“o poeta é com efeito coisa leve, santa e alada; só é capaz de criar quando se transforma num indivíduo que a divindade habita e que, perdendo a cabeça, fica inteiramente fora de si mesmo. Sem que essa possessão se produza, nenhum ser humano será capaz de criar ou vaticinar.” [Platão]

sexta-feira, 6 de julho de 2012

É PRECISO FALAR...


Em pleno século XXI eu ainda fico ‘passada’ em constatar (e sofrer) preconceitos por machismo, especialmente no meio profissional. Mesmo com a alavancada dos Direitos Femininos assegurados pela Constituição Federal há quase meio século de conquistas femininas, com adequações no Código Penal Brasileiro (Lei Maria da Penha, por exemplo); criação de Delegacias e atendimento psicológico adequado para mulheres violentadas e/ou assediadas no trabalho, no seio familiar ou ainda em assaltos, etc... é um assunto ainda delicado de se tocar, mas necessário.

Não serei a primeira nem a ultima mulher a sofrer discriminação, assedio ou perseguição seja no trabalho, escola, família, etc... por usar pearcing; ou por eu me vestir diferente; ou me destacar no que faço sendo mulher (enfatizando a questão do machismo). Já sofri perseguições por parte de mulheres também. É um assunto chato, porém inerente à alma humana que precisa ser combatido. Já discorri sobre o assunto em outros posts: da “invejinha” boa (aquela que motiva o interior de alguém no sentido de seguir o exemplo de sucesso proveniente do esforço e empenho que outra pessoa traçou para si e que deu certo), e da inveja destrutiva (a que ao invés da motivação benéfica, gera desagrado e incomodo de alguém por ver outra pessoa tendo sucesso pelo seu próprio esforço e talento).

É difícil de fazer o outro perceber essa queda de caráter, pois ele não olha para si, e sim para o outro e acaba achando que não é capaz de obter sucesso também, posto que é mais fácil e cômodo destruir do que edificar... edificar leva tempo, mudanças de comportamento e de atitudes perante a vida, muito empenho, destreza, autovigilância; mas massa (muitas vezes) prefere boicotar os bons exemplos de probidade, talento e honestidade; (e o pior, muitas vezes a mídia reforça esse critério de achar que ser bonzinho e correto sem levar vantagem em tudo, é o cidadão se mostrar um ‘vacilão’...).

Em sociedade o convívio em coletividade tem os prós e contras... seria muito legal se a população mundial pudesse perceber que a mudança de pensamento gera uma mudança de comportamento. Ao invés de se combater o mal, é melhor promover o bem; ao invés de lutar pelo fim da criminalidade, melhor seria incentivar a criação de politicas publicas visando a educação de qualidade e também condições dignas de sobrevivência para a população com postos de trabalho e gerando oportunidade de renda para as famílias; ao invés do ‘gatinho’ querer conquistar a ‘gatinha’ implicando com o cabelo dela ou depreciando o sexo feminino para autoafirmação da masculinidade forçando evidenciar quem manda no pedaço, mais gentil e eficaz seria o ‘gatinho’ ser sincero com suas intensões abrindo seu coração... qual mulher não se derrete frente ao romantismo de um homem apaixonado? Já está massificado que o ‘amor’ masculino deve bater para depois assoprar... de que homem não chora... homem sensível não é macho, e outros pensamentos e condutas machistas e discriminatórias.

Já sofri perseguições em meu trabalho por parte de meu ex-chefe, pelo fato de eu ser mais inteligente do que ele. Sem pretensões ou presunção, no dia-a-dia era horrível ter que lidar com um homem grosseiro (e o pior) sem preparo e conhecimento para liderar... e as pessoas da repartição coniventes com esse procedimento! Até aí ainda dava para administrar; agora sofrer frequentemente assedio moral para que o chefe pudesse se auto afirmar como macho dominante, já é caso de denuncia policial! É cabal a percepção que já vem se arrastando séculos a fim de que homem tem pavor de mulher inteligente, e que prefere mulher bonita e burra para domina-la e subjuga-la. Está na Literatura, no dito popular, nas paginas policiais...

Já preferi abandonar o emprego por esse motivo, após combater tal comportamento de assedio moral. Acho que todas as mulheres também deveriam abrir a boca e denunciar esses monstros! No meu caso, minha família postiça me apoiou, meus amigos mais chegados (para os quais eu desabafei o fato na ocasião), me apoiaram e me ajudaram muito a superar. Isso é horrível, fico imaginando a porção de mulheres que sofre assedio moral no trabalho e não tem essa autoconfiança, base emocional e estrutural dos familiares e amigos? Eu demorei uns meses até me libertar desse trauma mais ou menos recente; e quase todos os anos de minha vida para diluir as lembranças de meu pai biológico depreciando, mal tratando e violentando minha mãe biológica.

Perdi na memoria as tantas vezes que vi ele rebaixando minha mãe com palavras de baixo calão, detonando a autoestima dela... eu cresci vendo esse circo de horrores jurando para mim mesma que nunca consentiria que nenhum homem (ou mulher) me tratasse daquela forma no futuro. E assim tem sido. Além do assedio moral em minha historia de vida ressente, no passado distante, houve indícios de assedio sexual. Combati certos comportamentos de meu genitor de maneira silenciosa e inteligente, da qual eu dispunha morando no mesmo teto que ele, quando me vestia de menino ou com roupas soltas sem marcar meu corpo e me esquivando dele dias inteiros quando o álcool fazia-se governar, (utilizei-me dessa estratégia até atingir idade suficiente para não utilizar mais esses artifícios) para me proteger dessa masculinidade covarde, que violenta. Felizmente fui mais astuta para me proteger de todas as formas possíveis desses instintos criminosos. Deus esteve comigo em todos os instantes de minha vida, principalmente nos anos em que eu ainda morava naquela casa... meu corpo e espirito continuaram imaculados. Eu agradeço a Deus – minha fortaleza.

Estou muito serena em abordar esse assunto, e essas serão as ultimas lembranças ruins que me restam de uma história que ficou bem lá atrás... num passado e pessoas bem distantes. Faço votos de que todos indivíduos (meninos, meninas, rapazes e moças) que sofreram algo semelhante possam se reerguer, e acima de tudo combater esse câncer social. É necessário falar. Combater. Denunciar. Somente assim homens (e mulheres) hipócritas; falsos-moralistas; autoritários; machistas; tirânicos; bandidos serão desmascarados e depostos.

Os tempos são cleans agora; tudo está mais susceptível. Digo e repito: fortalecer o pensamento positivo para gerar atitudes e uma sociedade também positivas. Reconstruir a forma-pensamento de ‘NÃO destruir’, e promover o ‘SIM para edificar’. Para isso, é preciso falar, (re)conhecer. Não é com provocações que o AMOR vem, e sim com abertura e estimulo pacíficos...


Katiuscia de Sá
05/07/2012
1:35 a.m.

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