós quando retornam, voltam tão debilitados que precisam ser alimentados diretamente na Fonte.

É eu ouvi os comentários na Colônia Um, a respeito disso. Mas ainda existem pequenos focos de Amor que nos alimentam quando nascemos ai... isso pelo menos, nos ajuda a ancorar.

Sim. Se ao menos eles percebessem que somos pedacinhos de Amor... talvez não machucassem tantos de nós com suas mesquinharias e maledicências...

Coitadinha... veja: ela está se afastando do centro dele...

É. Ela não deseja mais sofrer, afinal de contas ele não quer abrir-se para a Vida. Prefere fugir e permanecer em seu “mundinho”...

Olha, como o Centro dela se regenera rapidinho! Que incrível! Ela já atingiu a total estabilidade de Nossa Energia ancorada aí...

Ora, era o que era de se esperar... o Ciclo Principal se completou, e agora as correntes vão arrastar até quem se recusa a se estabilizar...

Isso vai ser doloroso pra essas pessoas não é?

Vai... mas não podemos evitar isso, é o ciclo da Vida, a evolução dos mundos...

E pra onde irão as pessoas que não terão seu corpo orgânico preparado pra essa corrente?

Eu acredito que eles serão levados a outro espaço e recomeçarão seu estagio correspondente dentro da esfera da evolução... e eu te afirmo, não é aqui mais!

Tolice! Só estão retardando algo que realmente é inevitável...

É igual a ele... ele fica dando voltas e voltas em torno de si, e não percebe que está apenas perdendo tempo agindo desse modo. Ela já está nele! Já o tocou.

Ele entrou naquela fase... 02: está confuso e reorganizando seus sentimentos e necessidades interiores... e também está com medo disso, pois essa novidade interior está derrubando as frágeis pilastras que ele construiu para isolar-se das pessoas e do mundo.

E será que, quando ele despertar ela ainda vai querê-lo?

Eu não sei... não sei até que ponto ela suportará essa metamorfose... talvez quando ele despertar, ela já esteja em uma fase muito além da dele, e serão irremediavelmente incompatíveis.

Esse é um risco que ela se dispôs... ela está sempre tão a frente... Você sabia que ainda não se formou nenhum casal de nós equiparados em Energia Vital? Sempre um é mais ou menos desenvolvido. Por isso torcemos muito pela conciliação deste casal... talvez eles sejam os primeiros pais... os primeiros a aportar a Energia em sua forma Máxima, e isso iria se disseminar bem rapidamente e a evolução terráquea seria potencializada em até 100% do que esperamos...

Nossa! Isso seria fantástico! As coisas aconteceriam muito mais cedo do que esperávamos! Realmente seria fantástico! As partes ancorariam rapidamente em formação do Todo.

Veja. Ele está com insônia novamente... impressionante como ele chora escondido... pensa que ignorando os sentimentos os problemas não existirão. Tão enganado ele está em relação a isto.

Olha ela! Também está com insônia. Porém está mais tranquila atualmente. Entrou em sintonia melhor, a partir de ontem... Ela é uma das mais fortes que nasceram aí. Muito precisa.

É, eu percebo. A mente dela é hermética! Só libera exatamente quando ela mesma deseja e permite. É uma tendência dos que estão ai, não é mesmo?

Sim. Não há necessidade deles se conectarem com aquilo que não os ensinará nada! Se não se interessam, não absorvem nada de indesejado.

Pois é, é uma troca justa, eu acho. Nascemos aí em troca de conhecimento...

Na verdade, esses são os motivadores maiores que nos levam a esse planeta: (auto)conhecimento, desenvolvimento de nosso potencial e saneamento do ambiente para nossa Raça implantar-se aí. E os humanos já estão sendo incorporados a nós.

É. Eu sei disso. Ainda bem que são apenas aqueles que ainda têm maior força e optam por adotar deliberadamente atitudes de boa índole e vontade benéfica junto ao coletivo. São as pessoas boas, bondosas, probas... eu as acho tão bonitas quando são desse jeito. Dá vontade e mais coragem de ajudá-los em sua evolução.

(continua...)

Katiuscia de Sá
1° de Janeiro de 2012.


* * *


Agnus...

Oi!

Veja... ele a perdeu! Ele a perdeu! Oh, meu Deus! Ele a perdeu de vez...

Ai... ... ...
Infelizmente não podemos interferir, Agnes. Eles têm liberdade de escolher que caminhos tomar e também em levar adiante suas decisões, indiferente ao que foi programado. Mas se tudo for maior do que essas decisões passageiras e individuais, o que tiver de acontecer, vai acontecer... no tempo certo.

É, né! Vamos apenas observar, como sempre fizemos... torcendo para que ele alcance sua maturidade espiritual...

Sim. Ele é tão autoritário. Não percebe que ela não vai ceder a nada disso! Ele quer controlar até os sentimentos dela! Que absurdo isso!

Pois é... logo ela que é desprendida dessas mesquinharias sentimentais... e joguinhos de emoção... isso é tão atrasado e sem sentido pra nós. É tempo perdido...

Sim! Que comportamento mais ridículo e infantil o dele.

Dizem que isso é mais comum nos “homens” do que nas “mulheres”...

O quê? Essa vontade de controlar o outro? Que nada! A maioria dos humanos é desse jeito! Pensam que as pessoas são objetos a serem pertencidos por elas... esquecem que são individualidades e que deveriam, a priori, pensar e agir por si mesmos. Mas o que acontece são imposições de pensamentos e ações de um para com o outro, como uma eterna competição...

