“o poeta é com efeito coisa leve, santa e alada; só é capaz de criar quando se transforma num indivíduo que a divindade habita e que, perdendo a cabeça, fica inteiramente fora de si mesmo. Sem que essa possessão se produza, nenhum ser humano será capaz de criar ou vaticinar.” [Platão]

terça-feira, 16 de julho de 2013

Terceiro Ato – manifestação 16/07/2013



Aconteceu na manhã desta terça-feira mais um ATO PÚBLICO de cunho pacifico e reivindicatório, com a adesão de mais de cem pessoas: muitos produtores culturais e artistas paraenses de variados segmentos (dança, cinema, artes plásticas, teatro, folclore, etc) que juntaram forças para exigir a implementação de uma POLÍTICA CULTURAL que seja oferecida pelo governo estado do Pará que contemple as variadas manifestações culturais existentes hoje na grande Belém e no interior, posto que ao longo dos anos corridos, os editais de fomento à Cultura, promovidos pela Secult, apenas beneficiam poucos. A marcha dos artistas é pela DEMOCRATIZAÇÃO dos editais e também para chamar atenção da sociedade de que o artista é um trabalhador como outro qualquer, e por isso requer respeito e  também a remuneração adequada para a classe. Ser Artista não é diversão, passatempo ou distração como normalmente a sociedade e os chefes de estado nos veem; o Artista exerce uma função crucial para a formação cultural e de identidade de uma localidade e/ou sociedade/povo. Nas falas dos artistas ficou óbvio que Cultura e Educação devem andar lado a lado, e para tanto além da oferta de editais mais democráticos, há também de se atentar para politicas eficazes para facilitar o acesso à Cultura para os cidadãos paraenses.



Matéria na TV



















A seguir a carta que foi lida à porta da Secult endereçada ao atual Secretário de Cultura do Estado:


Carta De Demissão Simbólica Do Secretário De Estado Da Cultura Do Pará

“Senhor Paulo Chaves Fernandes:

Nós, artistas, técnicos e produtores culturais, representando neste momento os mais diversos segmentos e expressões da arte da cultura paraense, informamos que o senhor está demitido do cargo que ocupa há quase duas décadas.

Como é direito de todo e qualquer servidor público demitido, esclarecemos nesta carta os motivos de nossa decisão, de caráter sumário e irrevogável: saiba que o senhor está sendo mandado para a rua a bem do serviço público, por justa causa, pelas seguintes condutas:

- ter permanecido por quase vinte anos à frente da secretaria sem nunca democratizar o acesso à arte e à cultura de forma minimamente satisfatória para todo o território paraense;


- jamais ter descido de seu pedestal de arrogância e autoritarismo, o que sempre impediu um diálogo verdadeiro e necessário com os artistas e produtores culturais do estado;

- realizar sistematicamente uma política irresponsável de eventos dispendiosos e excludentes, que não deixam nada de concreto e ainda por cima relegam outros segmentos ao abandono;

dentre outras tantos desmandos.


Paulo Chaves, o senhor certamente já mostrou faz tempo que de arte e cultura não entende mesmo é nada, com seus projetos megalomaníacos e personalistas! 

Como diz o poeta, suas ideias não correspondem aos fatos. Lamentamos, mas não temos piedade de sua gestão, careta e covarde.


Aproveite a oportunidade desta demissão e pegue sua arrogância elitista, sua política de balcão e sua total insensibilidade para compreender a grandeza de uma verdadeira política pública e democrática para a cultura, e sai pela porta dos fundos, de cabeça baixa e com muita vergonha.

Pelo menos uma vez, tenha um mínimo de dignidade! Escute este clamor coletivo, e deixe o caminho livre, para que possamos buscar um novo tempo, pautado pela democratização da produção e acesso aos bens culturais, a serem conquistadas com ampla participação de artistas, produtores, gestores públicos e todos os demais segmentos da sociedade civil. E cuja existência.

Não dependa de qualquer governo. é hora da mudança! por isso, gritamos, todos juntos, a uma só voz: fora Paulo Chaves!

Chega!!!”


*Texto do jornalista Lúcio Flavio Pinto, publicado no Jornal Pessoal de 17/07/2013, Belém:

Ópera e Terruá: cultura é isso?


"Um grupo de artistas brasileiros realizou um ato de inédita audácia, no dia 9, ao ocupar o palco do teatro Margarida Schivasappa, que pertence ao governo do Estado, e fazer a leitura de um manifesto contra a política cultural que sustenta espetáculo como aquele que os manifestantes estavam interrompendo, o Terruá Pará. E a contrafação da mesma política, o festival de ópera, que, na sua última edição, custou 1,7 milhão de reais aos cofres públicos.

O objetivo desse primeiro movimento, de uma ofensiva que pretende emendar outros atos, é democratizar a ação do governo na área cultural, quebrando monopólios e práticas viciadas que excluem parcela considerável dos artistas e produtores culturais, como os que participaram da manifestação.

