“A palavra dita é como uma flecha, uma vez lançada não tem
mais volta”, já diziam os antigos sábios. Para muitas correntes filosóficas hinduístas,
a palavra é fonte de energia, assim como toda ação que o ser humano executa,
pois há o conhecimento de que somos energia e tudo o que fazemos (pensamentos,
ações físicas, fala) estão repletos de intenção, e essas intenções promovem a manipulação
da energia vital contida em cada uma delas. Portanto, para um iogue, mesmo a
palavra proferida deve ter um proposito. Há meditações em que requer do
iniciado não apenas o silencio da mente (coisa difícil de ser alcançada, porém
com anos de praticas meditativas, é possível atingi-lo), como também o silencio
do corpo, e isso implica também na educação do que se diz e como se diz. Disciplinar
as emoções também entra no processo.
O som da palavra (e/ou de algum instrumento musical ou
qualquer coisa que emita sonoridade qualquer) pode ser assimilado como um
mantra, e os mantras têm efeito sobre o sistema nervoso e energético do ser
humano (influenciando até mesmo animais que se submetem a sons agradáveis). Portanto,
um iogue praticante de meditação, compreende que a palavra proferida só deve
ser dita se esta vier impulsionada por uma intenção verdadeira, ou seja, se ela
realmente tem uma finalidade (um propósito) ao ser proferida. Se não houver
VERDADE no que se está dizendo, é recomendável abraçar o silencio ao invés de
desperdiçar energia desnecessária como palavras que obedeceriam ao ego, e não ao
real proposito.
Por exemplo, em situações de reuniões sociais, muito se vê
aqueles joguinhos de interesses provenientes do discurso do “é de bom tom...”,
onde as pessoas são forçadas a entrarem numa espécie de ‘teatrinho’ dizendo
coisas agradáveis apenas para satisfazer o momento. Isso dispersa energia
desnecessariamente, além de o falante estar apartado do real objetivo que a palavra
se propõe: estabelecer com o mundo um elo entre seu Ser Real e sua vontade
verdadeira de dizer algo. E consequências disso é a obscuridade, a mentira, o desequilíbrio
em maior ou menor escala no campo energético da pessoa.
Um exemplo clássico:
Um casal que está interessado um no outro, no inicio ambos
mascaram-se em ações e palavras que omitem a verdade, objetivando apenas em
cativar um ao outro e convence-lo de que quem está ali na sua frente é alguém
interessante. A maioria esmagadora das pessoas age assim apenas governada pelo
ego e interesse de ‘vencer’ ao outro, no ato da ‘conquista’. Desse modo um
encontro entre almas torna-se um combate. E um encontro entre almas que, a
priori, deveria ser algo mágico, torna-se uma enorme mentira. Quando mais
adiante, o casal transforma-se em cônjuges, o cotidiano mostra quem realmente
cada um é... aí emerge aquela famosa frase de ambos para ambos, após
decepcionarem-se: “mas querido(a) você não era assim quando namorávamos...”. As
pessoas eram sim, apenas mascaravam-se, sobretudo, utilizando um discurso governado
pelo ego. Por isso o uso errôneo da palavra gera desentendimentos, quando
governadas pelo interesse e não pela verdade, pelo amor. Infelizmente o mundo
ocidental age dessa forma e nem se dá conta ou oferece às pessoas ferramentas
para auto resgatarem suas reais essências.
Para os ocidentais a palavra é banalizada todo momento; muitas vezes as pessoas falam
sem pensar no que dizem, e com isso geram frequentemente desentendimentos;
mentem; afastam-se dos seus reais sentimentos, e por consequência se
desequilibram (corpo/mente/espírito). Com o tempo um iogue compreende e aprende
a utilizar o dom da palavra apenas obedecendo a REAL intenção que elas detêm;
ou seja, ao falar o sujeito imprime na sua fala (em cada palavra) sua própria
energia vital, então cada palavra que ele diz se transforma em mantra. Ganha o
espaço e retorna para si como energia renovada. Então o sujeito aprende a falar
apenas a verdade genuína que vem de seu coração. Como se fosse impelido a se
relacionar com as pessoas pelo elo da palavra proferida levando em consideração
a sua vontade de se relacionar. Se não tem nada verdadeiro em dizer, o sujeito
se cala.