Essa rivalidade entre as pessoas é que estraga tudo... realmente isso não entra no meu entendimento... parece que eles só compreendem a cooperação diante de alguma catástrofe... Parece que eles só funcionam quando acontece uma situação limite...

Isso! Tipo as enchentes, terremotos, incêndios, catástrofes em geral, para que sintam e acionem o comportamento de cooperação, respeito e amor ao próximo.

Mesmo assim eu acho estranho esse tipo de comportamento... como um individuo quer ordenar o que o outro irá sentir por ele e como sentir e quando sentir...

Veja aquela ali...

Hmmm.

Ela passou a vida inteira tentando controlar o comportamento, desejos e ações da filha única. O que ela ganhou com isso?

Ah! Apenas o desprezo e ódio da filha por ela...

O pior de tudo são as consequências psicológicas que ficaram para a vida toda tanto para uma, quanto para outra... isso é tão triste. Logo no núcleo familiar, essa rivalidade entre pais e filhos... a família deveria ser o porto seguro para o inicio da educação espiritual e o desenvolvimento das capacidades psíquicas dos indivíduos...

Essa é uma barreira que muitos de nós que nascem aí, estão tendo que derrubar e reeducar a sociedade. Não está sendo nada fácil... mas a coisa tá mudando. Nossa compreensão e demonstração de sentimentos não são compatíveis com o sistema nervoso e comportamental deles...

Veja... já vai fumar novamente... ele tá caindo na real agora...

É. Eu tô sentindo... porque ele é tão susceptível às opiniões alheias? Agora ele vai experimentar o que conhecemos como o “caos” emocional... será que ele vai suportar isso novamente?

Paciência, né! Quem manda ele ser leviano com as palavras...

As palavras... se eles soubessem como ela é importante para nós... como consideramos a palavra das pessoas, confiamos na palavra proferida. E quando os humanos são inconsequentes entre o que dizem e com o modo que agem... nós simplesmente perdemos a confiança e o respeito por eles...

É isso que ela está sentindo por ele agora. Ela perdeu a confiança e o respeito por ele...

Poxa! Então já era... ela não ficará mais com ele. Seu coração fechou para ele, e não haverá nada que a faça mudar de ideia... eu tô sentindo isso dela.

Eu sinto também... ele teve todas as chances, todas as aberturas e oportunidades... não quis agir por medo. Agora ele avalia o que fez, e essa frustração o toma.

Isso também parece ser um comportamento padrão dos terráqueos: só valorizam as pessoas, as coisas, as oportunidades quando as perdem...

Vai entender isso! Parece que eles se auto detonam o tempo todo...

Também pudera! A sociedade humana é regida pelo medo, pela falta de confiança, pelo cabresto, controle, desvalorização das qualidades positivas, pela competitividade...

Ai, chega! Eu tô ficando demasiadamente deprê...

Hahahahahah..., não é pra você se sentir assim, estamos apenas fazendo o que nos foi confiado fazer: observar!

Eu sei, eu sei... mas às vezes é meio impossível a gente não se envolver com isso...

Devemos apenas observar, orar e dar as orientações de modo que eles mesmos escolham conforme sua vontade e motivação para o Bem...

É.
Vamos torcer... e continuar nosso trabalho.


[FIM]


Katiuscia de Sá
02 de janeiro de 2012.


quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

MAGNETISMO PESSOAL

Todas as coisas existentes no universo são regidas por uma energia sutil, inerente e participativa em todas as coisas, sejam palpáveis ou não. Estamos falando da Energia Cósmica.

Essa Energia Cósmica, já amplamente estudada e citada por todas as ciências, tanto exatas quanto esotéricas, é o que governa nosso magnetismo pessoal ou carisma. Por exemplo: na Cabala a Energia Cósmica é chamada de “Luz Astral”; para os hindus trata-se da energia “Prana”; para os chineses é a energia “CHI”; para os japoneses é “KI”.

O fato é que tudo é constituído de energia. Então vamos compreender o significado profundo da palavra ENERGIA. Ela deriva do grego “energes” = ativo. “Energes”, por sua vez, deriva de outra palavra grega “ergon” = obra. Logo, conclui-se que energia significa “atividade”. Quando tornamos algo ativo esse algo muda de forma. Melhor dizendo se transforma, se projeta ou se retrai. Mas está em movimento independentemente da direção em que é impelida.

Os seres vivos absorvem a Energia Cósmica através de inúmeras fontes. Citemos algumas: ingestão de alimentos sólidos e/ou líquidos; energia do sol; ar atmosférico, sendo a respiração e a pele os veículos para essa absorção; chakras; sono; através também da consciência, sendo a projeção astral o veículo para absorção mais intensa da Energia Astral diretamente do plano astral.

A Energia Cósmica, a priori, é impessoal. Os seres que a absorvem a tornam pessoal por seu próprio metabolismo físico constituinte, transformando essa Energia Cósmica em combustível, de acordo com suas necessidades instintivas. Nos seres humanos esse metabolismo vai mais além.

Os seres humanos, por se tratarem de seres pensantes, ou seja dotados de raciocínio, absorvem a Energia Cósmica e a metabolizam para as mais diversas formas de manifestação. O artista transforma essa energia em inspiração para criar. O médico, em vontade de curar pessoas, etc. Isso se chama magnetismo pessoal ou carisma. Vemos aqui a Energia Cósmica sendo transformada pela vontade, característica pessoal do indivíduo.

Quando o ser humano se encontra apático, sem ânimo para nada é porque essa energia está estagnada dentro de si. Como foi dito antes, energia é atividade. Se estiver acumulada torna-se “pesada” e a pessoa se mostra tímida, reclusa, apática, em desequilíbrio, doente... Algumas pessoas nasceram com um magnetismo pessoal (ou carisma) fantástico! E outras nem tanto. O que implica nesse aspecto?

