“o poeta é com efeito coisa leve, santa e alada; só é capaz de criar quando se transforma num indivíduo que a divindade habita e que, perdendo a cabeça, fica inteiramente fora de si mesmo. Sem que essa possessão se produza, nenhum ser humano será capaz de criar ou vaticinar.” [Platão]

domingo, 4 de novembro de 2012

Tenha Sinceridade a Ti Mesmo...


Vivo numa velocidade constante... não consigo parar, a queda é algo emocionante para mim. Sinto o vento no rosto, vejo as cores passando, vou sentindo o cheiro das coisas, meus cabelos festejam nos céus... às vezes agarro algo e ele me acompanha até onde dá... na maioria das vezes não me acompanha muito porque não aguenta o vento no rosto. Desiste, como desiste de derramar-se uma lágrima mal tratada pelo calor excessivo.

Sigo em frente, pois não consigo parar... deram-me asas no lugar das pernas. Com elas eu conheço tantos lugares, vejo tantas pessoas, sinto coisas que ninguém imaginaria poder sentir algum dia... é uma bela viagem, mas solitária... algumas vezes eu choro, e essas lágrimas de tão velozes nem ao menos chegam a existir; evaporam-se ao vento.

Nasci já desafiando a morte... sou tão forte que de repente acham que não preciso de colo ou de abraço... sinto amor, um enorme amor que infelizmente não desce ao chão... não haveria ninguém para dialogar com essa loucura infinita que chamam de “Amor”, pois é algo tão imaterial que somente estando ao meu lado para saber como se é... mas minha velocidade não permite.

Por vezes, às lágrimas, pergunto a Deus porque ele lançou um relâmpago na água? Seria talvez, para provocar neblina? Já estou tão nua quanto os desertos deste planeta... mas ainda correm águas nos subterrâneos. Queria encontrar gente veloz que nem eu, ao menos para conversar e sentir nos olhos que somos do mesmo Lugar.

O que me deixa mais triste é compreender as miragens que surgem querendo enganar meu coração delicado. Eu queria ser cega para não enxergar tais coisas, nem sentir nada que me atrapalhasse o voo, mas os céus são Paraísos de pensamento de outras pessoas...

Escrevo minha dor para ela se tornar bela e não me afetar diretamente. Minha carne geme toda vez que preciso pousar e averiguar uma miragem e perceber tratar-se de mais uma fraqueza alheia, um sentimento velado e não exposto da verdade de si mesmo... tantas prisões... e eu aqui tão livre sem ninguém para celebrar.

Porque Deus ilumina apenas umas partes e outras não? Será que tanta luz cegaria o mundo?

Preciso de mim. E aquele amor que julguei ser real um dia me trouxe nas mãos um buquê amarrotado e já envelhecido. Haveria de regá-lo para os botões morrerem a dar passagem para uma Nova Vida. Entretanto, o medo – aquela das piores prisões – sempre vem, e quem poderia voar comigo interrompe o impulso, rasgando suas asas.

Eu só conheço a mim mesma. E para mim sempre falo a verdade seja ela meiga, ou dura.
Mentiroso é quem mente para si mesmo e não para os outros...
Covarde não é aquele que não enfrenta... é aquele que se omite...

Minha escolha é ser livre, nem que eu seja a única... porque enfrentei muitas coisas para chegar aqui; derrotei muitos fantasmas para enxergar e tocar os céus... nada se compara à clareza dos dias, ou a justeza das Horas fora dos eixos... e são essas lágrimas em forma de letras que me deixam Esperança...

Há alguém ai?

Deve haver, certamente...

Meu coração diz que sim, pois a aurora nunca se apaga.


Katiuscia de Sá
04 de novembro de 2012.
21:17h 

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