Hoje foi um dia muito especial para mim. Após enfrentar uma
viagem de mais de duas horas na estrada, pude assistir as performances de meus
colegas na Escola de Teatro e Dança da UFPA (etdufpa). Era incerto de eu poder
assisti-los, mas como eu acredito que nada é em vão, os planos no meu trabalho
foram mudados em cima da hora e eu pude retornar a Belém em tempo hábil.
Foi muito legal observar várias performances de mão dadas
com o audiovisual (que também é minha paixão). Vi muitas coisas interessantes
executadas pelos alunos da matéria “Performance I”, da Licenciatura Plena em
Teatro/ UFPA, disciplina ministrada pela professora Karine Jansen. A maioria das
performances estava alicerçada em gritar alguma crítica social, o que achei
bastante louvável. Em minha opinião a Arte é um canal para dialogar
poeticamente com a realidade, tornando-se uma ferramenta comunicativa que
atinge esferas mais sofisticadas de compreensão, e portanto, gerando uma abrangência
mais profunda sobre as coisas.
Entretanto, esse não foi exatamente o aspecto especial da
noite de hoje. Ao ser convidada por dois alunos da professora Karine para ajuda-los
em parte de suas performances através de vídeo-arte, eu tive a impressão de que
a vida me ofertava a oportunidade de eu participar de algo dentro do fazer
teatral, da qual estou afastada uns três/quatro anos. Fiquei satisfeita com
este novo ‘chamado do palco’.
E a parte sagrada desse chamado foi eu, de alguma forma,
compreender também uma possibilidade de religação com professora Karine Jansen.
À época de quando fui sua aluna na etdufpa eu era bastante difícil de lidar, um
pouco diferente na maneira de compreender e assimilar as coisas, e ‘sempre arredia’,(palavras
perenes de prof. Walter Bandeira em relação a mim), e muitas vezes respondona
também...
Havia momentos em que eu não queria executar os comandos que
professora Karine me pedia às vezes nos exercícios teatrais... mas eu não fazia
por mal, eu queria experimentar minha maneira de compreensão e execução das
coisas, e minhas atitudes frequentemente eram vistas talvez como arrogantes por
alguns professores (mas na minha cabeça não era isso, nem nunca foi), então
prof. Karine e eu não tínhamos muita sintonia, o que gerava meu afastamento de
suas orientações acadêmicas mais ainda. Normalmente eu queria saber o porquê
das coisas e prof. Karine não sabia como chegar em mim e eu também a essa
altura já não tinha muita paciência...
O que eu achei tão digno e belo – um momento sagrado, e tão espontâneo
durante uma das apresentações de hoje, foi quando o publico tinha de abraçar
alguns dos performers, eu assim o fiz e também disse que queria abraçar a
professora. Mas esse abraço não era relacionado àquele momento, para mim foi
assimilado como um carinho em agradecimento pela paciência e persistência de
professora Karine em relação ao meu aprendizado teatral de anos atrás, e também
uma tentativa dela compreender que eu nunca tive mágoa alguma pelas discussões entre
a gente por conta de alguma passagem de quando ela foi minha professora de Teatro.
Eu senti que ela compreendeu. E o mais emocionante para mim,
foi ao final das apresentações ao me despedir dela, também através de um abraço
fraterno quando lhe segredei aos ouvidos: “Karine, eu quero lhe pedir desculpas
pelas minhas pirraças à época em que fui sua aluna... você é uma excelente
professora...” , eu queria dizer-lhe mais coisas, porém era pouco tempo. Sei que
professora Karine Jansen compreendeu o que eu lhe disse de Alma para Alma.
Então Karine falou em alto e bom som, para todos na sala,
foi divertido perceber que ela tinha um sorriso de satisfação e também surpresa
no rosto: “Katiuscia estava me pedindo desculpas... ela foi uma aluna muito malcriada
da época em que fui sua professora... mas eu nunca desisti”. Eu percebi que ela,
enfim me compreende e eu a ela, e que também conseguimos alcançar um certo grau
de sintonia, respeito e admiração uma com a outra, tudo fluiu com naturalidade e
no tempo certo nesses quase quatro anos de convivência furtiva e insistência dessa professora que nunca
desistiu de mim como sua aluna. Para mim o maior ensinamento que ela me
repassou foi incrivelmente resumido numa frase que ela me disse certa vez em
sala de aula: “o ator deve estar sempre disponível”. A partir dessa frase
aparentemente simples, um sol entrou na minha mente.
E foi com essa felicidade que retornei para casa. Com o coração
leve e alegre por faze-la compreender que sempre a respeitei e que tenho admiração
por essa mulher forte, guerreira que ama sua Arte e entrega-se a ela como sua respiração
que lhe faz viver pelo e para o Teatro. É belíssimo vê-la e sentir isso.
Obrigada por tudo mestra Karine Jansen. Você também me ensinou o significado e
responsabilidade de repassar essa Arte Secreta do ator para gerações vindouras.
Agora está bem claro essa disponibilidade perceptiva, eu poderia ler todos os
livros do mundo sobre teatro, mas certamente nunca compreenderia este segredo como
deveria.
Katiuscia de Sá
14 de novembro de 2012
23:49h
*no meu conto em formato de Diário-de-Bordo, eu faço referencia à professora Karine como a personagem "Generalzinho de Botas":
ResponderExcluirhttp://hellenkatiuscia.blogspot.com.br/2010/04/presente-o-olho-direito-de-horus.html