A maneira como a pessoa utiliza a sua energia é que interfere no fato de ser ou não dotada de grande carisma. Uma pessoa que é tímida mas quer reverter esse quadro, vai procurar fazer terapias ou esportes que precisam de contato com outras pessoas visando projetar a energia estagnada dentro de si. Fazendo isso a atividade interior para qual sua energia está sendo focalizada, muda. Logo, o metabolismo toma outro aspecto. O que antes estava acumulado ocasionando reclusão, medo, timidez, desequilíbrio, doença... toma outro direcionamento. A vontade pessoal transformou essa energia antes interior e estagnada em algo em movimento exteriorizado.

Mudando de comportamento, alimentação e hábitos, mudamos a maneira de nos expressar. Mudar às vezes é necessário para viver uma vida mais plena e saudável. Energia é movimento. Mudar também é movimento de transformação. O que não se movimenta enferruja... Somos os nossos dons. Seja o que você tem vontade de ser, e seja feliz!


Hellen Katiuscia de Sá
13 de setembro de 2005.

A PARTEIRA

Corria desesperadamente a carroça. Cortavam os espaços escuros da mata densa, os sons dos estalos das patas do gordo cavalo. E bailavam as correntes da carroça, como instrumento musical a acompanhar o galopar frenético do animal.

Dentro do coche, uma mulher grávida. Haveria de dar à luz ao filho ainda hoje à noite. Pois a carroça corria o mais rápido que o corcel podia arrastá-la atrás de si, rumo à casa da parteira.

Através da mata, mal se ouvia som de civilização... Foi teimosia de dona Damiana em querer ir para o campo, passar os três últimos meses de sua gravidez. Agora precisava de médico da cidade grande. Não havia nenhum, nem vizinhos próximos. Havia somente a parteira Madalena.

A ela devia-se o nascimento de quase todo povoado daquelas redondezas. Madalena – a parteira, como era conhecida, já sabia que lhe vinham procurar... Era já experiente. E toda vez que pousava um anum em uma das janelas de sua casa, era prenúncio de parto difícil... Foi ao quarto e acendeu, junto ao altar, uma vela para Cosme e Damião pedindo proteção à criança e para mãe que se aproximavam.

Na estrada, dona Damiana já sofria as dores do parto. Dores compartilhadas, inconscientemente, pelo pobre cavalo que recebia lapadas no lombo obrigando-o ir mais rápido. Corria... Corria... Mas nunca se desvencilhava do castigo inexplicável do chicote, afinal seus olhos não viam o que lhe maltratava...

Damiana já sabia que nome dar ao filho. Se fosse homem, seria “Francisco Emiliano de Moraes Neto”. Se fosse mulher, seria o nome da avó paterna “Ambrosina Ferreira Capistrano Prado”.

A carroça e seus passageiros estavam próximos da casa de dona Madalena, e a magra velha já se encontrava junto à porta aberta, esperando...

Mal a carroça parou, o cocheiro ajudava dona Damiana a sair desajeitadamente agonizando. Gritava, rangia os dentes. Era uma dor descomunal, que chegava a paralisar as pernas... dona Madalena não gostara do que viu.

A mulher grávida foi deixada no quarto da parteira, com tudo pronto. E dona Madalena fora acordar a neta para auxiliar. Sebastiana, aos dez anos, já havia ajudado a avó fazer para mais de setenta partos! Foi lavar as mãos, colocar roupa limpa, amarrar os cabelos... com a mesma naturalidade como quem apronta um fígado de boi para cozinhar.

Sebastiana ao chegar no quarto da avó parteira, havia deitado na mesinha junto à porta, uma pequena bacia com água quente e uma tesoura. Foi quando dona Madalena olhou para o rosto da neta e viu-lhe a face cadavérica!

“Meu Deus!” – exclamou. “Vem criança cismada, ou morta...”, nesse mesmo momento abriu-se a janela do quarto com um golpe violento do vento, e este tomou todo recinto com seu som uivoso e assustador. Sebastiana correu rápido para fechar a passagem, mas já era tarde... a ventania que ali entrara, ficou.

Resignada, dona Madalena faz o parto. Damiana gritava... o cavalo preso à carroça na frente da casa, retorcia os olhos pavorosamente... os cachorros no quintal, choravam agitados... Havia algo no ar que assustava.”É essa, a criança...” – pensava dona Madalena.

Após passar madrugada inteira em doloroso trabalho de parto, mãe e filha descansam uma ao lado da outra. Menina Sebastiana dormia com a mesma naturalidade como se comporta uma pedra jogada ao mar... os animais, já tranquilos, saudavam o sol rasgando as últimas nuvens escuras da madrugada.

Dona Madalena, não conseguiu dormir, olhou para a tez oleosa e ressonante do cocheiro que trouxe as duas mulheres, à sua casa. Aproximou-se da janela frontal, e pensou: “Graças! Deus apiedou-se de mim. Enfim, mandou a pessoa que irá tomar o meu lugar”.


Hellen Katiuscia de Sá
Belém/Pa, 01 de setembro de 2006.
Às 10:45 am.



OS SAPATOS DE JOSÉ (crônica poética)

As pernas quebradas numa quebrada de esquina esqueciam-se dos sapatos jogados à beira do asfalto esburacado. Na sarjeta, um dedo fora do lugar; a outra mão, também arremessada.


O povo inerte.
O espetáculo formado!

