Por viver freneticamente incontida em mim, minha dificuldade atual, e desespero talvez..., é estar apaixonada por um rapaz abstrato ao ponto dele quase não existir como na realidade em que conhecemos tangível... um dia li ou ouvi algo de algum pensador, cujo sentido era mais ou menos este: “o mais difícil é reconhecer o seu reflexo no espelho”. Pois bem, a principio não te reconhecia, pois tu me passava as mesmas sensações e dificuldades de relacionamento que eu passei para os outros, antes de ti, e eles também não entendiam... “piravam” e se irritavam comigo e por fim, desistiam. Um castelo de seda é bonito de se ver, mas quando se toca ele perde a forma.
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Convenhamos, acredito que a maioria dos meus amigos mais íntimos já percebeu que eu realmente não reajo a estímulos negativos. Acredito e sinto, que minha persona/essência/espírito... o que queiram denominar, está desvinculada de toda forma de aprendizado através da opressão ou algo similar. Então, por favor, modere...
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Outra coisa, compreendo a importancia de se estar em "sintonia" um com o outro, porém, isso é algo praticamente impossível para alguem fazer em relação a mim, devido meu próprio estado de "inatenção frequente". Como todos meus amigos e pessoas próximas sabem, sou do tipo de gente que "vive no mundo da Lua...". Constantemente estou áerea, com o corpo em um lugar e a mente em vários outros... ou seja, é mais coerente (e eficaz) conseguir algo comigo, verbalizando. Esse é o caminho perfeito e sadio para se construir uma relação harmônica comigo.
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Para mim está sendo insanamente inebriante entrar em contato com esse aspecto sentimental das entranhas, sem necessariamente viver o que se sente. É deveras estranho, pois meus sentidos amam alguém que necessariamente não toquei, ou senti pelas vias normais. Na literatura filosófica, isto se chama “amor platônico”, tu melhor do que eu, sabe do que falo.
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Sinceramente acho-me demasiadamente madura demais para ter que passar por esse tipo de “amor”, na altura de meus trinta e cinco anos incompletos... ainda mais ter que suportar esses pequenos ataques de mudez por parte “do outro”. Está muito claro, compreendo que meu comportamento audaz, às vezes (aliás, normalmente) espanta os rapazes... entretanto, nesse caso especifico, estou caminhando passo-a-passo, como sugere o individuo abstrato que a vida encarregou-se de por no meu caminho.
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O que fazer? Não é a primeira vez que tenho de frear-me... na verdade nunca quis me (re)configurar pelo outro... Talvez seja necessário contigo, pois apenas contigo permito que me faças isso. Outro homem, não! Já sinto a delicadeza de apenas contemplar seus olhos, de entrar pela sua pede e pêlos apenas pelo manifesto de meu olhar em sua pessoa. Já consigo através do pensamento, da lembrança tua mantê-lo vivo em meu peito. Seu rosto ilumina-se quando te vejo sorrir. Sim... conseguiste.
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Do seu jeito distraído e quase indefeso, conseguiste. O medo do primeiro instante desvencilhou-se. Passado o primeiro susto, consigo enxergar-te tão etéreo e ao mesmo tempo presente. És lindo... lindo na concepção máxima da palavra.
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Gostaria de juntar a esse relato um pequeno trecho de um livro fantástico que explana acerca do teatro antropológico: “eu não me sinto ligado a um lugar físico, nem a uma nação como entidade geográfica ou como receptáculo de determinadas tradições. Sinto-me ligado a um país particular: o país da velocidade. Uma condição que não se identifica com a paisagem que estou atravessando, nem com as pessoas que me rodeiam. Esta velocidade não tem nada haver com o espaço, nem com os lugares físicos (...). Se vivo no país da velocidade, se este país existe de verdade, se não é só uma frase sugestiva, onde se encontra? Está perto de mim, em meu centro, à minha volta, em meu corpo. Meu corpo é meu país. O único lugar no qual Eu Sou sempre.” (BARBA, Eugênio. Além das Ilhas Flutuantes. Tradução: Luís Otávio Burnier. HUCITEC: São Paulo, 1991 – pg.92)
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Se terminastes de ler isso aqui, deves estar agora sorrindo vitorioso, aquele sorriso que gosto de ver iluminado em teu rosto. Sim és vitorioso. Somos ambos vitoriosos.
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