“o poeta é com efeito coisa leve, santa e alada; só é capaz de criar quando se transforma num indivíduo que a divindade habita e que, perdendo a cabeça, fica inteiramente fora de si mesmo. Sem que essa possessão se produza, nenhum ser humano será capaz de criar ou vaticinar.” [Platão]

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Agradecimento



A minha decisão já foi tomada há uns dois meses atrás: prefiro a presença de quem me traz paz ao coração; quem me deixa sentir segura emocionalmente; decidi por quem não compete comigo e sim me incentiva a todo momento; decidi dialogar com o homem que sabe conversar comigo de igual para igual sobriamente, educadamente, claramente e sem receios sobre os sentimentos (sutis que nem os meus); decidi estar em equilíbrio e manter-me nesse estado interior; decidi dedicar-me ao universo dele e meu que são entrelaçados; decidi pelo homem que me ensinou a diminuir a velocidade interna e com isso dilatar mais ainda meus sentidos e ver e ouvir com tremenda nitidez e beleza os fatos cotidianos; decidi pela dança com os pés nos chão e pelo amor que nos eleva às alturas. Sinto-me tão serena, tão em paz, tão viva e vazia para abrigar-me do novo que vem e vai continuamente, uma respiração que trás o amor e leva esperança, que traz equilíbrio e agrega confiança. Agradeço muito por tudo de bom que aconteceu comigo em 2012, principalmente de ter enxergado coisas que antes (pela minha própria velocidade) não percebia como deveria; enxerguei alguém que me faz sentir nas nuvens, entretanto, sem me perder nas tempestades... decidi ser feliz, enfim. E aprender que amor e felicidade são ferramentas para gerenciar um estado de ânimo: minha paz que a transmito aonde quer que eu passe, como uma brisasinha que ameniza o calor diário das confusões; decidi de todo meu coração deixar-me guiar através dessa velocidade que essa pessoa especial ensinou-me; desse modo não chegarei nunca atrasada na vida, chegarei sempre no momento certo onde devo chegar; porque compreendo agora que o AMOR não tem pressa; ele não adia os encontros, ele trás para perto tudo o que necessitamos. E é por isso que compreendo essa decisão de ser feliz, pois as escolhas são conscientes e repletas de amor, paz, respeito e compreensão. Decido que meu coração vibre dentro e fora de mim, e nos envolva aonde quer que estejamos. Hoje o meu sorriso está mais ainda indecifrável, um sorriso tão suave que mal aparece atado ao rosto... mas um sorriso com o corpo todo que emana Luz. E tudo isso acontece porque aprendi a caminhar mais lento, e nessa lentidão aquática dos mares, vejo tudo dilatado nas formas, abrindo mais espaço para agilidade mental acontecer profundamente e absorver as decisões certas para minha vida. Nunca esqueço a primeira vez que vi esse jovem homem, e hoje eu sinto e sei, que foi naquele momento em que nossos olhares se cruzaram... foi ali que ele me fez ser sua para sempre, e teve a paciência de aguardar o momento certo para que eu também compreendesse. Gosto dele porque ele me ensina as coisas, porque ele me faz compreender o que ainda não sei. Esse é o amor que me surpreende: o que alavanca o progresso, o que conversa sem rodeios e com franqueza... nem todas as palavras do mundo poderão dizer-lhe o quanto sou-lhe grata; nem todas as palavras do mundo poderão dizer-lhe o quanto te amo demasiadamente... um sentimento desprendido, e despretensioso, uma liberdade literária presente no mundo verdadeiro das formas. A Arte fugiu às regras, porque o Amor é um circulo perfeito.

Katiuscia de Sá
18 de dezembro de 2012
07:58 a.m.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

NÓS




Como um bebê que dorme no leito, desprotegido dos horrores do mundo, apenas sonhando com o que um dia poderá vir a ser, assim meu coração foi-lhe entregue. És o fogo do sol que emerge de min'Alma domesticada. O que me impressiona de ti, é teu deslumbrante ar civilizado, a clareza das palavras, a sinceridade e respeito com que conversa comigo sobre as coisas do coração. Gosto-lhe da voz, dos olhos, da boca e das palavras que saem dela. Como um trem que desce a colina controlado pelos trilhos, ambos somos do outro... confio tanto no Destino que nos aponta o caminho, que não há fantasma algum para nos magoar. Minha busca que nunca houve, acabou. Minha angústia que nunca foi verdadeira, cessou. Meu corcel em disparada pelos campos e colinas, nunca partiu. E tu, lindo homem jovem, que um dia me sorriu e que eu nunca notara antes, finalmente chegaste com a coragem de emergir das falas um encanto sonoro de poesia e verdade, que me trouxe para sempre ser tua. Não importa os espaços dos dias, sempre estaremos conectados... sempre conectados, pois tudo que foi escrito nos Céus, aqui em baixo não se desfaz. A pintura perfeita de Deus, para os corações dos homens se chama Amor, e é isso que nos liga através do respeito e admiração mútua, o equilíbrio do tempo, a exatidão das horas, as partes subjacentes: somos juntos uma flor desabrochada e contente.