Grandes olhos curiosos sobre o cadáver. Tiraram-lhe uma nota de R$2,00 das algibeiras. Ainda viram a foto da mãe dele no interior da carteira.

“Olha só... servem os sapatos...” Avistaram também um relógio no pulso esquerdo. Até ele não sobreviveu frente aos atentos de plantão. Haja o povo, olhar. Muitos olhos famintos... Famintos de tinta vermelha em suas vidas preto e branco.

A viatura chegou. Os homens cobriram com uma lona furada o corpo estirado. Mas o povo continuava olhando...

Em vida José queria ser artista de TV para que olhassem por ele... Na sua morte pôde ter os olhos do povo, pelo menos. Ali ficou estirado durante quatro horas, sendo o ponto central do mórbido espetáculo que a população, misteriosamente, adorava olhar. A TV local também foi filmar José.

O rabecão do IML chegou! Acabou o sonho de José em ser (re)conhecido. Talvez sentisse falta das palmas; o povo virou-se de costas rumo ao normal cotidiano sem vida ao qual já estava acostumado. E José, como ninguém fora reconhecer o corpo, foi enterrado como indigente.

Ah! Seus sapatos saqueados do local do acidente, ainda vivem... Hoje protegem os pés de um adolescente, o mesmo que lhe tirou os R$2,00 das algibeiras. Na ocasião foi comprar pães para alimentar seus irmãos menores que, naquele dia, também estavam vendo o corpo de José estirado no chão...


Hellen Katiuscia de Sá
23 de abril de 2006.

O SÁBIO

É com alegria que posto esse texto, sendo ele o mais partilhado por outras pessoas em Blogs e outros sites. Fiquei feliz em encontrá-lo, por acaso, rolando por aí em vários cantos da Internet. Nem eu mesma lembrava desse texto, resolvi postá-lo aqui, já que meu "Estado de Delírio" é meu porto seguro e também uma espécie de arquivo virtual de meus escritos. Agradeço a todos que curtem e partilham meus textos pela Internet. Um grande abraço.
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Ser sábio é saber ouvir o outro, mesmo se o que diz é diferente do que acredita ser a sua verdade. É aceitar que existem diferenças de pensamentos. É não julgar seu companheiro, mas tentar compreender suas limitações. Tentar ajudá-lo se ele pediu e lhe deu permissão para fazer parte de sua vida.

Ser sábio é compartilhar o que acha que vai ajudar seu irmão a encontrar-se, através do Amor, mas não direcioná-lo para algum lugar que não seja de seu próprio conhecimento.

Ser sábio é não diminuir os outros com sua suposta sabedoria, mas sim, procurar dar as ferramentas para o outro pensar e tirar suas próprias conclusões. Ser sábio é ser humilde em aceitar que não se sabe de nada, até alguém lhe mostrar ou você mesmo descobrir que não sabe de tudo ou de nada, mesmo!

Ser sábio é ser coerente em sua forma de pensar e agir mediante suas verdades adquiridas e conquistadas pelo esforço pessoal por meio de sua capacidade de raciocínio e de discernimento entre o certo e o errado. Não passar do limite do "não faça aos outros o que não quer para si próprio".

Ser sábio é ter o silêncio como conselheiro e poder ouvi-lo em meditação constante, mas não separada do ritmo da vida. Da sua vida, não dos outros. Saber ouvir antes de falar.

Ser sábio requer algo a mais: conseguir serenar seu coração para que possa ouvir a voz do Amor que brota dele através da Força do Universo, que muitos chamam Deus.

O sábio ama a vida porque sabe que a vida que vê é a face de Deus que ele não conhece, mas sente que é, porque pondera e escuta a voz do silêncio de sua própria alma.

Ser sábio é ter o Amor como seu guia e o raciocínio como argumento desse Amor. Ser sábio é não agredir ninguém física nem psicologicamente em prol de sua suposta verdade. Ser sábio é falar quando lhe pedem e silenciar para os outros também falarem.


Hellen Katiuscia de Sá
26 de novembro de 2004.


domingo, 27 de novembro de 2011

OS CINCO DEDOS DAS MÃOS

*Para Afonso Carlos

“eu já estou no Ano Novo... mas os outros, não!” Ela deixou Olhos de Mato e Mar compreender o que sentia, deu-lhe mais um mês de espaço.

“eis nossa diferença de ‘tempo’... é o tempo interior e não o cotidiano...”, então Cabelos Sem Luz decidiu desacelerar. Ficou sem o mínimo movimento. Ela olhou diretamente para Olhos de Mato e Mar para ele compreender seus sentimentos por ela e também organizar seus Eus.

Mas o caminho dele seria complicado agora, pois ela o deixou a cargo de suas próprias personas: e uma queria isto, a outra queria aquilo, e ele – ele mesmo, queria Cabelos Sem Luz, mas não sabia dizê-lo a ela... dava voltas sobre si – Olhos de Mato e Mar. Aborrecia-se ele, porque Cabelos Sem Luz – ela; calou-se e pôs-se a esperar.

Então, Cabelos Sem Luz agora espera, mirando-o com muito carinho e ternura, Olhos de Mato e Mar...

Este foi o primeiro pedacinho da história que Ave Que Não Se Sabe o Nome soube contar...


(continua...)

Katiuscia de Sá
22 de Novembro de 2011

* * *

Então a Ave – Aquela Que Não Se Sabe o Nome, continuou sua história. Disse que hoje o primeiro filho de Cabelos Sem Luz deu seu primeiro passo. Sua mãe não podia ajuda-lo a prosseguir, pois aprendera e ensinara seu rebento que o caminho o percorremos sozinhos. E depois de certo tempo haveríamos de nos encontrar todos. E assim aconteceu.

