Era uma estrada sem chãos... sem largura alguma... sem
margens e também sem inicio ou fim. Era uma figura circular e completa. Tao completa
que faltava o centro. Era oca, e era por lá que tudo vazava... vazavam olhares,
sentimentos, sorrisos e sensações diversas de todo tipo de gente. Às vezes
parecia uma neblinazinha, uma fumaça cor-de-rosa. E era essa fumacinha
cor-de-rosa que chamavam de ‘amor’. Às vezes passava em pencas... às vezes em
saltos... às vezes em sulcos. A onda era tão inflame que cada vez que brotasse
atravessando o oco do circulo, o buraco ia cada vez mais aumentando. E nesse
alargar dos acontecimentos, ele me chegou e tocou naquele assunto novamente...
eu pedi para que não falasse nada disso outra vez, porque me desgastava, me
estressava feito lança no coração a verter sangue... como explicar-lhe que
sentimentos para mim são como líquidos que invadem meus pulmões e me fazem
afogar por vezes? Deveria ter dito algo sobre, mas no momento minha cabeça
ordenava ‘cortar’ o assunto para não me fazer mal novamente, posto que ainda
estou me recuperando... Como explicar-lhe que sentimentos para mim devem ser
leves e suaves (pelo menos os meus são desse modo) e quando alguém denota em
minha direção essas ondas gigantescas de acasos, de vontades reprimidas, de
desejos ocultos pela minha pessoa... isso me é absorvido como se fosse um suco
bem grosso de abacate tentando escorrer canudinho adentro para meu coração, mas
por um canudinho que é feito apenas para passar líquidos finos, ou bem dizer,
apenas água... é por isso que essas ondas de sentimentos volumosos me afligem a
alma e adoecem meu corpo. Não sou preparada para performar grandes demonstrações
de afetos, para pintar escândalos de ciúmes, para esbofetear bate-bocas em
praça publica, para puxar cabelos de baixarias e arranhamentos... Sou bastante
discreta, insipida e inodora, quase catatônica a essas vontades alheias que a
maioria dos homens gosta que as mulheres façam para saberem ‘in loco’, de que
gostamos deles... As falanges de meus sentimentos afetam outros pontos – os sentidos
mais refinados (que nem todos possuem bem sinalizados e dispostos); meus
sentimentos e demonstrações de afetos são muito suaves... quase flocos de neve a
se desfazer antes de tocarem o chão; é preciso calma, sintonia, e tranquilidade
tremenda para formação de confiança; é necessário barricadas e barricadas para
fazer-me sentir tão segura a ponto de me despir o coração e demonstrar com
meu corpo nu o que sinto; e mesmo assim de forma tão poética e espontânea, que
parece um pequeno sonho às vistas do ser amado. É preciso acreditar no acaso
das coisas... é preciso acreditar quando se corta um limão azedo para chupar seu
suco com toda vontade do mundo, sabendo que ele irá curar algum mal... chupar
um limão pode ser tão erótico se derramado mel por cima – cria-se outro sabor e
outro desejo; ás vezes o amor que pedimos ao Universo nos vem, mas é algo que não
esperávamos que fosse desse modo tão frágil e remoto, e ficamos com a sensação
de que temos um buraco dentro da barriga por onde tudo passa e nada fica.
Apenas sinta, perceba e pondere os fatos, os comportamentos, as confianças...
essa neblinazinha cor-de-rosa está nos meus póros, na minha pele, nos meus
organismos, no meu coração, nos meus pensamentos e sentimentos que são você, e
que por isso me faz ser você, e tê-lo como verdade minha. Eu gosto de você independente
de sermos loucos, independente de sermos sãos. Eu gosto de você porque você veio
para mim e porque você também me chamou. Eu sempre gostarei de você e ficarei
ao seu lado toda vez que me chamares... mas por favor, nada de suco de abacate...
eu prefiro água mineral. É mais saudável, e hidrata. Uma banda de limão banhada
de mel em cima também é bom de chupar... evita gripe.
Katiuscia de Sá
13 de dezembro de 2012
07:58 p.m
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