“o poeta é com efeito coisa leve, santa e alada; só é capaz de criar quando se transforma num indivíduo que a divindade habita e que, perdendo a cabeça, fica inteiramente fora de si mesmo. Sem que essa possessão se produza, nenhum ser humano será capaz de criar ou vaticinar.” [Platão]

sábado, 6 de julho de 2013

O Anjo que gosta de ouvir estórias


Eu realmente fico analisando todas as vezes que inicio um escrito de cunho ficcional, o quanto meu processo criativo literário é desgastante pra mim. Eu sempre entro em depressão profunda nesses períodos. Por vezes, tenho até febres emocionais (como eu sempre as tive desde criança), juntamente com crises de asma, que no meu caso, são agravadas por conta das minhas oscilações de humor nesse período criativo. Cada vez que eu fico triste ou muito tensa, preocupada... minhas crises de asma vêm com todo seu esplendor a me abraçar os pulmões e os pensamentos.

Todas as vezes em que um conto, ou um romance quer se manifestar através de mim, meu estado emocional já está deveras debilitado. Sempre fico muitíssimo deprimida... às vezes até choro motivada por uma dor profunda n’Alma. Bate um sentimento de isolamento tão grande, algo como uma solidão sem fim... uma saudade de algo, que não sei explicar. Isso é horrível demais! Sinto-me muito triste. Minha sensibilidade dilata-se ao extremo, e qualquer coisinha me comove o Espirito, e eu me isolo dentro de mim mais do que o habitual. Hoje por exemplo, durante minhas tarefas matutinas, veio-me o enredo para iniciar um romance em estilo de Realismo Fantástico. Primeiro chegaram-me os nomes das personagens, o que fazem, quais seus dilemas, como reagem, sua personalidade, etc... e a cada personagem que aparece, imediatamente vem junto como sua estória pessoal se relaciona com o personagem que já me foi revelado, tudo sem esforço algum.

Hoje, durante o dia todo (e até o presente momento), estão vindo esses seres para eu escrever sobre suas vidas e suas estórias. É um afã criativo tão forte que eu não tenho outra opção, senão fazer notas ou dependendo do caso, partir direto para o computador e escrever. Normalmente não retomo minha Paz interior enquanto não liquido o assunto, e tais personagens e seus dramas ficam a me perseguir o pensamento como se eu fosse uma porta pela qual toda essa gente precisasse atravessar.

É um processo criativo muito abundante, pois a qualquer estimulo minha mente já está lá: imaginando, criando, interligando e inventando. Há vezes em que eu simplesmente sonho e vivencio a estória como uma das personagens, ou como se eu fosse um anjo que flutua e olha os acontecimentos de cima, onde minha mente e emoções ficam interligados com as das personagens no decorrer dos acontecimentos da trama que assisto. É meio maluco isso, mas comigo acontece desse modo também. Ou quando não, um simples som (musica, som ambiente, etc) pode desencadear um livro inteiro repleto de acontecimentos dentro da minha cabeça.

No geral eu perco muitos insights, por eu não os anotar ou não ter muito interesse em desenvolvê-los; outras vezes a estória vem pronta na minha cabeça como um relâmpago de compreensão com seu início/meio/fim, com todos os personagens de uma vez só; em outras ocasiões me vem por partes e ficam flutuando na memoria até o dia de eu os escrever, algo como um quebra-cabeça cujas peças se encaixam durante o momento em que redijo as estórias... Esse processo de criação já tem mais de doze anos, assim de modo mais lucido e consciente pra mim, entretanto até hoje ainda me espanto.

Sempre me surpreendo quando eu pego para reler algo que escrevi, por exemplo, de cinco ou dois anos atrás. Fico muito impressionada com as estórias e igualmente emocionada, pois por incrível que pareça na maioria delas há relatos de acontecimentos e/ou gente de meu cotidiano presente ou do passado que vivi em algum momento de minha vida. E pela liberdade poética (e na maioria fantástica), posso estar utilizando como enredo criativo. Alias, além dessas inspirações espontâneas de criação; há também muita, muita coisa mesmo, que vêm direto das observações do meu dia-a-dia; coisas que amigos falam durante conversas, (que eu acho legal e guardo na memoria), coisas que ouço de estranhos na rua (conversas incidentes e/ou paralelas...), coisas que observo, enfim, é um oceano infinito (eu diria) de terreno fértil para criação literária preferencialmente, quanto para textos dramatúrgicos ou roteiros para cinema.

Engraçado também, é que quase a minha vida toda eu tive gatos de estimação, e eles sempre ficam mais próximos de mim quando estou nesses momentos de criação-literária-depressiva. Lucy (minha gata de estimação atual) é a primeira a me alertar, quando me ronda e me faz carinho... parece que Lucy pressente que irei precisar de seu carinho e companhia durante esses dias de inverno de letras.

Entretanto, o que me incomoda mais, e me deixa esgotada emocionalmente afetando como uma hecatombe meu psicofísico, é essa depressão, esse baixo astral, essa tristeza, essa nostalgia de algo que não sei explicar... parece que vem um ‘Anjo Literário’ e pousa sobre mim, e chora no meu ombro pedindo carinho, e através de suas lágrimas invisíveis eu sinto vontade de lhe contar estórias para ele parar de chorar, ficar bem, e ir embora de perto de mim; pois sempre me sinto melhor dos humores depois que termino de escrever. E essa tristeza toda some como se nunca tivesse me abatido.

Quando eu era criança eu tinha esses momentos, mas ainda não sabia que escrevendo eu podia melhorar e seguir adiante. Às vezes eu me isolava e ficava horas a fio, apenas imaginando as estórias que vinham na minha cabeça; às vezes eu pegava meus brinquedos e as vivenciava através deles, e extravasava. Contudo, foi na fase adulta quando eu resolvi escrever tudo, que melhorei e aprendi a perceber quando esse ‘Anjo Literário’ me chega para eu lhe contar estórias... e por esses dias estarei lhe contando mais uma.


Katiuscia de Sá
06 de Julho de 2013
Às 23:13h

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