A fúria do mar lambia as rochas. Deixava-lheS a cada
segundo, seus beijos que vinham do outro lado do continente. E sob a areia
caminhava o homem. Ignorava o lamento das gaivotas sobrevoando sua cabeça. Esta
ia longe... pensava em sua amada deixada em um País longínquo...
Quieto, ele fixou novamente seus olhos no horizonte, e em
seus ouvidos rompia apenas o grito das ondas beijando as pedras. A cada beijo
dissolviam mais e mais suas esperanças de voltar a ver aqueles olhos que se
encantavam a todos os encontros que mantinham às escondidas de suas famílias –
ele e aquela moça de cabelos negros.
Novamente voltava a si. E novamente o barulho das ondas
ensurdeciam seus pensamentos. Ele andava lentamente como se não quisesse sair
do lugar. E as gaivotas lamentando-se em rodopios. Algumas delas atiravam-se ao
leito do mar à procura de algum peixe. Às vezes sem muito sucesso. Outras vezes
com o bico cheio.
Cansado de caminhar pelas vagas, o homem sentou-se à beira
de uma rocha solitária. Ela estava longe dos beijos do mar, e por isso mesmo enxuta.
Porém a praia inteira vazia, continuava assolada pelos lamentos das gaivotas
que teimavam por alimento. E as lagrimas do homem eram tão azuis que se
estendiam ao mar como pequenos cristais que espirravam para fora das águas
violentas. Eram tão pequenas porém, nem a chuva que desbotava as cores do
horizonte percebia serem elas suas pequenas filhas que se soltavam de vez em
quando de dentro das pessoas porque recordavam de coisas que as fazia chorar.
O homem lembrava-se de seu amor, que agora estava longe...
muito longe de qualquer tentativa de aproximação ou convivência. Ele só
continuava vivo, porque sabia que em algum momento quando as águas da praia
estivessem calmas, poderia ele ao menos ouvi-la cantar para filha deles
adormecer. E nessas horas, aquele velho lobo do mar choraria, mas de alegria
por ver as duas no reflexo do oceano – aquele marinheiro aposentado jamais as
esqueceria, uma por quem se apaixonara, a outra por ser sua filha. Dizem que
este homem caminhou naquela praia europeia até desaparecer em fins de 1801,
quando ninguém mais o viu. Alguns marinheiros acreditam que ele não resistiu a
tanta saudade e atirou-se nas águas. Foi morar com elas nas profundezas do mar.
Katiuscia de Sá
[18 de outubro de 2014, 01:04h a.m.]
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