Foto: laila setton
Katiuscia de Sá
02 de julho de 2010
Tinhas olhos claros quando a entidade vinha-lhe. Um sorriso solto de muitos amigos. Fumava e bebia à vontade. Pela manhã esquecia-se de quem tinha sido. Afastava as cortinas como quem não queria nada da vida. Com o corpo ainda torpe, tomava seu café antes de ir ao trabalho. Atravessava meia cidade todos os dias, nenhum descanso...
Dentro do ônibus corria-lhe calafrios no pescoço; e em pouco tempo era tomado. Abandonava tudo em busca de bebida e cigarro. Seus olhos estavam claros novamente... o interior, um fogo em brasas.
Depois de saciado o desejo mundano, retomara suas rotinas. Ia e vinha do trabalho com a mesma franqueza de uma faca abatendo ao vivo o frango de seu almoço de domingo. Tudo certinho e sem gosto. Amanheceu novamente atuado. Ninguém lhe notava a diferença, a não ser aquela pequena criatura que lhe observava compassivamente. Chicório, seu cão de estimação, que vivia deitado ao canto do sofá à espera de um afago momentâneo, e um abrigo.
Um dia, o dono de Chicório aborreceu-se daquela vida miserável e quis experimentar o céu: atirou-se de um viaduto, percebeu com seu corpo que o céu era duro. Retornou à sua casa com menos três dentes trazendo a certeza de que o céu é para aqueles que enxergam além dos muros.
Dentro do ônibus corria-lhe calafrios no pescoço; e em pouco tempo era tomado. Abandonava tudo em busca de bebida e cigarro. Seus olhos estavam claros novamente... o interior, um fogo em brasas.
Depois de saciado o desejo mundano, retomara suas rotinas. Ia e vinha do trabalho com a mesma franqueza de uma faca abatendo ao vivo o frango de seu almoço de domingo. Tudo certinho e sem gosto. Amanheceu novamente atuado. Ninguém lhe notava a diferença, a não ser aquela pequena criatura que lhe observava compassivamente. Chicório, seu cão de estimação, que vivia deitado ao canto do sofá à espera de um afago momentâneo, e um abrigo.
Um dia, o dono de Chicório aborreceu-se daquela vida miserável e quis experimentar o céu: atirou-se de um viaduto, percebeu com seu corpo que o céu era duro. Retornou à sua casa com menos três dentes trazendo a certeza de que o céu é para aqueles que enxergam além dos muros.
Katiuscia de Sá
02 de julho de 2010
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