“o poeta é com efeito coisa leve, santa e alada; só é capaz de criar quando se transforma num indivíduo que a divindade habita e que, perdendo a cabeça, fica inteiramente fora de si mesmo. Sem que essa possessão se produza, nenhum ser humano será capaz de criar ou vaticinar.” [Platão]

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

O Sonho - Madredeus


Composição: Pedro Ayres Magalhães

"Quem contar
Um sonho que sonhou
Não conta tudo o que encontrou,
Contar um sonho é proibido.


Eu sonhei
Um sonho com Amor
E uma janela e uma flor
Uma fonte de água e o meu amigo.


E não havia mais nada...
Só nós, a Luz, e mais nada...
Ali morou o Amor


(Amor),


Amor que trago em segredo
Num sonho que não vou contar
E cada dia é mais sentido.


Amor,
Eu tenho Amor bem escondido
Num sonho que não sei contar
E guardarei sempre comigo..."

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Return to Innocence - ENIGMA

Minha Pátria




Por uma porção de minutos-horas fiquei-me a pensar e a me levar por isso. Respirava Vicente. Era a única resposta para meu comportamento flutuante desde então. Depois que conheci tão enigmática presença impressa na realidade impalpável das coisas, nunca mais meus olhos e sentidos foram-me egoístas. Daí pra diante tudo era de outras cores e paladares, outros ouvidos e cheiros. Estava eu em um mundo distinto – um que ele conhecia melhor do que eu, há minha exata idade – e que por bondosa afeição, permitiu-se invadir. Invadir com consentimento, se sabemos o que isso significa em terras longínquas, terras estrangeiras. Do mesmo estrangeirismo que eu tenho desde que aqui nasci. “Encontramos nossos iguais”, uma voz dizia-nos a todo instante em silenciosa presença de espírito em mim e nele, Amor.

Pisava em chãos nunca antes imaginados por mim, e que agora estavam todos ali, bem a minha frente, como criaturas e perfumes etéreos, ou talvez eram apenas o toque de suas mãos, e pernas...? Deixava-me ir, (até ao Inferno ou Paraíso, caso assim o fosse). Deixava-me ir até o Fim-do-Mundo, se assim ele o desejasse. Era eu apenas divagações de um sonho maravilhoso e poético. Estávamos como ar que se respira um gigante ou um dragão alegre pelos ares, um Fogo de três labaredas, o Coração.

Outra Beleza. Instantânea Beleza que ao passo material enganoso dos olhos apenas ele e eu podíamos alcançar. Era um monte, ou um sorriso infantil, ou mesmo um piar de pássaro. Podia ser eu, ou ele, ou ambos em um ao mesmo tempo... deixava-me ir, porque éramos uma só imaginação fértil – Literatura e Vida.

Disso tudo, o que ainda me mantinha ancorada em terra eram seus olhos sem sono, que eram os mesmos que os meus quando me via em qualquer espelho. Seus olhos nasceram em meu rosto, e meu rosto era o dele agora. Outra beleza. Fina, etérea, indescritível, impensada e intocável. Éramos ambos, outra Beleza inalcançada e enroscada um no corpo do outro... uma alma dentro da outra, Árvore da Vida.

E as palavras, e seja qualquer outro artifício impossível de nos alcançar, apenas ele e eu sabíamos o que éramos juntos, pois Éramos Juntos – universo de livros e fadas. Um assombro de Vida em corações pequeninos e sem corpos de sangue, fora de nós num único pedaço de Vida Cintilante por aí. Outra Beleza... não desse mundo, do mundo dele, em que agora eu habitaria junto daquela respiração que tinha seu nome por Toda Eternidade. Ele era minha Pátria desde sempre, minha respiração e Fogo, Vicente.

Katiuscia DeSá
23 de novembro de 2009

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Espelho




Folhas de inverno seco
Palavras,
Escritos,
Pedacinhos de vidas
Imaginações imaginadas
Cabeças pensam
Vidas vivas
Tua literatura,
A minha...
Espelho.

Pernas de ruas
Pares de beijos
Escritos e grafados
Penas em bico,
Pergaminhos secretos
Tua grafia
E a minha

Sulcos de vento
Neblinas da noite...
[Nossa noite]
Nossas pernas,
Amor
Memória-viva.

Vida grafada em minh’alma
Pernas nuas,
Amor de espelho
Eu
Toda tua...

Um mirante aportou.
Navego em ti,
Nome russo
Franz-fragatas
Amoroso.
Serenidade
Tornei-me tua tripulação,
Arcanjo de sonhos
Delicadeza de vida
Laços de penas no papel
Amor,
Amor,
Amor...
Tua literatura
E a minha
Espelho.


Katiuscia DeSá
19 de novembro de 2009

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

VIDA

(Para meu Amor, vFc)


"(...) realidade total, não fragmentada em esferas separadas, em que o Belo não fosse diferente da Verdade, a emoção do intelecto, o Espírito do corpo, a alegria da dor; em que o Homem sentisse a união com a Totalidade do Ser".
[O AMOR].
Ele sempre falava através da boca dela,
Um Beijo.
Ela sempre falava pela boca dele,
Criatura.
Ambos falavam pela boca um do outro,
Passarinhos.
O mesmo idioma,
O AMOR.