Katiuscia de Sá
13/12/2012

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

O suco gástrico do amor – um limão bem azedinho!


Era uma estrada sem chãos... sem largura alguma... sem margens e também sem inicio ou fim. Era uma figura circular e completa. Tao completa que faltava o centro. Era oca, e era por lá que tudo vazava... vazavam olhares, sentimentos, sorrisos e sensações diversas de todo tipo de gente. Às vezes parecia uma neblinazinha, uma fumaça cor-de-rosa. E era essa fumacinha cor-de-rosa que chamavam de ‘amor’. Às vezes passava em pencas... às vezes em saltos... às vezes em sulcos. A onda era tão inflame que cada vez que brotasse atravessando o oco do circulo, o buraco ia cada vez mais aumentando. E nesse alargar dos acontecimentos, ele me chegou e tocou naquele assunto novamente... eu pedi para que não falasse nada disso outra vez, porque me desgastava, me estressava feito lança no coração a verter sangue... como explicar-lhe que sentimentos para mim são como líquidos que invadem meus pulmões e me fazem afogar por vezes? Deveria ter dito algo sobre, mas no momento minha cabeça ordenava ‘cortar’ o assunto para não me fazer mal novamente, posto que ainda estou me recuperando... Como explicar-lhe que sentimentos para mim devem ser leves e suaves (pelo menos os meus são desse modo) e quando alguém denota em minha direção essas ondas gigantescas de acasos, de vontades reprimidas, de desejos ocultos pela minha pessoa... isso me é absorvido como se fosse um suco bem grosso de abacate tentando escorrer canudinho adentro para meu coração, mas por um canudinho que é feito apenas para passar líquidos finos, ou bem dizer, apenas água... é por isso que essas ondas de sentimentos volumosos me afligem a alma e adoecem meu corpo. Não sou preparada para performar grandes demonstrações de afetos, para pintar escândalos de ciúmes, para esbofetear bate-bocas em praça publica, para puxar cabelos de baixarias e arranhamentos... Sou bastante discreta, insipida e inodora, quase catatônica a essas vontades alheias que a maioria dos homens gosta que as mulheres façam para saberem ‘in loco’, de que gostamos deles... As falanges de meus sentimentos afetam outros pontos – os sentidos mais refinados (que nem todos possuem bem sinalizados e dispostos); meus sentimentos e demonstrações de afetos são muito suaves... quase flocos de neve a se desfazer antes de tocarem o chão; é preciso calma, sintonia, e tranquilidade tremenda para formação de confiança; é necessário barricadas e barricadas para fazer-me sentir tão segura a ponto de me despir o coração e demonstrar com meu corpo nu o que sinto; e mesmo assim de forma tão poética e espontânea, que parece um pequeno sonho às vistas do ser amado. É preciso acreditar no acaso das coisas... é preciso acreditar quando se corta um limão azedo para chupar seu suco com toda vontade do mundo, sabendo que ele irá curar algum mal... chupar um limão pode ser tão erótico se derramado mel por cima – cria-se outro sabor e outro desejo; ás vezes o amor que pedimos ao Universo nos vem, mas é algo que não esperávamos que fosse desse modo tão frágil e remoto, e ficamos com a sensação de que temos um buraco dentro da barriga por onde tudo passa e nada fica. Apenas sinta, perceba e pondere os fatos, os comportamentos, as confianças... essa neblinazinha cor-de-rosa está nos meus póros, na minha pele, nos meus organismos, no meu coração, nos meus pensamentos e sentimentos que são você, e que por isso me faz ser você, e tê-lo como verdade minha. Eu gosto de você independente de sermos loucos, independente de sermos sãos. Eu gosto de você porque você veio para mim e porque você também me chamou. Eu sempre gostarei de você e ficarei ao seu lado toda vez que me chamares... mas por favor, nada de suco de abacate... eu prefiro água mineral. É mais saudável, e hidrata. Uma banda de limão banhada de mel em cima também é bom de chupar... evita gripe.


