Para meus avós, com
muito amor. (in memoriam).
Quando criança, entre seis até meus doze anos de idade, eu
adorava afundar-me pelas penumbras da casa de meus avós; principalmente
naquelas horas do dia em que todos descansavam no período da tarde, ou no inicio
da noite quando os mais velhos mantinham aquele costume dos serões nas reuniões
à porta da casa; raramente me juntava a eles – meus avós, tios e primos;
preferia a solidão, o recolhimento e silencio meus, do que aquela balburdia
coletiva, embora algumas vezes estivesse junto àquele alvoroço divertido apenas
observando coisas que ninguém mais reparava. Às vezes era uma maneira de falar
de um; outras vezes me ganhava atenção o brilho maroto no semblante de algum(a)
primo(a) endiabrado(a) na iminência de aprontar algum desaforo...; ou quando
não, apenas me enroscava nos braços de minha avó e ali me sentia eternizada.
Esse costume de andar pelos aposentos de meus familiares
quando eles não estavam presentes trazia-me tanta paz e um sentimento de
possuí-los a alma, como observar em maiores minucias seus pertences, acariciar
seus objetos e porta-retratos; folhear-lhes os livros... essas pequeninas
coisas habitavam meu paraíso. Minha maneira contemplativa e silenciosa de
amar-lhes era quase um segredo; muito embora em momentos de extrema leveza eu
os abraçava e beijava-lhes o rosto do nada, em ocasiões incomuns. Minha avó já nem
ligava para minhas meninices repentinas, e meu avô estava sempre aberto para
aconchegar qualquer um de seus muitos netos. Mas meu irmão e eu sabíamos que de
todos, nós éramos os seus preferidos e nem por isso ficávamos vaidosos; pelo
contrario, tínhamos mais respeito e gratidão de sermos tão amados pelos nossos
avós.
Sinto falta desses passeios secretos pela penumbra da casa
antiga onde passei a maior parte de minha infância... saudades daquelas tardes
secas e silenciosas de vento – aquelas
tardes sólidas que me envolviam com seu mormaço solitário e aconchegante. Minha
imaginação soltava-se de minha mente e alastrava-se por todo ambiente, e por
isso mesmo parecia-me que eu o respirava para dentro de minha alma. Algo como
se eu me impregnasse daquele espaço e dos meus para todo sempre. Se eu fechar
os olhos, ainda me lembro das correrias de meus primos pelo saguão da casa...
lembro-me de minha avó vencida pelo sono roncando sozinha, sentada em sua
poltrona na sala... lembro-me do silencio que reinava naquele lugar mágico – a casa
de meus avós; recanto cheio de pequenos esconderijos onde eu me refugiava do
mundo chato dos adultos.
Sentia-me como um pequeno pássaro a vasculhar gravetinhos pelos
cantos da casa a fim de construir meu ninho. Flutuava. Sobrevoava tudo com
muita minucia... e hoje carrego intacto tudo aqui dentro de mim. Se eu pudesse
voltar no tempo para sempre... não queria nada mais do que estar segura nos
braços de minha querida avó, ou brincar de faz-de-conta com meu mano no quintal
de casa no finzinho das tardes, ou dividir o colo de meu avô com John (meu
mano) ouvindo suas estórias maravilhosas sobre o céu estrelado.
Katiuscia de Sá
01 de julho de 2013
Às 16:46h
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