Ao longo de minha vida, compreendi que existem várias
camadas de conhecimento, e aprendi a respeitá-las todas. Há o conhecimento
Natural (aquele que nascemos instintivamente sabendo); o conhecimento empírico
(adquirido através das experiências individuais); e o mais comum ao mundo
civilizado e ocidental – o acadêmico, com suas normas estabelecidas.
De todos eles o que funciona comigo, sem duvida, é o que me faz
sentir livre para experimentar à vontade os diversos caminhos do Saber: o
caminho empírico. Compreendi em minha trajetória de vida e estudos, que esse é
quase o único viés que funciona e instiga minha curiosidade de querer estudar,
e desenvolver as coisas. Mediante isso, aprendi a me respeitar primeiramente, e
a travar um nível de aprendizado totalmente pessoal; por isso prefiro ser
autodidata em muitas coisas que instigam minha curiosidade.
Perceber minhas necessidades individuais é mais importante
até, do que necessariamente, aprender algo. A meta não é o mais importante, e
sim o caminho que se percorre até chegar a essa meta, pois é nesse caminhar e
experimentar que o conhecimento genuíno vai se construindo. Lembro-me como
sofri durante minha vida acadêmica mais intensa (do Maternal à Universidade).
Lembro-me de que até a Quarta Serie do Ensino Fundamental eu
chorava exatamente todos os dias (sem trégua) ao chegar à porta da escola... essa
depressão estendeu-se até a Quarta Serie Primária, mas no Maternal e na
Primeira Serie eu fazia um circo (chorava, me agarrava às grades do portão, recusava-me
a entrar na escola...), minha mãe, coitada (...)! Eu realmente tinha vontade de
fugir da escola. Hoje em dia eu me lembro disso e até eu fico horrorizada com
meu comportamento, pois eu adoro estudar, conhecer, aprender, etc... levei um
tempo até perceber que o que me desmotivava era a forma com que as informações
eram repassadas aos alunos (aluno que em Latim significa “sem Luz”...).
Eu achava tão deprimente aquele lugar (a escola...), e não
deveria ser desse modo. Ao crescer mais um pouquinho em maturidade, percebi que
a criatividade e meios mais lúdicos de repassar as informações eram o que me
motivava a prestar atenção nas aulas (mas isso acontecia tão raramente). Aquele
método repetitivo e sem graça de apenas despejar as informações sem debatê-las,
sem explicação e exemplos práticos para mim, de nada serviam...
Era uma tortura ir para a escola... o desinteresse era
total! Entretanto, meu avô sempre me motivava ir ao encontro do conhecimento, e
através dele e de suas leituras diárias para mim e meu irmão durante a infância,
ajudaram-me a continuar. É engraçado
como o mundo dá voltas. Ao longo de minha vida já tive algumas experiências
como arte-educadora, e minhas aulas sempre foram diferenciadas. Eu sempre
primei (e ainda primo) pelo ensino individualizado. Graças a Deus, desenvolvi a
sensibilidade de “escutar” meus alunos, no sentido de perceber se o canal deles
para absorverem o conhecimento é sinestésico, auditivo ou visual (isso falando
de maneira bastante rasa).
A mesma motivação que tenho para desenvolver alternativas
para o repasse das informações em sala de aula é o mesmo caminho para meu
próprio aprimoramento como profissional, pois essa motivação me remete a outras
informações acerca do conteúdo programático que devo executar ao longo do ano
letivo. Realmente adoro esse viés. Aprendo com meus alunos e eles comigo. Disso
vem meu respeito e escuta dos diversos tipos de Saberes.
Atualmente a profissão de Educador é bastante desvalorizada,
deturpada e o que mais me entristece, é saber que o professor também chega a
ser tolhido em sua própria ferramenta de execução: o lecionar! Existem poucas
escolas (a maioria particular) que promove aos seus educandos uma forma de
aprendizado dinâmica, envolvente e acima de tudo reflexiva. É triste perceber
que uma das bases para o crescimento de uma Nação ainda é vista como uma
ameaça... é melhor desenvolver cidadãos em série do que cidadãos criativos que
farão toda diferença na grande engrenagem chamada Sociedade.
Não sou utópica às outras questões que envolvem a melhoria
do Sistema Público Educacional do País, entretanto, acredito ainda que um
educador, aonde quer que esteja, pode ao longo de seus vinte, trinta, quarenta
anos de profissão como educador,
conseguir desenvolver pelo menos umas dez sementinhas no decorrer de sua
carreira, pelo fato de tornarem suas aulas prazerosas, divertidas e acima de
tudo interessantes aos seus alunos.
Fico muito feliz em receber da maioria de meus ex-alunos demonstrações
de carinho e gratidão quando me encontram. Em geral emocionados, me falam algo
como “obrigada professora, eu aprendi muito com a senhora... nunca esqueci da
senhora... o que eu sou hoje eu devo muito à senhora...”, etc... eu também fico
igualmente emocionada com essas demonstrações espontâneas. Eu nunca abandonei
nenhum deles por achar que não tinham aptidão para o aprendizado (coisa que
aconteceu comigo diversas vezes quando criança... raramente me interessava
pelas aulas e as professoras também vieram de um sistema de ensino padronizado de
séculos e séculos, e não foram treinadas para abraçar aquele aluno “diferente”).
E pelas falas desses jovens ex-alunos, compreendo que se
referem ao conhecimento que eles ganharam para suas vidas e não apenas para
sala de aula. Isso é gratificante. Realmente amo abrir caminhos para essas
mentes em formação que estão na fase de arado, de fomentar, de instigar... é
emocionante para mim. E meus ex-alunos foram também meus mestres.
Ao longo de minha carreira acadêmica, alguns professores
fizeram essa diferença, e realmente eles estão comigo, pois o conhecimento é
para sempre, as informações são momentâneas, e as citações decoradas compõem
apenas um tempo perdido. Acredito que na atualidade há esse “tempo perdido” como
também há um tempo que está sendo construído para abarcar as particularidades
inerentes às formas de Saberes e desenvolvimento das Sociedades. Existem muitas
profissões bonitas no mundo: médico, engenheiro, pediatra, etc... mas por trás
de todas elas há uma profissão imprescindível, diria a mais belas de todas: a
de Professor.
Katiuscia de Sá
19 de abril de 2012
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