*inspirado na melodia “To My Mother”, do album ‘Saving
Mr. Banks’ (2013), de Thomas
Newman.
Quando aquele momento repleto de sentimentos estendeu sua
força ao vento, disse-lhe em segredo, que as nuvens choravam, mas era de
alegria... pois em algum lugar secreto nascia uma pequena árvore que brotava
corações, e estes ao serem ingeridos como fruta madura causavam um pequeno
espasmo nas criaturas. Foi então, quando um minúsculo pássaro pousou num dos
galhos daquela misteriosa árvore de frutos avermelhados e docinhos, que um cotidiano
e jubiloso milagre abriu os olhos. E ao acordar e enxergar aquele pássaro de
vestes marrons que havia ingerido um pedacinho de coração, o mesmo milagre
percebeu que a criaturinha não pôde engolir tudo, pois sendo o fruto ainda
menor fez a ave que a ingeria, engasgar o bico. Isso foi o suficiente para que
o pássaro cantarolasse libertando-lhe daquela angustia.
Seu canto afugentou a noite, e fez com que os ventos
soprassem em direção à Maria-Celeste. Esta se enrolava numa haste de plástico,
e estava bem segura pelas mãos de uma criança que a saboreava. Era um excelente
algodão doce, esta Maria-Celeste. Entretanto, quando o vento tocou-lhe as peles
rubras... ela não resistiu, derreteu-se de carinhos pelo vento que a fazia
sentir calafrios e a destruía do mesmo modo como uma onda suicida-se nas rochas
sem poder conter-se ou decidir não morrer abraçando as pedras à beira mar.
Aquele sentimento desperto foi em demasia para um corpo não
habituado ao sereno do amor. E depois que se desfazia pelos carinhos do vento,
Maria-Celeste consumia-se mais e mais antes de alimentar a boca da criança que
a segurava nas mãos. Derretia-se e manchava de rubro aquelas mãos pequeninas e
desajeitadas.
Mas os olhos do milagre tinha sono... não conseguiam
permanecer abertos a tudo que acontecia. E aos poucos o peso das horas
causou-lhes cansaço e certa preguiça; deixando-lhe cair as pálpebras. Então,
por intermédio de alguém maior do que aquele milagre que acontecia, as
mãozinhas deixaram Maria-Celeste ser escorrida pelo vento, indo ela parar num
córrego confundindo-se com os mesmos líquidos que seguiam seu caminho. Foram
todos parar ao pé da árvore que brotava corações. Umedeciam o chão.
E Maria-Celeste que antes sentia o carinho do vento que lhe
desfazia as formas, agora era como liquido em suco. Estava tal sangue a bombear
um dos corações, aguardando tornar-se alimento de pássaros ou quem sabe,
retornar ao Princípio, morrer e nascer árvore para gerar mais corações... e com
isso fazer com que mais milagres também abrissem os olhos.
Autoria: Katiuscia de Sá
Em: 17/01/2014, às 20:32h.
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