O poder da palavra falada pode acalmar; edificar; destruir;
desestimular; alegrar; incentivar, etc... somente se sua profundidade estiver
repleta de alma. Normalmente um iogue diz apenas o necessário e/ou o que
realmente sente. Evita-se utilizar o dom da palavra com desejos escusos (para
manipular e/ou gerar conflitos). Assim como os exercícios de meditação ajudam
ao individuo desenvolver o autocontrole, assim acontece ao ato da fala e a tudo
que o iogue pretenda executar.
Há dias em que eu tiro para ficar em silencio (normalmente
são os sábados ou os domingos). Não pronuncio sequer uma palavra. Entro em
meditação constante e profunda. E com isso procuro zerar os conflitos em minha mente, convidando
meu corpo físico a também concentrar-se nas tarefas cotidianas que estão sendo
executadas. Com esse tipo de meditação, o iogue concentra sua energia vital
visando o equilíbrio. Torna-se calmo, manso, terno. Assim também compreende que
o silencio é contemplativo e acolhedor. Acalma. Pondera os pensamentos.
É uma disciplina muito rígida, porém os exercícios meditativos
servem para equilibrar a mente/corpo/espirito, e com isso harmonizam as
energias vitais do ser humano que se dispõe a esse caminho; além de convidar o individuo dizer apenas a verdade,
ou seja, o que seu coração realmente quer dizer; com isso evita-se o desvio do
dom da palavra como a maledicência; a manipulação das pessoas; a mentira. Um exemplo
bastante profundo sobre a utilização do dom da palavra de modo errôneo na
história das civilizações é a pessoa de Hitler, que infelizmente utilizava a
oralidade com fins de manipulação, dominação e destruição, por conta dos desequilíbrios
morais e desumanos que o mesmo imprimia (energia) nas palavras no ato de pronuncia-las
em seus discursos, que infelizmente magnetizavam as massas.
Hoje é sabido que Hitler tinha profundo conhecimento sobre a
cultura e práticas hinduístas, e de muitas outras civilizações antigas; um
exemplo dessa assertiva é o uso da cruz suástica (ou cruz gamada) – um símbolo da
cultura hindu – que era usada pelo Nazismo na sua forma icônica invertida. O mesmo
símbolo é encontrado no Budismo, também na Grécia Antiga, nas civilizações Hopi,
Asteca e Celta, além de vestígios em povos nórdicos antigos e algumas
civilizações das Américas. Para muitas dessas civilizações antigas, a cruz gamada
é originalmente um amuleto especial utilizado em cerimonias religiosas, mas
pelo mau exemplo do Nazismo esse símbolo antigo praticamente foi banido da
humanidade e gera repulsa pelo peso do horror histórico da II Guerra Mundial. O
real significado da cruz gamada, segundo muitos teólogos, é a excelência da evolução
cósmica.
As pessoas de um modo geral, deveriam se dedicar também à
manutenção do bem estar mental. Claro que diante de inúmeras desigualdades
sociais e econômicas, e por conta do próprio processo capitalista, há o
afastamento (e negação) do Ser e de sua essência, por desconhecimento e desinteresse
das massas em se ater à manutenção do espirito de forma mais sofisticada. Os seres
humanos ainda flutuam em estados brutalizados devido à fome, à violência, à
miséria e desigualdades socioeconômicas. Porém, há de emergir o amanhecer de um
céu onde o sol brilhe para todos, um período em que a humanidade não precise apenas
em se preocupar em sobreviver, e sim viver dignamente e de posse dos reais
valores da ética e da moral, sobrepondo o amor ao capricho do ego.
Katiuscia de Sá
10 de novembro de 2013, às 14:55h
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