Então os olhos do rebento iluminaram a fronte de quem olhava pra ele. Embora quem lhe observasse, percebesse que lhe faltava uma perna, no entanto conseguia andar ele, e dava seus passos rumo à infinidade das coisas.

Enquanto Cabelos Sem Luz recomeçava a tecer outro rebento, seu primogênito estava cercado de estranhos, dentro do ninho onde estavam todos... e , continuava a encantá-los; mesmo sem uma das pernas...

(continua...)

Katiuscia de Sá
25 de novembro de 2011

* * *

Mesmo agora o primogênito de Cabelos Sem Luz passou a rodopiar dentro de um tufão, “ah que delícia flutuar sobre uma perna só!”, assoviava o rebento por entre as folhas e galhos. E lá se foi ele – o primeiro! Gostava da noite, da cantoria dos sapos dizendo: “fui... fui... fui...”, mas: “fui pra onde?”, pensava aquela criança de uma perna só.

Dele tanto curtir a noite sua pele ficou negra. Escondia-se por entre os cepos e cantinhos escuros das matas. Ficava apenas seu sorriso de fora aparecendo e seus olhos redondos de amêndoas a cintilarem pelas folhas. Que linda criança feliz a rodopiar nos cata-ventos...

Ainda agora Cabelos Sem Luz sentia Olhos de Mato e Mar, ele estava em seu coração queimando feito estrelas à beira do sol, “eu sei que é você quem está em minha alma, correndo e sorrindo para dentro de mim...” , disse ela para aqueles Olhos de Mato e Mar.

Então ele a invadiu de vagarinho... inundou-a com seus sentimentos inexplicáveis. Cabelos Sem Luz (porque eram negros igual à noite sem Lua), deixou Olhos de Mato e Mar inundá-la de sentimentos, e deles nasceriam outro rebento, “mas dessa vez esse teria as duas pernas” – prometeram ambos!

Agora estão unidos na estrada Cabelos Sem Luz e Olhos de Mato e Mar... das letras indizíveis do coração de ambos a alma dele vem na boca dela, beijando-lhe invisível no silencio de todas as Horas.

(continua...)

Katiuscia de Sá
27 de novembro de 2011


Depois de muitos dias quieta num galho, apenas observando para dentro, Ave Que Não Se Sabe o Nome voou para longe, muito longe... carregava escondido por entre as plumagens do seu peito, uma saudade indizível e inominada de seu Amor. Voou para bem alto, acima de todas as nuvens do céu, e depositou lá essa saudade. Dizem que nos dias de chuva, é o choro dessa Ave – a saudade deixando cair na terra lágrimas de chuva...

E depois que ela – a Ave, retornou ao chão, recomeçou sua história. Disse que alguma coisa aquele outro havia deixado: a maturidade que hoje nasce como a flor sem espinhos, a flor que os cinco dedos das mãos de Cabelos Sem Luz e Olhos de Mato e Mar seguram juntos.

Outro dia conversaram – cada um pregava uma tábua na mesma ponte e com os cinco dedos das mãos, ambos a enlaçaram nas margens. Atravessavam quando queriam e quando podiam... foi isso que Ave Que Não Se Sabe o Nome pôde soltar dessa história, pois ela ainda voa bem lá no alto puxando saudade das penas jogando para as nuvens o mesmo branco de seu peito. E toda vez que chove, são suas lágrimas de saudade...

Eles miravam o céu. Um dia outra noite, a madrugada e a noitinha eram deles, só deles... Olhos de Mato e Mar era cego, e Cabelos Sem Luz era surda... ele cantava passarinhos ela não o respondia; ela pintava paisagens de amanhecer ele não via. Resolveram tudo por telepatia!

Foi quando Cabelos Sem Luz pintou os olhos dele: um de Mato outro de Mar, e ele viu! Depois ele soprou no ouvido dela: “Amor...” e ela ouviu.

Eles conversaram. Estavam no meio da ponte dependurados de cabeça para baixo. De frente viam o céu, de costas viam o rio que corria de baixo da ponte. Optaram olhar o céu... pois as águas que correm nunca serão as mesmas, e o Tempo que passa nunca será recuperado. Mas o céu... o céu sempre estará lá para os namorados.

Ouviram-se eles ainda agora, quando o sol beijou a terra. O coração de Cabelos Sem Luz veio à boca, era a voz dele... E Olhos de Mato e Mar tinha os olhos verdes nesse período... ficavam assim quando apaixonados demais por Cabelos Sem Luz. Virava capão selvagem; muito serrado e faceiro: Verde, como ela os preferia...

Porém, quando também ele a tem em olhos azuis, Cabelos Sem Luz igualmente o enamora, pois está ele em fluído, tão etéreo: o Amor puríssimo e delicado, a acalmar os sentidos dela, invadindo-a por inteiro de ponta a ponta, então ela vira éter e corre em direção aos azuis de Olhos de Mato e Mar, torna-se sereia dele; ela veste seus cabelos negros como roupa e segura um espelho e uma espada, e o defende de tudo abrindo caminhos... Caminhos para ambos seguirem em frente, onde ninguém mais passa!

O sal esquenta na comida; o sol range nas flores; a Luz regenera os fatos da vida; os pássaros entregam-se ao abate da cópula – o Amor não tem cura... por isso Ave Que Não Se Sabe o Nome voa entre os céus soltando suas penas brancas do peito pra fazer chover no mundo, a Água da Vida. É o Amor indizível e inominado – a própria cura. Aquele círculo que se fecha e abre para fechar-se novamente abraçando tudo que vem pela frente, as águas que rolam de baixo da ponte.

