“Cansado da fome espiritual
Em meio a um deserto triste
Meu caminho fiz,
E um anjo de seis asas veio
a mim
Num lugar onde havia uma
encruzilhada.
Com dedos leves, como o sono,
Tocou as pupilas de meus
olhos
E minhas proféticas pupilas
abriram
Como olhos de águia
assustada.
Quando seus dedos tocaram
meus ouvidos,
Estes se encheram de rugidos
e clangores
E ouvi o tremor do céu
E o vôo do anjo da montanha
E animais marinhos nas
profundezas
E crescer a videira do vale.
E, então, pressionou-me a
boca
E arrancou-me a língua
pecadora,
E toda a sua malícia e
palavras vãs,
E tomando a língua de uma sábia
serpente
Introduziu-a em minha boca
gelada
Com sua mão direita
encarnada!
Então, com sua espada, abriu
meu peito
E arrancou-me o coração
fremente,
E no vazio de meu peito
colocou
Um pedaço de carvão em
chamas.
Fiquei como um cadáver,
deitado no deserto,
E ouvi a voz de Deus clamar:
'Levanta profeta, e vê
e ouve!
Sê portador da minha vontade
— Atravessa terras e mares,
E incendeia o coração dos homens
Com o verbo'."
[Alexander Sergueievitch Puchkin
– 1826]
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