“o poeta é com efeito coisa leve, santa e alada; só é capaz de criar quando se transforma num indivíduo que a divindade habita e que, perdendo a cabeça, fica inteiramente fora de si mesmo. Sem que essa possessão se produza, nenhum ser humano será capaz de criar ou vaticinar.” [Platão]

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

RAIO DE SOL



Lá estava eu novamente envolvida por diversas pessoas. Era o cinema o templo em que eu adorava estar. No meio de tanta gente, minha solidão era maciça, impenetrável. Breves olhos castanhos rodeados de uma barba ruiva e desgrenhada. Tantos rodeios, medos e desencontros para dizer um ao outro um suposto interesse mútuo. (Será?).

Por que nesse corpo de carne nossos sentidos verdadeiros insistem em nos enganar? Ele estava interessado em mim? Ou seria apenas um desejo meu? Impressão minha? Como sou deveras tapada para tais assuntos, talvez um outdoor seria o melhor veiculo para dizer exatamente como são as coisas para mim.
(...)
Ele foi embora e nem me olhou. Seu rosto era de desapontamento dadas as mãos à uma pequena tristeza. Talvez fosse tímido? Imaginação minha? Estou tão cansada para procurar... tanto que nem procuro mais. Por isso o outdoor para me dizer algo... ainda corre o risco de eu não entender. Fiquei burra dos sentidos, sou tão matemática, domino razoavelmente a maioria das Artes. Mas o Amor para mim continua sendo uma pintura em pastel.

Voltando para algum lugar, meus olhos acompanhavam os transeuntes... cada um em seus próprios pensamentos. Eu no semáforo, apenas profunda. Chorava por dentro minha solidão descoberta há exatos nove anos atrás. Chorei tanto quando descobri minha situação, e quem eu sou...

Foi difícil encarar e sentir todas aquelas pessoas que formavam Minha Presença. Tanta vida sem ter com quem compartilhar. Muitas lágrimas alforriadas de meu peito. Foi tanta tristeza..., nunca imaginei que alguém tão comum conseguia segurar tudo isso dentro de si por tantos anos.
Mas ainda não acabou.
Naquele dia, descobri que eu não era comum.

(...)

Não saberia dizer se ele está interessado em mim, realmente. Porque tenho medo? É mais fácil se afastar de alguém antes da decepção... esse medo, fruto da ansiedade. Poxa! Nunca fui medrosa... por que isso agora?

Sei que ele pensa em mim, eu sinto bem aqui dentro no meu peito.
Ele também ficou triste porque eu apenas fui superficial... porque eu fiz isso?
Medo novamente... é mais fácil abandonar algo antes desse algo ir e deixar um buraco enorme dentro de você. Você não se apega, e não sofre.
Que mentira deslavada!
Será que ele é “igual” a mim?

Não quero magoar-me novamente, outra vez, outra vez e mais outra vez. Um cristal tão fino, tão frágil. Permanece inteiro e livre a custa de muito esforço, muita dedicação, sacrifícios e guerra. Um prêmio para aquele que conseguir segurá-lo nas mãos e não perfurá-lo com os dedos de egoísmo e posse. Esse é meu coração, que não está no meu peito. Ele voa, voa, voa... está suspenso, bem acima de mim. Fora de mim. É ele quem observa tudo dentro das outras pessoas. Um grande Olho acima de mim...

Quando olho para as pessoas sei exatamente quem são. Sei de sua índole, se eu for mais atenta eu escuto até seus pensamentos antes mesmo delas próprias ouvirem... é triste ouvir o que vai na cabeça da humanidade... normalmente tudo é governado por ambição, desejo, egoísmos, invejas... uma podridão sem medidas. Essa dor social desanima, me faz desacreditar nas pessoas. Tantas já me feriram por dentro, que meus sentimentos estão lá em cima, voando junto de meu coração.

Será que ele voa também e irá encontrar meu coração com asas no céu e trazê-lo de volta para mim? Caminho por entre as pessoas com meu peito dilacerado, cheio de neve-solidão-maciça. Ainda bem que meu coração voa...
(...)
Eu apenas queria dizer isso a você “Raio de Sol”.

.

.
Katiuscia de Sá
16 de dezembro de 2010
[18:17h]

Nenhum comentário:

Postar um comentário