“o poeta é com efeito coisa leve, santa e alada; só é capaz de criar quando se transforma num indivíduo que a divindade habita e que, perdendo a cabeça, fica inteiramente fora de si mesmo. Sem que essa possessão se produza, nenhum ser humano será capaz de criar ou vaticinar.” [Platão]

domingo, 10 de novembro de 2013

A PALAVRA

“A palavra dita é como uma flecha, uma vez lançada não tem mais volta”, já diziam os antigos sábios. Para muitas correntes filosóficas hinduístas, a palavra é fonte de energia, assim como toda ação que o ser humano executa, pois há o conhecimento de que somos energia e tudo o que fazemos (pensamentos, ações físicas, fala) estão repletos de intenção, e essas intenções promovem a manipulação da energia vital contida em cada uma delas. Portanto, para um iogue, mesmo a palavra proferida deve ter um proposito. Há meditações em que requer do iniciado não apenas o silencio da mente (coisa difícil de ser alcançada, porém com anos de praticas meditativas, é possível atingi-lo), como também o silencio do corpo, e isso implica também na educação do que se diz e como se diz. Disciplinar as emoções também entra no processo.

O som da palavra (e/ou de algum instrumento musical ou qualquer coisa que emita sonoridade qualquer) pode ser assimilado como um mantra, e os mantras têm efeito sobre o sistema nervoso e energético do ser humano (influenciando até mesmo animais que se submetem a sons agradáveis). Portanto, um iogue praticante de meditação, compreende que a palavra proferida só deve ser dita se esta vier impulsionada por uma intenção verdadeira, ou seja, se ela realmente tem uma finalidade (um propósito) ao ser proferida. Se não houver VERDADE no que se está dizendo, é recomendável abraçar o silencio ao invés de desperdiçar energia desnecessária como palavras que obedeceriam ao ego, e não ao real proposito.

Por exemplo, em situações de reuniões sociais, muito se vê aqueles joguinhos de interesses provenientes do discurso do “é de bom tom...”, onde as pessoas são forçadas a entrarem numa espécie de ‘teatrinho’ dizendo coisas agradáveis apenas para satisfazer o momento. Isso dispersa energia desnecessariamente, além de o falante estar apartado do real objetivo que a palavra se propõe: estabelecer com o mundo um elo entre seu Ser Real e sua vontade verdadeira de dizer algo. E consequências disso é a obscuridade, a mentira, o desequilíbrio em maior ou menor escala no campo energético da pessoa.

Um exemplo clássico:
Um casal que está interessado um no outro, no inicio ambos mascaram-se em ações e palavras que omitem a verdade, objetivando apenas em cativar um ao outro e convence-lo de que quem está ali na sua frente é alguém interessante. A maioria esmagadora das pessoas age assim apenas governada pelo ego e interesse de ‘vencer’ ao outro, no ato da ‘conquista’. Desse modo um encontro entre almas torna-se um combate. E um encontro entre almas que, a priori, deveria ser algo mágico, torna-se uma enorme mentira. Quando mais adiante, o casal transforma-se em cônjuges, o cotidiano mostra quem realmente cada um é... aí emerge aquela famosa frase de ambos para ambos, após decepcionarem-se: “mas querido(a) você não era assim quando namorávamos...”. As pessoas eram sim, apenas mascaravam-se, sobretudo, utilizando um discurso governado pelo ego. Por isso o uso errôneo da palavra gera desentendimentos, quando governadas pelo interesse e não pela verdade, pelo amor. Infelizmente o mundo ocidental age dessa forma e nem se dá conta ou oferece às pessoas ferramentas para auto resgatarem suas reais essências.  