Então eles tornaram-se Um - a ponte que os cinco dedos das mãos teceram em acordo. O sexto dia era o estado mais interessante... ouviam-se sem falar. Viam-se sem estar presente. Sentiam-se sem se tocar... amavam-se intensamente sem ninguém suspeitar. Isso era o que Ave Que Não Se Sabe o Nome dizia daquela gente, eles: Cabelos Sem Luz e Olhos de Mato e Mar.


(continua...)

Katiuscia de Sá
06 de dezembro de 2011.

* * *

E no decorrer dos dias abriram-se as natas no peito de Cabelos Sem Luz – um jardim de Afonso rodeava toda margem do rio que passava debaixo da ponte deles. Com seu rosto iluminado, Olhos de Mato e Mar perdia-se naquelas flores tão amarelinhas feito sol que nasce no céu amanhecendo. Brincavam umas com as outras, as flores, quando o vento passava balançando o ar com sua presença invisível, então estas quando se afastaram, devido ao vento, emergia o rosto do Caminho de Rivera.

Cabelos Sem Luz partilhava do peito dele – seu Amado, a mesma esperança amarelinha e o mesmo Amor que tecia o segundo rebento, sendo o infante feito pelos cinco dedos das mãos de ambos – um filho. O caminho de Rivera estava abrindo-se. O casal lia cada parte do livro. Cabelos Sem Luz dormia... e acordava em Rivera; Olhos de Mato e Mar organizava os tecidos e as fraldas, o rebento estava por vir – o segundo.

No caminho de Rivera, Cabelos Sem Luz imaginava e escrevia, mais outro dia sem Ondina... flertava com as espumas junto aos barrancos. Jazia humilde em torno dos muros de Rivera, Ondina. Fertilizava o coração do rebento por vir. Ele revirava-se no Além das coisas. E as pontas dos dedos sentiam a pressão do choque, Ondina...

O casal chegou ao silencio... estavam Olhos de Mato e Mar e Cabelos Sem Luz junto a Rivera, encontraram Ondina à sua espera. Ondina entrou em ambos acumulando mais força ao rebento por vir, o segundo filho. Este teria três partes e dois pedaços, repletos e completos pela linha do Tempo – Platão. Seria mental o filho de ambos, o Segundo.

Após decifrar este pedaço da história Ave Que Não Se Sabe o Nome soltou um cântico... era o mais Belo dos Belos, o Amor apenas para Afonso: o jardim. Então ela – a Ave, batia suas asas rumo ao sol, indo aninhar-se no coração de seu amado... e depois voaria de volta ao chão como gente, quem sabe... E continuaria sua história.

(continua...)


Katiuscia de Sá
08 de dezembro de 2011


De volta ao Caos! Houve uma grande explosão de sentimentos e letras, onde todos foram queimados – este era o Coração! Devastado... Quanto mais a Ave chorava e sofria... mais bela e magnifica tornava-se! E ainda pouco, os vivos – com suas chagas abertas, entupiam o meio da passagem. As válvulas todas se soltaram, menos o vapor que continuava apavorando as plantas, que sem ver o sol, choravam pela falta de Luz. Faleceram lentamente, todas elas coitadinhas: as esperanças.

E o pouco que restou, ela, a Ave – carregava como escombros sobre o peito nu. Com os olhos marejados, enxergava as distorções lá do alto... não queria mais pousar; nem comer; nem beber, não queria mais viver... não viraria mais gente. Não era gente, nunca o foi! Era Ave Que Não Se Sabe o Nome. E jamais falou novamente nem cantou. De sua língua nasceu um musculo seco e rijo: uma corda sem som... a Ave que não canta.

Depois que retornou ao Caos, Ave Que Não Se Sabe o Nome voa para sempre sem pousar ou aproximar-se das gentes... nunca mais virou mulher ao chão. Sua desgraça branca arrancada com as penas do peito, seu tórax ardendo com o sol abafado nas nuvens, um coração em pedaços!

Todavia, Ave ainda sabia contar histórias. Então sussurrava para os ouvidos que restaram no cepo das árvores mais altas, aquelas próximas ao céu, onde Ave habita. Só lhe restaram as letras... as letras, apenas. Ela devia encontrar sua completude e organizar-se em torno disso. Tudo sempre ainda estava sendo escrito, ou por escrever... “eu nasci para ser sozinha, como os livros”, o ultimo acorde da Ave – aquela Que Não Se Sabe o Nome.

Amanhã é outo dia.

(continua...)

Katiuscia de Sá
12 de dezembro de 2011


* * *

As resinas da Mentira acalabouçando as plantinhas, pobrezinhas: as esperanças... depois que sua língua virou galho seco de corda sem nota, Ave seguia sem rumo, um pensamento linho de pano e cordão. Seus olhos doíam de tanto chorar. Sua boca seca sem música – o amor estava preso, o adubo dos dias degenerado! Houve um dialogo. Este pôs tudo sobre a mesa e devorou-lhes os presságios e ações. Haveriam de repensar tudo corrido até agora – as decisões! Então as águas de baixo da ponte.

As águas rolando,

E rolando...

E rolando...

Cabelos Sem Luz voltara sereia que um dia foi. Viu seu corpo violado sobre o chão, e depois as pernas virando cauda de peixe. Nadou naquelas águas com seus cabelos de algas. Devolveu o sabor do sal ao líquido. Devolveu aos peixes a alegria de estarem vivos. Mesmo assim Ave não quis retornar ao chão. Saiu das Águas, ficava voando em rodopios sobre os seres, com seu coração aos prantos... seria saudade por mais uma semana.

