Diante das mobilizações espontâneas e de caráter popular que
aconteceram durante quase uma semana inteira (eu acho), de forma praticamente simultânea
em várias cidades do Brasil, é impossível permanecer indiferente. Confesso que não
sigo com tanta frequência as redes sociais e quando as manifestações continuavam
após o estopim do aumento das passagens de ônibus em SP e RJ, eu não sabia o
porquê exatamente das manifestações continuarem e se alastrarem Brasil a fora. À
medida que fui compreendendo, também fui contagiada com essa onda de
manifestação em beneficio da Nação. Esse civismo moderno. Sinto alegria de ver
a população jovem puxando os mais velhos também para às ruas, a fim de fazer
valer a voz da indignação mediante tantos descasos por parte do governo em relação à corrupção, à falta de investimento na área da Saúde, Educação, Transporte Coletivo,
Moradia, medidas de combate à Violência, etc... é um belo exercício de
democracia por parte dessa população jovem e da população brasileira em geral. Entretanto,
é preciso também exercitar a mente. Perguntas vêm à tona: por exemplo, agora
que notoriamente os governos percebem a indignação e repudio popular pela
corrupção e uso indevido do dinheiro publico, o quê fazer? Como fazer, e quem
vai fazer? (se vão fazer...). É preciso agir com a cabeça. O quê a população organizada
[e politizada] deve apresentar como medidas reais para que os governantes
(parlamentares, deputados, legisladores e governadores) deverão executar? Quais
são as prioridades? Quem trabalha pra quem nessa história? Os governantes devem
reger a Nação em beneficio de sua população, e esta deve SEMPRE acompanhar de
perto, fiscalizar, cobrar, reivindicar o que foi apresentado como proposta
politica dos partidários que se encontram atualmente como os representantes do
povo. Este mesmo povo que, através de seu voto, pôs aquele ou esse politico no
lugar onde ele está agora para gerenciar a Nação. De quê maneira a população vai
fazer a engrenagem funcionar? Pois sair às ruas para protestar é um passo, o
passo seguinte é ser prático e buscar na Constituição, e na Lei dos Estados e Municípios,
clausulas que apoiem às reivindicações da população que foi às ruas nesses últimos
dias em todo Brasil. Ser organizado na apresentação das pautas já anexando o
peso da Lei nessas reivindicações. Ser esperto, ser conhecedor das Leis e da
Constituição para saber dialogar, reivindicar e negociar medidas e AÇÕES reais
para beneficio da população. Fico pensando: após a Copa das Confederações, se o
Brasil não cairá num caos econômico... porque, se houve investimento do
dinheiro publico para a construção de estádios, reformas de avenidas, abertura
de estradas, etc... por um lado ajudou na modernização do País em uma pequena
escala, porem qual foi (qual será) o
impacto disso na Economia, na Educação, na Saúde, no Transporte no futuro mais próximo? Será
que nos anos seguintes o Brasil não sofrerá com reajustes em impostos na Luz, na
Água, no preço de serviços públicos, etc, para cobrir esses gastos atuais? Quem
garante que não? É preciso que o governo seja claro, transparente neste
sentido. O evento da Copa em si não é o culpado, e sim a maneira como foi (e
está sendo) gerenciado o dinheiro que possibilitará com que o evento aconteça
no País. Porque os parlamentares ganham tanto assim, e ainda são agraciados com
gordas comissões para isso e aquilo outro? Será que é preciso esse luxo todo
para eles exercerem seu trabalho: que é fazer com que a população em geral
tenha boas condições de vida e para que a Nação evolua? Acho que é necessário uma
comissão de cunho popular (sem partido) para ficar fiscalizando o que acontece
no Senado, nas Câmaras dos Deputados, nas Assembleias Legislativas para saber
de fato, se os governantes não estão enrolando... perceber se os que estão lá não
são doentes... sim, porque corrupção é doença, é um transtorno, um desvio de caráter
tão sério que é visto em pequena escala comparada a uma leve ocorrência de disfunção
mental perversa; gente que desvia dinheiro publico para se dar bem não se
importando se crianças morrem de fome, ou se pessoas morrem à porta dos
hospitais públicos por falta de atendimento, é no mínimo doente. E já é comprovado
e estudado pela Psicologia que corrupção é sim doença catalogada na escala de
transtornos mentais leves, porém graves, pois as ações dos corruptos prejudicam
outras pessoas, a tal ponto, deles nem sentirem remorsos pelos atos praticados
em beneficio próprio.
É inegável que o acesso à Internet, com as Redes Sociais
sendo utilizadas para formatar passeatas de maneira mais organizada e também a
dissipação da sombra do medo, trauma e repressão que ficou encrustado em pelo
menos três gerações após a Ditadura Militar, passou; e por isso mesmo que as pessoas que vão às ruas
hoje têm outra visão e maneira de se manifestar resgatando seus direitos
enquanto cidadãos. A grande maioria quer PAZ, quer que as coisas aconteçam de
maneira pacifica, honesta, organizada. E isso só será possível mesmo, se as
passeatas acompanharem o raciocínio de seus manifestantes em saber seus
direitos, por quem lutam, para quê lutam, como lutam, e se apoiem na
Constituição Federal e nas Leis Estaduais e Municipais para validarem sua voz,
percorrendo os tramites legais na hora do cara-a-cara com os governantes. Afinal,
não fomos nós que os colocamos lá para nos representar? Então é hora dessa
máxima acontecer. Essas manifestações de vândalos só me faz crer, cada vez
mais, que se trata de gente contratada pelo governo para sabotar a manifestação
popular... só que não estamos mais na época da Ditadura onde quem saí às ruas
já saí com o terror no coração. São novos tempos, são novas cabeças, novos
espaços na sociedade para se gritar um basta na corrupção e abandono do País! São
novas formas de diálogos.
“Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores”
[Canção do Exílio – trecho; dos PRIMEIROS CANTOS (1847);
Gonçalves Dias]
Katiuscia de Sá
21 de junho de 2013
02:12h
*ouvindo "Another Brick In The Wall" (LIVE), de Pink Floyd