“o poeta é com efeito coisa leve, santa e alada; só é capaz de criar quando se transforma num indivíduo que a divindade habita e que, perdendo a cabeça, fica inteiramente fora de si mesmo. Sem que essa possessão se produza, nenhum ser humano será capaz de criar ou vaticinar.” [Platão]

terça-feira, 16 de março de 2010

Maximiliano Aguilara


Quando quis se levantar deu com cara na porta. Observou escuridão total e absoluta. Seriam os sonhos remexidos já antes mesmo do nascer do sol?

Não quis saber, tentou novamente erguer umas das pernas. Não pôde, apertado estava igual sardinha em lata. Quis compreender, posto que vagasse naquele momento hirto atrás das casas de Vila Santiago, tal quando menino. Parecia apanhado ao lombo de seu cavalo, “Minotaurus”.

Sua infância, marcada pela queda.
Aos sete anos, perdeu parcialmente os movimentos da mão direita. A vida lhe deu a opção sanguínea de torná-lo canhestro. E assim foi sugerido.

Seus olhos, furtados da boa educação. Necessitou de óculos para sondar-lhe a face. Ficou de aspecto sério. Menino-moço bonito. As garotas gostavam. Pendurou na cara um tabuleiro ríspido. Endureceu, com olhos de falcão à caça, bebia o mundo inteiro numa só golada!

Lembrou-se de suas corridas nos campos com “Minotaurus”. Lembrou-se como relâmpago! Fora sua última queda. Por impertinência à tia, escorregou pelo salão a fora, indo aparecer nas quebradas do quintal agourento. Encontrou “Minotaurus” sozinho, mastigando mato longe dos adultos. Trepou-se montador, debruçaram pelas pastagens de Santa Castilla até a tardinha.

Quando já próximo ao quintal do início, trombou com uma cobra, “Minotaurus” arregalou-se! Empinou-se pra trás, o menino beijou o chão...

Todos choravam o filho do capitão Sereguello. Maximiliano Aguilara o único herdeiro. O ano de 1879 fora difícil, dona Mannuela não seria mais visitada por Nossa Senhora de Guadalupe... Ficou “Minotaurus” ao canto, mastigando capim como se nada de extraordinário acontecesse.
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Katiuscia de Sá
16 de março de 2010

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