Soltou um “pio...” a espera de outra ordem. E nisso soou “eu descobri você”, disse aquela voz dentro da cabeça dela e dentro da cabeça dele – as ondas quebrando nas pedras. As águas do rio rolaram para o Mar, então! Olhos de Mato e Mar e Cabelos Sem Luz afogaram-se um no outro, tudo era tarde demais. Estavam ambos sem forças...

“Um beijo, apenas um beijo...”, sussurrava o vento feliz no meio das flores daquele jardim, Afonso.

Ave Que Não Se Sabe o Nome cantou uma guaraña triste sobre as águas. Foi mais uma despedida. Amanhã é outro dia... não será, posto que já é – o coração único dentro do peito daquele filho em gestação, o segundo. Depois da conversa, eles decidiram o nascimento deste. Então os cinco dedos das mãos emaranharam-se novamente, Olhos de Mato e Mar e Cabelos Sem Luz.

E Ave – aquela Que Não Se Sabe o Nome, voava, aguardando o decorrer desta semana que seria saudade outra vez... chorava suas penas brancas sobre a terra. Seus olhos doíam de tristeza. Sentiria e passaria fome outra vez, posto que seu alimento era Amor... pensava em matar-se pela ultima vez e definitivo, não adiantava viver na solidão!

Então ela, a Ave, voou com sua total força rumo à tempestade acima de todas as nuvens. Atravessou chuvas, ventanias. Relâmpagos devoraram seu coração, eletrificando seu ser com toda fúria e rasgura dos céus – um buraco negro que sorve as coisas... os dias frios transformaram Ave em algo incompreensivelmente belo e afastado do mundo. Tão belo e alvo, as penas arrancadas e jogadas à terra os pingos das chuvas, a Água da Vida.

Ela chorava sufocada de dor... não podia mais cantar – a coitadinha. Seria saudade por mais uma semana. As águas rolando de baixo da ponte...

Então ela fechou sua vista foi para dentro outra vez. Voou sem olhar para trás. Ave em extinção queria morrer, encontrar os seus... voltar para Casa. Não aguentava mais o peso do mundo, e viver sozinha por entre as nuvens na insuportável incerteza – aquela semana, a saudade novamente.

Passaria fome outra vez, posto que seu alimento era Amor... neste mundo ela – a Ave, não recebia Amor... fechou a vista e olhou para dentro, escurecendo o coração, não lembrando de lugar algum e de ninguém. Fechou-se num galho – o sono eterno. Ave Que Não Se Sabe o Nome morreria, enfim! Ultima de sua espécie, sem companheiro e sem Lar... restou apenas a lenda de que um dia existiu uma mulher que virava Ave Que Não Se Sabe o Nome. Ela, então alcançou o silencio eterno e a boca sem voz.

Não contaria mais histórias, não cantaria mais belezas, deixara de sorrir há muitos séculos. Muito engodo e trapaças no mundo mataram a bela Ave, foi de fome... não havia mais Amor no mundo. Seu sofrimento foi maior do que o Tempo e a Solidão, indo Ave, dormir para todo sempre – a morte.

Então, a história de Olhos de Mato e Mar e de Cabelo Sem Luz ficou pela metade. Nunca ninguém soube como era Segundo, o rebento. E ninguém soube se este realmente era feito de três partes e dois pedaços ou se mesmo ele existiu. E não sabiam dizer se a ponte entre os namorados perdurou a todas as trapaças e engodos dos mundos, mas as águas continuavam rolando debaixo da ponte, a Vida.

As pessoas apenas souberam que nos lugares remotos da terra um dia viveu uma mulher que virava Ave Que Não se Sabe o Nome... e que ela morrera por falta de amor na Terra – o Verbo foi embora do mundo!

(continua...)

Katiuscia de Sá
13 a 17 de dezembro de 2011

* * *

Então após muitos anos passados, pois estamos no século 200 agora, Ave que havia sumido, voltava com os pingos das chuvas, que eram vermelhos por causa de tanto sofrimento que seu coração virou liquido acariciando a terra quando jorrava do céu. A ferrugem que os humanos respiravam em suas narinas. Da Ave, seu canto formou-se trovões, ganhavam todos os cantos. Era o Canto remoto dela, Ave – que retornava aos poucos.

Apenas lembranças ela restara. Entretanto, ninguém mais sabia como era a lembrança do Amor. Tudo era holofote agora, as recordações não estavam mais nos livros nem nas memórias, eram plantadas num campo, e quando todos queriam lembrar-se de algo, mesmo não vivido, recolhiam uma plantinha e mastigavam os talos – chegavam as intuições amenizando o vazio.

Entretanto, Segundo – o rebento de Olhos de Mato e Mar e Cabelos Sem Luz, era... alguém o viu, e disse que foi bonito, e tinha realmente três partes e dois pedaços, e seus pais (os namorados em cima da ponte dependurados olhando o céu), os fez com suas próprias mãos. Houve um momento sim, que acharam em desistir, porém Segundo – o rebento deles, foi mais forte ainda: nasceu! E vingou!

Com os verdes olhos do seu amado, Cabelos Sem Luz resolveu as questões da Alma: abriu seu peito expulsando as incertezas. Delirou ao seu par todos os segredos dantes nunca revelados. Silenciou seu interior e Olhos de Mato e Mar deu o primeiro passo... ele a tomara pelos braços, e a levou até seu coração, que era cinema. E ficou surpreso, pois o dela também era cinema; então juntos irradiavam Luz e movimento: os sonhos que os outros viam.


