“(...) a operação
ativa de significação, que definiria a consciência, e o mundo não seria de
significação, que definiria a consciência, e o mundo não seria nada de distinto
da “significação mundo”, e redução fenomenológica seria idealista, no sentido
de um idealismo transcendental que trata o mundo como uma unidade de valor
indiviso entre Paulo e Pedro, na qual suas perspectivas se recobrem, e que faz
a “consciência de Pedro” e a “consciência de Paulo” se comunicarem porque a
percepção do mundo “por Pedro” não é um feito de Pedro, nem a percepção de
mundo “por Paulo” um feito de Paulo, mas em cada um deles um feito de
consciências pré-pessoais cuja comunicação não representa problema, sendo
exigida pela própria definição de consciência, no sentido ou na verdade.
Enquanto sou consciência, quer dizer, enquanto algo tem sentido para mim, não
estou nem aqui nem ali, não sou nem Pedro nem Paulo, não me distingo em nada de
uma “outra” consciência, já que nós somos todos presenças imediatas no mundo e
já que este mundo é por definição único, sendo o sistema das verdades. Um
idealismo transcendental consequente despoja o mundo de sua opacidade e de sua
transcendência. O mundo é aquilo mesmo que nós nos representamos, não como homens
ou como sujeitos empíricos, mas enquanto somos todos uma única luz e enquanto
participamos do Uno sem dividi-lo. A analise reflexiva ignora o problema do
outro assim como o problema do mundo, porque ela faz surgir em mim, com o
primeiro lampejo de consciência, o poder de dirigir-me a uma verdade de direito
universal, e porque sendo o outro também sem lugar e sem corpo, o Alter e o Ego
são um só no mundo verdadeiro, elo dos espíritos. Não existe dificuldade para
se compreender como Eu posso pensar o Outro porque o Eu e, por conseguinte o
Outro não estão presos no tecido dos fenômenos e mais valem do que existem. Não
há nada de escondido atrás destes rostos ou destes gestos, nenhuma paisagem
para mim inacessível, apenas um pouco de
sombra que só existe pela luz”. (MERLEAU-PONTY. 1999, p: 7-8)
Às vezes as pessoas se aproximam de mim e querem tecer conversações
densas, acerca de politica, religião, assuntos polêmicos da atualidade ou
outras conversações de alto aprofundamento teórico ou fundamentalista sobre
alguma coisa... eu até poderia conversar, (e por vezes converso meio sem
vontade) mas o essencial todas elas não alcançam... elas, em nenhum momento, me
‘ouvem’. E não me refiro aos sons articulados que saem da minha boca – os fonemas
que representam os pensamentos que desejo externar enquanto comunicação verbal. Refiro-me a ‘ouvirem’
meu Ser Total, para perceberem se naquele momento eu estou aberta, disponível (ou
não) para conversar. E existem ainda aquelas pessoas que classifico como ‘intrusivas’,
que forçam a barra para que você entre nas suas conversas a todo custo... A
maioria das vezes quando eu chego num local eu estou num estado de consciência bem
interiorizado (em bom português – estou na minha), e fazendo analogia com as
cobras que colocam pra fora suas línguas pra sentirem a temperatura ambiente
para se adequarem a ele, assim também faço (não arregaçando minha língua para
fora, é claro..., seria no mínimo uma cena insólita); faço isso com meus
sentidos mais refinados e procuro entrar em sintonia com o ambiente onde chego,
e gosto de fazê-lo a meu tempo e disposição. Às vezes eu não estou disponível
para o exterior: estou no exterior, mas apenas de corpo presente (digamos
assim), e meu estado mental/espiritual vagueia em outros lugares (dimensões ou estados de consciência);
esse é um pequeno problema de programação de mentes muito criativas: elas não páram
e normalmente flutuam livres por aí. Eu preciso de estimulo tátil pra minha
atenção voltar, tipo: um toque no braço, um carinho na pele juntamente com a
frase proferida de forma amorosa... e utilizando esse simples principio sinestésico,
