“o poeta é com efeito coisa leve, santa e alada; só é capaz de criar quando se transforma num indivíduo que a divindade habita e que, perdendo a cabeça, fica inteiramente fora de si mesmo. Sem que essa possessão se produza, nenhum ser humano será capaz de criar ou vaticinar.” [Platão]

quarta-feira, 30 de junho de 2010

SEBASTIAN


As torradas queimavam-se sobre as paredes, e suas mãos continuavam a segurar firme o parafuso. Ao menor sinal, tudo se despencava. Tantas palavras ao mesmo tempo para não se dizer nada.

Mais aglutinações! Dessa vez ao carpete. Muitos móveis revoltados e algumas cortinas quebradas sobre vidros amassados. A gaiola se soltara e um pássaro chorava áquela perda.

Mais ao interior, pela feiúra vista aos corredores, sabia-se que nos aposentos ninguém se encontrava. Estavam fora todos? Ou apenas reduzidos aos papéis de parede? Um cabide vazio pensava onde estaria seu casaco há pouco ali depositado. Nem a maçaneta da porta saberia responder a indagação.

As janelas trancaram-se para as torradas queimadas não saírem. E nesse mesmo instante um vestido soltou-se do varal e os dedos em pé tilintavam e bailavam... Era a felicidade indizível que descontrolava as coisas. Felicidade que estava por vir, tão incrível que mesmo os tecidos jovens ao agüentariam de tantas lavagens.

E as geléias que procuravam pelas torradas ainda queimadas! Indo todas alimentar o sorriso comilão de Sebastian, que seria a alegria daquela casa.


Katiuscia de Sá
25 de junho de 2010

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