“o poeta é com efeito coisa leve, santa e alada; só é capaz de criar quando se transforma num indivíduo que a divindade habita e que, perdendo a cabeça, fica inteiramente fora de si mesmo. Sem que essa possessão se produza, nenhum ser humano será capaz de criar ou vaticinar.” [Platão]

quinta-feira, 4 de julho de 2013

A Fita Branca


Outro dia estava eu a conversar com um amigo. E foi realmente uma palestra bastante dinâmica e muito produtiva, e dela teci umas opiniões acerca de uma fatia especifica sobre relacionamento interpessoal; acrescidas a estes pensamentos, agreguei minhas observações do comportamento humano – o trivial que absorvo das pessoas que transitam meu cotidiano. Às vezes nem quero mesmo absorver nada dos indivíduos, entretanto, já é algo tão natural e completamente espontâneo, como respirar... acho que na barriga de minha mãe biológica eu já observava até o liquido amniótico...

Acredito muito que se pode aprender a viver a vida de forma mais inteligente e equilibrada, sem ter que necessariamente ‘quebrar a cara’ e sofrer para se aprender algo... a observação e prudência ainda podem ser as melhores ferramentas de aprendizagem quando o assunto envolve sentimentos e tomadas de decisão.

Relacionamento interpessoal é algo que estamos expostos desde que nascemos. O Homem é um ser social justamente pela necessidade de sobrevivência e desenvolvimento. Atualmente as necessidades emocionais básicas estão sob alcunhas mais sofisticadas e modernizadas, contudo, ainda são os mesmos instintos de nossos ancestrais da Idade da Pedra Lascada que nos movem; instintos atualmente camuflados de presentinhos embalados em papeis laminados e bombons de chocolate.

Há muito tempo mesmo eu enumerei uma serie de comportamentos padrões nos homens, quando o assunto é conquista/namoro. Por delicadeza da ética não os comentarei neste texto, mas é algo que me incomoda quando se inicia um flerte em minha direção. Confesso que eu nem me empolgo ou me interesso. Nessas situações ficam cada vez mais transparentes as intensões masculinas para mim, então fecho os olhos para tais investidas e concentro meu foco de atenção noutra coisa mais produtiva para meu desenvolvimento intelectual, atitude sabiamente adotada também para evitar me aborrecer.

A maioria dos homens tem medo de expor seus sentimentos e intensões claramente num relacionamento Homem x Mulher, (claro que a sociedade ocidental secular contribuiu para esta fossificação emocional masculina, que a contra ponto também contamina o sexo oposto; pois isto obrigou as fêmeas aprender a se comunicar com esses códigos desgastados, impondo-as também entrarem no ‘jogo’). E é justamente esse ‘joguinho’ da conquista e sedução que eu realmente acho carta fora do baralho... é um desinteresse estratosférico de minha parte. Já elimino qualquer tipo de aproximação quando percebo que será perda de tempo. Pois cada vez mais percebo que a verdade das pessoas se revela nos detalhes de comportamentos quase imperceptíveis, ou seja, nos momentos de extrema naturalidade, onde a espontaneidade mostra tanto sobre o caráter, quanto as intensões das pessoas diante da vida; e por isso eu aguardo muito e absorvo o máximo possível dessas percepções sutis, até resolver estabelecer um contato mais profundo.

Há um pensamento oriental que resume esse meu excesso de zelo enquanto assunto relacionado à abertura e exposição de meu coração. Tentarei com minhas próprias palavras: a Prudência é comparável a um animalzinho muito raro e pequenino na Natureza Humana (que nem um Uirapuru na floresta – acrescentando um toque amazônico na estória), e por isso mesmo capaz de esconder-se em qualquer lugar para espreitar em volta, ele é o guardião das atitudes; pois dentro de cada sujeito há algo valiosíssimo e que a qualquer arranhão ou queda, pode perder sua divindade e inocência. Esse Bem deve ser guardado com o máximo cuidado, para ser oferecido em momento certo em sua completude, àquele que dele merecer.

Estava eu a comentar com esse mesmo amigo outro dia, eu percebo que a maioria dos homens têm pavor, mas pavor mesmo de mulher inteligente. E isso vem dos tempos remotos, algo do instinto mesmo.  Da época em que, devido à seleção natural de sobrevivência na selva, os machos dos clãs eram os responsáveis por abastecer o grupo, enquanto as mulheres mantinham o papel de cuidar da prole e da manutenção social mais imediata. E assim caminhou a humanidade, maquiando esses instintos sofisticando-os até os dias atuais. Mas quando chega a hora do ‘flerte’... lá vêm, lá vêm os homens das cavernas... autoritários, machistas, manipuladores, imediatistas, egoístas. O ruim nem é isso, o ruim é que eles vão piorando com o passar do tempo. E a massa de mulheres não tem muita alternativa senão, também dissimular. Vive-se uma simulação de vontades veladas, e isso mina os relacionamentos que compõem a sociedade moderna. Simulam-se vontades, simulam-se palavras, simulam-se sentimentos... e por aí vai. A gravidade maior é essa enorme construção humana apoiada em mentiras sociais. Isso é bem grave.

Homens, em sua grande maioria, a partir dos cinquenta anos em diante, dificilmente se transformam, contribuindo para permanecer estacionado a evolução emocional da raça. Quando procuram outra parceira comumente estabelecem comparações com a parceira anterior, fazendo com que realmente não se estabeleça abertura para se conhecer o diferente. Esses homens mostram-se ainda mais autoritários, impondo à mulher pretendida, seus gostos e fases de humor, como se ela tivesse obrigação de se moldar a isso, tornando-se cópia da companheira anterior do cara. A escuta sutil nesse sentido, fica altamente prejudicada.

Quando se conhece alguém que despertou interesse, o importante mesmo é absorvê-la; cultivar boa vontade para conhecê-la de fato: seus gostos, sua maneira de ser e de se expressar, etc... e não impor logo nossas referencias de mundo e/ou de pessoas que foram nossos ex-parceiros; pois trata-se de alguém diferente contendo outro universo que pode-nos acrescentar e ajudar em nossa caminhada. É preciso desprendimento e vontade para querer conhecer alguém de fato, sem fazer julgamentos; ‘escutar’, ‘absorver’ para evitar enganos futuros, evitar mágoas desnecessárias na trajetória evolutiva individual. Pois é verdade mesmo a mensagem poética contida na frase de Kahlil Gibran: “Cada pessoa que passa em nossa vida, passa sozinha, pois cada pessoa é única e nenhuma substitui a outra. Cada pessoa que passa em nossa vida, passa sozinha, mas quando parte, nunca vai só nem nos deixa a sós. Leva um pouco de nós, deixa um pouco de si mesmo. Há os que levam muito, mas há os que não levam nada”.

Ainda há mais para discorrer sobre esse assunto, entretanto confesso mesmo que me sinto deveras desestimulada a comentar, pelo desencanto já estabelecido... E quando aprendemos a domar o ímpeto da Natureza Interna e Externa – os corcéis: o Branco e o Negro, podemos sim escolher o que nos será acrescido na Alma. Podemos sim planejar o que carregar em nossa bagagem para nos deixar a viagem mais leve e agradável. É questão de saber escolher. Eu desejo o que é Belo, Puro e Verdadeiro, seja qual for sua aparência. Como diria esse meu amigo da conversa de outro dia: “nem tudo que encanta os olhos, encanta as estrelas e o Universo”.



Katiuscia de Sá
04 de julho de 2013
Às: 13:08h

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