A iniciativa é positiva como ponto de partida para romper a mecânica criada pela Secretaria de Cultura do Estado, comandada com mão de ferro pelo arquiteto Paulo Chaves Fernandes, brilhante e competente no que faz, mas autocrata nas suas ações. Os manifestantes, através do ator Alberto Silva Neto, que leu o texto do manifesto, expuseram seu ponto de vista sobre essas práticas viciadas. O que estava nos bastidores e camarins chegou à plena luz dos palcos (embora tenha havido a tentativa dos administradores do teatro de apagá-las, barrada pelo protesto uníssono dos presentes).

A começar pelas leis de incentivo ao patrocínio cultural. A inspiração defeituosa e a gestão incorreta permitem que os detentores de imposto a pagar, que o deduzem para apoiar as manifestações culturais, imponham que parte dos recursos volte aos seus bolsos, de forma ilegal e clandestina, além de imoral. É a condição que impõem para fazer a destinação dos recursos. O Estado tem sido um péssimo gestor da renúncia fiscal, permitindo vazamentos e desvios, aos quais acaba se curvando a parte mais fraca da relação: os próprios artistas e os promotores culturais.

Ele próprio, como aplicador direto, não é o governo mais eficiente, muito pelo contrário. Apoiar a ópera, por exemplo, pode ser extremamente proveitoso e salutar se a ação cuidar da formação de público, da revelação e desenvolvimento de talentos operísticos locais, de apoio a grupos que praticam esse gênero artístico entre nós.
Mas gastar pesado em festivais anuais, intensos e efêmeros, só favorece aqueles que estão em condições de apreciar a qualidade do espetáculo. Gasta-se um dinheiro incompatível com as condições do Estado para algo que se esfuma numa não sacramentada quarta-feira de cinzas. Exceto para os que receberam os cachês, selecionados por uma única fonte organizadora, e aqueles que desfrutaram do espetáculo de camarote.

O Pará da borracha teve suas óperas. Mas eram tão boas e artificiais que quando a hévea brasiliense perdeu a primazia para as novas zonas produtoras asiáticas, o que ficou daquela suntuosidade? Uma ópera de fundo de quintal, de cuja mediocridade geral apenas um ou outro produto podia se destacar. Da mesma maneira como foi armado, o cenário empolgante foi desfeito. Não havia cultura enraizada para dar prosseguimento. Como agora também ocorre, no Pará da mineração, tão extrativista quanto antes.

Quanto ao Terruá, é mais uma ação entre amigos. Amigos “do sul” são trazidos para dar orientação e apoio técnico na terrinha colonial e abrir as portas na metrópole central para os amigos artistas do Pará tecnobrega e carimbolesco, a cachês apetitosos. É um circuito fechado, acessível apenas aos que puderam receber a água benta da Secult para entrar nos templos laicos da cultura sancionada.

Os artistas que começaram o movimento do protesto podem não ter razão, ou toda a razão. Mas para que ela seja um produto aceito e reconhecido, é preciso que sejam ouvidos e o debate se torne realmente livre e democrático. É o que não temos no nosso Pará das excelências divinizadas, como diria, talvez, o velho Mário de Andrade."



*Leia também a manchete do link abaixo:

Artistas levam manifestação para ruas de Belém



[Jornal "Diário do Pará" - 19/07/2013]

Artistas de vários segmentos da cultura local reuniram-se ontem, em frente ao Theatro da Paz, em assembleia aberta para traçar os próximos atos do “Movimento Chega!”, que pede a saída do secretário de estado de Cultura, Paulo Chaves. “O Theatro da Paz é um símbolo do elefante branco que é como estão tratando a cultura”, compara o cineasta Adriano Barroso.


Estabelecer ações e frentes de trabalho como articulação, assessoria de imprensa e investigação de documentos dos investimentos na cultura também compõem a pauta do movimento que luta por melhor e mais democrática distribuição dos recursos para a área. A assembleia aberta foi definida durante o ato da última terça- feira (16), na Secretaria de Estado de Cultura (Secult).

ARTISTA LOCAL
Os manifestantes acusam o titular da Secult de privilegiar eventos culturais que não valorizam e reconhecem o artista local. “Tem muitos projetos engavetados que a gente não consegue ter acesso ou apoio algum”, reclama o presidente da Federação Municipal de Quadrilhas de Belém (Femuq), Maurício de Nassau.
“A primeira pauta é a saída do Paulo Chaves, que representa todo o retrocesso que a cultura tem vivido esse tempo todo. Ele está há 20 anos no poder e não dialoga com a classe artística”, explica Barroso, do “Movimento Chega!”.

Ontem à noite a reportagem procurou a assessoria de imprensa da Secult, mas foi informada que quem está respondendo pelo caso é o secretário especial de Promoção Social do Pará, Alex Fiúza de Melo. A assessoria, por não ter o contato de Fiúza, pediu que usássemos o posicionamento publicado na edição de ontem do caderno Você, do DIÁRIO.

Na entrevista, o secretário especial de Promoção Social do Pará, que está atuando como interlocutor, afirmou que está aberto ao diálogo. Os integrantes do “Movimento Chega!”, entretanto, dizem desconhecer Fiúza como interlocutor de discurso e antecipam que só conversarão com o Governo do Estado depois da saída de Chaves.





[nota no Repórter Diário/
Jornal "Diário do Pará"  - 19/07/2013]





Durante décadas a classe artística de Belém

 luta pela democratização da Cultura:



Nenhum comentário:

Postar um comentário