Adorava passear perto das grades. Ficava horas observando as
curvas e desenhos rebruscados. Conhecia todos os arranjos de cor de tanto que
frequentava os arredores. Quando criança Guilherme preferia o caminho mais
longo da escola à sua casa somente para ver aqueles portões enormes repletos de
desenhos retorcidos em bronze. Eram tão altos que dava a impressão de irem
tocar os céus.
Num inicio de tarde quando o garoto retornava a sua casa,
resolveu aproximar-se mais para olhar dentro... e foi quando se apaixonou
perdidamente. Aquelas paixões arrebatadoras da idade... era seu primeiro
amor... e desde então tornou-se sagrado para ele passar por aqueles portões e
parar um instantinho e olhar secretamente àquela face que tomara-lhe o coração.
Quando seu pai disse-lhe que seria mandado para o colégio
interno no ano seguinte, Guilherme definhou... e como sempre o fizera desde
tenra idade: chorou nos braços de sua querida mãe, como se suas lágrimas argumentassem
para deixa-lo ficar. Na verdade Guilherme não suportava a ideia de que nunca
mais veria aquele belo rosto angelical por qual se apaixonara.
Contudo, nessa decisão a mãe do rapazola não poderia
interferir. Para que ele pudesse estar apto a futuramente ingressar no curso de
Direito, haveria de passar pelo colégio interno. E era o sonho dourado do pai
que seu único filho tornasse-se advogado! E em pleno 1898, era a moda afinal,
nas rodas mais bem quistas da sociedade, que os varões das famílias abastadas,
carregassem o título de bacharéis.
Mas os planos de Guilherme, na ingênua e sonhadora idade de treze
anos, eram um só: passar horas encantado diante de sua figura amada. Ultrapassar
aqueles portões e sentar-se ao lado da imagem perfeita do puro amor. E foi o
que ele fez. Quando retornara da sua aula, escalou aqueles portões indo dormir
nos brações de quem tanto contemplara.
Anoiteceu e nada de Guilherme. Seus pais preocupados
chamaram a policia, que vasculhou os arredores. O corpo do rapaz só foi
encontrado no final da noite seguinte. Guilherme sorria, entretanto... Como
tivera a saúde sempre fraquinha, devido à friagem da madrugada, o rapazola não suportou
a febre ao relento. Faleceu ali mesmo no cemitério, ao lado de uma estátua em tamanho
família, que enfeitava a lápide de uma mocinha que falecera no inicio da década
de 1800. “A moça virgem”, como chamavam a estátua que enfeitava o tumulo. Era a
estátua da mocinha que morrera aos tenros treze anos, que nem Guilherme, bem
ali à sua frente...
Katiuscia de Sá
05 de fevereiro de 2014, às 21:35h.
*Leia também:
.
Nenhum comentário:
Postar um comentário