Citação: Grotowski, em "O TEATRO LABORATÓRIO DE JERZY GROTOWSKI / 1959 - 1969"

domingo, 8 de novembro de 2009

Heaven


(Para meu Amor, vFc)


Asfalto preto
Pés descalços
Peles nuas
Noite sem vento
Silêncio no mar...
Uma oração infantil escapara
Do Velho Mundo
Os Címbalos!

Ondas brotam no vazio
Alaúdes
Cem pessoas!
Sem pessoas...

Ambos afundaram em si
Silêncio,
Entrega,
Acordo,
Acordaram!
Flautas.
.
Três gerações em sinfonia única
Vento
A Evolução,
A Revolução...
Estado de Graça!
Paz
Na vontade de encontrá-la
Paz
Na vontade de enregá-la a ti

Os dois versos reunidos
Encontrados sem querer
Escritos ao acaso
E pronunciados por Ninguém
Alaúdes e Flautas,
Címbalos e Vento.

Duas Crianças Azuis.
Uma Branca,
Uma Verde...
Uma Flor rara e espinhenta abrira a boca
Num sorriso eterno de ternura.

Pela primeira vez na Vida
Dissera:
“eu te amo...”
Meu Azul-Anil curou-se hoje

Pela primeira vez gritei:
“eu te amo...”
Címbalos.

Pela primeira vez ouvi nossa voz:
“eu te amo...”
O Vento.

Crianças Azuis, somos quem somos?
Trago-te em meus braços, Menino-de-Asas
Que só tu sabes...
Enfrento o mundo,
Enfrento tudo!
Até eu...
Para protegê-lo!

Sim!
Somos Nós as Crianças Azuis.
Pela primeira vez gritei silêncio:
“eu te amo...”
Um tempo em espera
O diálogo profundo!

(Não fui à feira... não sem ti! Todas as frutas e legumes não têm sabor, se não beberes e comeres comigo. Não. Não fui à feira... Passarei fome e sede como tu. Estarei em retiro espiritual junto contigo... Encerrei-me ontem a noite e mergulhei meus olhos em letras, até voltares e tomares a minha mão...)

Címbalos e Vento,
Alaúdes e Flautas.
Três pessoas + três pessoas
= Duas em suspensão...

Pela primeira vez na Vida gritei:
“eu te amo...”
Címbalos,
Crianças Azuis
Era o som do Vento.

A Flor Laríngea curou-se
“eu te amo...”
Silêncio ecoando
No espaço vazio
Da tua órbita
Planeta Sol do meu peito!

Teu Silêncio,
Tua Paz,
Teu retiro...
Em mim.
Hoje consegui dizer-te:
“eu te amo...”

Nunca esquecerei.
Memória Eterna
Sinfonia de Três Gerações.
“eu te amo...”

És tu, a criatura mais linda que já vi,
Espelho,
Pássaro ao longo voando sobre.
Enfrenta o mundo.
Enfrenta tudo, até eu...
Porque consegui dizer-te:
“eu te amo...”

Estou sempre contigo,
A teu lado,
Numa cadeira de vento
Fora de mim aos Sétimos Dias
Aonde quer que sejas,
“eu te amo...”

Cem Faces,
Sem Faces.
Visão sentida por dentro
Tu em mim
Silêncio e Vazio

Paz
Dentro e Fora
a Oração cotidiana:
“eu te amo...”
Címbalos e Vento
Alaúdes e Flautas

Ela era o Ar
Ele suas Asas a bater
Sempre juntos,
“eu te amo...”


Katiuscia DeSá
Em:
07 de novembro de 2009.



sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Dreams



"Tudo o que vemos ou parecemos
não passa de um sonho dentro de um sonho".



(Edgar Allan Poe)
________________
*Desenho: "HOMEM SENTADO NA CADEIRA"
(lápis 6B e esfuminho)
Hellen Katiuscia de Sá/ 2004

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

"Paisagem Interior"


Música.
Borboletas no estomago.
Mãos frias e suadas.
O coração a mil...

O Amor é um Sol no meu peito,
E carrego na face a beleza do Amor.

És tu que se reflete em mim,
Espelho d'alma.

Amo-te, Vida.
Quero te mostrar o universo de felicidade
Que meu Espírito respira,
E soprar em ti a pureza da vida:
o Amor...



Katiuscia DeSá
04 de novembro de 2009
________________

*Foto: "Love in the morning",

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Volta...



Vem braço de vento...
Tua flor encarquilhada e gasta evapora-se pelo espaço-tempo
Das risadas outras
Apenas um gasto de fio puído
Murmúrio de tristezas
E tristezas

Não há mais olhos para as lágrimas
Nem lágrimas para teus olhos...
O sofrimento arrastou tudo
tal braço de mar!

Meu ente inerte
Dor de cabeça,
Nos braços e nas pernas,
Cadáver vivente...