(continua...)


Katiuscia de Sá
27 de dezembro de 2011.

* * *

Alguns vadalos-simbus aproximavam-se perto da passagem de Rivera. Então de repente, ouviu-se um tilintar – era uma pétala vermelha de rosas desabrochando escancaradamente pelo chão do Jardim de Afonso. Os vadalos-simbus, vendo tal significado, correram enquanto dava tempo... porém, aquela cor de sangue molhou as patas deles, indo todos tornarem-se chão, junto às raízes. Mais umas árvores nasciam em redor daquele jardim, tudo isso em proteção do caminho de Rivera, onde somente os escolhidos poderiam atravessar.

Isso foi antes de estarmos no século 200. Ave, ainda sobrevoava as gentes, olhando tudo lá de cima e armazenando na memória todos os povos. Um dia ela – a Ave, pousou rente ao jardim de Afonso. Suspirou algumas plantinhas, arrancando-lhe os talos com o bico. Doeu no chão. Mas ela continuou bicando até furar a terra. Dali brotou um olho d’água. Era azul, a tinta que Cabelos Sem Cor pintou um dos olhos de seu amado.

As ervas arrancadas pela Ave, eram daninhas... tudo foi arrancado... tudo foi arrancado... e cuspido! O jardim ficou puro e branco outra vez. E no chão flutuavam algumas plumas do peito da Ave, e o céu empalideceu e depois escureceu. Mergulhando o mundo numa sombra profunda durante muitos e muitos séculos, até chegarmos agora, quando Ave retornou e continuou sua história, que era de amor entre os namorados dependurados na ponte e que olhavam para o céu. E as águas rolando, a Vida.

E aqueles corações de cinema fizeram nascer Segundo, o rebento de seus pais: Olhos de Mato e Mar e Cabelo Sem Luz. Custaram tantas mentiras arrancadas do jardim de Afonso para que Segundo pudesse refletir nos olhos das pessoas. Mas ele nasceu e vingou, como foi dito pela ervinha mastigada, que agora era lembrança.

Houve uns dias em que aquele jardim virou sombras... o escuro total do peito das pessoas. Tão negro e distante, sem flores, nem lama. Nada havia lá naquele terreno. Somente medo e solidão. Um abandono feroz feito animal selvagem castigado por uma jaula. Nada vingava ali, até que Ave pousou e rasgou o chão com o bico, fazendo brotar água. Entretanto, mesmo lindo, o jardim continuava ermo. Ninguém o atravessava, pois ninguém conseguia chegar perto...

Mas um dia Ave retornou, e pousou ali novamente. Então fez um ninho. E ficou aconchegada pelo resto da vida, depois que retornou dos pingos vermelhos da chuva. Esse vermelho tingiu as pétalas do jardim de Afonso, que eram todas serenas e também verdadeiras. O jardim conseguiu finalmente conversar com aquela Ave Que Não Se Sabe o Nome. Quem puder travar passagem no caminho de Rivera, poderá vê-los ambos juntos, um dia...

(continua...)

Katiuscia de Sá
30 de dezembro de 2011.

* * *

A sabedoria do Universo coloca tudo no seu devido Lugar, Espaço e Tempo. E aquele povo humano, mentiroso e falho desapareceu do planeta, aportando outros feitos dessa matéria intima e diversa, que o Universo compõe – as folhas novas dos novos troncos da mesma Árvore. As daninhas – jogadas ao fogo, retorcendo na dor sem limite na mente e nos corações entregues ao desespero sem fim.

O Amor quando se torna fato, ultrapassa todos os ditames do inteligível e do entendimento das criaturas falhas... alcança a perenidade e serenidade. Está a salvo. Não importando as maledicências; não importando as invejas e calunias; não importando os conflitos gerados... tudo isso se torna pó no esquecimento, em comparação a fortaleza do Amor que rege todas as coisas. O Amor vence as barreiras internas ou externas, seja de tempo ou falta dele. Vence até a natureza dos seres e as Escritura das coisas. Pois o Amor é a própria Vida, as águas rolando debaixo da ponte. Matéria maleável nos cinco dedos das mãos, que se molda conforme a Vontade do Universo.

Ave não desejou mal àqueles que dela se compraziam na inimizade, na mentira, no engodo, na inveja e interferências negativas... pois aquela Que Não Se Sabe o Nome tinha conhecimento de que estes seres já estavam condenados desde o dia em que praticaram a primeira maldade contra si mesmos... o caos estava alojado em seus corações e dali não mais sairia, nem mesmo agora no século 200, quando tudo se mastigava em lembranças plantadas e escolhidas.

Quando todos os que dormem recobrarem os sentidos, ainda assim o Amor reinará, e este ultrapassa você e eu... Enquanto houver Vida em qualquer esfera, lá estará o Amor pulsando nos corações dos apaixonados, eternamente pulsando e revelando a natureza do bem e do melhor dos mundos, regendo as manifestações douradas nos céus, com as estrelas de todos que conheceram, lutaram e venceram em nome desse Amor genuíno e farto – a Vontade Suprema.

Não há falhas nem enganos quando o Amor se manifesta. Não há certo nem errado, existe apenas o sentimento que rasga tudo que dele for contrário, pois a energia maior que ordena todos os Mundos é Amor, e ele só reconhece quem dele se faz intimo. É desse Amor que Cabelos Sem Luz e Olhos de Mato e Mar falaram naquele dia... Hoje!

E esse Amor vive ainda. Está aqui, ali, em mim, em você... em todo lugar. E para sempre...


Katiuscia de Sá
31 de dezembro de 2011.