“o poeta é com efeito coisa leve, santa e alada; só é capaz de criar quando se transforma num indivíduo que a divindade habita e que, perdendo a cabeça, fica inteiramente fora de si mesmo. Sem que essa possessão se produza, nenhum ser humano será capaz de criar ou vaticinar.” [Platão]

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

*Couraça muscular do caráter


Wilhelm Reich foi um dos pioneiros na aplicação à psicoterapia de uma compreensão do ser humano que não dissociasse corpo e mente. Um dos pilares de sua abordagem é a noção de couraça muscular do caráter, em que a musculatura estriada aparece como base para tal concepção integrada (REGO, 1991).

Conforme afirma Almeida (2004), o corpo é capaz de traduzir, em linguagem não-verbal, as suas necessidades, por meio de simbolismos ou sintomas. Desta forma, torna-se possível “ler” no corpo, também, as resistências e defesas do indivíduo, uma vez que ele revela expressões emocionais vividas até o momento.

O corpo/mente, por meio do sistema nervoso central, apresenta um mecanismo de memória celular que registra experiências e reage a estes padrões (BERRY, 2003). Quando estas são potencialmente lesivas: traumáticas, dolorosas ou mesmo ameaçadoras, ocorre uma reação predominantemente em contração e um conseqüente aumento da tensão muscular. Este tipo de defesa atua tanto na proteção do indivíduo contra ações externas e experiências traumatizantes, quanto na diminuição, de forma gradual, da espontaneidade nas relações humanas, da capacidade de auto-percepção, da sensibilidade para o amor, do afeto e compaixão, bem como, dificulta a respiração plena e profunda. Em suma, impede que o ser humano viva com intensidade e plenitude (MOYSÉS e LÉLIS, 2004; REICH, 1998).

No momento no qual uma pessoa contrai sua musculatura por um longo período, essa contração passa a se tornar inconsciente e a ser controlada pelo sistema nervoso autônomo (EITLER, 2007). Quando está presente de forma crônica é considerado, por Reich, uma couraça muscular (BERRY, 2003; ALMEIDA, 2004; MOYSÉS e LÉLIS, 2004).

A couraça muscular funciona como uma “gigantesca encapsulação” e impede que a energia vital circule naturalmente pelo corpo. Do mesmo modo que o organismo fecha-se para não sentir medo, raiva, tristeza, raiva, também fica impedido de perceber e vivenciar os sentimentos de amor, prazer e afeto. Sendo assim, ocorre um “congelamento” dos sentimentos e emoções, que resultam em conflitos inconscientes e/ou doenças, por reprimir a expressão dos mesmos (REICH, 1998; MOYSÉS e LÉLIS, 2004). A couraça, segundo Reich, é o maior obstáculo de crescimento, o indivíduo encouraçado seria incapaz de dissolver sua própria couraça e seria, também, incapaz de expressar as emoções (SANTANA, 2006).

Foi o trabalho sistemático com a técnica da análise do caráter que levou Reich a descobrir que os distúrbios psicoemocionais apresentam como equivalente somático, a "couraça muscular" (VOLPI e PAULA, 2004).

O objetivo da Análise Bioenergética é reequilibrar o paciente, desbloquear a circulação, em geral carregada de repressões, de tal forma que ao longo da terapêutica ocorre auto-percepção - a pessoa se dá conta de sua história, seus traumas e dificuldades – e, desta forma, retorno da fluidez natural do organismo (MONTEIRO, 2007). Fazem parte da análise Bioenergética três aspectos fundamentais: história de vida da pessoa, postura corporal e o padrão de comportamento.

A história de vida diz respeito à forma como a criança estruturou suas defesas, na sua relação com os pais bem como forma de adaptar-se às condições familiares. O padrão corporal, somado aos papéis desempenhados, que se repetem ao longo da vida, são sintetizados pelo comportamento da pessoa no mundo. Sinais presentes, por exemplo: nos olhos, posição da cabeça, ombros, braços, diafragma, pelve, pernas e pés, além de outros como o nível de energia, volume e nuances de voz do paciente dão informações fundamentais para que o terapeuta possa direcionar o tratamento. É fundamental, portanto, para o psicanalista bioenergético, além do domínio da teoria da personalidade, que o possibilita enfrentar problemas como a resistência e transferência, uma sensibilidade para o nível corporal de modo a ler sua linguagem com precisão (MONTEIRO, 2007).

Cada um dos caracteres (defesas), de acordo com Lowen, fixa-se em algum dos anéis, de acordo com a fase do desenvolvimento em que o trauma ocorre e da formação deste (MONTEIRO, 2007), e podem ser dissolvidas por meio de massagens, exercícios e respiração. Para que a terapia alcance os resultados esperados, o paciente deve reorganizar os seus pensamentos a fim de entrar em contato com seus sentimentos e emoções ou queixas relacionadas à infância, bem como reconhecer e expressar qualquer outro sinal que vier à tona, para que o movimento torne-se mais consciente e espontâneo. (EITLER, 2007).

Quando a energia vital flui livremente, o campo energético do corpo torna-se bastante forte. Expressões dessa energia fluindo denominam-se emoções e acontecimentos energéticos no corpo, sentimentos. O campo energético pode alongar-se ou contrair-se de acordo com estímulos externos. Durante sensações de prazer e satisfação, este campo e o organismo, de modo geral, alongam-se/expandem-se, em conseqüência da atuação do sistema nervoso parassimpático, ao contrário, em sensações potencialmente lesivas (medo, tensão ou dor) o campo energético e o organismo contraem-se, devido à atuação do sistema nervoso simpático. Portanto, é fundamental manter um equilíbrio e flexibilidade na energia vital. (REICH, 1998; ALMEIDA, 2004).

A liberação da energia reprimida consegue-se a partir de posturas especiais, exercícios de uma espécie de massagem (toques) em determinadas partes do corpo (pontos-chave) e da verbalização. Estes pontos são semelhantes a terminais energéticos, locais onde esta energia reprimida fica “represada”. A dissolução desses anéis, dessas blindagens pode levar o indivíduo a sentir dores, muitas vezes insuportáveis. Com o decorrer do processo, as mesmas posturas, exercícios e toques, ao invés de dor, passam a causar prazer (SANTOS, 2004).
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*Fonte: http://www.efdeportes.com/efd131/bioenergetica-fundamentos-e-tecnicas-corporais.htm

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