Katiuscia de Sá
13 de dezembro de 2012
07:58 p.m

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

MINHA PRECE PARA VOCÊ



Minha prece para você
É verbo,
É musica
Minha musica sai das pedras,
Aquelas que desfiguro às madrugadas
Quando de ti lembro sem querer
A me festejar pelos raios do meu quarto.
Minha prece para você é aquele sussurro
Dos sonhos que invadem teus acordados dias
Lambem-nos a pele da praia em maresia.
Minha prece para você
Some de mim e de minhas vistas
Vai morar bem lá no fundo do teu peito.
E quando ela deseja buscá-lo – essa prece
Aninha-se dentro de uma concha perdida na praia
Deixa-me e corre a desfalecer feliz num linóleo azul-turquesa.
Minha prece para você
É aquela que te olha sem deixar-me ver que te desejo
E sei que me olhas desse mesmo modo, por vezes
Quando corro as vistas nos cantos do rosto,
E lá te vejo...
Danças comigo das vezes que esbarramos cortejo.
Minha prece para você vai sendo tecida a todo instante...
Invade... toma-lhe por dentro
Vendaval silencioso da madrugada frienta
Aguardando o sol,
Seus fios de fogo a enlaçar-me de vez!
Estás modelando-me os passos
Para sermos únicos,
Bailarinos um para o outro
E dançarmos para sempre dois.
Minha prece para você
Atravessa o tempo,
Atravessa o espaço,
Atravessa tu’Alma, amor...
Minha prece para você
Chama-se meu nome.
Minha prece para você
Chama-se teu nome.
A minha prece para você
É a nossa dança, amor...


Hellen Katiuscia de Sá
12 de dezembro de 2012
02:09 a.m

domingo, 9 de dezembro de 2012

O Poeta e o Anjo



“Cansado da fome espiritual
Em meio a um deserto triste
Meu caminho fiz,
E um anjo de seis asas veio a mim
Num lugar onde havia uma encruzilhada.
Com dedos leves, como o sono,
Tocou as pupilas de meus olhos
E minhas proféticas pupilas abriram
Como olhos de águia assustada.
Quando seus dedos tocaram meus ouvidos,
Estes se encheram de rugidos e clangores
E ouvi o tremor do céu
E o vôo do anjo da montanha
E animais marinhos nas profundezas
E crescer a videira do vale.
E, então, pressionou-me a boca
E arrancou-me a língua pecadora,
E toda a sua malícia e palavras vãs,
E tomando a língua de uma sábia serpente
Introduziu-a em minha boca gelada
Com sua mão direita encarnada!
Então, com sua espada, abriu meu peito
E arrancou-me o coração fremente,
E no vazio de meu peito colocou
Um pedaço de carvão em chamas.
Fiquei como um cadáver, deitado no deserto,
E ouvi a voz de Deus clamar:
'Levanta profeta, e vê e ouve!
Sê portador da minha vontade
Atravessa terras e mares,
E incendeia o coração dos homens
Com o verbo'."

[Alexander Sergueievitch Puchkin – 1826]

sábado, 8 de dezembro de 2012

Alvorecer


Para meus avós: Benedito Benício de Sá e Raimunda Ferreira de Sá
(in memoriam)


Acho que aos meus doze ou treze anos nos mudamos para uma outra casa. Era mais ampla, de dois andares, e o quintal era bastante vasto, ambas as casas ao lado da nossa estavam demolidas, então os terrenos somavam-se ao da nossa casa. O quintal era um matagal só. Bem ao fundo havia um campinho de futebol, ninguém usava porque o terreno era bem cercado. Mais ao fundo havia um pequenino bosque, com uma arvore velha e medonha bem no centro, com seus cipós escorrendo por entre os galhos, e sua copa cobrindo todo rastro de sol que pudesse alcançar o solo. Na minha imaginação de criança, ali era o meu refúgio, quando meus pais brigavam; eu sumia e me escondia no meio do mato, as picadas de inseto eram menos dolorosas do que vê-los aos berros e se machucando mutuamente.

Adorava meus momentos de solidão. Observava a natureza bem de pertinho; via os insetos voando pelo espaço lutando com os pontinhos de poeira inerentes à natureza... aqueles que flutuam e causam beleza na contra-luz. A disciplina das formigas recolhendo alimentos para as tocas... os gafanhotos, as cigarras agarradas ao tronco da árvore medonha zunindo atraindo a noite... os gafanhotos verdinhos disfarçados de folhas... e os mosquitos me ferrando, aumentando minha alergia.

