“o poeta é com efeito coisa leve, santa e alada; só é capaz de criar quando se transforma num indivíduo que a divindade habita e que, perdendo a cabeça, fica inteiramente fora de si mesmo. Sem que essa possessão se produza, nenhum ser humano será capaz de criar ou vaticinar.” [Platão]

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

*Votos Partidos








"Era tarde a noite passada
o cão falava de ti,
o pássaro cantava no pântano,
falava de ti.
Tu és o pássaro solitário na floresta
talvez estivesses sem companhia
até me encontrares

Tu me prometeste, e mentiste
disse que estaria junto de mim
quando os carneiros fossem arrebanhados.
Eu assoviei e gritei cem vezes,
e não achei nada...
a não ser uma ovelha balindo.

Tu me prometeste algo difícil,
um navio de ouro sob um mastro prateado,
doze cidades e um mercado em todas elas
e uma branca e bela praça à beira-mar.

Tu me prometeste algo impossível,
que me daria luvas de pele de peixe
e sapatos de pele de ave
e roupa da melhor seda da Irlanda.

Minha mãe me disse para não falar contigo
nem hoje,
nem amanhã,
nem domingo...
Foi um mau momento para dizer-me isso...
Foi como trancar a porta após a casa arrombada...

Tu tiraste o Leste de mim
Tu tiraste o Oeste de mim
Tiraste-me o que existe em minha frente
Tiraste-me o que há atrás...
Tiraste-me a Lua
Tiraste o Sol de mim

E o que mais eu tenho medo...
Tu tiraste Deus de mim..."



*Poema recitado no filme "Os Vivos e os Mortos” - 1987
De John Huston, baseado no conto “The Dead” de Os Dublinenses de James Joyce
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