“o poeta é com efeito coisa leve, santa e alada; só é capaz de criar quando se transforma num indivíduo que a divindade habita e que, perdendo a cabeça, fica inteiramente fora de si mesmo. Sem que essa possessão se produza, nenhum ser humano será capaz de criar ou vaticinar.” [Platão]

sábado, 28 de janeiro de 2012

ONTEM


Ontem eu descobri que não nasci para amar em unicórnio. Nasci para amar em matilha.
Descobri que a massa emoldurada das multidões é a mesma que cimenta a fuga das horas e do tempo que se perdeu de mim.
Ontem eu descobri que nem tudo que eu vejo está apassarinhado, e que nos ninhos das gentes, sempre há um filhote que morre de fome. E que justamente este faminto será o responsável por alimentar todo um orbe de migalhas jogadas sobre a mesa no final de festa...
Ontem eu descobri que meu caminho é estreito demais até para quem passa. E por eu ser tão desnutrida e luminosa, os mosquitos de mim levam a esperança para um lugar indefinido e secreto do mundo.
Descobri que sou vício, e que sou cura... descobri que sou luz e sombra na mesma face que para você sorriu ontem, que na mesma face que para você ignorou vida...
Ontem eu morri de novo, e hoje nasci criança.
Estendo-lhe as mãos;
Dirijo-lhe meus olhos;
Digo uma única frase copiosamente em série, e a única que não consegues escutar...
“Eu estou aqui", na inutilidade do vento preso numa sala a vácuo. Eu sai e deixei a luz do quarto acesa.

Katiuscia de Sá
28 de janeiro de 2012

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