Para os ocidentais a palavra é banalizada  todo momento; muitas vezes as pessoas falam sem pensar no que dizem, e com isso geram frequentemente desentendimentos; mentem; afastam-se dos seus reais sentimentos, e por consequência se desequilibram (corpo/mente/espírito). Com o tempo um iogue compreende e aprende a utilizar o dom da palavra apenas obedecendo a REAL intenção que elas detêm; ou seja, ao falar o sujeito imprime na sua fala (em cada palavra) sua própria energia vital, então cada palavra que ele diz se transforma em mantra. Ganha o espaço e retorna para si como energia renovada. Então o sujeito aprende a falar apenas a verdade genuína que vem de seu coração. Como se fosse impelido a se relacionar com as pessoas pelo elo da palavra proferida levando em consideração a sua vontade de se relacionar. Se não tem nada verdadeiro em dizer, o sujeito se cala.

O poder da palavra falada pode acalmar; edificar; destruir; desestimular; alegrar; incentivar, etc... somente se sua profundidade estiver repleta de alma. Normalmente um iogue diz apenas o necessário e/ou o que realmente sente. Evita-se utilizar o dom da palavra com desejos escusos (para manipular e/ou gerar conflitos). Assim como os exercícios de meditação ajudam ao individuo desenvolver o autocontrole, assim acontece ao ato da fala e a tudo que o iogue pretenda executar.

Há dias em que eu tiro para ficar em silencio (normalmente são os sábados ou os domingos). Não pronuncio sequer uma palavra. Entro em meditação constante e profunda. E com isso procuro zerar os conflitos em minha mente, convidando meu corpo físico a também concentrar-se nas tarefas cotidianas que estão sendo executadas. Com esse tipo de meditação, o iogue concentra sua energia vital visando o equilíbrio. Torna-se calmo, manso, terno. Assim também compreende que o silencio é contemplativo e acolhedor. Acalma. Pondera os pensamentos.

É uma disciplina muito rígida, porém os exercícios meditativos servem para equilibrar a mente/corpo/espirito, e com isso harmonizam as energias vitais do ser humano que se dispõe a esse caminho; além de  convidar o individuo dizer apenas a verdade, ou seja, o que seu coração realmente quer dizer; com isso evita-se o desvio do dom da palavra como a maledicência; a manipulação das pessoas; a mentira. Um exemplo bastante profundo sobre a utilização do dom da palavra de modo errôneo na história das civilizações é a pessoa de Hitler, que infelizmente utilizava a oralidade com fins de manipulação, dominação e destruição, por conta dos desequilíbrios morais e desumanos que o mesmo imprimia (energia) nas palavras no ato de pronuncia-las em seus discursos, que infelizmente magnetizavam as massas.

Hoje é sabido que Hitler tinha profundo conhecimento sobre a cultura e práticas hinduístas, e de muitas outras civilizações antigas; um exemplo dessa assertiva é o uso da cruz suástica (ou cruz gamada) – um símbolo da cultura hindu – que era usada pelo Nazismo na sua forma icônica invertida. O mesmo símbolo é encontrado no Budismo, também na Grécia Antiga, nas civilizações Hopi, Asteca e Celta, além de vestígios em povos nórdicos antigos e algumas civilizações das Américas. Para muitas dessas civilizações antigas, a cruz gamada é originalmente um amuleto especial utilizado em cerimonias religiosas, mas pelo mau exemplo do Nazismo esse símbolo antigo praticamente foi banido da humanidade e gera repulsa pelo peso do horror histórico da II Guerra Mundial. O real significado da cruz gamada, segundo muitos teólogos, é a excelência da evolução cósmica.

As pessoas de um modo geral, deveriam se dedicar também à manutenção do bem estar mental. Claro que diante de inúmeras desigualdades sociais e econômicas, e por conta do próprio processo capitalista, há o afastamento (e negação) do Ser e de sua essência, por desconhecimento e desinteresse das massas em se ater à manutenção do espirito de forma mais sofisticada. Os seres humanos ainda flutuam em estados brutalizados devido à fome, à violência, à miséria e desigualdades socioeconômicas. Porém, há de emergir o amanhecer de um céu onde o sol brilhe para todos, um período em que a humanidade não precise apenas em se preocupar em sobreviver, e sim viver dignamente e de posse dos reais valores da ética e da moral, sobrepondo o amor ao capricho do ego.

Katiuscia de Sá
10 de novembro de 2013, às 14:55h





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