... então Ave Que Não Se Sabe o Nome desenrolou com seu bico
os papeizinhos encontrados no chão. Alguns, ainda enterrados. Outros meio rasgados;
uns ainda inteiros, porem sem palavras por escrito. Estes em branco – àqueles
sem qualquer indicio de tinta – lamentavam
não terem sido preenchidos por alguma emoção. Sua brancura refletia o som e
luzes das estrelas. Era uma beleza singular e angelical, sem ninguém para ver
ou ouvir tão maravilhosa manifestação de fantasia. Perdia-se tudo na vastidão
do Espaço.
Lentamente Ave Que Não Se Sabe o Nome separava a história destes
pedaços em branco, deixando-os todos muito bem pertinho de si. Pudesse talvez
arrumar um ninho... ainda assim, com as eternas noites pela frente, qualquer
ninho seria desperdiçado.
E cada pedacinho de papel cândido, Ave Que Não Se Sabe o
Nome os colocava cuidadosamente sobre suas penas. Então suas asas ficavam mais fortalecidas.
E no terror das noites, poderia voar bem alto e não absorver a violência dos relâmpagos.
Muitos olhares sobre tudo... tanta vida vivida... tudo tão
abundante e farto... entretanto, nenhuma outra ave à vista...
O voo seguia.
Havia toda liberdade; nenhuma certeza com o que fazer disso.
Vez por outra Ave Que Não Se Sabe o Nome retornava ao chão –
como já fez uma vez mais... – seus pés no solo a transformavam mulher. Mulher muito
linda... tão linda Luz que cegava os olhos – ninguém jamais a viu. Nenhum homem
conseguiu nota-la caminhando nua por entre a multidão. Caminhava de pés
descalços Ave Que Não Se Sabe o Nome... também num silencio profundo, deixando
ouvir o choro e lamentações de todas as pessoas. Uma cantiga que se escutava
dos céus também, mas as estrelas dependuradas no firmamento não podiam
acudi-los... pobres pessoas, tão emaranhadas como cipós.
E o chão amanhecia num Soluço infinito, um quebra-cabeça incolor. Vazio insondável... –
a canção do silencio. Uma consolação esperada... parecia que os céus da Noite
eram mais negros àqueles anjos que se perderam na vastidão, cujos olhos
nublaram... passavam uns pelos outros e nem sabiam disso. Um trafego intenso de
negras aves sobrevoando a terra. Uma terra-alada flutuando pelo Espaço. E por
isso mesmo, quem voava, voava sozinho. Não tinham nem lembranças, estavam escritas
sob os pés de Ave Que Não Se Sabe o Nome, naqueles papeizinhos.
Outra vez, Ave-mulher caminhava nua pela multidão quando foi
vista por uma criança de colo. Esta lhe sorria tão inocentemente querendo abraça-la,
que Ave sentiu até esperanças no coração novamente. Pôde esquecer-se d’algumas mentiras...
outras solidões; desesperos e algo mais...
aqueceu seu peito outra vez.
E quando sua imensidão já ultrapassava as carnes... Ave
retornava aos céus secando suas lágrimas ao vento do bater das asas. Essas
águas de si, faziam nascer forças e esperanças para alcançar mais uma vez quem
sabe, o horizonte abrindo-lhe o alvorecer...
Katiuscia de Sá
14 de junho de 2013
13:25h
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