“o poeta é com efeito coisa leve, santa e alada; só é capaz de criar quando se transforma num indivíduo que a divindade habita e que, perdendo a cabeça, fica inteiramente fora de si mesmo. Sem que essa possessão se produza, nenhum ser humano será capaz de criar ou vaticinar.” [Platão]

quinta-feira, 24 de março de 2011

Nossos Passos

*Para meu amigo, H.


Ele abriu caminhos para mim.

Pisou no chão ainda em brasas.

Queimou seus dedos e seus pés

Ejaculando até os ossos.

Seus olhos ardiam ao pavor do cheiro de sua própria carne

Sustentou tantas misérias ao final dos dias,

Perdeu-se e encontrou-se nos horizontes

E no meu amanhecer,

Meus pés seguem tranqüilos nas pegadas rochosas

Sobre o gesso do sacrifício que ele me deixou.

Apenas sigo sobre a pedra aberta especialmente para mim.

Meu coração vai suspenso,

Flutua no verso de tuas mãos

Não tocas nele, ó invisível taça!

Mas bebes de meu saboroso mel e meu amor.

Minha maré incontida

Evapora para não te afogar,

Inaugurando no céu as almofadas do nosso sonhar,

Tão alva, neblina da noite.

Teus pés e pernas vencidos nas chamas do transportar,

Agora são os meus esquadrilhados

– Frio mármore imaculado.

Meus pés e pernas juntaram-se ao teu corpo de árvore

Nossos vasos floriram juntos,

E eu os rego todos os dias

Com as próprias lágrimas de meus olhos.

.

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Katiuscia de Sá

23 de março de 2011.

Salvador/BA.

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