“o poeta é com efeito coisa leve, santa e alada; só é capaz de criar quando se transforma num indivíduo que a divindade habita e que, perdendo a cabeça, fica inteiramente fora de si mesmo. Sem que essa possessão se produza, nenhum ser humano será capaz de criar ou vaticinar.” [Platão]

segunda-feira, 12 de abril de 2010

A Primeira História

Fotos e tratamento: Katiuscia de Sá
Local: Cemitério Santa Izabel - Belém/Pa

Uma imagem branca olho-de-peixe ao lado direito. À frente disso, manchas multicolores em matizes diversas variando do róseo ao laranja-avermelhado. Um sol cada vez mais tímido, tímido... até desaparecer por completo, deixando-se proteger pelas horas passadas.
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Sua saudade era das gentes da infância: seus avós, seus brinquedos, bichinhos de estimação. E mais recente, seu gato malhado que falecera.
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Levava dentro de si muito frio. Um Ártico completo em seu peito. Isso fazia verter água dos olhos por vezes.Sons de passoa dentro de si, vagando ecos num Silêncio profundo. Carregava nos olhos do coração todos os que amara. Todos mortos.
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Baixou os olhos na esperança de parar aquele rio vertido em fins de sol... lembrava-se de uma história que um dia alguém lhe contara:
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“Havia dois anjos de Luz, muito claros, envolvidos por muita Luz... mas um estava caído, paralisado por lama e dor, enquanto o outro voava livremente em círculos acima deste caído e machucado...”
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Enquanto falava, suas mãos balançavam no ar com se fossem o próprio anjo que voava querendo ajudar o companheiro caído. Ele disse que ela voava há muito tempo a procura dele, e quando o encontrara, este encontrava-se muito machucado. Mas ela insistia em querer ajudá-lo, porque o amara desde sempre...
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“Daí ocorria um impasse, ela querendo ajudar o companheiro alçar vôo novamente, mas havia a dúvida e perigo dela não ter força suficiente para esta tarefa, e também afogar-se naquele rio de lama...”
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Então, parou subitamente de falar, arregalando os olhos rumo ao nada... pensou em algo longamente enquanto o vento noturno farfalhava seus cabelos alvos e brilhosos, deixando-o abandonado em si mesmo... Olhava-me furtivamente, com receios...
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“Havia outro anjo voando, (um anjo-negro) ameaçando os dois apaixonados...” E me olhou nos olhos novamente:
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“... eu não sei como terminar essa história... eu sempre soube o final das outras histórias, mas dessa, eu não consigo terminar...”
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Na verdade ele não sabia o final dessa história, porque ela depende de quem ouvia..., dependia da Verdade contida naquela atmosfera invisível de um mundo lúdico e desconhecido de todos, exceto daqueles de quem se falava – os anjos apaixonados. O final dessa história, de minha Alma, eu digo:
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"o anjo que voava foi (e sempre será) forte o suficiente para estar ao lado de seu amor. Ela conseguiu erguê-lo e juntos alçaram vôo infinito. O outro anjo-negro, ao ver a Fortaleza que os amantes juntos brilhavam, nada mais pôde fazer, a não ser ir embora para sempre do caminho dos anjos de Luz, pois havia neles Verdade suficiente para superar toda escuridão... Juntos alçaram vôo perfeito! E assim aconteceu para todo sempre”.
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Katiuscia de Sá
07 de março de 2010
(ao pôr-do-sol)

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