“o poeta é com efeito coisa leve, santa e alada; só é capaz de criar quando se transforma num indivíduo que a divindade habita e que, perdendo a cabeça, fica inteiramente fora de si mesmo. Sem que essa possessão se produza, nenhum ser humano será capaz de criar ou vaticinar.” [Platão]

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Belém – Relatório Final


Nesta última terça-feira, estive me revisitando... Foi emocionante reencontrar objetos, cartas e fotos que representam recortes de minha vida. Reencontrei cartas que trocava com minha ‘irmanzinha’ Lanita, cartinhas que trocava com minha priminha Jennifer, na época de minha infância. Épocas delicadas, mas cheias de magia pessoal.

Na verdade eu sempre fui muito ‘solta’ em relação aos meus familiares e amigos, não sou em nenhum grau possessiva...; encaro minhas relações interpessoais algo como uma quase distração, e mesmo assim, amo cada um de maneira distinta e única.




Nesta quarta-feira (09), curti minhas ultimas horas de recreio com meu melhor amigo (Rogério) e também visitando outra pessoa que tive o privilegio de conhecer aqui em Belém (d. Dulce Rosa de Bacelar Rocque), pessoa boníssima, divertida, com senso crítico, de extremada cultura, fantástica persona! Rogério e eu desfrutamos de sua amável companhia, naquela pitoresca e chuvosa tarde.

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Essa semana está sendo a mais intensa de todas já vividas em Belém, pois estou dispensando atenções especificas e intransferíveis, despedindo-me de meus amigos. Entretanto, mesmo celebrando, as lágrimas nos olhos são inevitáveis. Conversando com d. Dulce, perguntei-lhe se quando ela esteve em exílio na Europa, ela pensava em Belém; sua resposta foi contundente: “fiquei exilada durante trinta e cinco anos, e eu chorava todos os dias...” Naquele momento comunguei da mesma dor de d. Dulce, pois ela não podia retornar quando quisesse, eu sim, porém sei que não retorno a Belém tão cedo...





Mesmo na certeza de conhecer novos amigos, conhecer nova cultura... as pessoas de lá não falam “ali no canto...”, como as daqui. As pessoas de lá não me dirão “ei mana, deixa de pavulagem...”, com as daqui; não bebem açaí. Meu Deus, o açaí nosso de cada dia! Não saboreiam bombons de cupuaçu..., não me exclamarão: “égua, menina!”

Meu Deus... como eu amo minha cidade, minha cultura parauara, meu corredor de mangueiras da Presidente Vargas; como adoro as matinês do Líbero, do Olympia... e as mangas que a gente topa em pleno meio das ruas, tão saborosas... adoro até ficar igual a um pinto molhado por causa dos torós da tarde.




Ficarei com saudades dos anjos e lápides do Soledad, do Santa Izabel... com saudades da maresia da Baia do Guajará, dos pô-pô-pôs nas beiras do rio que rodeia a cidade. Ficarei com saudade do Ver-O-Peso, do Theatro da Paz, do Waldemar Henrique... Mas não fecho meus olhos frente aos problemas sociais e também de depredação do patrimônio publico. Não ignoro que a população deveria zelar mais pela cidade de Belém, reeducando-se em relação ao lixo jogado no chão... enfim, problemas que (acredito) com o passar das gerações, ir moldando-se, com a conscientização coletiva rumo a uma evolução comportamental.

Meu Deus querido, essa está sendo o rito de passagem mais penoso pelo qual estou passando. Sinto-me como a garotinha que fui outrora, agarrada ao abraço aconchegante de minha querida vózinha...



Agradeço aos meus amigos pelos bons momentos; pelos conselhos; pelos abraços; pelos votos de ‘boa sorte’; pelos sorrisos; pelos recortes de vida compartilhados; pelas brigas; pelas reconciliações. Agradeço aos professores e funcionários da ETDUFPA (que me aturaram...rs); agradeço principalmente ao carinho, amizade, aprendizados e conselhos valiosos de dona Nilza (Maria); agradeço ao povo de Belém; agradeço ao sol escaldante de Belém; ao toró maciço de Belém... sim, sou dramática... afinal, sou atriz! Está no meu âmago, não adianta...



Mesmo em tom de brincadeira séria, não virarei estátua de sal. Que tudo esteja em seu lugar quando eu voltar (que vai demorar um tempo...), mas irei voltar para continuar minha missão nesta cidade mitológica cravada em meio aos rios amazônicos. Voltarei preparada para o que me aguarda...

Adeus, minha amada Belém do Grão Pará.

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Katiuscia de Sá (09 de fevereiro de 2011).


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