“o poeta é com efeito coisa leve, santa e alada; só é capaz de criar quando se transforma num indivíduo que a divindade habita e que, perdendo a cabeça, fica inteiramente fora de si mesmo. Sem que essa possessão se produza, nenhum ser humano será capaz de criar ou vaticinar.” [Platão]

quarta-feira, 6 de abril de 2011

NOVA GERAÇÃO DE ATORES EM CENA

*Katiuscia de Sá




A liberdade inventiva do ator-criador no processo colaborativo da cena esteve sempre presente na vida dos atores Dandara Baldez, Roberta Rox e Heyder Moura. Com iniciações distintas, estes artistas da cena manifestaram cedo seu interesse em fazer teatro. Atualmente trabalham juntos no UÓ Coletivo de Artes, no hibrido espetáculo “Quinto Quarto à Direita”, com estréia marcada para este sete de abril no teatro Gamboa Nova, em Salvador.



Dandara Baldez

A atriz maranhense Dandara Baldez já aos nove anos de idade freqüentava um curso de iniciação teatral em sua cidade natal (São Luís) e desde então não parou mais. Investiu em dança e canto, além de ter nas mulheres de sua família o dom inato para a costura, e desse dom foi um passo para tornar-se apta e competente figurinista. Já em Brasília tomou parte de um coletivo onde os atores culminavam seus trabalhos utilizando o processo colaborativo na cena. Uma de suas primeiras experiências com esse fazer teatral irrompeu no espetáculo cênico “Becktt às Avessas”, onde os laboratórios de criação coletivos, experiências colaborativas e leituras em grupo administravam o surgir do espetáculo, estabelecendo e fortalecendo a autonomia do artista como interprete e criador da própria cena. Dandara conclui este ano sua graduação Licenciatura em Dança pela UFBA.



Roberta Rox


A goiana Roberta Rox despertou sua vontade de fazer teatro também muito cedo, aos doze anos de idade após assistir uma apresentação cênica, por iniciativa própria, matriculou-se num curso de iniciação teatral. Levou tão a sério que cursou faculdade de Artes Cênicas, e nessa época seu talento alargou-se, promovendo seu interesse por instrumentos de percussão, o que a ajudou a desenvolver um diálogo maior entre música e encenação, o que atualmente vem desenvolvendo em seus trabalhos teatrais, buscando uma linguagem própria e autonomia de concepção.



Heyder Moura

A paixão por filmes e o gosto por peças teatrais foi tão forte ao ponto de Heyder Moura desenvolver na infancia a vontade de se tornar ator profissional. Embora resistisse um pouco, devido à inibição, o paraense Heyder Moura superou a timidez e aos dezesseis anos de idade subiu aos palcos, e em 2012 completará dez anos de profissão. E nesses anos descobriu vários fazeres; experimentou desde a concepção cênica usual onde a figura de um diretor dita o desenrolar do trabalho; desde processos colaborativos de experimentação, tema de seu TCC na graduação de Artes Cênicas, que cursa atualmente na UFBA.

Esse ponto em comum fez com que os três amigos abraçassem a responsabilidade de montar o espetáculo hibrido “Quinto Quarto à Direita”, que na verdade trata-se da continuidade de um processo investigativo onde Dandara Baldez já vem desenvolvendo há algum tempo conjuntamente com outros colaboradores num espetáculo de dança, que originalmente foi mostrado em 2009 no teatro do movimento da Escola de Dança da UFBA. E das apresentações anteriores até a atual, devido ao próprio caráter de experimentação, o trabalho vem sofrendo intervenções e desdobramentos. Será a primeira vez que o espetáculo será mostrado na integra no interior e um teatro.

“Quinto Quarto à Direita” mescla música, performance, multimídia, teatro do movimento e formas animadas. Para este espetáculo os participantes imergiram no universo dos cabarés franceses do século dezenove; percorrendo sua forma; influências; modificações conceituais, visuais e de gestos; e como isso dialogou ao longo das décadas chegando até regiões brasileiras. Para tanto o grupo pesquisou bastante sobre o foco-inspiração da peça, dando-lhe releituras iconográficas e poéticas.

Com tantas informações e funções, os atores-criadores sentem os prós e os contras de evoluírem no processo colaborativo, como ressalta Dandara “a direção geral é a paciência coletiva”, pois sem a figura central de um diretor, todos acabam assimilando para si esta função, bem como a dramaturgia, iluminação e outros; gerando, às vezes, pequenos estresses nos participantes.

Uma das estratégias de funcionamento do grupo fica por conta em traçar emergências como resultados visíveis dentro da dramaturgia que é pensada e logo executada, ressaltando o caráter experimental da obra. As discussões também endossam a liberdade de diálogo. Contudo, “pelo fato de sermos amigos, às vezes essa linha de responsabilidade fica prejudicada devido a posturas pessoais”, desabafa Heyder Moura. Mas é incontestável que esse conviver aberto gera mais possibilidades e ganhos coletivos; decorrendo o amadurecimento do próprio profissional em relação ao seu trabalho de ator e de grupo.

Basicamente a diferença de um resultado final proveniente de um processo criativo, de um processo colaborativo, estabelece-se justamente pelo caráter não fixo do componente. O ator-criador não “pertence” ao grupo, ele se identifica com o trabalho e de livre e espontânea vontade decide colaborar com o processo, dialogando e propondo de igual para igual com os demais componentes estratégias para o surgimento da obra artística. O processo criativo apenas delimita o formato e grupo.

Particularmente como atriz, eu me identifico mais com o trabalho colaborativo, devido à natureza não possessiva que geralmente norteia os grupos teatrais que ainda adotam a estrutura clássica. Sinto-me com total liberdade criativa para participar de outros trabalhos em paralelo, característica que também acontece com os atores da UÓ Coletivo de Artes. Todos passeiam por outros grupos harmoniosamente, sem perder a qualidade de seus trabalhos.

SERVIÇO:

“QUINTO QUARTO À DIREITA”

DIA: 07 de abril/ 2011

HORA: 20:00h

LOCAL: Teatro Gamboa Nova, Salvador/BA.

*ingressos no local.

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*Katiuscia de Sá é jornalista, atriz, artista plástica, escritora, cineasta e crítica de arte.
















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