Isabelle gostava de caminhar antes do crepúsculo do dia. Saia
de casa sempre às cinco da tarde para seu exercício diário e frequente, quando
não às cinco da manhã, antes de ir para a faculdade. Adorava respirar o ar puro
matutino. As ruas convidativas sem muitos carros e com aquele frio do orvalho
coçando o nariz das folhas e galhos das árvores do parque.
Certa tarde, Isabelle distraída como sempre, ao invés de
pegar seu fone de ouvido, pegou um barbante preto. Sempre desorganizada...,
dessa vez não distinguiu seu material de croché embolado ao seu mp4. Foi caminhar
ao som ambiente. Fazia muito tempo que não se exercitava ouvindo a vida real.
Quando a moça estava na altura do pequeno lago que
circundava o parque da cidade, foi aturdida por um choramingo de criança. Foi ter...
Era uma linda garotinha. Muito ruivinha, com um vestidinho imitando àqueles do
final de 1800 e bolinhas. A criança parecia uma boneca de porcelana de tão
alva.
Ainda com os olhos vermelhos pelas lágrimas corridas, a
menininha ainda soluçava muito quando Isabelle parou defronte dela perguntando
onde estavam seus pais, se ela estava perdida, e qual era seu nome. Todavia, a criança
não respondia a nenhuma das perguntas, deixando Isabelle mais nervosa. Ela
olhava de um lado a outro, à procura de algum guarda municipal; porem nem
sinal. E de tão atenta à criança, Isabelle nem percebeu que já não havia mais ninguém
por perto e que a noite e a neblina apoderavam-se de tudo.
Agachou-se defronte a garotinha na esperança de acalma-la e
conseguir alguma informação. Mas foi em vão. Quando alguns sapos à beira do
lago começaram assobiar festejando a noite que se erguia, foi que a menina
conseguiu dizer algo: “meu nome é Isabelle...”, soluçou com dificuldade a
vozinha infantil.
– Olha só que coincidência, o meu nome também é Isabelle.
Mas me diz, onde estão seus pais? Você está perdida?
Então a outra Isabelle parou de chorar e ficou séria olhando
fixamente para moça agachada à sua frente. Levantou-se e arrumou seu vestidinho
rosa, apontou em direção ao final do lago.
– Ah... seus pais estão para lá? – aturdiu
Isabelle sem muito o quê fazer, senão seguir a criança que já corria naquela
direção.
Ao final do lago, havia uma cerca de arame farpado que
circulava o parque, e nela uma fenda acusando que fora adulterada e esticada,
como se alguém do tamanho da menininha pudesse atravessar por lá. E foi o que a
criança fez, olhando com um sorriso para o rosto de Isabelle.
– Ei, espere... não entre aí. Pode ser perigoso... – Então
Isabelle se aventurou a ir atrás da menina; igualmente atravessou o buraco na
cerca de arame. Assim que Isabelle atravessou, a criança voltou da fenda
segurando umas roupinhas de bonecas. Também pareciam de 1800 e bolinhas... De
repente a neblina no parque ficou mais e mais densa e os sapos à beira do lago
pararam de cantar instantaneamente. Desabou no lugar um silencio tão apavorante.
Quando a neblina foi dispersando um pouco mais, a menininha atravessou
novamente a cerca e saiu de lá com uma boneca de porcelana vestida com as
roupas iguaizinhas da moça Isabelle.
Com um sorriso hipnótico no rosto, a pequena Isabelle trocou
as roupas de sua nova boneca e a batizou de “Isabelle II”, sentou-se à beira do
lago e começou a cantarolar uma canção de ninar enquanto a neblina espessa
apoderava-se do lugar, outra vez instaurando um silencio apavorante.
Katiuscia de Sá
10 de junho de 2013.
16:27H
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