minha atenção vem para aquele momento (entretanto, dependerá de eu querer ou
não... normalmente sou educada com as pessoas, e converso e depois me fecho
quando assim desejo permanecer); as pessoas são bem-vindas, mas se eu
percebo que estão com má intenção: corto o mal pela raiz na hora... Ademais,
realmente sinto falta de pessoas ao meu redor que conseguem ‘escutar’ umas às
outras, e que respeitam o tempo de conexão individual, ou sua vontade de querer
se conectar e estabelecer contato e interagir de forma mais atuante. No geral os artistas (em especial gente de Artes Cênicas) possuem esse canal sensível mais desenvolvido da 'escuta pessoal', pois são indivíduos mais trabalhados em sua corporeidade (corpo/mente/espírito) e por tanto com esses canais mais desenvolvidos para tal. Não gosto mesmo de gente intrusiva, que
induz o pensamento e ações dos outros. Desse tipo de gente eu me afasto e
geralmente desconfio de suas intenções e índole. Tudo na minha vida
(enfatizando os relacionamentos interpessoais) acontece de forma NATURAL,
ESPONTÂNEA, e sempre conduzo minha vida e relacionamentos através desse principio. Posso até achar alguém
interessante à primeira vista, porém, realmente respeito meu estado
comportamental interior. Já descartei alguns relacionamentos (sem o menor remorso) devido a essa
falta de sensibilidade e, sobretudo, falta de respeito com o outro (no caso eu).
Na minha mente ninguém manda. Sou um ser que pensa, que age e que tem suas próprias
opiniões – sou um Ser no mundo. Hoje conto nos dedos as pessoas que conseguem
(em sua simplicidade e mesmo sem perceber) me ‘escutar’. Esses são os reais
relacionamentos, alicerçados na liberdade e respeito do individuo, isso gera CONFIANÇA.
Há de chegar uma época em que todo mundo saberá ‘ouvir’ o seu próximo e saberá (e
respeitará) seu tempo interior e disponibilidade de conexão. Haverá um período em
que o homem retornará ao seu estado de consciência cósmica e plena, saberá ‘ouvir’
a Natureza, o outro e a si mesmo. Acho tão triste e lamentável essa sociedade
massificada e homogênea, tão veloz e amorfa, que não escuta nada, apenas
despeja, despeja e despeja suas vontades mais imediatas e egoístas em cima dos
outros, como se os outros (e não elas próprias) fossem os responsáveis para
sanar suas angustias, frustrações e ansiedades. Conseguir permanecer no Caminho
do Meio é tarefa árdua, mas pode ser possível na maioria das vezes. E é o que
quero na minha vida. Sou bastante (e põe bastante nisso) etérea, lúdica, quase uma neblina, um ar... um som, mesmo habitando um corpo constituído de matéria densa. Um dia quem sabe, encontro alguém que me compreenda pelo
menos uns 80%, que me possa ‘ouvir’ e me respeitar igualmente. Enquanto isso, o
dia-a-dia é uma construção alucinante e extremamente dinâmica, repleta de
nuances que poucos conseguem observar e reconstitui-la de acordo com sua
verdadeira essência. E tem aquela frase que diz que “à quem muito foi dado,
muito lhe será cobrado”, e por isso mesmo comporto-me de forma condescendente inúmeras
vezes... mas as pistas e ferramentas estão aí em todos os cantos para todos se
desenvolverem também. Um dia as pessoas acordarão e saberão do que falo aqui. Seria
um mundo mais feliz e integral, com indivíduos mais sensíveis e por isso mesmo,
mais responsáveis em seus atos e falas; menos mesquinhas, egoístas e imediatistas. Às vezes
me deprimo, parece que estou só... entretanto, sei que já há muitos com essa consciência
mais desperta e atuante. Mas a maioria ainda precisa acordar. É um passo-a-passo;
e paciência é algo também que precisa ser trabalhado e assimilado com uma
ferramenta de evolução individual e coletiva.
Katiuscia de Sá
20 de junho de 2013
10:27h
*ouvindo como mantra a
belíssima e emocionante musica “Wish You Were Here”, de Pink Floyd
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