“o poeta é com efeito coisa leve, santa e alada; só é capaz de criar quando se transforma num indivíduo que a divindade habita e que, perdendo a cabeça, fica inteiramente fora de si mesmo. Sem que essa possessão se produza, nenhum ser humano será capaz de criar ou vaticinar.” [Platão]

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

A CONSTRUÇÃO DA PERSONAGEM

(um exercício de interpretação teatral)

Rosa estava então com vinte e nove anos, sua aparência, entretanto, sorria-lhe com uns vinte dois. Mesmo com os altos e baixos da profissão que escolhera, os meses lhe foram gentis. Sofrera muito um tempo atrás. Seu corpo padecera pelas mãos de seu ex-marido. Além das marcas externas, (estas foram cicatrizadas), havia uma dor que nunca a abandonaria: um aborto...

Mas agora era vida nova! Bola pra frente e muitos clientes! A profissão que escolhera era-lhe bastante rentável. Havia noites que acumulava o montante de três meses de trabalho de carteira assinada de apenas um salário. Em outras, porém, mal davam para lucrar o valor das roupas que vestia.

Aparentemente Rosa se esquecera daquele incidente com seu ex-marido, sorria nervosamente; vestia-se para valorizar-se e comportava-se estonteante... mas por dentro se ressentia pela perda do filho que nem pôde nascer, e mais ainda pelas circunstancias como tudo aconteceu.

Seu temperamento tinha espinhos, como seu próprio nome sugeria, era teimosa e devido a alguns fatos da vida, tornou-se arrogante e estúpida por vezes. Fazia de tudo para manter erguida sua cabeça. Não hesitava caso tivesse de brigar para ter firme sua auto-estima. Seu instinto de auto-sobrevivência era demasiadamente forte!

Por tudo o que lhe acontecera, quase tão recentemente, Rosa às vezes se sentia como uma velha viúva-negra, sem mesmo ter dado cabo de seu consorte... sua alma cheirava à sangue coagulado, queimaduras expostas em seus ossos.

Todas essas lembranças latentes... um dia retornaram quando num quarto encontrou-se com um de seus clientes. A partir daquela noite, tudo poderia ter um fim...


Katiuscia de Sá
13 de setembro de 2009
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