
"Amor,
Quantos caminhos até chegar a um beijo,
Que solidão errante até tua companhia!
Seguem os trens sozinhos rodando com a chuva.
Em tal não amanhece ainda a primavera.
Mas tu e eu, amor meu, estamos juntos,
Juntos desde a roupa às raízes,
Juntos de outono,
De água,
De quadris,
Até ser só tu,
Só eu juntos...
Pensar que custou tantas pedras que leva o rio,
A desembocadura da água de Boroa,
Pensar que separados por trens e nações
Tu e eu tínhamos que simplesmente amar-nos com todos confundidos,
Com homens e mulheres,
Com a terra que implanta e educa cravos".
(Pablo Neruda)
Nada era meu
Vacilei pelas ruas e as coisas:
Nada contava nem tinha nome:
O mundo era do ar que esperava.
E conheci salões cinzentos,
Túneis habitados pela lua,
Hangares cruéis que se despediam,
Perguntas que insistiam na areia.
Tudo estava vazio, morto e mudo,
Caído, abandonado e decaído,
Tudo era inalienavelmente alheio,
Tudo era dos outros e de ninguém,
Até que tua beleza e tua pobreza
De dádivas encheram o outono".
(Pablo Neruda)
Nenhum comentário:
Postar um comentário