Era uma vez um vaso que foi colocado à soleira de uma
janela. Era de uma casinha bem bonitinha. A dona da residência sentia falta de
plantas, logo inaugurou uma das janelas com uma pequena muda de Rosa Menina. O
vaso ficava bem na direção de um abajur comprido, de hastes imitando pétalas
abertas, cuja lâmpada era o centro. Era uma luz antiga, daquelas amarelas. E
ela testemunhou toda a metamorfose da pequena planta acomodada naquele gentil vaso.
Passado um mês mais ou menos, começaram a despontar os gomos
das flores. Certa madrugada o abajur percebeu que o primeiro gomo estava se
abrindo, e dela saindo vagarosamente, como se espreguiçando, a primeira Rosa Menina.
Vendo aquele milagre orgânico da Vida, o abajur apaixonou-se pela florzinha.
Ficou incandescente desde a manhãzinha com sua luz amarela a se alastrar pelo
ambiente. E pouco antes de ser desligado, o abajur soube pela própria florzinha
que na madrugada seguinte ela não mais estaria ali, pois ao longo do dia iria
murchar e morrer. O abajur ficou tão triste... tão triste, que aquela emoção
fez o filamento de sua lâmpada se romper.
Porem, a luminária sabia que sua luz seria trocada por
outra, mas aquele abajur não poderia mais suportar a ausência de sua rosa menina.
Então decidiu nunca mais passar energia pelos seus filamentos, e desse modo não
teria mais serventia. Aconteceu assim de a dona da residência se desfazer do
objeto, indo ele parar em um canto do quintal da casa, onde eram depositadas coisas
que não tinham mais serventia.
Deitado no chão onde alguma grama o acalentava, por
coincidência da Natureza, precipitou-se espontaneamente um pequeno canteiro de
Rosas Meninas. Visto isso a dona da casa não teve outra opção, senão deixar a
luminária onde estava, pois se o retirasse de lá, todo o canteiro iria ser
arrancado junto. Assim, aquele abajur foi sepultado, sendo ele consolado
diariamente pelo nascimento de várias Rosas Meninas, que lembravam a primeira
que ele havia visto e se apaixonado.
[Katiuscia de Sá – 07/09/2014, às 11:10h]
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