“o poeta é com efeito coisa leve, santa e alada; só é capaz de criar quando se transforma num indivíduo que a divindade habita e que, perdendo a cabeça, fica inteiramente fora de si mesmo. Sem que essa possessão se produza, nenhum ser humano será capaz de criar ou vaticinar.” [Platão]

sexta-feira, 20 de abril de 2012

OUTROS EU’s

Ao longo de minha vida, compreendi que existem várias camadas de conhecimento, e aprendi a respeitá-las todas. Há o conhecimento Natural (aquele que nascemos instintivamente sabendo); o conhecimento empírico (adquirido através das experiências individuais); e o mais comum ao mundo civilizado e ocidental – o acadêmico, com suas normas estabelecidas.
 
De todos eles o que funciona comigo, sem duvida, é o que me faz sentir livre para experimentar à vontade os diversos caminhos do Saber: o caminho empírico. Compreendi em minha trajetória de vida e estudos, que esse é quase o único viés que funciona e instiga minha curiosidade de querer estudar, e desenvolver as coisas. Mediante isso, aprendi a me respeitar primeiramente, e a travar um nível de aprendizado totalmente pessoal; por isso prefiro ser autodidata em muitas coisas que instigam minha curiosidade.
Perceber minhas necessidades individuais é mais importante até, do que necessariamente, aprender algo. A meta não é o mais importante, e sim o caminho que se percorre até chegar a essa meta, pois é nesse caminhar e experimentar que o conhecimento genuíno vai se construindo. Lembro-me como sofri durante minha vida acadêmica mais intensa (do Maternal à Universidade).

Lembro-me de que até a Quarta Serie do Ensino Fundamental eu chorava exatamente todos os dias (sem trégua) ao chegar à porta da escola... essa depressão estendeu-se até a Quarta Serie Primária, mas no Maternal e na Primeira Serie eu fazia um circo (chorava, me agarrava às grades do portão, recusava-me a entrar na escola...), minha mãe, coitada (...)! Eu realmente tinha vontade de fugir da escola. Hoje em dia eu me lembro disso e até eu fico horrorizada com meu comportamento, pois eu adoro estudar, conhecer, aprender, etc... levei um tempo até perceber que o que me desmotivava era a forma com que as informações eram repassadas aos alunos (aluno que em Latim significa “sem Luz”...).

Eu achava tão deprimente aquele lugar (a escola...), e não deveria ser desse modo. Ao crescer mais um pouquinho em maturidade, percebi que a criatividade e meios mais lúdicos de repassar as informações eram o que me motivava a prestar atenção nas aulas (mas isso acontecia tão raramente). Aquele método repetitivo e sem graça de apenas despejar as informações sem debatê-las, sem explicação e exemplos práticos para mim, de nada serviam...

Era uma tortura ir para a escola... o desinteresse era total! Entretanto, meu avô sempre me motivava ir ao encontro do conhecimento, e através dele e de suas leituras diárias para mim e meu irmão durante a infância, ajudaram-me a continuar.  É engraçado como o mundo dá voltas. Ao longo de minha vida já tive algumas experiências como arte-educadora, e minhas aulas sempre foram diferenciadas. Eu sempre primei (e ainda primo) pelo ensino individualizado. Graças a Deus, desenvolvi a sensibilidade de “escutar” meus alunos, no sentido de perceber se o canal deles para absorverem o conhecimento é sinestésico, auditivo ou visual (isso falando de maneira bastante rasa).

A mesma motivação que tenho para desenvolver alternativas para o repasse das informações em sala de aula é o mesmo caminho para meu próprio aprimoramento como profissional, pois essa motivação me remete a outras informações acerca do conteúdo programático que devo executar ao longo do ano letivo. Realmente adoro esse viés. Aprendo com meus alunos e eles comigo. Disso vem meu respeito e escuta dos diversos tipos de Saberes.
 
Atualmente a profissão de Educador é bastante desvalorizada, deturpada e o que mais me entristece, é saber que o professor também chega a ser tolhido em sua própria ferramenta de execução: o lecionar! Existem poucas escolas (a maioria particular) que promove aos seus educandos uma forma de aprendizado dinâmica, envolvente e acima de tudo reflexiva. É triste perceber que uma das bases para o crescimento de uma Nação ainda é vista como uma ameaça... é melhor desenvolver cidadãos em série do que cidadãos criativos que farão toda diferença na grande engrenagem chamada Sociedade.
 
Não sou utópica às outras questões que envolvem a melhoria do Sistema Público Educacional do País, entretanto, acredito ainda que um educador, aonde quer que esteja, pode ao longo de seus vinte, trinta, quarenta anos de profissão como educador,  conseguir desenvolver pelo menos umas dez sementinhas no decorrer de sua carreira, pelo fato de tornarem suas aulas prazerosas, divertidas e acima de tudo interessantes aos seus alunos.

Fico muito feliz em receber da maioria de meus ex-alunos demonstrações de carinho e gratidão quando me encontram. Em geral emocionados, me falam algo como “obrigada professora, eu aprendi muito com a senhora... nunca esqueci da senhora... o que eu sou hoje eu devo muito à senhora...”, etc... eu também fico igualmente emocionada com essas demonstrações espontâneas. Eu nunca abandonei nenhum deles por achar que não tinham aptidão para o aprendizado (coisa que aconteceu comigo diversas vezes quando criança... raramente me interessava pelas aulas e as professoras também vieram de um sistema de ensino padronizado de séculos e séculos, e não foram treinadas para abraçar aquele aluno “diferente”).

E pelas falas desses jovens ex-alunos, compreendo que se referem ao conhecimento que eles ganharam para suas vidas e não apenas para sala de aula. Isso é gratificante. Realmente amo abrir caminhos para essas mentes em formação que estão na fase de arado, de fomentar, de instigar... é emocionante para mim. E meus ex-alunos foram também meus mestres.

Ao longo de minha carreira acadêmica, alguns professores fizeram essa diferença, e realmente eles estão comigo, pois o conhecimento é para sempre, as informações são momentâneas, e as citações decoradas compõem apenas um tempo perdido. Acredito que na atualidade há esse “tempo perdido” como também há um tempo que está sendo construído para abarcar as particularidades inerentes às formas de Saberes e desenvolvimento das Sociedades. Existem muitas profissões bonitas no mundo: médico, engenheiro, pediatra, etc... mas por trás de todas elas há uma profissão imprescindível, diria a mais belas de todas: a de Professor.

 
Katiuscia de Sá
19 de abril de 2012
23h53

Nenhum comentário:

Postar um comentário