Gostava de ficar sozinha, olhando o céu de tardinha ouvindo piar um pequeno falcão que voava as redondezas desesperando as galinhas que eram criadas no quintal de casa. Quando uma soltava aqueles ataques galináceos de pavor com seus “pópopopo-ró!” eu já sabia do que se tratava... ia até o quintal e ficava sentada num pedaço de tronco caído, para as galinhas me verem ali e sentirem-se mais seguras. Eu olhava para o alto e via o falcãozinho. Às vezes ele aterrissava bem no alto daquela árvore tenebrosa e ficava. Nunca machucou nenhuma delas.

Uma vez em viagem à Algodoal, meu avô me trouxe de presente uma franguinha. Ela era diferente de todas as galinhas que eu tinha visto. Dei-lhe o nome de ‘Pretinha’. Suas penas eram negras com as pontas brancas, toda sua plumagem era convexa... parecia que Pretinha estava o tempo todo arrepiada. Seus olhos sempre arregalados de um vermelho intenso; parece que nunca piscavam. Pretinha era melhor cão-de-guarda do que qualquer outro animal. Não podia passar nada para o quintal que a bicha voava e estraçalhava. Tinha um temperamento de fera bestial! Apenas comigo Pretinha era mansinha, mansinha. Adorava essa galinha... acho que foi a única que morreu de velha e pelada. As outras minha mãe as matava e cozinhava. Eu não as comia. Tinha febres emocionais, ficava deprimida e chorava semanas com aqueles assassinatos em massa...

Às vezes vôzinho ia nos ver. Ele sempre nos trazia algum mimo. Vovó nunca foi nos visitar devido sua doença que a impossibilitava de andar muitos quilômetros. Era raro meu pai me deixar sair de casa para visitá-la. Sentia-me tão isolada. Foi nesse período que comecei a desenhar, e ficar mais e mais melancólica. Minha alma de artista estava brotando daquelas horas de solidão enfiada no matagal de minha infância.

Gosto de estar só com meus pensamentos. Gosto de mergulhar em mim e lembrar-me dessas coisas que me nutriram a imaginação e a sensibilidade inteligível de penetrar nas coisas e ambientes. Adoro lembrar-me de meus avós; suas presenças são tão fortes em mim até hoje. Meus doze e treze anos foram meu Alvorecer. E aquela casa grande que me deixava esconder de meus pais e me isolar deliberadamente de meu irmão, foi para mim como um casulo.

Às vezes eu também passava as tardes em silencio dependurada na janela do quarto olhando a luz do dia testemunhar a noite que vinha e cobria tudo com seu manto de veludo afogado de sapinhos dizendo uns aos outros: ‘fui... fui... fui’. Ficavam eu e meus periquitinhos australianos à janela, um dos muitos mimos que vôzinho me deu. Parece que ele sabia de minha solidão e sempre me trazia algo para colorir esse abismo. Normalmente eram bichinhos de estimação ou algum brinquedinho para meu irmão e eu brincarmos juntos. Dessa vez foram os periquitos. Eles presos na gaiola, e eu aos meus pensamentos.

Agora parece tudo um sonho longínquo, desses que se lê em romances do século XIX... parece outra garota que não eu, alguém que eu nunca tivesse sido. Apenas uma lembrança para escrever um livro algum dia.

Agora o lago está bem calmo, o vento desliza sobre a superfície e desenha contornos suaves... faz refletir o que a luz deixa ver.


Katiuscia de Sá
08/12/2012
00:10h

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

[VERSINHO IV]


Quero subir aos céus,
Encontrar nuvens e ser passarinho.
Quero dormir dependurada nas folhagens do mato,
Ser orvalho enrolado de madrugada
Folha, galho e vida junto ao ninho...
Quero subir e descer os leitos de rios,
Encontrar o oceano...
Ser um deus marinho.
Desabrochar meu sorriso de criança
Seguir minha felicidade,
E me perder no caminho....


Katiuscia de Sá.
07/12/2012
08:45 p.m.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Educação Somática na Dança

Este é o grupo do Projeto de Pesquisa e Extensão da Escola de Teatro e Dança da UFPA coordenado pelo professor mestre Saulo Silveira, do qual participo como aluna-pesquisadora. Neste blog estão meus registros de diários-de-bordo, e aos poucos, em breve haverá mais postagens das pessoas que compõem o grupo e também mais coisas sobre o projeto. Quem quiser conhecer um pouco mais sobre Educação Somática, pode visitar o blog, são todos bem-vindos!