“o poeta é com efeito coisa leve, santa e alada; só é capaz de criar quando se transforma num indivíduo que a divindade habita e que, perdendo a cabeça, fica inteiramente fora de si mesmo. Sem que essa possessão se produza, nenhum ser humano será capaz de criar ou vaticinar.” [Platão]

terça-feira, 25 de agosto de 2009

AMOR...

(Para meu querido Amor, Vicente)

"Amor,
Quantos caminhos até chegar a um beijo,
Que solidão errante até tua companhia!
Seguem os trens sozinhos rodando com a chuva.
Em tal não amanhece ainda a primavera.
Mas tu e eu, amor meu, estamos juntos,
Juntos desde a roupa às raízes,
Juntos de outono,
De água,
De quadris,
Até ser só tu,
Só eu juntos...
Pensar que custou tantas pedras que leva o rio,
A desembocadura da água de Boroa,
Pensar que separados por trens e nações
Tu e eu tínhamos que simplesmente amar-nos com todos confundidos,
Com homens e mulheres,
Com a terra que implanta e educa cravos".

(Pablo Neruda)



"Antes de amar-te, amor,
Nada era meu
Vacilei pelas ruas e as coisas:
Nada contava nem tinha nome:
O mundo era do ar que esperava.
E conheci salões cinzentos,
Túneis habitados pela lua,
Hangares cruéis que se despediam,
Perguntas que insistiam na areia.
Tudo estava vazio, morto e mudo,
Caído, abandonado e decaído,
Tudo era inalienavelmente alheio,
Tudo era dos outros e de ninguém,
Até que tua beleza e tua pobreza
De dádivas encheram o outono".


(Pablo Neruda)

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