Vivo numa velocidade constante... não consigo parar, a queda
é algo emocionante para mim. Sinto o vento no rosto, vejo as cores passando,
vou sentindo o cheiro das coisas, meus cabelos festejam nos céus... às vezes
agarro algo e ele me acompanha até onde dá... na maioria das vezes não me
acompanha muito porque não aguenta o vento no rosto. Desiste, como desiste
de derramar-se uma lágrima mal tratada pelo calor excessivo.
Sigo em frente, pois não consigo parar... deram-me asas no
lugar das pernas. Com elas eu conheço tantos lugares, vejo tantas pessoas,
sinto coisas que ninguém imaginaria poder sentir algum dia... é uma bela
viagem, mas solitária... algumas vezes eu choro, e essas lágrimas de tão
velozes nem ao menos chegam a existir; evaporam-se ao vento.
Nasci já desafiando a morte... sou tão forte que de repente
acham que não preciso de colo ou de abraço... sinto amor, um enorme amor que
infelizmente não desce ao chão... não haveria ninguém para dialogar com essa
loucura infinita que chamam de “Amor”, pois é algo tão imaterial que somente
estando ao meu lado para saber como se é... mas minha velocidade não permite.
Por vezes, às lágrimas, pergunto a Deus porque ele lançou um
relâmpago na água? Seria talvez, para provocar neblina? Já estou tão nua quanto
os desertos deste planeta... mas ainda correm águas nos subterrâneos. Queria encontrar
gente veloz que nem eu, ao menos para conversar e sentir nos olhos que somos do
mesmo Lugar.
O que me deixa mais triste é compreender as miragens que
surgem querendo enganar meu coração delicado. Eu queria ser cega para não
enxergar tais coisas, nem sentir nada que me atrapalhasse o voo, mas os céus
são Paraísos de pensamento de outras pessoas...
Escrevo minha dor para ela se tornar bela e não me afetar
diretamente. Minha carne geme toda vez que preciso pousar e averiguar uma
miragem e perceber tratar-se de mais uma fraqueza alheia, um sentimento
velado e não exposto da verdade de si mesmo... tantas prisões... e eu aqui tão
livre sem ninguém para celebrar.
Porque Deus ilumina apenas umas partes e outras não? Será
que tanta luz cegaria o mundo?
Preciso de mim. E aquele amor que julguei ser real um dia me
trouxe nas mãos um buquê amarrotado e já envelhecido. Haveria de regá-lo para
os botões morrerem a dar passagem para uma Nova Vida. Entretanto, o medo –
aquela das piores prisões – sempre vem, e quem poderia voar comigo interrompe o
impulso, rasgando suas asas.
Eu só conheço a mim mesma. E para mim sempre falo a verdade
seja ela meiga, ou dura.
Mentiroso é quem mente para si mesmo e não para os outros...
Mentiroso é quem mente para si mesmo e não para os outros...
Covarde não é aquele que não enfrenta... é aquele que se
omite...
Minha escolha é ser livre, nem que eu seja a única... porque
enfrentei muitas coisas para chegar aqui; derrotei muitos fantasmas para
enxergar e tocar os céus... nada se compara à clareza dos dias, ou a justeza
das Horas fora dos eixos... e são essas lágrimas em forma de letras que me
deixam Esperança...
Há alguém ai?
Deve haver, certamente...
Meu coração diz que sim, pois a aurora nunca se apaga.
Katiuscia de Sá
04 de novembro de 2012.
21:17h
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