Nas folhas de um rio “braçador”
E abrasador....
Minhas mãos pálidas e frias
Deitam o sangue que não me respira

Meus olhos doem de saudades


Nada restou
Exceto
ESPERANÇAS...


Outra vez um Sol...



Katiuscia de Sá
03/ 11/ 09
Às 3:34PM
_______________
Desenho: "Pé de Mulher" (lápis B6 e esfuminho)
Hellen Katiusica de Sá

domingo, 1 de novembro de 2009

O Guerreiro Pacífico


do livro A ARTE DA PAZ, traduzido do chinês e adaptado por Philip Dunn. São Paulo: editora Planeta Brasil, 2003.
(fragmentos)


"São cinco os métodos do Guerreiro Pacífico: amor, consciência, vigilância, silêncio e poder. Relaxamento e aceitação dão origem ao amor; amor e presença dão origem à consciência; a consciência dá origem ao silêncio; e o silêncio, à vigilância. Amor, consciência, vigilância e silêncio dão origem ao poder".

"Para que o poder e a força estejam facilmente disponíveis, o guerreiro deve descobrir a vacuidade e a plenitude, consegue isso por meio da consciência e do inesperado (...). A vida é uma jornada, não um lar. Somos todos viajantes empenhados numa busca, e a existência irá oferecer-nos o inesperado sempre que estivermos abertos para absorvê-lo e aprender com ele. Essa é a verdadeira educação".

"Na vida, só há momentos, cada qual diferente do outro. Não há padrão algum, exceto a falta de padrão. A mente tenta fabricar padrões e sempre falha".

"Assim, quando aqueles que vêm têm confiança, é possível conduzí-los adiante. Quando são arrogantes, é possível recomeçar com novas lições. Quando têm sono, é possível acordá-los. Portanto, o guerreiro pacífico esconde-se onde não poderá ser encontrado; desaparece, refugiando-se no último lugar em que esperaríamos que estivesse"

"O guerreiro pacífico sempre se tornará um professor, pois a consciência, uma vez aprendida, deve recompensar a vida, e essa recompenssa à vida assumirá, invariavelmente, a forma de uma doação aos seres insconsciêntes. Não há por que ter orgulho disso. O guerreiro pacífico não sairá em busca de discípulos. Estará disponível, quando os outros estiverem buscando sabedoria"

"Assim, todos aqueles que encontraram a luz interior devem, em virtude da compaixão resultante, trazer luz aos outros da mesma maneira".

"Com o verdadeiro mestre, você terá de trabalhar duro. Às vezes, será doloroso. O verdadeiro mestre trabalha em você como se fosse um escultor, desbastando-o com o cinzel. Irá tirar pedaços e lascas para modificar seus hábitos e dar-lhes nova vida. Num sentido profundamente verdadeiro, o verdadeiro mestre irá matá-lo, pois matará seu ego. Na verdade, ele é a fonte de sua morte, pois somente após a morte temos alguma chance de ressurreição."

"Em geral, para aprender algo a nosso respeito, somamos nossa experiência passada e a sabedoria alheia. (...). Nada é mais difícil do que conhecer a si mesmo. A maior de todas as dificuldades envolvidas no autoconhecimento é a transformação do negativo em positivo (...). Não nos ensinam que devemos primeiro conhecer quem somos e que, se não soubermos quem somos, nada do que conhecermos terá valor".

"Enxergar é apenas questão de claridade - olhos abertos, mente aberta, coração aberto (...) basta permanecer pronto e receptivo (...). A verdadeira visão é nua. Só é possível alcançar quando se está absolutamente nu. [Quando] chegamos de mãos vazias (...)".
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"Se vier com algum conhecimento, já vem corrompido. Se vier com inocência, sabendo que nada sabe, as portas se abrem. Só quem não tem conhecimento algum é capaz de conhecer".
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"O amor não chega automaticamente com o relacionamento. O relacionamento cria o chão no qual você pode amar, mas é preciso ter amor dentro de si. Isso não acontece porque alguém nos diz para amar. Ame primeiro a si mesmo. O resto é consequência".
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"Não tente salvar quem está se afogando. Deixe quem está se debatendo afundar. Você não conhece as necessidades dele. Adapte-se apenas àqueles que nadam em sua direção (...) VOCÊ SÓ PODE DAR AQUILO QUE VOCÊ É".
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"Permaneça no âmbito de seu próprio poder e silêncio. Permita que seu amor fique intacto. Nunca lute contra a corrente. Permita que ela o carregue juntamente com todos que vierem com você".
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"Para uma pequena planta, o mundo todo é uma crise potencial. Há milhares de riscos em volta. Para a semente, não há perigo. A semente está aprisionada, protegida. A semente é resistente e segura, enquanto a planta - tão frágil e delicada, podendo ser destruída com muita facilidade. A flor é mais frágil que a planta - tão frágil quanto um poema. O perfume da flor é ainda mais frágil - em pouco tempo, desaparece. Todo crescimento dá-se em direção ao desconhecido, à fragilidade, ao indefinível. Quando enfrentar uma crise, volte a seu centro - à semente de sua existência. Posicionado ali, será capaz de agir com confiança".