“o poeta é com efeito coisa leve, santa e alada; só é capaz de criar quando se transforma num indivíduo que a divindade habita e que, perdendo a cabeça, fica inteiramente fora de si mesmo. Sem que essa possessão se produza, nenhum ser humano será capaz de criar ou vaticinar.” [Platão]

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Ribastian




(ele anda pelo espaço. Olhar vazio)
Tentei ardorosamente não mais te amar!
Quis ser comum, vertiginosa-carreira...
Integrar-me e entregar-me aos prédios-cinzas,
Às cidades-organogramas
Aos conceitos-preceitos.
Engrenagens de Dédalo!

(parado, contempla os olhos do Outro)
Mas vieste novamente bater à porta minha,
Místico mendigo, atormentando meus dias!

(o Outro)
- És navegante do tempo... aurora de muitas vidas.

(para si)
Falou-me que não podia estar eu numa caixinha preta estupefata.
Tinha de estar onde o povo está...

(o Outro insistia)
Não me gostas, Carne Sem Zelo?
Não governo nem a mim...
Louco ator desvairado!

(em resposta)
Comi muitos nãos!
Passei fome de multidão.
Retornei diversas vezes ao sol e à chuva de aplausos.
Desvaneci.
Perguntastes: “tinhas medo de minhas sensações?”
Não sabia a resposta.
Nunca soube.

(o Outro)
Invadi veredas que não sabia conhecer.
Cultivei vasos de flores diversas,
De versos...
De luzes e escuros em muitos palcos da rua.
E quando lhe estendia as mãos...
Não me vias.

(ele contempla o horizonte)
Hoje e sempre, volto a ti.
Paixão desvairada:
Dionísio e Baco no fundo de um asfalto.
Decaídos, à espera de um braço...
Labirinto-Luz de minha vida.
Consumido pelo álcool do fogo do palco.
- Vai. Segue! Voa...
Aplausos...
(sorri.)



Katiuscia de Sá
05 de abril de 2011.
Salvador/BA

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